Se arrependimento matasse, eu já estaria do outro lado, porque nunca me arrependi tanto por ter escolhido roubar alguém. A verdade é que eu só quis ficar perto desse homem por alguns segundos.
Eu poderia ter roubado qualquer outro, mas fiquei igual uma idiota esperando que ele saísse daquele lugar, afinal, na minha cabeça, o momento em que tirasse a carteira de seu bolso, seria o máximo que eu chegaria perto de alguém como ele.
Como eu pude ser tão patética?
Eu moro nas ruas, não deveria sequer olhar para qualquer homem depois de tudo o que me aconteceu, e agora estou tentando mover meu corpo e conseguir dar o fora desse lugar, antes que eu desmaie outra vez e deixe Ares sozinho, completamente a mercê dessas pessoas.
Sinto minhas pernas tremerem.
A moça do rosto bonito e cabelos negros e brilhantes disse que desmaiei, talvez fosse verdade, estou há muito tempo sem comer e com muitas dores no corpo, agora parece doer até quando respiro, mas isso não me impedirá de dar o fora daqui.
Mal passei os olhos pelo lugar e soube que era coisa de gente rica, e gente rica não ajuda uma pessoa como eu, estou aqui por algum motivo e sei que não é por algo bom, depois de tudo o que vivi, preciso estar em alerta.
Eles não queriam me ajudar, ainda mais depois de eu ter roubado a carteira do homem.
Owen, o nome do homem bonito é Owen, um nome tão bonito quanto ele.
Ergo o rosto, disfarçadamente olhando para ele uma última vez antes de ir embora, então dou um passo e a mulher se apressa em ficar na minha frente. Ares não late ou rosna para ela, ao invés disso, ele ergue a cabeça, cheirando sua mão e ganhando um carinho no focinho.
— Você pode nos dizer seu nome...? — pede, com um sorriso que eu poderia acreditar ser sincero. Owen não diz nada, permanecendo parado no mesmo lugar. Minha garganta coça e começo a tossir. — Estamos preocupados, você não parece nada bem, não é melhor se sentar? — Ergue a mão, se aproximando, então dou um passo para trás e me afasto.
— Não, eu preciso ir embora — tento ser firme, mas minha voz parece não querer sair e meu corpo parece não me obedecer, meu estômago dói muito, então aperto a barriga na esperança de cessar a dor.
— É nítido que você não está bem, por favor nos deixe ajudar você? — Evelyn fala em um tom de voz brando.
Não, eu não vou aceitar nenhum tipo de ajuda, não cometeria o mesmo erro outra vez. Foi por confiar em alguém que prometeu me ajudar, assim que o orfanato foi fechado, que estou nessa situação. Foi por confiar em alguém de olhos gentis e voz doce que estive prestes a viver um inferno.
Minha garganta coça e volto a tossir, o ar parece se esvair do meu pulmão e tudo fica escuro de repente.
Um ano atrás.
Seco as lágrimas rapidamente, olhando para boa parte das minhas coisas guardadas em uma caixa de papelão, junto com minha mochila. Não tenho quase nada, apenas algumas roupas de doações, um tênis novo e um par de sapatilhas azuis.
O lugar onde vivi desde minha infância está prestes a deixar de existir, uma construtora grande havia comprado boa parte do bairro e, junto com tudo, adquiriram a casa grande e caindo aos pedaços onde se localizava o orfanato.
O valor oferecido era muito alto para o proprietário recusar e, agora que Elisa tinha partido, as doações estavam cada vez menores e Pamela não iria conseguir segurar as pontas sozinha por muito tempo, ela já tinha deixado isso claro quando pediu ajuda do serviço social para realocar as crianças.
Eu sentia falta de Elisa, já que todo o carinho que eu conhecia, tinha vindo dela. Ela era doce e bondosa, e tinha um coração gigantesco, sempre se preocupando com os outros mais do que consigo mesma. Ela dizia que sempre poderíamos encontrar bondade nas pessoas.
Quando fui deixada no orfanato por minha mãe, foi ela quem cuidou de mim, escolhendo meu nome em seguida, ela dizia que eu era Estela por causa da pequena marca de nascença que tenho na parte interna do pulso direito.
Mesmo vivendo em um orfanato, eu fui uma criança feliz, e ter pessoas boas ao meu redor contribuiu para isso. A pior fase foi a adolescência, cresci e perdi ainda mais a esperança de ter uma família.
