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Capítulo 4 – Pequenos Passos de Conexão

Jhulietta Duarte

O dia na escola transcorreu entre a sinfonia usual de vozes infantis, risadas contagiantes e os desafios inerentes ao desenvolvimento. Ensinar era mais do que uma profissão, era a minha paixão, a força motriz que me impelia adiante. No entanto, mesmo em meio à rotina, a imagem de Ethan e o eco de sua voz me chamando de “mamãe” persistiam em minha mente. Aquele gesto, apesar de toda a sua estranheza, havia plantado uma semente de afeto em meu coração.

Enquanto organizava meus materiais após o expediente, uma mensagem inesperada vibrou em meu celular. Era de Nicolas Santorini. A mensagem, concisa e direta, contrastava com a imagem fria que eu tinha dele.

"Ethan insiste em vê-la. Se estiver disponível, venha até minha casa. Ele parece mais tranquilo com sua presença."

Relendo a mensagem, tentei decifrar o que motivara aquele convite. Desespero? Pragmatismo? Ou algo mais? A mera possibilidade de rever Ethan me trouxe um calor reconfortante. Aos poucos, as visitas foram se tornando mais frequentes, mesmo com a clara relutância de Nicolas.

Peguei o ônibus e logo me encontrava diante dos portões da mansão Santorini. A imponência da construção, os jardins meticulosamente cuidados, tudo ali exalava opulência. Um mundo à parte da minha realidade.

Assim que a governanta abriu a porta, passos rápidos ecoaram pelo hall. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, Ethan surgiu correndo e se atirou em meus braços, um abraço apertado e necessitado.

— Jhulietta! — exclamou, a alegria contagiante iluminando seu rosto.

— Oi, Ethan! — respondi, envolvendo-o em meus braços. — Como está o meu pequeno aventureiro?

O sorriso vacilou, dando lugar a uma expressão séria.

— Preciso te contar uma coisa — disse ele, puxando minha mão. — Vem!

Ele me conduziu até a sala de estar. Nicolas estava sentado em uma poltrona, concentrado em alguns papéis. Seus olhos encontraram os meus por um breve instante, um aceno quase imperceptível antes que ele voltasse a atenção para os documentos.

Acomodei-me no sofá com Ethan, que se aninhou ao meu lado, segurando minha mão como se temesse perdê-la.

— Como foi o seu dia, Ethan? — perguntei, tentando quebrar a atmosfera tensa.

Ele deu de ombros, fitando o chão.

— Chato.

— Por quê? — insisti, com delicadeza.

Ele hesitou, mordendo o lábio inferior.

— Eu não fui para a escola — confessou, a voz baixa e carregada de culpa.

Uma pontada de preocupação me atingiu.

— Não foi? O que aconteceu?

Seus olhos azuis encontraram os meus, a tristeza transparecendo em cada detalhe.

— Eu não gosto de lá — murmurou. — É horrível.

— Horrível? — arqueei as sobrancelhas, surpresa. — Por quê?

Um suspiro profundo escapou de seus lábios, um gesto que parecia deslocado em uma criança tão jovem.

— Os outros meninos… eles riem de mim. Dizem que eu sou estranho porque eu não tenho… — ele interrompeu a frase, desviando o olhar.

— Porque você não tem o quê, Ethan? — incentivei-o a continuar, com a voz suave.

— Porque eu não tenho mãe — a confissão sussurrada me atingiu como um golpe.

Meu coração se apertou em uma dor lancinante. Aquilo explicava muita coisa.

— Oh, Ethan… — apertei sua mão em um gesto de consolo.

— Eu odeio a escola — continuou ele, a voz embargada pela frustração. — Não quero mais ir.

Observei-o por um momento, buscando as palavras certas.

— Eu entendo que a escola pode ser difícil às vezes — comecei. — Mas também pode ser incrível.

Ele franziu a testa, cético.

— Incrível? Como?

— Você pode aprender coisas novas, fazer amigos, descobrir talentos que nem imagina ter e até mesmo encontrar algo que você ame fazer.

Ele balançou a cabeça em negativa.

— Eu não quero amigos. Eles só me machucam.

— Nem todos são assim, Ethan — retruquei. — E, às vezes, as pessoas que nos magoam estão apenas tentando esconder suas próprias inseguranças.

Ele pareceu ponderar minhas palavras, mas a dúvida ainda pairava em seus olhos.

— E se eu não conseguir?

— Você vai conseguir, Ethan. Você é muito mais forte do que pensa.

Ele permaneceu em silêncio por um instante, antes de se inclinar e apoiar a cabeça em meu braço.

— Eu queria que você fosse minha professora — sussurrou.

Um sorriso brotou em meus lábios, tocada pela confiança que ele depositava em mim.

— Mesmo?

— Sim. Você me entende — respondeu, como se fosse óbvio.

Compartilhamos mais alguns minutos de conversa. Ele me falou sobre seus brinquedos favoritos, seu amor por desenhos e sua paixão por chocolate. A cada palavra, a cada gesto, a barreira que o isolava parecia se dissipar, revelando o menino doce e inteligente que se escondia por trás da dor.

Durante nossa conversa, senti o olhar de Nicolas sobre nós. Ele estava parado na entrada da sala, observando-nos em silêncio. Seus olhos eram indecifráveis, mas percebi neles uma mistura de surpresa e… talvez admiração.

— Ethan, está na hora do jantar — anunciou Nicolas, interrompendo nossa conversa.

Ethan fez uma careta.

— Posso jantar com a Jhulietta?

— Isso depende dela — respondeu Nicolas, fixando seus olhos em mim.

— Claro — aceitei, sorrindo para Ethan.

Enquanto nos dirigíamos à sala de jantar, a atmosfera se adensou. Aquele jantar, aquele convívio, pareciam prenunciar algo maior. Eu não compreendia completamente a dinâmica daquela família, mas sentia que havia ali algo mais profundo, algo que transcendia a mera coincidência.

O jantar transcorreu em um misto de silêncio por parte de Nicolas e a animação contagiante de Ethan. Na sobremesa, no entanto, uma pergunta de Ethan quebrou o tênue equilíbrio.

— Papai, eu ainda não quero voltar para a escola. Posso ter aulas com a Jhulietta?

O olhar de Nicolas se voltou para mim, como se a ideia tivesse partido de mim.

— O que conversamos sobre você tentar coisas novas? — perguntei a Ethan, com delicadeza.

— Eu sei, Jhulietta, mas não quero ir para a escola ainda. Meus colegas me chamam de órfão e dizem que minha mãe não me aguentou e por isso morreu.

As palavras de Ethan me atingiram como um choque. A crueldade infantil, a dor profunda da perda… tudo se conectou naquele instante. A razão de sua aversão à escola, o motivo de sua fragilidade. Aquele menino carregava um fardo pesado demais para seus pequenos ombros.

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