No outro dia abri os olhos sentindo cada músculo do meu corpo reclamar. Minhas pernas pareciam feitas de chumbo, minhas costas estavam doloridas e meus braços, bem, eu nem sabia que se podiam sentir dores nos braços depois de esquiar. Se era assim que atletas se sentiam após um dia intenso de treinos, eu respeitava ainda mais o trabalho duro deles.Virei-me na cama com um gemido de dor e percebi que Nicolas já estava acordado. Ele se apoiava na cabeceira, com um sorriso divertido no rosto, segurando o celular.— Bom dia, esquiadora profissional! — ele brincou, rindo ao me ver me contorcendo na cama.Fechei os olhos por um instante e fiz uma careta ao tentar sentar.— Não me zoa, Nicolas. Estou destruída. Minhas pernas não querem me obedecer.— Isso se chama dor da experiência. — Ele riu e, sem aviso, jogou um travesseiro em mim. — E você deve estar orgulhosa, porque ontem você foi um show à parte.Joguei o travesseiro de volta nele, mas sem força, porque, honestamente, meu corpo se re
Enquanto ele saía do quarto, Renata virou-se para mim e forçou um sorriso.— Me desculpa, Jhulie. Eu não queria estragar o momento de vocês.Toquei sua mão e apertei de leve.— Você não estragou nada. Ela suspirou e fechou os olhos por um instante.— As vezes sinto que estou carregando o mundo nas costas.Entendi perfeitamente o que ela queria dizer. Antes que eu pudesse responder, Nicolas voltou com um frasco pequeno nas mãos. Ele se aproximou da cama e entregou a Renata.— Aqui, você pode tomar esse sem preocupação. A Laura sempre tomava quando estava com dor durante a gravidez.Renata pegou o frasco com um olhar surpreso e agradecido.— Nicolas... Obrigada. De verdade.Ele sorriu de lado.— De nada. Agora descansa um pouco. Você precisa se cuidar.Ela assentiu e engoliu um comprimido com um gole d’água. Em seguida, acomodou-se melhor na cama e suspirou, fechando os olhos por um instante.Olhei para Nicolas e sorri. Apesar do jeito às vezes direto e inconveniente, ele sempre se pre
Você acredita que o nosso destino já está traçado de alguma forma?Eu nunca acreditei muito nisso... até meu caminho se cruzar com o de um lindo menino de olhos azuis. Através dele, encontrei mais do que buscava na vida. E tudo começou naquele final de tarde…Sou Jhulietta Duarte, professora em uma escola pública no coração da cidade. Sabe o que essa profissão me ensinou? Que a rotina simplesmente não existe. Crianças são imprevisíveis. Uma pergunta inesperada, um pequeno acidente ou um olhar carregado de uma tempestade silenciosa podem transformar um dia comum em um verdadeiro enigma.Depois de uma semana exaustiva, tudo o que eu queria era chegar em casa, tirar os sapatos, preparar um chá quente e me perder em um filme qualquer. Nada de surpresas.O relógio se aproximava das seis e meu trajeto até o ponto de ônibus era sempre o mesmo: ruas calmas, crianças rindo ao longe, um cachorro latindo, o murmúrio do trânsito ao fundo.Mas hoje… havia algo diferente.O silêncio parecia pesado,
A situação era tão irreal que parecia um sonho distorcido. Eu, uma professora de escola pública, estava agora enclausurada no banco de trás de um carro luxuoso, a mão pequena de Ethan apertando a minha com uma força quase desesperada. O homem a nossa frente emanava uma aura de tensão palpável. Sua postura rígida, os olhos fixos na estrada como se fugisse de algo, denunciavam uma batalha interna, um turbilhão de emoções contido a duras penas. — Senhor… — tentei quebrar o silêncio denso que nos envolvia como uma mortalha. — Santorini. Nicolas Santorini — respondeu ele, sem desviar o olhar da estrada. A voz grave e autoritária ecoou no interior do carro, revelando um homem acostumado a comandar. Engoli em seco. O sobrenome soava familiar, uma vaga lembrança que dançava à margem da minha memória, sem se concretizar. — Senhor Santorini, não quero me intrometer, mas… acho que precisamos conversar sobre o que aconteceu. Um suspiro impaciente escapou de seus lábios, como se minha ten
