Owen PergattiBocejo, girando a caneta entre os dedos, ansioso para estar longe.Amo minha empresa e meu trabalho, mas não suporto reuniões, quando preciso ser simpático o tempo todo, entendo que essa é a parte chata de ser o CEO da System Tecnology, participar de tudo e me empenhar é o que a faz ser uma das maiores empresas de tecnologia do país.E saber que a fiz crescer sozinho, sem precisar apelar para o meu sobrenome, isso faz com que eu me sinta ainda mais foda.Minha vida é incrível. Difícil acreditar que o garotinho tímido, que sofria bullying no colégio e vivia à sombra do irmão mais velho, voaria tão alto. Tenho trinta anos, uma empresa de renome e tudo o que desejo em um estalar de dedos ou um apertar de botão.Olho para a mesa, me esforçando para prestar atenção enquanto o homem asiático e baixinho, com bochechas de buldogue, tenta me convencer de que lucraríamos se fechássemos com eles a distribuição de placas de rede para os nossos produtos.O assunto não era de todo ru
OwenOwen Aperto as têmporas, olhando para os prédios iluminados dentro do carro em movimento, minha cabeça está começando a doer já que minha mãe tagarelou durante todo o jantar e ainda me obrigou a deixá-la em casa antes de seguir com o motorista, não ousei argumentar, já que não estou em uma posição favorável com ela.Dei uma passada rápida no meu apartamento, tempo suficiente para tomar um banho e fugir de alguns urubus da imprensa, procurando alguma coisa para ferrar ainda mais com minha imagem.Recebi vários directs no meu instagram, perfis de fofoca querendo apurar os fatos com relação à famigerada foto e alguns xingamentos vindos de adolescentes, o que me fez rir. Eu estava decidido a não lidar com isso, deixaria com Silvya e Evelyn a contratação de uma empresa de Relações Públicas, uma que pudesse gerenciar toda essa crise e abafar o caso.Não me importava com o que falavam a meu respeito, lido bem com o rótulo de cafajeste e até gosto disso, mas também sei que isso pode me
Owen A mulher permanece inconsciente, na verdade, está mais para uma garota.Ela é pequena demais. Hugo me olha assustado, como se procurasse uma solução.— Ei, garota, acorda! — Hugo fala, sacudindo-a e a pegando no colo em seguida.Vejo minha carteira cair no chão e me apresso em pegá-la, mas a garota não se move.— Ela desmaiou, não está fingindo — confirma, olhando para a ela, então me aproximo, fitando seu rosto sujo com algo que parece fuligem.Como ela chegou nessa situação? Seria menor de idade? Por um momento, esqueço que a pilantra me roubou e sinto algo que se assemelha a pena, algo que não consigo explicar.— Devemos chamar a polícia? A ambulância? — me pergunta.Au au...O animalzinho rosna e late, sem soltar o tecido da minha calça, enquanto isso os pingos caem mais espessos, nos molhando.— Não vou envolver a polícia, ela é só uma garota. — Me volta a mente seu olhar assustado.Encaro novamente seu corpo desfalecido, suas roupas maltrapilhas estão imundas e o tênis
Estela Se arrependimento matasse, eu já estaria do outro lado, porque nunca me arrependi tanto por ter escolhido roubar alguém. A verdade é que eu só quis ficar perto desse homem por alguns segundos.Eu poderia ter roubado qualquer outro, mas fiquei igual uma idiota esperando que ele saísse daquele lugar, afinal, na minha cabeça, o momento em que tirasse a carteira de seu bolso, seria o máximo que eu chegaria perto de alguém como ele.Como eu pude ser tão patética?Eu moro nas ruas, não deveria sequer olhar para qualquer homem depois de tudo o que me aconteceu, e agora estou tentando mover meu corpo e conseguir dar o fora desse lugar, antes que eu desmaie outra vez e deixe Ares sozinho, completamente a mercê dessas pessoas.Sinto minhas pernas tremerem.A moça do rosto bonito e cabelos negros e brilhantes disse que desmaiei, talvez fosse verdade, estou há muito tempo sem comer e com muitas dores no corpo, agora parece doer até quando respiro, mas isso não me impedirá de dar o fora da