Quando eu era criança, todas as vezes que eu, apesar de muito empolgada, não era escolhida por uma família, era Elisa quem me confortava, sempre dizendo que era a vontade de Deus e que logo eu encontraria uma família que me amaria muito.
Eu fui crescendo e essa família nunca apareceu, quando terminei o colégio, comecei a ajudar nos afazeres do orfanato e a cuidar das crianças, tentei conseguir um trabalho nas redondezas, mas o fato de estarmos em um bairro perigoso, fez com que Elisa me impedisse e quisesse me pagar pelo que eu fazia no lar, mas então Elisa partiu.
Um infarto, ela não sentiu dor nem ficou doente, só partiu.
Olho para o teto, me esforçando para não chorar.
— Estela, querida...— a voz de Mary, seguida do som do batente, me fez olhar para a porta.
Conheci Mary quando soube que o orfanato seria fechado, ela é uma das pessoas que trabalha no Serviço Social, é jovem, tem cabelos loiros e imagino que sejam cumpridos, mas ela sempre usa coque. É muito bem-humorada, trata todos muito bem e sempre sorri para mim.
— Pode entrar, Mary, eu já estou pronta — digo, erguendo a caixa de papelão, ela me olha com um certo pesar. — O que houve? — pergunto, com medo do que possa me responder.
— Infelizmente não conseguimos encontrar com lar provisório para te receber, a maioria está lotado e...
— E eu já tenho idade para me cuidar sozinha — respondo, forçando um sorriso.
Eu sabia dessa possibilidade, mas não queria pensar sobre ela, já tinha sentido dores o suficiente nos últimos dias. Perder Elisa e descobrir que o único lugar que conhecia como lar iria deixar de existir...O chão já estava bem aberto sob os meus pés.
Eu acabei de completar dezenove anos, não é qualquer pessoa que vai abrir a porta de sua casa para uma órfã praticamente maior de idade.
Ela se aproxima e coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha.
— Talvez com o dinheiro que eu tenha, eu consiga alugar um quarto em outro bairro, então procuro por um emprego — concluo.
— Você é só uma menina, Estela — sua voz é gentil, suspiro, colocando a caixa sobre a cama.
— Olha, acho que tenho a solução para essa questão. — Segura meus ombros, me virando para ela. — Você pode ficar um tempo na minha casa, tenho vários quartos vagos — seu tom de voz é cheio de empolgação.
— Não tem que fazer isso por mim, tenho algum dinheiro guardado e vou conseguir um emprego.
— Meu marido tem um bar, ele pode te dar um emprego. — Sorri.
— Não precisa se preocupar comigo, vou me virar. — Não quero ser um incômodo para ela e o marido, mas ela suspira.
— Você fica conosco até se estabelecer, depois pode alugar um lugar bacana para morar. Já pensou em fazer faculdade? Tenho alguns contatos e posso te conseguir uma bolsa de estudos — sua fala faz meu rosto iluminar.
Em algum momento da minha vida, quis fazer uma faculdade, veterinária, robótica ou psicologia, mas sabia que, para alguém como eu, isso era um sonho inalcançável.
— Não posso aceitar, não quero ser um incômodo.
— Você não será incômodo algum, querida. — Ela volta a suspirar, agora olhando para o teto. — Já tive algumas garotas morando comigo, todas estão na faculdade — diz orgulhosa.
— Isso é sério? — pergunto.
— Claro, querida, eu quero fazer isso por você — afirma.
Se eu aceitasse, eu poderia ter uma chance, poderia estudar, ter amigos, um emprego e uma vida diferente. Elisa sempre dizia que no mundo existiam muitas pessoas boas, agora estou começando a enxergar isso.
— Obrigada, Mary! — digo, a abraçando.
— Isso é um sim? — pergunta, me abraçando de volta.
— Sim.
Estava há algumas semanas morando com Mary, em uma casa grande e confortável, eram vários quartos e um jardim com uma enorme piscina no meio, nunca tinha entrado em um lugar tão chique.
Mary tem uma empregada, mas ela não fala comigo, mal responde quando desejo um bom dia. Tenho um quarto só meu, que é grande e confortável, também peguei um pouco das minhas econômicas e comprei um celular, não tenho com quem conversar por mensagem ou ligações, mas uso para ver vídeos e ouvir música, e ontem à noite abri um perfil no I*******m.
