FelipaMeses depois...Passaram vários meses desde que tivemos a conversa no quarto das meninas. Naquela noite eu dormi aninhada ao corpo duro do meu marido. Não fizemos nada, apenas dormimos. Afinal, acabei de passar por um parto. Mas quando o médico liberou... devo dizer que matamos toda a saudade. Desde aquele dia não teve um que passamos sem nos amar. Dessa vez é tudo tão mais intenso, sem regras, sem contratos, apenas amor e desejo.As nossas princesas estão crescendo lindas e sapecas. Viraram a paixão do vovô Escobar. Ele dá atenção a todas as crianças que vieram por causa da tal herança, inclusive o menino da piranha da Gabrielle, mas sinto que o amor que sente por elas é maior, assim como vejo o quanto ele prefere Vincent aos outros parentes.Nos últimos dias tivemos que passar bastante tempo com ele, que está de cama. Segundo ele, a doença e a idade vão levá-lo em breve, mas está feliz por ter passado momentos tão felizes com todas as crianças, e seus amigos. Também por ter
AquilesMeses depois...Eu já sabia que uma hora o velho Escobar partiria, mas, sendo sincero, uma parte minha queria que ele fosse eterno e continuasse suas ameaças de mudar o testamento. Depois que desisti da herança, pude perceber que tudo que eu queria era tempo com ele. Não que eu tenha desperdiçado meu tempo, sei que desde sempre tivemos uma boa ligação e conveniência. Vou sentir falta. Principalmente de o ver com a costumeira bengala e a companheira teimosia.Enfim, espero que esteja melhor onde estiver.Chegou o dia da leitura do testamento.O velho mandar instalar um telão no quintal da sua mansão, do estilo cinema de estacionamento, daqueles filmes antigos onde as pessoas assistem dos carros, mas no lugar dos carros foram disponibilizadas várias cadeiras. Coisas que o velho Escobar ama fazer (chamar a atenção com exageros).Os advogados explicam a parte técnica, e logo o vídeo começa com a imagem do velho Escobar sentado em sua poltrona favorita, segurando sua bengala.Ele o
— O senhor Escobar a aguarda. — A secretária avisa me olhando novamente dos pés a cabeça. Como se não tivesse feito isso já duas vezes desde que entrei na sala. Ela sempre faz isso. E eu nunca me acostumo. Que mulher nojenta.Eu não sou a mais bela, também não sou deformada. Não entendo essa antipatia da secretária do CEO.E eu entendo menos ainda o que esse aprendiz de traficante deseja de mim.Não que ele seja traficante mesmo. É o nome. É impossível não pensar no Pablo quando escuto Escobar.Seja o que for, tenho que escutar. Tenho que agradar o CEO. Hoje minha tia Joyce faz trinta anos que trabalha aqui. Tem gente que sonha com cargos melhores, salários melhores, ela não, seu sonho sempre foi se aposentar aqui, cozinhando para os funcionários da empresa. Ela ama esse trabalho e essas pessoas que trabalham aqui. Enquanto eu só estou aqui para pagar minha contas até o fim do curso. Serei veterinária e terei uma fazenda. Não serei sempre uma das meninas da faxina como agora. Se é um
AquilesUma semana antes...Estamos todos reunidos à mesa. O jantar mensal do Escobar. Meu avô sentado do lado direito do meu bisavó e minha avó do lado esquerdo. Meus pais, meus tios, primos e eu estamos espalhados na grande mesa.O mais velho se levanta, chamando a atenção de todos à mesa.— Sei que estão todos aqui pelo testamento. Souberam que fiz alguma modificações.Ele olha cada um com seu olhos pequenos e astutos. Apesar da mesa ser imensa para caber todos os seus parentes, a voz do velho é potente o suficiente para que todos ouçam.Cada um aqui tem sua própria fortuna, mas nenhuma como a de Elias Escobar, meu bisavô. Fez fortuna em pura sorte ao receber de herança um terreno onde “brotavam” rubis. Até hoje ele possui essas terras e ainda se encontra tais pedras. Ela está incluída na tal herança. O dinheiro que veio com as pedras, ele fez multiplicar. Se tornando o segundo homem mais poderoso financeiramente do mundo. Sua diversão é o tal testamento. Sempre ameaça mudar e tir
