Jhulietta DuarteO burburinho constante dos corredores da escola ecoava ao meu redor, uma sinfonia cotidiana de passos apressados e vozes animadas. A última aula finalmente havia terminado, e eu guardava meus livros na mochila quando Renata surgiu na porta, um sorriso travesso iluminando seu rosto.— Jhulietta, você não vai acreditar no que consegui! — exclamou, entrando na sala com a energia de um furacão e sentando-se na cadeira ao meu lado.— O que aprontou dessa vez, Re? — perguntei, erguendo as sobrancelhas em antecipação.— Convites VIP para a festa *bomba* do clube! Música ao vivo, open bar e a nata da sociedade. Vai ser épico! — Ela brandia os convites como troféus, seus olhos brilhando de excitação.Suspirei, fechando a mochila.— Parece incrível, Re, mas não posso ir.O sorriso de Renata murchou, dando lugar a uma expressão de puro drama.— Ah, qual é, Jhu! Você nunca sai! Se solta, garota! Vai ter uns gatos que você nem imagina. E me deu um trabalho *danado* conseguir esses
Nicolas SantoriniO som constante das ondas quebrando na costa preenchia o escritório improvisado onde eu passava os últimos dias. As negociações sobre a estrutura do novo resort avançavam lentamente, e cada detalhe exigia minha atenção. Com o notebook à minha frente, revisava contratos e plantas arquitetônicas enquanto o relógio marcava o final da manhã.— Então, quando é que você vai parar de brincar de empresário e me acompanhar numa festa decente? — Eduardo surgiu do outro lado da sala com um sorriso provocador, se recostando em uma das cadeiras. Ele tamborilava os dedos na mesa, claramente à vontade.Suspirei e tirei os óculos, esfregando os olhos cansados.— Eduardo, você sabe que eu não vim aqui para festas. — Meu amigo é muito bom no que faz, porém é um festeiro de marca maior, e eu me meti em algumas confusões com meus pais por conta dele. — Ah, sim, sempre tão responsável. — Ele se levantou, caminhando até a janela. — E aí, está vigiando muito a professorinha gostosa? — Me
Jhulietta DuarteO sol já estava alto quando entrei no quarto de Ethan. Ele estava sentado na cama, com os cabelos bagunçados e o olhar ainda carregado de preguiça matinal. Sabia que o dia seria importante para ele e, para mim, seria uma oportunidade única de mostrar algo diferente do que ele estava acostumado. — Bom dia, campeão! — cumprimentei com um sorriso caloroso. — Dormiu bem? Ele levantou os olhos para mim, ainda desconfiado. — Dormi... Por que você tá tão animada? Ri, sentando-me na beira da cama. — Porque hoje você vai passear comigo. Os olhos dele brilharam brevemente, mas logo foram tomados pela curiosidade. — Passear? Pra onde? Respirei fundo, preparando-me para a possível resistência. — Vamos para a escola onde eu trabalho. Ethan fez uma careta, cruzando os braços em um gesto de protesto. — Escola? Eu não quero ir pra escola! Sorri, já esperando essa reação. — Calma, Ethan. Você não vai precisar fazer nada, é só um passeio. Quero que conheça as
Capítulo 14 – Segredos na Cozinha A mansão Santorini estava quieta a noite, exceto pelo leve som de passos no andar de baixo. Desci a escada em direção à cozinha, guiada pelo aroma familiar de limpeza e pelo som ritmado de alguém limpando. Quando entrei, encontrei dona Neuza, a governanta, esfregando o mármore da bancada com dedicação. — Boa noite, dona Neuza — cumprimentei, com um sorriso amigável. Ela levantou o rosto, surpresa, mas logo sorriu de volta. — Boa noite, senhorita Jhulietta. Não esperava encontrar ninguém por aqui a essa hora. — Eu não consegui dormir. Pensei em preparar um chá para relaxar. — Ah, mas deixe que eu faço para a senhora — ela respondeu, já se levantando. Ergui as mãos, rindo suavemente. — De jeito nenhum! A senhora já fez muito por hoje. Não quero dar trabalho. Dona Neuza hesitou por um momento, mas acabou voltando ao seu trabalho. — Como quiser, menina. Enquanto eu acendia o fogão e colocava água para ferver, ela continuava