Quando não estou no trabalho, fico a maior parte do tempo no meu quarto, Mary pediu para que eu não entrasse nos outros dormitórios sem autorização e, mesmo curiosa e com vontade de explorar a casa, jamais irei desobedecê-la.
Mary tem sido incrível e eu estou feliz por ter alguém que realmente se preocupa comigo.
O marido de Mary se chama George e é um homem estranho, é jovem como ela, pele tão branca que quase chega a ser transparente, seu rosto é marcante e a tatuagem de serpente em seu pescoço dá um ar ainda mais sombrio ao seu visual.
Confesso que não gosto do jeito que ele me olha, mas busco ignorar ao máximo isso, preciso ser grata por ele e Mary me acolherem e ainda me derem um emprego.
O bar do George é um lugar peculiar, escuro e com poucas mesas, na maioria das vezes, Mary me traz para trabalhar à tarde e quase não tem clientes, então quase não tenho trabalho, atendo poucas mesas, servindo bebidas e limpando uma ou outra coisa.
Os poucos clientes são homens mais velhos e, sinceramente, não gosto nem um pouco de como eles me olham, chega a me dar calafrios. E ainda tem George, que me observa a cada movimento, por isso tento fazer meu melhor e sorrir, até quando ouço alguma coisa que não gosto vindo dos clientes.
Tem mais três garotas que trabalham no bar, mas raramente nos esbarramos e, quando acontece, elas me ignoram completamente, até tentei puxar papo algumas vezes, mas elas foram tão rudes que desisti.
Confiro as horas no meu celular, confirmando que logo menos Mary vai me levar até o bar. É sábado e eu imagino que o lugar esteja mais movimentado hoje.
Aperto o rabo de cavalo e confiro o uniforme, composto por uma camisa branca e uma saia preta, que é um tanto curta demais para o meu gosto. Ouço a porta ser aberta e vejo Mary passar por ela, me assusto, pois ela nunca entra sem bater.
— Mary, já estou pronta — digo, indo até ela.
— Preciso que faça uma coisa para mim — diz séria.
— Claro! Do que precisa? — respondo de prontidão e ela me estende uma sacola chique.
— Pode vestir? — pede e pego a sacola, ainda sem entender. — É um presente, querida. — Sorri de uma maneira estranha.
— Obrigada, Mary! — digo, a abraçando, mas ela não corresponde. Fico sem graça e abro a sacola, tentando disfarçar. Dentro tem um vestido rosa, feito de um tecido bem macio. — É lindo.
— Vista-o — sua voz é áspera.
— Tem certeza? É um vestido lindo e vou trabalhar agora.
— Você não me ouviu, garota? Eu disse para vestir — ela ordena, com a voz bem alterada.
Um nó gigante se forma na minha garganta, não entendo por que ela está brava.
— Eu fiz algo de errado?
— Veste a porra do vestido, garota. — Ela não se parece em nada com aquela Mary doce que conheci no orfanato.
Assustada, vou em direção ao banheiro, colocando o vestido como ela ordenou, tenho a sensação de que ele é um número menor do que estou acostumada a usar, pois me aperta e está muito curto.
Saio, me perguntando se é uma boa ideia falar sobre o tamanho errado.
— Está linda, querida! Me desculpe por gritar, não estou em um dia bom — Mary fala assim que me vê.
— Acho que ficou um pouco apertado — passo a mão pelos quadris.
— Que nada, querida, está perfeito. Venha — Me puxa pelo pulso.
A sigo sem questionar, mesmo sem entender o que realmente está acontecendo e porque ela está tão estranha.
Ela me faz subir as escadas e percebo que estamos indo em direção aos quartos que ela me proibiu de entrar. Mary abre uma das portas de forma abrupta e me puxa para dentro.
O quarto não se parece em nada com o meu, é muito mais luxuoso, decorado em vermelho e preto, o que o deixa escuro.
— Argh! Não vou dar explicações agora... — diz, massageando as têmporas e me deixando ainda mais confusa.
— Eu não estou entendendo — digo, olhando ao redor.
— Só fica quietinha aqui e não cause problemas — ordena, saindo do quarto e me trancando ali, sou tomada por uma sensação ruim e corro até a porta.
