Estela— Ei, acorde... Estela? — uma voz doce chama meu nome e, por um instante, acredito que tudo o que vivi nos últimos meses foi um pesadelo.Viro o corpo, abrindo os olhos lentamente, mas a teoria do pesadelo cai por terra quando vejo a mesma garota sorrindo de um jeito amigável para mim.Ela é gentil demais, sorridente demais.O remédio que a médica me deu diminuiu um pouco as dores que sinto no meu corpo, então consigo me mexer sem sentir que cada membro pesa uma tonelada, mas estou com tanto sono.Pneumonia, a médica não fez rodeios ao me diagnosticar.Eu sabia que tinha algo de errado comigo, a tosse, a falta de ar e a dor insuportável no corpo, também sabia que estava abaixo do peso, já que não estava tendo uma alimentação saudável nos últimos meses.Não é como se eu pudesse escolher o que eu comia, isso quando eu comia.A falta de uma alimentação saudável e nutritiva, somada às horas passadas debaixo de chuva, ficando exposta ao frio ou ao calor extremo... Tudo resultou no m
OwenEstou gostando mais do que deveria desse cachorro.Por que nunca tive um antes?Se tivesse adotado um filhote, com certeza eu seria mais responsável. Olho para Ares deitado em uma posição confortável no banco traseiro.Acabei demorando mais do que o planejado no petshop, mas não sabia que dar banho em cachorro demorava tanto, só que valeu a pena, ele está uma graça, todo limpinho.Comprei ração e petisco o suficiente para o carinha não reclamar, e brinquedos para ele gastar toda sua energia, já que sua dona precisa ficar em repouso absoluto.O veterinário deu todas as vacinas e descartou qualquer problema de saúde, o que me deixa menos preocupado.De doente já basta a dona dele.Evelyn me mataria se soubesse que pensei isso, aliás, ela vai me matar, porque não sei há quanto tempo estou fora de casa e, ainda por cima, não trouxe o celular.Comprei sanduíches no primeiro fast-food que encontrei no caminho de volta e todos os remédios que minha hóspede vai precisar.Eu tinha tantos
OwenCaio na gargalhada toda vez que lembro que a garota pensou que Evelyn fosse minha namorada, é tão absurdo e nojento que chega ser engraçado.Acho que ontem eu fiquei quase meia hora explicando para Estela que eu e Evelyn nunca tivemos nada, não que tivesse necessidade, mas não queria que ela acreditasse em algo tão absurdo.Ainda mais eu, que nunca tive um relacionamento sério. Rio, passando uma camada fina de maionese no pão.Já que estou sendo uma espécie de babá da minha hóspede hostil, estou fazendo o possível para mantê-la bem alimentada e entretida.Bom, a televisão a tem mantido entretida, já que não trocamos nenhuma palavra desde o momento em que expliquei o tipo de relacionamento que tenho com Evelyn.Ela ainda não confia em mim e não quero que fique desconfortável por causa da minha presença, e tudo o que quero é dar o mínimo de segurança e paz para aquela garota.Dormir no quarto de hóspedes é o menor dos meus problemas, até porque não vou tirá-la de lá só por caprich
OwenNão gosto de treinar depois do trabalho, mas o fato de eu ter acordado atrasado me impediu de treinar pela manhã e, como não abro mão dos meus treinos semanais, precisei ir depois de um dia ferrado na empresa.Só que nenhum treino fora da rotina teria me preparado para o que encontrei assim que abri a porta do meu apartamento e entrei na sala.Estela está deitada no chão, imagino que brincando com Ares, que vem correndo em minha direção, então ela levanta rápido e essa é a primeira vez que a vejo de pé desde que chegou.Meus olhos percorrem cada centímetro do seu corpo, coberto apenas por uma das minhas camisetas, uma visão que eu não deveria estar achando sexy, então engulo em seco, virando o rosto imediatamente.Sua imagem permanece em minha mente e é o suficiente para deixar meu pau duro.Preciso me concentrar e ignorar o fato de que estou excitado justo por uma visão tão simples, justo por alguém tão improvável.Isso é obsceno.Que merda está acontecendo comigo?Qual é? Isso