Nicolas SantoriniApós seis dias fora, finalmente estava chegando em casa. Era quase noite quando cheguei, e a visão da casa iluminada trouxe uma sensação mista de alívio e cansaço. Minha ausência, embora necessária, parecia ter durado uma eternidade, especialmente sabendo que Ethan estava em casa, lidando com os desafios que a vida impôs tão cedo.Ao entrar, o som de risadas infantis ecoava do jardim. Caminhei silenciosamente até a porta que dava para a área externa e parei, observando a cena diante de mim. Ethan estava sentado no chão de grama, cercado por brinquedos, enquanto Jhulietta brincava com ele, rindo de algo que ele disse. Era uma visão tão natural, tão... familiar, que me pegou de surpresa.Fiquei ali, sem me anunciar, apenas observando os dois. O sorriso de Ethan era verdadeiro, contagiante, algo que eu não via há meses. Ele parecia livre, como se por um momento os pesares que carregava tivessem se dissipado. E Jhulietta... Havia algo na forma como ela se conectava com e
Jhulietta Duarte A tarde estava tranquila na mansão Santorini. Eu estava na sala de estudos com Ethan, ajudando-o com um exercício de leitura. Ele estava concentrado, o que era raro, e eu aproveitava cada momento para incentivá-lo. — Muito bem, Ethan! — aplaudi, enquanto ele lia uma frase inteira sem hesitar. — Está melhorando muito! Ele sorriu timidamente, mas antes que pudesse responder, o som de vozes no corredor atraiu nossa atenção. — Parece que temos visitas — comentei. Ele ergueu os olhos para mim, curioso. — Será o vovô? — Vamos descobrir. Peguei sua mão e juntos fomos até a entrada da sala. Lá, encontramos Nicolas conversando com um homem de porte imponente e uma senhora elegantemente vestida. Mesmo com o semblante delicado, ela parecia um pouco confusa, como se estivesse deslocada. — Ah, Ethan! — exclamou Nicolas, vem ver o vovô e a vovó. Ethan olhou timidamente para o casal, enquanto o homem se abaixava um pouco para cumprimentá-lo. — Meu amor como você cresce
Nicolas SantoriniA presença de meus pais na mansão era um evento raro, quase uma anomalia em nossa rotina. Desde que os primeiros sinais da demência de minha mãe começaram a se manifestar, meu pai havia restringido drasticamente suas viagens e aparições públicas. A dinâmica familiar, antes marcada por jantares formais e compromissos sociais, havia se transformado em um ciclo de cuidados silenciosos e preocupações constantes. Tê-los ali, especialmente sob aquelas circunstâncias, despertava em mim um turbilhão de emoções conflitantes: a alegria nostálgica de tê-los por perto, contrastando com a angústia de testemunhar o declínio progressivo de minha mãe.Após o incidente perturbador na sala de estudos, quando minha mãe confundiu Jhulietta com uma tal de Mônica, uma peça crucial parecia faltar no quebra-cabeça. Algo simplesmente não se encaixava. Embora meu pai tivesse oferecido uma explicação plausível, o desconforto que pairava em seus olhos, a sombra de hesitação em sua voz, me dizia
— Oi, mamãe! — Depositei um beijo suave em sua face enrugada, sentindo a textura fina de sua pele sob meus lábios. Ela me encarou por alguns instantes, um olhar vago e hesitante, como se tentasse decifrar um enigma em meu rosto. Um esforço doloroso de se testemunhar.— Nick, meu amorzinho — respondeu finalmente, um sorriso fraco iluminando seu rosto. — Você já fez as tarefas da escola? Posso ver seus cadernos? Não quero que você e Dudu cheguem tarde para o treino. — A voz era doce, mas as palavras… as palavras pertenciam a outro tempo, a uma época em que eu ainda era um adolescente e meu irmão, Eduardo, dividia meus dias. Minha mãe estava presa em uma memória distante, em uma versão minha que não existia mais.— Pode deixar, mamãe — respondi com um sorriso forçado, tentando disfarçar a dor que me apertava o peito.Para um filho, era uma provação cruel olhar para a própria mãe e perceber que ela não o reconhecia completamente. Aquele reconhecimento fragmentado, preso a uma imagem do pa