— Mary, abra a porta, eu não estou entendendo... — grito, batendo contra a madeira. Não obtenho resposta, mas permaneço insistindo. — Ela enlouqueceu — digo, me sentando na poltrona perto da saída.
Meu coração b**e acelerado e a sensação ruim permanece me rodeando. Apoio a cabeça nas mãos, tentando absorver o que está acontecendo, em uma tentativa de entender o porquê de Mary estar agindo de tal maneira.
Mary é doce e gentil, é difícil acreditar que ela gritou comigo e agora me deixou nesse quarto, sem nenhuma explicação.
Após alguns minutos, ouço a porta ser aberta e me levanto rapidamente, acreditando ser ela para explicar o que está acontecendo, mas não é Mary que passa pela porta e entra no quarto, e sim um homem que reconheço.
É um dos senhores que frequenta o bar de George, ele é um homem mais velho, tem rugas no rosto e, os poucos fios de cabelo em sua cabeça, são brancos, que ele usa para tentar cobrir a calvície, em um penteado horroroso.
Não gostava da forma como ele me olhava quando eu ia servir sua mesa.
— Olá, gracinha — ele diz com a voz anasalada, me olhando de cima a baixo.
— O que...o que o senhor faz aqui? — pergunto, dando um passo para trás.
— Adoro esse joguinho da Mary. — Ri de forma maliciosa.
— Onde está Mary? Não entendo...— digo, sentindo um frio na espinha, mas ele só abaixa a cabeça, dando uma risada grossa.
— Olha, gracinha, estou de bom-humor e vou te explicar o que estou fazendo aqui — Afrouxa a gravada, que tem uma estampa horrível. Eu não queria ouvir sua explicação, só quero ficar longe dele.
— Eu preciso ir — digo, indo em direção à porta, mas o velho agarra meu braço forte, me impedindo de sair.
— Não tão rápido, gracinha. — Sorri com seus dentes extremamente brancos e retos. É um sorriso assustador.
— Me solte, eu quero sair — digo, puxando o braço, mas ele me dá um safanão, me jogando no tapete, então ouço o barulho do vestido se rasgando na hora que meu quadril b**e no chão.
— Você só sai daqui depois que eu tiver comido a sua boceta virgem até cansar — suas palavras fazem meu estômago embrulhar.
Como ele sabia que eu nunca tinha estado com um homem?
Eu me levanto rapidamente, sentindo o medo me invadir.
— Olha, garota, vou ser breve. Eu comprei você, paguei uma boa grana por você e Mary garantiu que era virgem e eu espero que seja mesmo.
Meu estômago embrulha ao me lembrar de uma conversa que tive com ela, quando ainda estava no orfanato, a pergunta sobre garotos, o interesse em saber se eu já tive algum namorado. Eu pensei que ela estava só sendo legal e querendo me conhecer melhor. Ela era minha amiga e disse que cuidaria de mim.
— Mary, não faria algo assim — digo, me recusando a acreditar nas palavras do homem.
— Ah, pobrezinha, é quase sempre a mesma reação. Mary e George trabalham com isso e são ótimos, sempre com as melhores garotas — Ele gargalha, me fazendo sentir calafrios —, mas ela fez, gracinha. Você está um pouco mais velha do que estou acostumado, mas não vou reclamar, pelo menos serei eu a estrear o playground.
— Não...
Meu coração dói e não consigo segurar as lágrimas. Doía acreditar que Mary, a pessoa em quem confiei, que acreditei que poderia me ajudar, havia me usado e me vendido como uma mercadoria.
— E então, como vai ser? Vai se deitar na cama para começarmos logo ou prefere do jeito difícil? — sua voz faz meu estômago embrulhar.
Não saberia nomear o que estou sentindo, é um misto de tristeza, nojo, decepção e raiva.
— Socorro, socorro — grito em uma tentativa idiota de pedir ajuda, mas é claro que ninguém virá me ajudar. O maldito ri, meu desespero o diverte. — Você não vai me tocar — digo, limpando as lágrimas e me afastando o máximo que consigo.
— Vai ser do jeito difícil, então...— Sorri, vindo em minha direção.
— Fique longe de mim — grito, olhando ao redor e procurando uma maneira de sair sem que ele me impeça.
O homem começa a tirar o paletó enquanto caminha em minha direção, e cada passo que ele dá, me traz a sensação de estar em um filme de terror.
Eu preferia morrer a ser tocada por esse homem.
