Capítulo 2

Felipa

Termino meu trabalho meio aérea. Minha cabeça fica procurando respostas para o que aconteceu na sala do CEO. Eu estou alucinando? É a única explicação. Aquele homem não me conhece. Como pode querer que carregue um filho seu?

— Não vai embora, filha?

Minha tia está parada na minha frente, com seu sorriso gentil de sempre no rosto e uma cesta linda nas mãos.

— Vou sim. O que é isso? — aponto a cesta.

— Presente do CEO, acredita? E ele me deu duas passagens para uma semana em um hotel fazenda na cidade do meu velho. Ele vai ficar tão feliz.

— Que maravilha, tia! — tento mostrar felicidade em meio a confusão. Ela ter recebido um presente faz aquela conversa parecer mais real. — Faz tempo que o tio fala querer visitar seus parentes.

— O CEO me entregou os presentes pessoalmente e me agradeceu pelo meu trabalho — diz toda sorridente. — Está vendo? Esse é o melhor trabalho do mundo. Aquele homem é um anjo.

— Não é como o chamam. Já ouvi várias vezes que o nome que o chamam é Demônio implacável.

Ela faz uma careta desgostosa.

— Coisa de pessoas mal amadas. Deveriam lavar uma trouxa de roupa que ficar cuspindo no prato que comem. Depois que perde o emprego fica chorando.

Suas rugas a deixam tão fofa quando faz essas caretas ou sorri. Quero envelhecer tão linda como minha tia. Seus cabelos loiros meio grisalhos presos no coque, seu corpo com curvas naturais, sem contar dos olhos azuis como um oceano. Tudo nela é lindo, tão lindo quanto seu coração. Por isso meu tio a ama incondicionalmente, faria qualquer coisa por ela. Eu também, a amo com tudo de mim.

Vamos conversando enquanto seguimos para o ponto de ônibus.

— A senhora quer que eu leve? Parece pesado. Posso tocar no seu belo presente?

— Deixa de ser besta. Tá pesado mesmo. Pode levar.

Pego a cesta das suas mãos e continuamos andando.

Não demoramos no ponto e o ônibus chegou. Como é ponto final, conseguimos sentar juntas um pouco perto da porta para sair com mais facilidade.

Decido contar sobre o que houve. Eu sempre conto tudo para minha tia.

— Tia, hoje o CEO me chamou na sala dele. — Ela me olha com aquela expressão de “o que você fez?” — Eu acho que me chamou. Sinceramente, a proposta que ele fez me faz achar que delirei.

— O que ele queria?

— Que eu fosse sua barriga de aluguel.

— Como é? Não. — Ela ri. — Deve ter delirado.

— Ele disse que mandou o contrato por e-mail. Vou abrir aqui e a senhora me fala se estou alucinando.

Abro o celular e encontro o e-mail do secretário dele com o contrato. Minha tia coloca os óculos e pega o celular da minha mão.

— Parece coisa de novela. — Me entrega o celular. — Aceita.

— Como assim aceita tia? Isso é insano.

— Por favor, querida. Você nunca viveu nada emocionante na sua vida. Viveu em função de ter um futuro confortável para cuidar dos velhos que te acolheram. Nem se atreva a perder a chance de viver essa aventura.

Esqueci de dizer que minha tia é a mulher mais romântica que existe nesse mundo. Ela é do tipo que acredita em alma gêmea e romances mirabolantes. Como esse que aposto que está criando na sua cabeça.

— Mas tia, como posso gerar o filho de alguém? Eu não sei se consigo gerar uma vida e depois abrir mão dela. Essa aventura é demais para mim.

— Quem falou em abrir mão? Você vai viver um romance lindo.

Franzo o rosto. Essa mulher é incorrigível.

— Tia!

— Tia nada. O que você tem de especial além de ser a minha sobrinha linda, inteligente e com coração gigante? Ele viu alguma coisa em você.

Mas o que?

Fico pensando e não respondo.

— Olha, querida, você sabe como conheci seu tio.

Sim, a história que ela contava para eu dormir quando tia pesadelos. Eram filhos de dois fazendeiros que brigavam por terras. O pai do meu tio convenceu o filho a casar por interesse, mas ele acabou completamente apaixonado pela mulher e cedeu toda terra que ela quis. É assim até hoje. Ele dá tudo que ela pede. Isso é um resumo do que minha romântica tia conta.

Como não falo nada ela continua:

— É a minha opinião. Eu aceitei me casar por interesses da minha família, e foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida.

— Mas ele não está propondo casamento. Só quer que eu seja a sua barriga de aluguel. É diferente.

— Ainda assim, eu aceitaria. Ele é um gato.

— Tia! — empurro seu ombro rindo.

Pelo menos terei o apoio dela se decidir aceitar a chantagem. O que é certo que eu faça. Jamais me pouparia tendo como vitima seus sonhos.

Aquele maldito mexeu na minha parte mais sensível: meus tios. Os únicos pais que reconheço.

Mas barriga de aluguel? Isso é loucura.

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