Um encontro com o CEO
Um encontro com o CEO
Por: Laura Ivanish
Capítulo 1

Owen Pergatti

Bocejo, girando a caneta entre os dedos, ansioso para estar longe.

Amo minha empresa e meu trabalho, mas não suporto reuniões, quando preciso ser simpático o tempo todo, entendo que essa é a parte chata de ser o CEO da System Tecnology, participar de tudo e me empenhar é o que a faz ser uma das maiores empresas de tecnologia do país.

E saber que a fiz crescer sozinho, sem precisar apelar para o meu sobrenome, isso faz com que eu me sinta ainda mais foda.

Minha vida é incrível.

Difícil acreditar que o garotinho tímido, que sofria bullying no colégio e vivia à sombra do irmão mais velho, voaria tão alto. Tenho trinta anos, uma empresa de renome e tudo o que desejo em um estalar de dedos ou um apertar de botão.

Olho para a mesa, me esforçando para prestar atenção enquanto o homem asiático e baixinho, com bochechas de buldogue, tenta me convencer de que lucraríamos se fechássemos com eles a distribuição de placas de rede para os nossos produtos.

O assunto não era de todo ruim e precisávamos de matéria prima para o lançamento do aparelho de assistência virtual que competiria com os maiores do mercado. Olho em direção a Evelyn e Silvya  e as noto cochichar olhando para o IPad, até mesmo elas estão entediadas.

Silvya  é minha assistente pessoal/secretária, ela é um gênio e nunca conheci alguém com a memória fotográfica como ela. Preciso ser grato por minha mãe ter me obrigado a contratá-la, mas o motivo não foi a eficiência profissional da mulher de quase quarenta anos, com vasta experiência no meio empresarial, Silvya  é muito bem-casada e tem uma filha pré-adolescente, além de estar grávida de seis meses agora. O que fez e faz que eu olhe para ela com o mais profundo respeito.

Acho que minha mãe pensou que ela seria sua aliada e me espionaria, mas Silvya  é muito profissional para tal coisa.

Já Evelyn é minha melhor amiga, a única mulher, além da minha mãe, que posso dizer que amo. Vi a pirralha crescer, por ela ser a irmã do meu melhor amigo, e isso fez com que nos aproximássemos, e hoje ela confia mais em mim do que no irmão para contar suas merdas.

Chris, que está ao lado de Evelyn, olha para mim com uma expressão curiosa, aperta os olhos puxados e balança a cabeça em negativa.

— Você está ferrado. — Passa o indicador pelo pescoço, fazendo uma careta.

Torço o lábio sem entender, ele só pende a cabeça para trás e dá uma risadinha silenciosa, então Evelyn ergue os olhos do IPad e faz uma careta.

Algo me diz que eles estão sabendo de algo do qual eu não faço a mínima ideia, odeio esse tipo de situação.  Reviro os olhos e me levanto, estalando a língua.

O homem para de falar automaticamente, percebendo o olhar de todos em mim.

— Senhor... Como é mesmo seu nome? — Me esforço para lembrar.

— Huang — Silvya  fala, me salvando.

— Isso, senhor Huang, analisaremos sua proposta e entraremos em contato, tenho outra reunião importante em... — Olho o relógio, para dar mais veracidade à minha desculpa — dez minutos.

O homem endurece o semblante e encara os dois que o acompanham, em uma espécie de diálogo silencioso e bizarro.

— Minha assistente irá acompanhá-los. — Olho para Silvya, que assente.

— Por aqui, senhores — pede com delicadeza.

— Foi um prazer conhecê-los. — Forço um sorriso.

— Aguardarei o senhor entrar em contato — o homem diz de forma ríspida, me fazendo desistir de qualquer possibilidade de fechar negócio com ele.

— Pode esperar... — falo, vendo-o sair, seguido pelos dois esquisitos — sentado.

Não espero a porta ser fechada para me voltar para Chris e Evelyn.

— O que está acontecendo? Que história é essa de eu estar ferrado? — Evelyn começa a rir, mas para quando vê minha expressão carrancuda. Ela se abaixa e pega o IPad na mesa, vem até mim e vira a tela.

— Por isso, Owen. Não consegue ser discreto? — questiona, segurando o aparelho e me dando o vislumbre de suas unhas pintadas de preto.

Aperto os olhos e vejo uma foto minha ao lado de duas garotas, de quem não sei nem os nomes, em uma página de fofocas do I*******m.

“Owen Pergatti é visto saindo de boate

acompanhado de duas mulheres...

... e nenhuma delas é Lindsey Stormi, cantora com

quem ele assumiu estar envolvido.