OwenConsigo alcançar o corpo da garota antes de ele ir ao chão, a seguro e coloco sobre o sofá. Ares dá um latido, seguido de um choro.— Oh, droga — murmuro ao perceber que seu corpo treme, como se estivesse congelando. — Meu Deus, ela está tremendo.Evelyn se aproxima, tocando sua fronte com as costas das mãos, arregalando os olhos em seguida.— Ela está ardendo em febre — constata. A garota desmaiou após uma crise de tosse, e viver na situação dela, em meio ao frio e às chuvas constantes, com certeza afetou sua saúde. — Que droga, Owen, não podemos deixá-la assim — diz, se levantando. — Ela precisa ser examinada por um médico.— Evelyn, não posso correr o risco de aparecer com ela em um hospital — dizer isso é assumir minha covardia, estou mais preocupado com minha imagem do que com a saúde da menina.— Você conhece algum médico que possa vê-la? — pergunta.Me vem à memória a mulher que conheci em um evento de caridade, ela era uma médica recém-chegada do continente africano e me
Estela Me esforço para abrir os olhos, sentindo as pálpebras pesarem.O teto com molduras brancas e as pequenas luzes deixam claro que não estou no galpão. Estou deitada sobre algo macio, tão macio que parece que estou sobre nuvens.Será que morri e estou no céu?Então as memórias da noite passada me acertam em cheio e ergo o corpo rapidamente.Estou sobre uma cama com lençóis claros, então olho ao redor, tentando me levantar, mas sinto que meu corpo pesa uma tonelada, consigo me sentar e então percebo a ausência das minhas roupas.Uma camiseta preta cobre meu corpo, então meu coração acelera e sinto vontade de vomitar. O desespero me invade e uso toda a força que me resta para me levantar.Meus pés tocam um tapete macio e felpudo, passo as mãos pelo meu corpo, ignorando as dores, movida somente pelo medo de alguém ter me tocado enquanto eu estive desacordada.Sinto o cheiro de jasmim, então percebo que vem de mim, eu estou limpa, não estou com minhas roupas porque tomei banho.Eu nã
Owen— Você trouxe uma pediatra, Owen? Uma pediatra? Você é um idiota — Evelyn fala, vindo atrás de mim.— É uma médica, não é? — pergunto, me virando para ela.Quando Lucinda disse que era pediatra, eu menti que ela veria uma criança, mas ela é a única médica que conheço e parece ser uma pessoa de confiança, uma que não sairá falando aos quatro ventos que estou com uma garota doente em meu apartamento.A garota está pálida, pele e osso, e minha única preocupação é com a saúde dela, e mesmo não sendo uma criança, eu imaginava que Lucy não se recusaria a atendê-la.— E é a única que conhece? Pelo tanto de mulheres com quem transa, muito me espanta somente uma delas ser médica. — Revira os olhos.— Eu não saio perguntando a profissão de cada mulher com quem durmo, e não que seja da sua conta, mas eu não transei com a Lucy, a conheci em um evento de caridade. Qual o seu problema, Evelyn? — questiono.Ela não costuma ser tão ácida e mal-humorada.— Meu problema? Meu problema é você ter me
Owen Ela realmente estava preocupada com o bem-estar de Estela.Estou despreocupado com relação ao sigilo, sei que Lucinda é profissional demais para expor algo assim para qualquer pessoa, muito menos para a mídia.Entro na sala e Ares corre em minha direção, pulando em cima mim, então me abaixo e coço seu pelo.Olho ao redor, procurando por Evelyn, mas imagino que ela esteja na cozinha.Lembro da sopa e me apresso, com receio de ela ter passado do ponto, mas quando entro na cozinha, vejo Evelyn mexendo o líquido com a colher e apagando o fogo em seguida.— Está pronta. — Me aproximo, passando a mão pelos cabelos ainda mais desalinhado da minha amiga. — O que vamos fazer agora? — pergunta, cruzando os braços.Encaro minha amiga por um tempo, sem encontrar uma resposta concreta. Sinto as patas de Ares na minha perna e afago seu pelo ele me olha de um jeito engraçado.Acho que, assim como sua dona, ele também precisa de cuidados e, algo me diz que ele não tem as vacinas necessárias, e