— Confesso que gosto do jeito mais difícil, é mais excitante. — Seu olhar é sombrio e cheio de maldade.
Dou mais passos para trás, até bater com minhas costas na parede.
— Por favor, me deixe em paz...— peço, me vendo encurralada, com ele a poucos centímetros de mim.
Ele ergue uma das mãos, segurando meu rosto e afundando os dedos em minhas bochechas. Dói e lágrimas escorrem como cascatas. Viro o rosto para não olhar para sua face asquerosa, então noto que, em uma pequena mesinha, tem um telefone antigo, imagino servir somente para compor a decoração do quarto.
Munida de pura coragem e usando toda a minha força, consigo empurrá-lo, agarrando o telefone e batendo com força em cabeça.
— Sua desgraçada — ele berra antes de cair no chão pesado.
Não fico para olhar o estrago, corro e destranco a porta, então corro, se me preocupar com o vestido rasgado, tudo o que quero é sair daqui.
Desço as escadas e olho ao redor, me arrisco a ir até o quarto para pegar as poucas coisas que tenho e o que sobrou das minhas economias, então quero somente ir embora daqui.
Ligaria para a polícia e pediria ajuda assim que estivesse fora daqui.
Entro no cômodo, trancando a porta e buscando o mínimo de segurança enquanto junto minhas coisas. A adrenalina faz com que eu haja rápido, pego algumas peças de roupas e coloco na mochila, calço meus tênis e coloco um casaco para cobrir o rasgo do vestido, jogo a mochila nas costas, pego meu celular na cômoda e vou em direção à porta.
Porta essa que é aberta antes que eu chegue nela, quando viro o rosto, vejo um George furioso em minha frente.
Seu punho fechado acerta meu rosto com força, me fazendo cambalear.
— Sua filha da puta — grita e meu rosto lateja, meu corpo treme por causa do choque.
Eu nunca tinha vivido tamanha violência.
Ele arranca o celular da minha mão e o arremessa contra a parede.
— Eu sabia que você me daria problema, soube no momento que vi essa sua carinha linda. — George passa a mão pelos cabelos, desalinhando-os. — Faz ideia da grana que fez perder, sua vagabunda? Mary vai ter que limpar sua bagunça. — Dou alguns passos para trás, tentando me afastar. — Meu erro foi não ter brincado com você antes de lucrar. — Ele sorri, olhando para o meu decote.
Cada parte do meu corpo treme de pavor.
— Me deixe em paz, você e Mary são monstros — grito e ele ri, passando a língua nos lábios em seguida. — Vocês deveriam estar na cadeia — minha voz sai trêmula e George sorri ainda mais.
— Pessoas como nós não vão presas, a polícia gosta muito do dinheiro que nós temos, graças a garotas como você.
Elisa estava errada sobre sempre haver bondade nas pessoas, tudo que eu via agora era o retrato da pura maldade.
— Vocês são monstros. — Cuspo em seu rosto e ele limpa rápido, me olhando com ódio.
— Dessa vez, eu vou ser o primeiro a me divertir com o brinquedo novo — fala, me empurrando sobre a cama e vindo para cima de mim.
— Por favor, George, me deixa ir embora, eu juro que não conto para ninguém — peço em meio às lágrimas. Esperneio, tentando me desvencilhar, e sinto seu punho sobre meu olho, a dor é excruciante.
— Não posso mentir. Isso vai doer muito e eu faço questão de que você sinta muita dor — diz entredentes.
Ele ergue o corpo, desafivelando o cinto e abrindo a calça, tento me levantar, desesperada, mas ele é mais rápido do que eu e me prende com seu corpo.
Meu coração está destruído, mas não vou permitir que façam o mesmo com meu corpo.
Ergo meu corpo o suficiente para que minha boca tenha acesso a sua orelha, então a alcanço, cravando os dentes com força e a puxando, rasgando a carne e sentindo minha boca ser preenchida pelo gosto férrico do sangue de George.
Ele se levanta, gritando de dor, o sangue escorre pelo seu pescoço e essa é minha chance de correr.
E eu o faço, corro o mais rápido que minhas pernas permitem, pois a minha vida depende disso.
— M*****A! Eu vou te matar... — ouço-o gritar — Vou te fazer em pedaços. — Meu coração b**e forte, mas eu sigo adiante, seu ousar olhar para trás. — Eu vou te encontrar e te fazer em pedaços — sua ameaça gela minha espinha, mas isso não me impede de continuar.
