Capítulo 4

Felipa

Eu não fui até a sala dele. Me fiz de desentendida, esperando que ele acorde para a realidade e esqueça essa loucura.

Não quero ser barriga de aluguel de ninguém.

Agora estou aqui, limpando esse lugar sem nem um pouco de concentração.

Ele não manda me chamar. Graças a Deus. Entendo isso como um sinal de que caiu na real.

Ainda assim passo o expediente todo pensando que ele pode me chamar. Na hora de sair vejo que passou do horário que minha tia aparece para irmos juntas. O que é estranho. Ela nunca se atrasa.

Vou até o restaurante no segundo andar e não a vejo. O lugar está quase vazio, apenas alguns funcionários trabalhando.

— Você viu minha tia? — pergunto depois de cumprimentar Nania, sua colega no restaurante.

Ela me olha de um jeito estranho. Me lembra pena.

— Oh menina! Não sabe ainda? Foi um choque.

— O que houve? — já começo a pensar em várias tragédias.

— Ela foi demitida antes mesmo de terminamos o almoço. Achei que tivesse te contado.

Demitida? Não pode ser.

Aquele filho da puta.

— Ela não disse nada. Eu tenho que ir. — Não espero resposta.

Saio correndo em direção ao ponto de ônibus.  Nem mesmo cumprimento as pessoas que costumo me despedir.

Quando chego em casa meu tio está fazendo brigadeiro. Ele me olha com uma expressão triste e preocupada.

— Cadê ela?

— Está no quarto desde que chegou.

— Vou falar com ela.

Ele assente e eu corro em direção ao quarto da minha tia. A casa é térrea, tem dois quartos, sala conjugada com a cozinha e um banheiro. Um dos quartos foi meu durante anos. Agora se tornou seu quarto de costura e meio que uma biblioteca do meu tio. Eles fizeram a mudança depois que decidi dividir um quarto mais perto da faculdade.

Abro a porta e a vejo.

— Tia? — chamo e me aproximo. Ela está deitada e coberta. Parece tão pequena encolhida.

— Oi, querida. Desculpe ter te deixado sem avisar. Eu me senti tão desnorteada.

— Tudo bem. Como aconteceu? O que eles alegaram?

— Parece que pretendem fazer parceria com um restaurante e deixar de servir na empresa.

Que mentira. Aquele desgraçado está fazendo isso porque não aceitei a porra do contrato. Tenho certeza. Havia ameaça em cada uma de suas palavras. Eu devia saber que pessoas como ele não se importam em ferir quem estiver no caminho. E ele usou minha tia para me atingir, sem se importar com o que isso causaria nela.

— Sinto muito, tia. — Minha voz sai como um sussurro.

— Meu coração está doendo como se eu tivesse perdido minha família. Eu sou uma tola.

Acaricio seus cabelos macios.

— Não é. Ele que são de perder alguém tão perfeita.

— Sabe, eu pensei em ir conversar com o CEO. Ele parece ser uma pessoa boa. Quando me deu o presente e me cumprimentou se mostrou satisfeito com o meu trabalho. Em nenhum momento pareceu que me jogaria na rua.

Suspiro.

Desculpa, tia. Era o que eu queria dizer. Mas não tenho coragem de confessar que o meu não foi o que causou sua demissão.

— Mas foi ele que te demitiu. Por que quer falar com ele?

— Acho que não. Essas empresas grandes às vezes os donos nem sabem quem são contratados e demitidos. Não acho que ele faria isso no dia seguinte a me presentear.

— Tia...

— Mesmo assim, mesmo que tenha sido ordem dele, quero falar com ele. — Ela começa a chorar. Eu a abraço, deitando na cama com ela.

— Deixa que eu falo, está bem? Tenho que conversar com ele sobre o tal contrato.

— É mesmo. O que ele te falou? Lembro que conversariam às nove da manhã.

— Foi adiado para amanhã.

— Ele deve te escutar. Deve ter algum apreço por você ou não faria a proposta que fez.

Ah, sim. Ele vai me escutar, mas não do jeito que ela está pensando. O quanto eu vou xingar o filho da puta não está escrito.

Minha tia vai superar e vai achar um emprego melhor. Eu também vou. Amanhã será meu último dia naquele trabalho. Amanhã será o dia que vou dizer a Aquiles Vincent Escobar tudo que penso a respeito da sua pessoa.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo