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Capítulo 6 – Sombras do Passado

Nicolas Santorini

Saí do quarto de Ethan com o peso do mundo sobre os ombros. Cada passo ecoava no corredor silencioso, a responsabilidade de ser o pai que meu filho merecia me oprimindo a cada instante. Eu me sentia perdido, sem saber como preencher o vazio deixado por Laura, um vazio que, sem perceber, havia me afastado de Ethan, deixando-o à deriva em meio à própria dor.

Na mesa da sala de estar, um envelope chamou minha atenção. Era um dossiê de Pedro, meu assistente e homem de confiança, sempre diligente em me manter informado sobre tudo, especialmente sobre aqueles que se aproximavam da minha família. Desde a morte de Laura, minha cautela se tornara quase paranoica, e Pedro entendia essa necessidade de proteção.

Sentei-me na poltrona, o couro macio cedendo sob meu peso, e abri o envelope. O nome “Jhulietta Duarte” saltava aos meus olhos. Eu precisava saber mais sobre a mulher que havia entrado em nossas vidas com tanta intensidade.

As páginas seguintes revelaram uma história sombria, uma trajetória marcada por uma dor profunda que explicava, em parte, sua conexão imediata com Ethan. Jhulietta era filha de uma professora de artes e bailarina, uma mulher que, ironicamente, teve um destino trágico: foi assassinada pelo próprio marido, pai de Jhulietta. Mas a crueldade não parou por aí. O homem, além de assassino, foi um algoz para a própria filha. Após a tragédia, Jhulietta foi jogada de um lar adotivo para outro, cada qual mais abusivo e negligente que o anterior. Sua infância e adolescência foram um ciclo de horrores até que, finalmente, encontrou um mínimo de estabilidade em um orfanato, de onde saiu aos dezoito anos, completamente sozinha no mundo.

A informação que mais me impactou foi descobrir que, apesar de tudo, Jhulietta vivia em um pequeno apartamento em um bairro perigoso, trabalhando incansavelmente para sobreviver. Lecionava em uma escola pública durante o dia e, duas vezes por semana, dava aulas de dança para crianças carentes na comunidade onde morava. Uma vida de luta e resiliência.

A ficha caiu como um raio. Jhulietta sabia o que era perder uma mãe, não de forma abstrata, mas com a dor lancinante da experiência. Seu sofrimento era uma ferida aberta que apenas quem viveu algo semelhante poderia compreender. De repente, tudo fazia sentido. Sua preocupação genuína com Ethan, seu desejo de protegê-lo, de guiá-lo… ela reconhecia nele a própria dor.

Não era apenas compaixão ou instinto maternal. Era uma conexão profunda, visceral. Ela via em Ethan a oportunidade de oferecer a ele o que lhe fora negado: a chance de ser visto, amado e protegido.

Respirei fundo, uma decisão se formando em minha mente. Eu precisava conversar com ela. Jhulietta, com sua história de superação e sua empatia inata, poderia ser a chave para ajudar meu filho a superar a dor da perda.

Peguei meu celular e digitei uma mensagem com cuidado.

“Jhulietta, preciso conversar com você. Gostaria de fazer uma proposta. Sei que a ideia de cuidar de Ethan de forma mais próxima pode ser desconfortável, mas, com a saída da babá, acredito que você seria a pessoa ideal. Por favor, pense a respeito. Aguardo sua resposta.”

Enviei a mensagem e esperei, a ansiedade me corroendo por dentro. Os minutos se arrastaram como horas até que, finalmente, meu celular vibrou. O nome de Jhulietta brilhava na tela. A resposta era curta, mas carregada de significado.

“Não sou babá, senhor Nicolas. Mas… entendo o que você quer dizer.”

Aquelas palavras pairaram no ar, ambíguas. Não era uma recusa definitiva, mas também não era uma aceitação plena. Havia hesitação em sua resposta, a sombra de um passado doloroso a assombrar. Ela não queria se expor a uma situação que pudesse reabrir suas próprias feridas. Mas, ao mesmo tempo, reconhecia a necessidade de Ethan e, talvez, a sua própria necessidade de ajudar.

Respirei fundo e insisti:

“Não quero que seja uma babá. Quero que seja a professora particular dele, uma tutora. Em tão pouco tempo, ele depositou em você uma confiança que nem mesmo em mim ele demonstra ter totalmente.”

O silêncio se estendeu por mais alguns instantes agonizantes. Então, a notificação finalmente surgiu.

“Ok. Vou aceitar.”

Um simples “ok” que carregava um peso imenso. Ela havia aceitado.

“Amanhã conversaremos sobre horários e valores. Gostaria de começar o quanto antes.”

“Tudo bem, senhor Santorini. Até amanhã.”

Depois de enviar a mensagem, larguei o celular sobre a mesa e me levantei, sentindo o peso de uma decisão importante, mas necessária. Caminhei até o bar, um canto discreto da sala de estar, e peguei uma garrafa de uísque. O líquido âmbar brilhava sob a luz suave, e, por um momento, fiquei olhando para ele, como se pudesse encontrar respostas ali.

Despejei uma dose generosa no copo de cristal e levei-o aos lábios, deixando o calor do álcool descer pela garganta. Sentei-me na poltrona mais próxima, o copo na mão, e, sem querer, minha mente voltou no tempo.

Era inevitável. Sempre que a casa ficava silenciosa e a noite tomava conta, as lembranças de Laura vinham como uma enxurrada. Fechei os olhos e me permiti reviver aqueles momentos por um instante.

Lembrei-me de um dia específico, anos atrás, quando Laura e eu decidimos tirar um tempo só para nós dois. Fomos para uma pequena cabana nas montanhas, longe do mundo, longe de tudo. A risada dela ecoava nos meus ouvidos enquanto a imagem de seu sorriso tomava forma em minha mente. Laura tinha uma maneira única de me fazer sentir completo, como se o mundo lá fora não importasse desde que ela estivesse ao meu lado.

Eu conseguia ver claramente a forma como o sol iluminava seus cabelos, criando reflexos dourados que a faziam parecer uma visão. Ela ria de algo que eu havia dito – provavelmente uma piada boba, mas que, por algum motivo, sempre fazia sentido para ela. “Você é tão bobo, Nicolas,” ela dizia, com aquele brilho nos olhos que fazia meu coração acelerar.

Tomei outro gole do uísque, o gosto agora mais amargo do que antes. Como era possível que tudo isso tivesse acabado tão rápido? A vida tinha um jeito cruel de tirar de nós aquilo que mais amávamos.

Abri os olhos e olhei ao redor da sala. Tudo ali lembrava Laura de alguma forma. As cortinas que ela escolheu, os quadros nas paredes, até o aroma sutil que parecia ter ficado impregnado nos móveis. Era como se ela ainda estivesse presente, em cada detalhe.

Mas a realidade era fria. Ela não estava mais ali, e eu sabia que precisava seguir em frente, por Ethan. Ele merecia um pai forte, alguém que pudesse guiá-lo, mesmo quando a dor parecia insuportável.

Respirei fundo, terminei o uísque em um único gole e deixei o copo sobre a mesa. Amanhã seria um novo dia. E, talvez, com a ajuda de Jhulietta, finalmente pudéssemos encontrar uma nova forma de lidar com essa ausência que tanto nos assombrava.

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