Capítulo 2

Owen

Owen

Aperto as têmporas, olhando para os prédios iluminados dentro do carro em movimento, minha cabeça está começando a doer já que minha mãe tagarelou durante todo o jantar e ainda me obrigou a deixá-la em casa antes de seguir com o motorista, não ousei argumentar, já que não estou em uma posição favorável com ela.

Dei uma passada rápida no meu apartamento, tempo suficiente para tomar um banho e fugir de alguns urubus da imprensa, procurando alguma coisa para ferrar ainda mais com minha imagem.

Recebi vários directs no meu i*******m, perfis de fofoca querendo apurar os fatos com relação à famigerada foto e alguns xingamentos vindos de adolescentes, o que me fez rir. Eu estava decidido a não lidar com isso, deixaria com Silvya  e Evelyn a contratação de uma empresa de Relações Públicas, uma que pudesse gerenciar toda essa crise e abafar o caso.

Não me importava com o que falavam a meu respeito, lido bem com o rótulo de cafajeste e até gosto disso, mas também sei que isso pode me prejudicar nos negócios, então a melhor solução é empurrar toda essa sujeira para debaixo do tapete.

Nolan deve estar se vangloriando e rindo agora, só por eu estar enfiado nessa merda.

M*****a hora que fui me envolver com essa mulher.

Meus músculos estão tensionados a ponto de doerem, nem as mudanças de treino na academia os deixam assim., talvez eu precise usar essa merda de exposição para aprender a ser mais discreto e diminuir um pouco da bebida ao sair para me divertir.

O ponto positivo da Fallout é ela ser uma casa discreta, nada de bairro de luxo e muito menos uma fachada chamativa, pelo contrário, o lugar fica em um bairro industrial, cheio de becos e longe do centro da cidade, qualquer um que passe em frente ao clube jamais imaginaria o tipo de orgia que rola ali.

Eu gosto de lugares onde ninguém pertence a ninguém, e os fetiches mais absurdos podem ser realizados sem nenhum julgamento. No começo, eu tinha um certo receio, mas depois de conhecer bem esse mundo, passei a gostar mais do que deveria.

E tudo o que eu preciso para hoje é foder o máximo de bocetas que eu conseguir, só para tirar toda a tensão desse dia bosta.

Passo os dedos pelos fios de cabelo enquanto observo meu reflexo no vidro traseiro do carro. Talvez eu seja um pouco exagerado em relação à minha aparência, até um pouco narcisista, mas qualquer um que visse uma foto minha na infância entenderia meus motivos.

Eu era um garoto gordinho, bochechas muito grandes, óculos de grau bem grossos por causa da miopia, eu andava sempre de cabeça baixa e tinha pavor de me olhar no espelho. Não tinha amigos na escola e, na maioria das vezes, era chamado por apelidos cruéis, como: chupeta de baleia, elefante quatro-olhos, hipopótamo nerd, e outros que nem me lembro.

Sem falar das vezes em que me batiam gratuitamente, me trancavam nos armários e não perdiam a oportunidade de estragar minhas coisas.

Depois de um certo tempo, passei a ficar todo o recreio trancado em um dos banheiros, chorando e torcendo para que eu não fosse encontrando. Não tinha ninguém ali para me defender e quando meu pai descobriu tudo, depois de eu levar uma surra e ter meus óculos quebrados, ele somente disse “Você não passa de um moleque gordo e covarde!”.

Ouço sua voz na minha mente como se ele estivesse dizendo nesse exato momento. Nenhum soco ou xingamento dos garotos do colégio doeu tanto quanto ouvir isso do meu pai.

Mudar de escola e conhecer Chris, Petter e Wesley foi a melhor coisa que me aconteceu, pela primeira vez eu tive amigos, amigos de verdade, que não se importavam de ter um menino gordo e que mal sabia praticar algum esporte por perto, eles foram peça-chave para o meu despertar.

Sinto falta de nós quatro juntos...

Petter foi laçado e hoje mora no Sul do Brasil com sua amada, Wes está viajando pela Europa, em um ano sabático, mas por sorte tenho Chris grudado a mim, ele e eu sempre fomos mais próximos, mas agora ele é quase um homem casado e estou sem companhias confiáveis para me divertir.

Percebo que estamos nos aproximando do clube, então tiro o cinto de segurança e confiro as mangas dobradas da minha camisa enquanto Hugo estaciona o carro e sai antes que eu abra a boca para dizer que não preciso que ele abra a porta para mim.

— Não precisava — digo ao descer e ele dá um sorrisinho fechado.

Olho ao redor, conferindo se não tem ninguém por perto, a quantidade de repórteres em frente ao meu prédio me deixou apreensivo. Tenho a sensação estranha de estar sendo observado, então olho para os lados novamente, não há ninguém na rua além do único segurança com cara de poucos amigos na entrada da Fallout

— Não precisa estacionar lá dentro, não que tenha problemas com Linda, mesmo sem ela imaginar o lugar para onde teve que me trazer — Dou um tapinha em seu ombro e ele dá uma risadinha.