Será que a mais nova queridinha da América

sabe das aventuras de seu affair?”

— Caralho! Essa foto está péssima — afirmo.

— Você está preocupado com a foto? — Chris pergunta, rindo em seguida.

— Eu devia me preocupar com o quê? — Evelyn bufa, revirando os olhos. — Olha, eu deixei claro para Lindsey que não teríamos nada sério, ela postou aquela foto no i*******m sem sequer falar comigo — dou de ombros.

Lindsey é uma cantora muito popular no público adolescente e está no auge do sucesso. Ela é legal e gostosa para caralho, mas é obcecada por holofotes, além de querer ter um relacionamento modelo, e eu odeio as duas coisas, holofotes e relacionamentos.

Estávamos saindo há pouco mais de um mês, o sexo é de fato uma maravilha, mas eu não trocaria minha liberdade por uma transa bacana, não fenomenal.

— Os fãs dela vão te trucidar no x — Chris fala rindo, o filho da puta gosta de um caos.

— Eu falei que se envolver com popstar ia dar merda, mas quando foi que você me ouviu mesmo, Owen? — Evelyn coloca a mão atrás de orelha. — Ah, é mesmo! Nunca.

Ela está certa, me envolver com mulheres da mídia sempre dá merda, e eu sempre saio com o rótulo de cafajeste. Não que eu não seja.

— Bom, eu vou com a Madeleine ver umas coisas do casamento — Chris abotoa o paletó — e, Owen, pelo amor de Deus, aquele cara — Se refere ao chinês com quem estávamos em reunião —, fora de cogitação.

Chris se casaria no próximo mês com Maddie, que é uma mulher incrível e muito sortuda por ter conquistado o último dos românticos.

— Puta que pariu de cara chato, m*****a a hora que vim para essa reunião, nem tem a ver com marketing — bufa, olhando para cima.

— Apoio moral. — Estalo a língua.

— Bom, eu vou nessa e, Owen, se prepare, quando sua mãe vir a notícia, vai comer seu fígado. — Ri, correndo em direção à porta.

— Seu filho da mãe — rosno e Evelyn gargalha.

— Não sei como ainda sou amigo de vocês, são tão irritantes — comento revirando os olhos e me jogando na cadeira.

— Idiota! — Evelyn dá um tapa na minha nuca e eu reclamo, então puxa a cadeira e se senta perto. — Será que algum dia você vai sossegar? — pergunta.

Dou uma risada.

— Eu sou um cara sossegado. — Abro um sorriso amarelo.

Aff! Será que algum dia vai conseguir ficar com uma única mulher? — diz, parecendo pensativa.

— Por que ter uma, se eu posso ter várias? Essa conta não fecha... — Faço um floreio com as mãos.

— Todo mundo se apaixona, Owen, ninguém está imune — fala.

— Você nunca se apaixonou — afirmo e ela dá uma risada.

— Você sabe muito bem que sim — responde.

— Então, por que não está com ele? — me arrependo da pergunta instantaneamente.

— Ele me traiu e servi de piada para toda a faculdade — Estala a língua —, e não estamos falando de mim, seu idiota. — Chuta minha perna.

Evelyn namorava um cara na faculdade, parecia ser completamente apaixonado por ela, só faltava dar a pata e abanar o rabo. Fiquei surpreso quando ela me ligou de madrugada, me contando que tinha sido traída.

— Evelyn, por que vou me contentar com uma única boceta se posso ter várias? — digo, tentando quebrar o clima tenso.

— Meu Deus, que nojo! Não precisa falar assim, ideologia horrorosa. — Faz cara de nojo.

— Por que horrorosa? Não estou machucando ninguém — afirmo.

— Não tenha tanta certeza disso.

— Vou repetir, eu deixei claro para Lindsey que era só sexo, não tenho culpa se ela decidiu ignorar. — Pego a caneta, girando entre os dedos.

— Daria tudo para ver você se apaixonando e levando um belo fora da gata. — Faz bico.

— Esse feitiço não me pega, aliás, vou na Fallout hoje, preciso aliviar o estresse que a reunião e a merda da fofoca me causaram. Quer ir? — brinco, mas eu jamais a levaria em um lugar como aquele.

Fallout é um clube de sexo, com uma lista extensa de associados, aonde acontece de tudo, um lugar que você pode usar para extravasar todas as suas perversões, sem preocupação alguma, e é extremamente discreto. Não é ilegal e todos que frequentam são maiores de idade e estão de acordo com tudo o que pode rolar ali.

Ela faz uma careta.

— Aquele lugar é bizarro, prefiro as coisas de modo tradicional — diz, se levantando. — Vou para minha sala.

Uma leve batida na porta faz eu olhar na direção dela.