Corro passando pelos corredores, fazendo uma prece para não encontrar ninguém.
Passo pela porta dos fundos e continuo, a adrenalina faz com que eu escale o portão alto, sem me preocupar que eu possa cair.
... e continuo correndo.
OwenConsigo alcançar o corpo da garota antes de ele ir ao chão, a seguro e coloco sobre o sofá. Ares dá um latido, seguido de um choro.— Oh, droga — murmuro ao perceber que seu corpo treme, como se estivesse congelando. — Meu Deus, ela está tremendo.Evelyn se aproxima, tocando sua fronte com as costas das mãos, arregalando os olhos em seguida.— Ela está ardendo em febre — constata. A garota desmaiou após uma crise de tosse, e viver na situação dela, em meio ao frio e às chuvas constantes, com certeza afetou sua saúde. — Que droga, Owen, não podemos deixá-la assim — diz, se levantando. — Ela precisa ser examinada por um médico.— Evelyn, não posso correr o risco de aparecer com ela em um hospital — dizer isso é assumir minha covardia, estou mais preocupado com minha imagem do que com a saúde da menina.— Você conhece algum médico que possa vê-la? — pergunta.Me vem à memória a mulher que conheci em um evento de caridade, ela era uma médica recém-chegada do continente africano e me
Estela Me esforço para abrir os olhos, sentindo as pálpebras pesarem.O teto com molduras brancas e as pequenas luzes deixam claro que não estou no galpão. Estou deitada sobre algo macio, tão macio que parece que estou sobre nuvens.Será que morri e estou no céu?Então as memórias da noite passada me acertam em cheio e ergo o corpo rapidamente.Estou sobre uma cama com lençóis claros, então olho ao redor, tentando me levantar, mas sinto que meu corpo pesa uma tonelada, consigo me sentar e então percebo a ausência das minhas roupas.Uma camiseta preta cobre meu corpo, então meu coração acelera e sinto vontade de vomitar. O desespero me invade e uso toda a força que me resta para me levantar.Meus pés tocam um tapete macio e felpudo, passo as mãos pelo meu corpo, ignorando as dores, movida somente pelo medo de alguém ter me tocado enquanto eu estive desacordada.Sinto o cheiro de jasmim, então percebo que vem de mim, eu estou limpa, não estou com minhas roupas porque tomei banho.Eu nã
Owen— Você trouxe uma pediatra, Owen? Uma pediatra? Você é um idiota — Evelyn fala, vindo atrás de mim.— É uma médica, não é? — pergunto, me virando para ela.Quando Lucinda disse que era pediatra, eu menti que ela veria uma criança, mas ela é a única médica que conheço e parece ser uma pessoa de confiança, uma que não sairá falando aos quatro ventos que estou com uma garota doente em meu apartamento.A garota está pálida, pele e osso, e minha única preocupação é com a saúde dela, e mesmo não sendo uma criança, eu imaginava que Lucy não se recusaria a atendê-la.— E é a única que conhece? Pelo tanto de mulheres com quem transa, muito me espanta somente uma delas ser médica. — Revira os olhos.— Eu não saio perguntando a profissão de cada mulher com quem durmo, e não que seja da sua conta, mas eu não transei com a Lucy, a conheci em um evento de caridade. Qual o seu problema, Evelyn? — questiono.Ela não costuma ser tão ácida e mal-humorada.— Meu problema? Meu problema é você ter me
Owen Ela realmente estava preocupada com o bem-estar de Estela.Estou despreocupado com relação ao sigilo, sei que Lucinda é profissional demais para expor algo assim para qualquer pessoa, muito menos para a mídia.Entro na sala e Ares corre em minha direção, pulando em cima mim, então me abaixo e coço seu pelo.Olho ao redor, procurando por Evelyn, mas imagino que ela esteja na cozinha.Lembro da sopa e me apresso, com receio de ela ter passado do ponto, mas quando entro na cozinha, vejo Evelyn mexendo o líquido com a colher e apagando o fogo em seguida.— Está pronta. — Me aproximo, passando a mão pelos cabelos ainda mais desalinhado da minha amiga. — O que vamos fazer agora? — pergunta, cruzando os braços.Encaro minha amiga por um tempo, sem encontrar uma resposta concreta. Sinto as patas de Ares na minha perna e afago seu pelo ele me olha de um jeito engraçado.Acho que, assim como sua dona, ele também precisa de cuidados e, algo me diz que ele não tem as vacinas necessárias, e
