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Capítulo 5 – Ecos de um Passado

Nicolas Santorini

As palavras de Ethan martelavam em minha mente como uma acusação silenciosa: “Eles dizem que sou órfão. Que minha mãe não me aguentou.” A crueldade infantil, tão brutal quanto inesperada, me confrontava com minha própria negligência. Eu estava falhando com meu filho, deixando-o à mercê de um mundo implacável.

O restante do jantar se arrastou em um silêncio constrangedor. Ethan, absorto em seus próprios pensamentos sombrios, mal tocou na comida. Jhulietta, com uma delicadeza admirável, tentava amenizar a atmosfera pesada, mas seus esforços eram em vão. Eu apenas observava, perdido em um turbilhão de culpa e arrependimento. Quando Ethan finalmente pediu licença para se retirar, um alívio momentâneo pairou na sala de jantar. Mas a conversa que se seguiu prometia ser ainda mais difícil.

Jhulietta me encarou, um misto de desconforto e determinação em seus olhos.

— Ele não deveria passar por isso. — Sua voz era suave, mas carregada de convicção.

— Acha que eu não sei? — retruquei, o tom mais áspero do que pretendia. A defensiva era meu escudo habitual.

Ela cruzou os braços, sustentando meu olhar com uma coragem que me surpreendeu.

— Com todo o respeito, senhor Nicolas, o senhor pode saber, mas o que está fazendo para ajudá-lo?

Aquelas palavras me atingiram como um golpe certeiro. Verdades duras costumavam machucar.

— Ele tem tudo o que precisa. Educação, segurança, conforto material.

— Menos a presença do pai que pode lhe dar segurança emocional — rebateu ela, sem hesitar.

A honestidade brutal de Jhulietta era um espelho implacável, refletindo minhas próprias falhas. Desde a partida de Laura, eu me refugiara no trabalho, erguendo um império como uma barreira contra a dor. Mas, enquanto eu me protegia, negligenciava a fragilidade de Ethan, deixando-o à deriva em um mar de incertezas.

— Não é tão simples, Jhulietta — suspirei, a voz carregada de exaustão.

— Eu sei que não é — respondeu ela, suavizando o tom. — Mas ele precisa do senhor. Não de um pai perfeito, apenas de um pai presente.

Um silêncio denso se instalou entre nós. Aquelas palavras pairavam no ar, carregadas de um peso que eu não conseguia ignorar.

— Você parece se importar muito com ele — murmurei, tentando desviar o foco da conversa.

— Como não me importaria? — respondeu ela, os olhos brilhando com uma compaixão genuína. — Ethan é um menino incrível. Ele só precisa de alguém que o ouça, que o *veja* de verdade.

Havia algo na forma como Jhulietta falava que me tocava profundamente, despertando uma sensação incômoda. A semelhança entre ela e Laura era perturbadora, um eco do passado que eu tentava desesperadamente abafar. Era irracional, eu sabia, mas a cada olhar, a cada gesto, a sombra de minha falecida esposa pairava sobre nós. Não era apenas a aparência física – os traços assustadoramente similares –, mas a forma como ela se conectava com Ethan, como se houvesse entre eles um laço invisível.

— Ele pediu que você fosse a professora dele — declarei, quebrando o silêncio.

Um sorriso hesitante surgiu em seus lábios.

— Eu sei.

— E o que acha disso?

— Acho que ele só quer se sentir seguro, compreendido. Ele busca um lugar onde não se sinta julgado ou pressionado.

Assenti lentamente, ponderando suas palavras.

— Talvez devêssemos considerar aulas particulares por enquanto — sugeri, mais para mim mesmo do que para ela. — Até que ele esteja pronto para voltar à escola.

— Pode ser uma boa ideia — concordou ela. — Mas o mais importante, senhor Nicolas, é que o senhor converse com ele. Tente entender o que ele realmente precisa.

Ela tinha razão, é claro. Mas confrontar os sentimentos de Ethan significava confrontar os meus próprios fantasmas, uma tarefa que me aterrorizava.

Após a partida de Jhulietta, dirigi-me ao quarto de Ethan. Ele estava sentado na cama, concentrado em um desenho.

— Posso entrar? — perguntei, parado na porta.

Ele ergueu os olhos e deu de ombros.

— Você já está aqui.

Entrei e sentei ao seu lado. O silêncio pairou entre nós por um momento, enquanto eu observava o desenho em seu caderno. Era uma casa, com uma figura pequena na janela e outra maior do lado de fora.

— Quem são eles? — perguntei, apontando para as figuras.

— Eu e a mamãe — respondeu ele, sem hesitar.

Um aperto doloroso tomou meu coração.

— Ethan, você sente muita falta dela, não é?

Ele assentiu, mordendo o lábio para conter as lágrimas que ameaçavam cair.

— Todo mundo na escola tem mãe… menos eu.

— Eu sei que é difícil — murmurei, tentando manter a voz firme. — Mas você não está sozinho, filho.

Ele me olhou com uma mistura de esperança e descrença.

— Então por que você trabalha tanto?

A pergunta me desarmou completamente. Respirei fundo, buscando as palavras certas.

— Porque, às vezes, trabalhar é mais fácil do que… sentir saudade.

Ele franziu a testa, tentando processar minhas palavras.

— Mas eu sinto saudade o tempo todo…

— Eu sei, Ethan — respondi, passando a mão por seus cabelos macios. — E eu vou tentar estar mais presente. Eu prometo.

Ele não respondeu, apenas se inclinou e apoiou a cabeça em meu ombro. Permanecemos ali em silêncio, um silêncio que, pela primeira vez em muito tempo, não era carregado de tensão, mas de uma conexão silenciosa.

Enquanto o colocava na cama, o rosto de Jhulietta voltou a minha mente. Ela estava certa. Ethan precisava de mim. Mas, de alguma forma inexplicável, ele também parecia precisar dela.

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