— Melhor não correr o risco, sabe como minha mulher é. — Volta a rir.

Hugo e a esposa trabalham para minha família há um bom tempo, Linda é governanta e Hugo é o chefe de segurança da mansão, vez ou outra me ajuda sendo meu motorista, e conhecendo minha mãe, ele fez questão de me trazer hoje só para me espionar.

Hugo é discreto, mas em compensação, Linda é uma bela de uma fofoqueira.

— Obrigado, Hugo, não posso prometer que não irei demorar.

— Fique tranquilo, senhor Owen, divirta-se — diz com um sorriso amistoso nos lábios.

Assinto, indo em direção à entrada do lugar e dando boa noite para o segurança, pronto para algumas horas do que o clube tem melhor, sexo sem pudor.

Depois de foder uma loira gostosa enquanto o marido dela olhava, senti boa parte da tensão se esvair, mas depois fui incomodado por uma sensação estranha, algo inexplicável, um sentimento de vazio.

Disposto a ignorar isso, diminui o intervalo entre as doses de whisky, mas tive a impressão de que o álcool fez essa coisa estranha dentro de mim se intensificar. O que me preocupa é que não é a primeira vez que esse sentimento me invade e eu não gosto disso, odeio me sentir assim.

Olho para o redor e percebo que sou o único que não está aproveitando como deveria.

— Acho que já deu por hoje — digo, virando a bebida de uma vez.

Pego meu cartão, me aproximando da saída, dormir seria o melhor que eu poderia fazer por mim, então passo pela porta que entrei, sentindo alguns pingos de chuva me acertarem. Paro por alguns segundos, olhando para o céu coberto e vejo apenas escuridão.

Ouço um latido e olho para o lado, vendo um homem — não um homem, está mais para um garoto. Mesmo de longe, consigo ver de relance seu rosto, seu corpo é magro e franzino — segurando um cachorro de porte médio, no que parece ser uma coleira.

A ausência do segurança faz com que eu acelere meu passo até o carro, então vejo a porta da frente ser aberta e Hugo se apressa em vir abrir a porta traseira para que eu entre. Balanço a cabeça, rindo de sua teimosia.

Antes que eu chegue até o carro, sinto o corpo magro do garoto chocar contra o meu e o cheiro forte que vem dele me incomoda. Ele não pede desculpas e o vira-lata, que segue o seu dono fielmente, me mostra os dentes, dando um rosnado.

— Owen, é melhor verificar seus bolsos, isso pareceu algo proposital — Hugo diz, se aproximando. Pisco rapidamente, passando as mãos pelos bolsos.

— O filho da puta roubou minha carteira...— falo, arregalando os olhos e vendo o garoto correr, entrando em um beco e sendo seguido pelo cachorro.

Não me preocupo com o dinheiro que tem na carteira ou com os cartões de crédito, o cartão magnético de acesso do meu prédio e apartamento é o que me preocupa, só quero ir para casa e dormir, e não resolver problemas com a segurança do prédio ou ter que ir até a polícia.

Quando faço menção de correr atrás do trombadinha, Hugo me impede.

— Pode ser perigoso, deixe que eu vou — fala, correndo na direção em que o garoto foi, mas sem pensar duas vezes, o sigo, indo um pouco mais devagar.

Antes que eu dobre a esquina e entre no beco, Hugo surge, agarrado ao garoto.

— Me solta, me solta, eu não fiz nada — a voz é fina demais, mas seu rosto está parcialmente coberto pelo capuz do moletom.

Um rosnado me faz olhar para baixo, vendo o cachorro agarrado ao tecido da calça de Hugo.

— Não vou soltá-lo, devolva a carteira que posso pensar em não chamar a polícia — Hugo fala, sacudindo a perna onde o animalzinho segue irredutível.

— Seu desgraçado, filho da puta — grita, balançando o corpo para se soltar.

Em um movimento abrupto, na intenção de mostrar que está no controle, Hugo arranca o capuz e, junto com ele, uma toca de lã, revelando cabelos castanhos longos, que caem sobre os ombros...

Então ele ergue o rosto e dou um passo para trás, surpreso.

Não é ele, é ela. Uma mulher...

Seu rosto, mesmo sujo, tem traços delicados e talvez eu possa dizer que ela é bonita.

— É... é uma mulher — digo embasbacado e Hugo arregala os olhos, então vejo o rosto dela empalidecer, seus olhos fecharem e seu corpo desfalecer.

Hugo percebe e a segura, impedindo-a de cair no chão.

Ouço um rosnado mais alto e olho para baixo, vendo o cachorro marrom grudado na barra minha calça.

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