Capítulo 3

Aquiles

Um anos antes...

— Trouxe novidades. — Jordan entra na minha sala sem bater.

Desvio o olhar dos papéis sobre a minha mesa e encaro meu amigo com seu terno sob medida e seus cabelos loiros penteados para trás e sem um fio fora do lugar.

— Espero que seja importante para invadir minha sala.

Seus olhos verdes brilham de empolgação.

— Você lembra que me pediu para encontrar a garota que te salvou quando era moleque?

— A encontrou?

— Melhor, ela nos encontrou. Pelas características que me passou, tenho noventa e oito por cento de certeza que ela acabou de ser contratada pela sua empresa. — Ele balança a pasta que segura. E traz para mim.

Abro o papel e vejo a moça em várias fotos, aqui na empresa e fora dela. Em algumas ela está sorrindo. Um sorriso que toma seu rosto inteiro e faz seus olhos escuros brilhares.

— Ela é da cidade onde aconteceu. Tem a idade aproximada que você falou e as características físicas, além da cicatriz.

— Como você...

— Olha as fotos. Ela não esconde.

Ele me interrompe quando vou perguntar como viu se o cão a mordeu na altura dos seios.

Vejo as próximas fotos e encontro uma que ela está com um vestido tomara que caia. A cicatriz da mordida do animal parcialmente exposta.

— Ela não parece ter vergonha. — Ele insiste.

— Onde ela está agora? Quero ver se ela me reconhece.

— Está trabalhando. — Ele já levanta. — Vamos lá!

Agora...

Naquele dia eu a vi limpando uma das salas. Usava o uniforme.

Acho que não me reconheceu, pois sequer demorou o olhar em mim enquanto me cumprimentava com educação. Eu mudei muito. Nem eu me reconheço. Era um menino magricela com dificuldades de andar por causa de um acidente e usava um aparelho horrível nos dentes. Enquanto ela era uma menina corajosa e linda que enfrentou um animal violento para salvar um desconhecido. Devo minha vida a Felipa.

Olho o relógio. São nove e trinta. Ela não apareceu.

Pego o telefone e disco o ramal direto do Jordan.

— Vem aqui — falo e desligo.

Minutos depois ele aparece.

— Coisa boa ou coisa ruim? — entra já perguntando.

— Eu disse a ela para me dar uma resposta às nove. Ela está me ignorando.

— Cara, que pena. Ela seria a ideal. Seu bisavô sabe que estava procurando por ela. Nada mais romântico que se casar com sua salvadora.

— Eu não estou procurando romance.

— Nem eu. — O idiota brinca. — Mas sabe que vai ganhar pontos com o velho se casando com ela.

Pior que sei.

— Pode ser. Mas ela não colabora.

— O que pretende fazer?

— Cumprir a ameaça.

— O que? — ele levanta e balança a cabeça negativamente, assim como balança o dedo indicador. — Não pode demitir a Tia Joyce. Eu não sei viver sem almoçar a comida dela.

— Então é bom que aquela teimosa aceite — digo decidido.

— Nossa, cara! Você não tem coração? A mulher toda feliz pelos anos trabalhados conosco e você vai demitir ela. Isso não se faz.

— É só a sobrinha dela aceitar meus termos e ela pode voltar quando quiser.

— Quero morrer seu amigo.

— Então vai logo resolver a questão da demissão. Inventa qualquer coisa que justifique quando ela for readmitida.

— Fala como se tivesse certeza que a garota vai se submeter por causa disso.

— E eu sei. Não estou há um ano seguindo seus passos para não saber da vida dela. Agora some. Tenho muito trabalho.

Ele levanta e vai em direção a porta. Ao segurar a maçaneta, se vira e deixa o último comentário de merda.

— Vai foder. Anda muito estressado.

Sem esperar resposta, sai batendo a porta.

Não demora nem dois minutos e Bruna entra com seu andar sensual, se oferecendo.

Ela é minha secretária há cinco anos. Sabe como gosto das coisas, principalmente como preciso de um boquete quando estou estressado.

E é disso que preciso agora.

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