— Com licença, senhor Pergatti, sua mãe está esperando na sua sala — diz com um certo pesar na voz.

Evelyn dá uma risadinha, cobrindo a boca com a mão em seguida para disfarçar.

— Obrigado, Silvya  — digo, assentindo.

— Ela veio rápido, né? — Ri.

— É incrível esse dom que ela tem — bufo.

— Se cuide e não faça merda, não adianta me ligar ou bater na minha porta, vou assistir filmes esse final de semana até meu cérebro doer.

— Eu não acredito nisso! — minha mãe exclama, se levantando assim que entro no escritório. Vou até ela e beijo sua bochecha. — Owen, quando vai ter juízo? — suspira, passando a mão pelos cabelos castanhos, em um corte chanel impecável.

— Não sei do que a senhora está falando — digo irônico, tentando sair pela tangente.

— Sabe o quanto os fãs dessa garota são problemáticos? — ela questiona e dou de ombros, me sentando atrás da minha mesa.

— Eu não prometi nada a Callie, nunca prometi nada a mulher nenhuma. — Sou metódico quando o assunto é promessas, e jamais faço uma que não posso cumprir.

— Owen, você tem trinta anos, não pode agir como se ainda estivesse na faculdade — fala, se sentando e batendo com as mãos na bolsa.

— Por que diz isso? Não estou agindo como se estivesse na faculdade, olha só para mim. — Estalo os dedos e ela balança a cabeça em negativa.

— Todas essas mulheres...— Torna a suspirar. — Está feliz vivendo dessa maneira?

— Claro que estou feliz, mãe, estaria infeliz se usasse uma coleira — respondo.

Como alguém pode ser infeliz tendo uma vida como a minha?

— Não consigo entender essa sua aversão por relacionamentos — fala, me olhando fixamente.

— Eu me relaciono, mãe, não do modo tradicional, mas pode ter certeza de que me relaciono — rio.

— Você é adulto, eu não deveria me preocupar, mas não consigo fechar os olhos para essas situações — fala firmemente.

— Não tem com o que se preocupar, eu estou ótimo — digo, me levantando, mas ela só revira os olhos.

— Queria que encontrasse alguém, que tivesse uma família e me desse mais netos — fala pesarosa.

— Melanie já dá o trabalho de cinco netos — rio, ao lembrar do furacão que é minha sobrinha.

— Não fale assim — pede.

— Eu amo a minha sobrinha, ela foi a melhor coisa que veio do meu irmão, e a senhora deveria ter o fracasso do casamento de Nolan e o da senhora com o p... — me calo, percebendo que estou entrando em um assunto delicado.

A minha infância foi regada a gritos e troca de ofensas, meu pai era um homem egoísta, que vivia para o trabalho, nunca o vi sendo carinhoso com minha mãe, nem ao menos o ouvi dizer que a amava. Quando na frente das pessoas, ele se mostrava um marido e pai exemplar.

Talvez soe cruel, mas minha mãe parece mais leve e feliz depois de sua morte, carregar um casamento fracassado nas costas não deve ser nada fácil.

— O que acha de eu levar a senhora para jantar? — pergunto, me apressando em matar o assunto, então me aproximo, segurando seus ombros.

— Não vai me acalmar com um jantar, todas as mulheres no clube devem estar rindo da minha cara por sua causa. — Dá um tapinha em meu braço e eu olho para cima, respirando fundo.

Ela se preocupa demais com o que os outros pensam, de uma maneira exagerada.

— Estou cansada desse tipo de situação, Owen, se continuar dessa maneira, poderá afetar nos negócios da sua empresa. As pessoas não vão querer estar linkadas a você enquanto tem essas atitudes libertinas — diz séria. Saber que ela pode estar certa em parte faz com que eu me mantenha em silêncio. — Não vou falar o que quero, pois você já sabe...— ela pretende continuar com o sermão.

— Vou dar um tempo da farra — a interrompo, mentindo e dando uma risadinha.

Vou ser o mais discreto possível, tentando não me envolver com popstars ou modelos que vivem na mídia.

Agora, ser celibatário? Jamais.

— Onde gostaria de jantar? Que tal o restaurante da Dona? — Enlaço seu ombro.

Dona é uma transa esporádica, posso dizer que é uma grande amiga, temos a mesma idade e, assim como eu, ela tem aversão a relacionamentos, também é uma frequentadora assídua da Fallout

— Aquela moça é muito irritante — diz, erguendo o rosto.

— Ela quer ser sua amiga, mamãe — rio.

— Ela força a barra — bufa.

— Mas é uma excelente Chef — afirmo.

— Isso não posso negar — concorda.