EstelaO orfanato não foi uma parte ruim da minha vida, mesmo que crescer sendo órfã não seja a coisa mais encantadora do mundo, mas não gosto quando me olham com aquela cara de “pobre órfãzinha”.Era a primeira vez que eu tinha falado sobre o orfanato depois de tanto tempo e, mesmo não tendo detalhado, as lembranças de Elisa vieram forte e senti muita saudade dela, de ouvi-la dizer que tudo ficaria bem, que sempre cuidaria de mim e das crianças.Me deu saudade dos pequenos também, e de como eles me deixavam maluca.Espero que todos estejam bem, em um lugar onde sejam bem cuidados, ou com uma família que possa enchê-los de amor.O jantar com Evelyn e Owen foi bom, há muito tempo que não sentava em uma mesa para ter refeições com outras pessoas. Owen é meio que um irmão mais velho para Evelyn, rio me lembrando das coisas que ela contou sobre ele.Owen é fofo, gentil e, toda vez que me olha, sinto um frio na barriga.Aperto os olhos, morrendo de vergonha da forma como estava quando ele
OwenGiro o cubo mágico resolvido entre os dedos, recosto na cadeira e coloco os pés sobre a mesa.Bocejo, apertando os olhos.Tive uma noite horrorosa, dormi no máximo duas horas porque estava me sentindo péssimo por Estela ter me visto enquanto eu fodia Dona no sofá na sala.Eu até sugeri que fôssemos para o quarto, mas Dona não quis e, depois de uma garrafa de vinho e muito tesão acumulado, não me preocupei com qualquer flagrante, na verdade, esqueci por um momento que Estela estava no meu quarto.Quando seus olhos assustados encontraram com os meus, por um instante eu fiquei sem reação. Eu deveria ter parado, deveria ter pedido para Dona ir embora, mas ao invés disso, eu continuei.E o pior de tudo foi fechar os olhos e ter a visão de Estela enquanto gozava.Me senti um merda depois e, para piorar, acabei sendo grosso com Dona, algo que não é do meu feitio. Posso ser um canalha, mas não esse tipo de canalha.Só que se Dona soubesse de Estela, não sei como poderia reagir, ou se aca
EstelaPassei o dia todo grudada no celular, baixei vários aplicativos e até tirei algumas selfies.Evelyn mandou algumas mensagens para saber como eu estava e disse que não viria me ver hoje, porque jantaria com a noiva do irmão.Era a primeira vez que eu trocava mensagens com alguém e gostei da experiência.Fiquei um tempo olhando para a foto de Owen no aplicativo de mensagem, sentindo vontade de mandar um “Oi”, mas eu sabia que não era uma boa ideia. Ele, com certeza, estava muito ocupado.Pesquisei sobre ele no Google e, como eu suspeitava, ele é podre de rico, dono de uma empresa de tecnologia e acho que ele é quase igual aquele dono da Tesla, o que quer colonizar Marte.Acho que Owen não é tão excêntrico.Owen é um magnata e conquistador, tem uma legião de mulheres atrás dele, mas nem ousei me aprofundar sobre seus relacionamentos para não me frustrar.Não que eu tenha ciúmes, muito menos alguma chance com alguém como ele, mas não vou me torturar. Já não basta a imagem de ontem
OwenAbro os botões da camisa encharcada pelo Château d'Yquem. Não estou irritado, só estou me sentindo estranho.Ainda sinto as reações do abraço desajeitado de Estela.Sorrio para o meu reflexo no espelho, porque tenho a sensação de que, quanto mais tempo Estela fica por perto, maior a probabilidade de eu me enfiar em um problema.E o pior é que toda vez que olho para os lábios daquela garota, fico tentado a me enfiar nesse bendito problema.Isso faz com que eu me sinta um cretino.Ela é só uma garota, que viveu boa parte da vida em um orfanato.Dou uma risada ao me lembrar da cena que presenciei quando cheguei, Estela cantarolando de um jeito engraçado, enquanto balançava os quadris e a cabeça de um lado para o outro.Estela tem despertado uma curiosidade em mim, que há um tempo eu não sentia. Geralmente as mulheres com quem me envolvo estão muito preocupadas em falar de si mesmas, no intuito de me impressionar.É... Definitivamente, Estela não é do tipo de mulher com quem costumo