Nicolas Santorini Chegar em casa sempre me proporcionava uma trégua efêmera. Um breve alívio antes da exaustão inevitável. Meu dia, como tantos outros, fora uma maratona de reuniões intermináveis, a frieza dos contratos e o peso das decisões cruciais. Tudo o que ansiava era o silêncio reconfortante do meu lar e a presença de Ethan, mesmo que nossos encontros, desde a partida de Laura, fossem permeados por uma melancolia persistente. Assim que cheguei minha casa estava silenciosa. Normalmente, a essa hora, Ethan jogando ou brincando. Fechei a porta atrás de mim, um pressentimento incômodo se instalando em meu peito. — Ethan? — chamei, a voz ecoando no vazio. O silêncio respondeu. A calma que eu tanto buscava se esvaiu, dando lugar a uma crescente apreensão. Caminhei pela casa e cada passo aumentava a angústia. O quarto de Ethan estava impecável, um péssimo sinal. Meu filho era a personificação da desordem infantil. Inspecionei embaixo da cama, dentro do closet, vasculhei cada
Jhulietta Duarte O dia na escola transcorreu entre a sinfonia usual de vozes infantis, risadas contagiantes e os desafios inerentes ao desenvolvimento. Ensinar era mais do que uma profissão, era a minha paixão, a força motriz que me impelia adiante. No entanto, mesmo em meio à rotina, a imagem de Ethan e o eco de sua voz me chamando de “mamãe” persistiam em minha mente. Aquele gesto, apesar de toda a sua estranheza, havia plantado uma semente de afeto em meu coração.Enquanto organizava meus materiais após o expediente, uma mensagem inesperada vibrou em meu celular. Era de Nicolas Santorini. A mensagem, concisa e direta, contrastava com a imagem fria que eu tinha dele."Ethan insiste em vê-la. Se estiver disponível, venha até minha casa. Ele parece mais tranquilo com sua presença."Relendo a mensagem, tentei decifrar o que motivara aquele convite. Desespero? Pragmatismo? Ou algo mais? A mera possibilidade de rever Ethan me trouxe um calor reconfortante. Aos poucos, as visitas foram s
Nicolas SantoriniAs palavras de Ethan martelavam em minha mente como uma acusação silenciosa: “Eles dizem que sou órfão. Que minha mãe não me aguentou.” A crueldade infantil, tão brutal quanto inesperada, me confrontava com minha própria negligência. Eu estava falhando com meu filho, deixando-o à mercê de um mundo implacável.O restante do jantar se arrastou em um silêncio constrangedor. Ethan, absorto em seus próprios pensamentos sombrios, mal tocou na comida. Jhulietta, com uma delicadeza admirável, tentava amenizar a atmosfera pesada, mas seus esforços eram em vão. Eu apenas observava, perdido em um turbilhão de culpa e arrependimento. Quando Ethan finalmente pediu licença para se retirar, um alívio momentâneo pairou na sala de jantar. Mas a conversa que se seguiu prometia ser ainda mais difícil.Jhulietta me encarou, um misto de desconforto e determinação em seus olhos.— Ele não deveria passar por isso. — Sua voz era suave, mas carregada de convicção.— Acha que eu não sei? — re
Nicolas Santorini Saí do quarto de Ethan com o peso do mundo sobre os ombros. Cada passo ecoava no corredor silencioso, a responsabilidade de ser o pai que meu filho merecia me oprimindo a cada instante. Eu me sentia perdido, sem saber como preencher o vazio deixado por Laura, um vazio que, sem perceber, havia me afastado de Ethan, deixando-o à deriva em meio à própria dor. Na mesa da sala de estar, um envelope chamou minha atenção. Era um dossiê de Pedro, meu assistente e homem de confiança, sempre diligente em me manter informado sobre tudo, especialmente sobre aqueles que se aproximavam da minha família. Desde a morte de Laura, minha cautela se tornara quase paranoica, e Pedro entendia essa necessidade de proteção. Sentei-me na poltrona, o couro macio cedendo sob meu peso, e abri o envelope. O nome “Jhulietta Duarte” saltava aos meus olhos. Eu precisava saber mais sobre a mulher que havia entrado em nossas vidas com tanta intensidade. As páginas seguintes revelaram uma históri