Uma segunda opinião

Assim que saí do shopping e entrei no carro, eu não pude evitar pensar nela. 

— O que há de errado com ela? - questionei. Afinal ela não havia pedido nada,e quando me ofereci para lhe presentear com aqueles colares, ela recusou na hora.

Eu liguei o carro e fui direto para casa. Precisaria de um banho e uma ótima noite de sono. 

Assim que cheguei em casa, eu subi as escadas e fui direto para o meu quarto. Me joguei na cama e fechei os olhos. 

Fiquei alguns segundos em silêncio, mas logo fui interrompido por gemidos do Sebastian e a voz de uma garota. 

Ãããm...isso está tão bom...não para, amor. - era a voz da garota.

— Se vocês não pararem, quem vai acabar com a festa aí, sou eu - coloquei o travesseiro em cima do meu rosto, na intenção de abafar aqueles sons. 

Vendo que não iria funcionar, resolvi mandar mensagem para o Felipe Compell, um grande amigo que conheci na empresa.

Cara?

Não demorou muito para que ele me respondesse. 

" Oi, mano" 

Sebastian está com uma garota em casa. Quer beber?

" Eles estão gritando tão alto assim?" 

Você nem imagina. Nem parece que existe uma parede dividindo os nossos quartos. 

" Vem aqui pra casa. Mas passa em algum lugar e compra algo pra gente beber. Tem Whisky aqui, mas não podemos acordar com tanta ressaca assim amanhã." 

Tá. Vou levar cerveja.

"Beleza" 

Eu guardei o celular no bolso, fui até o closet, peguei uma peça de roupa pra dormir e outra para ir trabalhar amanhã. Coloquei as roupas e alguns produtos pessoais dentro da bolsa e saí de casa. Antes de sair da garagem, mandei uma mensagem para o Sebastian e avisei a ele que dormiria fora. Também pedi para que da próxima vez, ele usasse algo pra fechar a boca daquela garota, ou fizesse seu quarto a prova de sons. Com certeza ele só me mandaria algumas figurinhas rindo, mas eu realmente estava falando sério. 

— Ta. Ela recusou os colares e pagou os milkshakes. O que tem demais nisso? 

— Pra mim, tudo. 

— Tudo o que, David? As mulheres pagam as coisas delas hoje em dia, você sabia? Elas quase nem precisam da gente hoje - ele riu.

— Eu sei, Felipe. Mas é a primeira vez que eu saio com uma garota e ela não me pede uma jóia ou uma bolsa de marca. Isso me surpreendeu de algum modo.

— O que acontece, meu caro amigo, é que ao contrário das outras, essa garota me pareceu certinha. 

— Ah, se ela fosse tão certinha assim, não estaria em um aplicativo como aquele. 

— Ela mesmo lhe disse que queria apenas o dinheiro para pagar o tratamento da mãe., não foi? 

— Sim. 

— E que depois disso, ela pagaria tudo sozinha, certo? 

— Certo. 

— Então!

— Então o que? Às vezes você pensa tudo, mas esquece de colocar pra fora. Fica difícil de te compreender assim. 

Ele riu e bebeu mais um pouco da cerveja, que estava na sua mão.

— Você já passou o dinheiro pra ela, já deu o que ela queria. Continue, vá em frente, fique com ela uma noite e depois encontre outra. Se prefere gastar rios de dinheiros com as mulheres, deixe essa e pegue outra. Uma que lhe mande pagar até as unhas dela. 

Eu coloquei o meu copo em cima da mesa dele e o encarei. 

— Não quero ficar com ela só uma vez. 

— Quer fazer dela a sua baby particular? 

— Tipo isso. Ela me diverte, sabe? Acho que poderíamos nos dar bem. Mas acho que ela não vai aceitar ficar comigo assim. Ela tem cara de quem espera o príncipe encantado, e sentimentos é uma coisa que eu não posso retribuir, você sabe. Eu até posso dar anéis para ela em caixinhas pequenas, delicadas e bonitas, mas esses anéis nunca representarão algum compromisso. 

— Eu sei, mas queria entender o motivo de você se privar desses sentimentos, meu amigo. Namorar é bom, sabia? 

— Não. Namorar é chato e amor é um sentimento idiota. 

— Se você diz - ele me ignora e continua bebendo. 

— Eu fiquei confuso, tá? Ela é a primeira que não pede nada para gastar com ela própria, como carro caro, casa, apartamento, jóias ou dinheiro para gastar com as amigas no shopping. 