FelipaTermino meu trabalho meio aérea. Minha cabeça fica procurando respostas para o que aconteceu na sala do CEO. Eu estou alucinando? É a única explicação. Aquele homem não me conhece. Como pode querer que carregue um filho seu?— Não vai embora, filha?Minha tia está parada na minha frente, com seu sorriso gentil de sempre no rosto e uma cesta linda nas mãos.— Vou sim. O que é isso? — aponto a cesta.— Presente do CEO, acredita? E ele me deu duas passagens para uma semana em um hotel fazenda na cidade do meu velho. Ele vai ficar tão feliz.— Que maravilha, tia! — tento mostrar felicidade em meio a confusão. Ela ter recebido um presente faz aquela conversa parecer mais real. — Faz tempo que o tio fala querer visitar seus parentes.— O CEO me entregou os presentes pessoalmente e me agradeceu pelo meu trabalho — diz toda sorridente. — Está vendo? Esse é o melhor trabalho do mundo. Aquele homem é um anjo.— Não é como o chamam. Já ouvi várias vezes que o nome que o chamam é Demônio i
AquilesUm anos antes...— Trouxe novidades. — Jordan entra na minha sala sem bater.Desvio o olhar dos papéis sobre a minha mesa e encaro meu amigo com seu terno sob medida e seus cabelos loiros penteados para trás e sem um fio fora do lugar.— Espero que seja importante para invadir minha sala.Seus olhos verdes brilham de empolgação.— Você lembra que me pediu para encontrar a garota que te salvou quando era moleque?— A encontrou?— Melhor, ela nos encontrou. Pelas características que me passou, tenho noventa e oito por cento de certeza que ela acabou de ser contratada pela sua empresa. — Ele balança a pasta que segura. E traz para mim.Abro o papel e vejo a moça em várias fotos, aqui na empresa e fora dela. Em algumas ela está sorrindo. Um sorriso que toma seu rosto inteiro e faz seus olhos escuros brilhares.— Ela é da cidade onde aconteceu. Tem a idade aproximada que você falou e as características físicas, além da cicatriz.— Como você...— Olha as fotos. Ela não esconde.Ele
FelipaEu não fui até a sala dele. Me fiz de desentendida, esperando que ele acorde para a realidade e esqueça essa loucura.Não quero ser barriga de aluguel de ninguém.Agora estou aqui, limpando esse lugar sem nem um pouco de concentração.Ele não manda me chamar. Graças a Deus. Entendo isso como um sinal de que caiu na real.Ainda assim passo o expediente todo pensando que ele pode me chamar. Na hora de sair vejo que passou do horário que minha tia aparece para irmos juntas. O que é estranho. Ela nunca se atrasa.Vou até o restaurante no segundo andar e não a vejo. O lugar está quase vazio, apenas alguns funcionários trabalhando.— Você viu minha tia? — pergunto depois de cumprimentar Nania, sua colega no restaurante.Ela me olha de um jeito estranho. Me lembra pena.— Oh menina! Não sabe ainda? Foi um choque.— O que houve? — já começo a pensar em várias tragédias.— Ela foi demitida antes mesmo de terminamos o almoço. Achei que tivesse te contado.Demitida? Não pode ser.Aquele f
FelipaDepois de deixar meu tio consolando minha tia, fui para o quarto que dividia no alojamento. Onde tive que esperar meia hora do lado de fora porque o sinal com marca de batom estava no trinco. Quando minha colega decidia trazer alguém era assim que ela marcava. Eu podia fazer o mesmo, mas nunca fiz. Não sinto desejo nem interesse romântico por ninguém. Talvez nunca sinta.Assim que o cara se foi, tomei um banho e me troquei e fui para a aula. Que eu espero não ter tido nada importante porque não consegui absorver nada.Quando finalmente coloquei a cabeça no travesseiro, mal dormi. Passei a noite em claro me questionando se estava agindo certo ao planejar enfrentar um homem poderoso como o senhor Escobar. No fim, aceitei que tinha que fazer isso. Homens como ele precisam entender que as pessoas não são seus brinquedos. Ele está brincando com a minha vida, com a vida da minha tia, como se não fosse nada.Às cinco da manhã me levanto e me arrumo. Faço tudo como um dia qualquer.Vou