— Pode ne emprestar um dos motoristas hoje? — pergunto, abrindo a porta e fazendo um floreio para ela passar.

— Por que precisa de motorista? Você odeia que dirijam para você. — Ergue a sobrancelha.

— Vou sair para beber com o Chris e você sabe do meu problema com taxi e carros de aplicativo — minto.

Ela não podia sonhar que eu iria até a Fallout para ter uma noite regada a muita bebida e sexo, ainda mais depois da sua lição de moral.

Estela

Depois de alguns meses em São Francisco, eu já deveria ter me acostumado com a cidade, com os becos frios e úmidos e com os prédios abandonados, quase desabando sobre minha cabeça.

Andei por vários bairros, mas acabei voltando para o lugar onde encontrei Ares — esse foi o nome que escolhi para o cachorrinho que virou meu melhor amigo. — Eu amava ler sobre mitologia grega e, desde então, me encantei pelo nome do deus da guerra, e o nome combina perfeitamente com meu garoto que, desde que o encontrei, ele é guerreiro e me proteje.

O bairro aonde o encontrei é menos movimentando e, como já estou familiarizada, posso me esconder em algum beco caso seja necessário.

Tentei, por algumas semanas, conseguir um emprego, mas eu devia saber que ninguém estaria muito a fim de contratar alguém em uma situação como a minha. Ir nos lugares com roupas maltrapilhas, sujas e com um Ares a tiracolo não contribuiu a meu favor.

Até que desisti e aceitei meu destino, pelo menos eu tinha Ares comigo, ele era minha maior alegria em meio a uma vida tão ferrada, minha família inteira, eu cuidava dele e ele cuidava de mim, ele já tinha me protegido algumas vezes, quando alguns idiotas tentaram se aproximar ao perceberem que sou uma mulher.

E por ele eu faria qualquer coisa, até mesmo algo que eu achava que não seria capaz de fazer nunca.

Comer restos do lixo poderia me deixar doente e quem cuidaria dele se isso acontecesse? A minha pequena bola de pelos também precisava comer.

Por isso, comecei a praticar pequenos roubos, nada que poderia afetar alguém, na maioria das vezes, supermercados, mas acabei sendo descuidada e quase fui pega, o idiota do segurança ainda ameaçou chamar a carrocinha para pegar meu bebê.

— Idiota! — resmungo, olhando para Ares andando ao meu lado, em sua coleira improvisada feita de cadarços.

Agora preciso me arriscar mais, tendo que bater carteiras, sou péssima nisso e, na maioria das vezes, acabo me atrapalhando e dá tudo errado, também me sinto culpada, tento ao máximo escolher pessoas que sinto que o dinheiro não fará falta, também sou cuidadosa o suficiente para não tentar usar cartões de crédito.

Tenho tido sorte, esbarrando em alguns riquinhos bêbados quando saem de uma casa noturna luxuosa e de fachada modesta, quando o manobrista ou o segurança se distraí.

Nos últimos dias, descobri, ouvindo algumas conversas por ali, que o lugar não é só uma casa noturna, também se trata de um clube de sexo, não posso negar que é um excelente disfarce, porque isso jamais passaria pela minha cabeça, existir algo assim em tal lugar.

O lugar fica perto do galpão onde tenho passado as últimas noites.

Sei que o dinheiro não fará falta e, na maioria das vezes, eles estão bêbados demais para perceberem que foram roubados, então consigo correr sem ser pega.

Meu último centavo usei para comprar comida para Ares e acabei ficando sem comer nada, agora parece que tem um buraco cheio de brasas em meu estômago, por ficar quase dois sem engolir nada além da minha saliva.

A noite está mais fria devido à chuva torrencial que caiu durante o dia, as ruas ainda estão molhadas, meus pés estão doloridos por causa do tênis enxarcado e, pelo tanto que estou espirrando e sentindo dor na minha cabeça, provavelmente ficarei resfriada.

Olho para os lados e atravesso a rua. Não há muitos carros estacionados na frente do tal clube, me escondo em um beco apertado, que separa o lugar do prédio ao lado.

— Logo vamos comer, está bem? — digo.

Seus olhinhos brilham e ele late em resposta. Ajeito o cabelo preso no boné e coloco o capuz do moletom.

Noto um carro grande e preto parar em frente à entrada e, em seguida, um homem trajando um terno preto desce e vai em direção à porta traseira, abrindo-a.

Um outro homem, bem alto, desce dobrando a manga da camisa branca, ele olha para os lados, parecendo desconfiado e, mesmo longe, consigo ter um vislumbre de suas feições quando passa pela luz de um poste.

É o homem mais bonito que já vi.

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