— Deveria ficar feliz. Pelo menos seu pai não vai brigar mais com você gastando com mulheres. Diga que foi uma caridade dessa vez. 

— Nossa, Felipe. Eu não sei porque eu venho lhe pedir conselhos. 

— Porque só tem a mim - ele riu. 

— Cara, eu só...quero que ela aceite ficar comigo por um tempo, sabe? Quero poder ligar no meio da noite pra ela e mandar ela ir pra minha casa, pro meu quarto. 

— Ou para o seu banheiro...- ele diz maliciosamente. 

— Também - dou um sorriso de lado. 

— Então ela não aceita nenhum presente ou algo assim? Como qualquer outra Sugar Baby? 

— Exato. 

— Então já sei o que você pode fazer. 

— O que? - perguntei curioso.

— Procure outra garota. Uma que te peça presentes toda hora e faça o seu pai enlouquecer, de novo. 

— Nossa - joguei uma almofada nele - Eu tenho vontade de te bater, às vezes - ele riu. 

Ouço um barulho vindo da porta e vejo que o pai do Felipe havia chegado. 

— David Winston! Quanto tempo. 

— Eu vim aqui há dois dias atrás. 

— Deveria vir mais vezes - ele largou a maleta preta no sofá e se sentou ao lado do filho - Felipe pelo menos para em casa quando você está aqui - Nós rimos. 

— E aí? Dia cansativo? - o questino. 

— O hospital está de boa, mas...

— Papai arrumou uma nova namorada. Sabe? Mais nova e...acho que ela está acabando com as forças do velhinho. 

— Sua sorte é que estou cansado, caso contrário te jogaria daquela janela. 

Felipe olha pra mim e nós dois rimos. 

— O senhor está muito cansado ou podemos conversar um pouco? 

— Claro que podemos. O que houve? 

— Então, senhor Compell. Eu preciso de um conselho médico. 

— Ok. Prossiga!

Eu aproveitei que o pai do Felipe era médico especializado e acho que ele poderia saber de mais coisas. Eu falei para ele que uma amiga estava procurando uma segunda opinião e expliquei tudo o que a Isabella havia me contado, sobre o caso da mãe, o que não era muito. 

— Olha, eu precisaria ver e analisar o prontuário médico dela. Sem contar que iria pedir uma bateria de exames também, mas levando em consideração o que me falou. Acho que seria melhor se ela começasse logo o tratamento. 

— Se ela fosse transferida amanhã, para o seu hospital, quando poderíamos começar a fazer tudo isso? 

— Em uma semana, mas como diretor do hospital e amigo de família, eu posso garantir para você que em dois dias ela já estaria em tratamento. 

— E levaria quanto tempo? Até que ela possa voltar pra casa e seguir uma vida normal? 

— Em três meses ela voltaria pra casa. Se seguir tudo direitinho e não tiver complicações, claro. Mas o tratamento em si, iria durar mais ou menos uns sete ou oito meses. Porém, ela só precisaria vir ao hospital uma ou duas vezes por semana, só pra fazer uma rotina básica e ver se os medicamentos estão dando resultado. 

— E em relação a mensalidade? 

— Como falei, depende do estado dela. Isso influencia na escolha dos medicamentos e aparelhos, mas fazendo uma média, seria em torno de uns dez a vinte mil - Eu balanço a cabeça em confirmação — Mas por que essa curiosidade agora? 

— Ah, é que…

— Ele também conheceu uma garota - Felipe respondeu ao pai, sorrindo pra mim. 

— E ela está com câncer? 

— Ela não. A mãe dela - respondi. 

— Ah, entendi. Quer conquistar a garota, cuidando da mãe dela? Essa é nova até pra mim - os dois riram. 

— Voltando ao assunto, o senhor acha que consegue uma transferência para amanhã? 

— Consigo. 

— Ótimo. 

— Então, essa senhora, no caso, é a sua sogra? 

Felipe olha para mim e tenta segurar uma risada, mas falha miseravelmente. 

— Bom, não é minha sogra, mas digamos que a garota é uma amiga muito querida pra mim. Eu só quero ajudar ela, entende?

— Sim, entendo. 

— Posso contar com o senhor então? 

— Sabe que sim, garoto. Leve ela lá amanhã e a gente conversa melhor. 

— Beleza.

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