Estela— Ei, acorde... Estela? — uma voz doce chama meu nome e, por um instante, acredito que tudo o que vivi nos últimos meses foi um pesadelo.Viro o corpo, abrindo os olhos lentamente, mas a teoria do pesadelo cai por terra quando vejo a mesma garota sorrindo de um jeito amigável para mim.Ela é gentil demais, sorridente demais.O remédio que a médica me deu diminuiu um pouco as dores que sinto no meu corpo, então consigo me mexer sem sentir que cada membro pesa uma tonelada, mas estou com tanto sono.Pneumonia, a médica não fez rodeios ao me diagnosticar.Eu sabia que tinha algo de errado comigo, a tosse, a falta de ar e a dor insuportável no corpo, também sabia que estava abaixo do peso, já que não estava tendo uma alimentação saudável nos últimos meses.Não é como se eu pudesse escolher o que eu comia, isso quando eu comia.A falta de uma alimentação saudável e nutritiva, somada às horas passadas debaixo de chuva, ficando exposta ao frio ou ao calor extremo... Tudo resultou no m
OwenEstou gostando mais do que deveria desse cachorro.Por que nunca tive um antes?Se tivesse adotado um filhote, com certeza eu seria mais responsável. Olho para Ares deitado em uma posição confortável no banco traseiro.Acabei demorando mais do que o planejado no petshop, mas não sabia que dar banho em cachorro demorava tanto, só que valeu a pena, ele está uma graça, todo limpinho.Comprei ração e petisco o suficiente para o carinha não reclamar, e brinquedos para ele gastar toda sua energia, já que sua dona precisa ficar em repouso absoluto.O veterinário deu todas as vacinas e descartou qualquer problema de saúde, o que me deixa menos preocupado.De doente já basta a dona dele.Evelyn me mataria se soubesse que pensei isso, aliás, ela vai me matar, porque não sei há quanto tempo estou fora de casa e, ainda por cima, não trouxe o celular.Comprei sanduíches no primeiro fast-food que encontrei no caminho de volta e todos os remédios que minha hóspede vai precisar.Eu tinha tantos
OwenCaio na gargalhada toda vez que lembro que a garota pensou que Evelyn fosse minha namorada, é tão absurdo e nojento que chega ser engraçado.Acho que ontem eu fiquei quase meia hora explicando para Estela que eu e Evelyn nunca tivemos nada, não que tivesse necessidade, mas não queria que ela acreditasse em algo tão absurdo.Ainda mais eu, que nunca tive um relacionamento sério. Rio, passando uma camada fina de maionese no pão.Já que estou sendo uma espécie de babá da minha hóspede hostil, estou fazendo o possível para mantê-la bem alimentada e entretida.Bom, a televisão a tem mantido entretida, já que não trocamos nenhuma palavra desde o momento em que expliquei o tipo de relacionamento que tenho com Evelyn.Ela ainda não confia em mim e não quero que fique desconfortável por causa da minha presença, e tudo o que quero é dar o mínimo de segurança e paz para aquela garota.Dormir no quarto de hóspedes é o menor dos meus problemas, até porque não vou tirá-la de lá só por caprich
OwenNão gosto de treinar depois do trabalho, mas o fato de eu ter acordado atrasado me impediu de treinar pela manhã e, como não abro mão dos meus treinos semanais, precisei ir depois de um dia ferrado na empresa.Só que nenhum treino fora da rotina teria me preparado para o que encontrei assim que abri a porta do meu apartamento e entrei na sala.Estela está deitada no chão, imagino que brincando com Ares, que vem correndo em minha direção, então ela levanta rápido e essa é a primeira vez que a vejo de pé desde que chegou.Meus olhos percorrem cada centímetro do seu corpo, coberto apenas por uma das minhas camisetas, uma visão que eu não deveria estar achando sexy, então engulo em seco, virando o rosto imediatamente.Sua imagem permanece em minha mente e é o suficiente para deixar meu pau duro.Preciso me concentrar e ignorar o fato de que estou excitado justo por uma visão tão simples, justo por alguém tão improvável.Isso é obsceno.Que merda está acontecendo comigo?Qual é? Isso