Capítulo 5

Felipa

Depois de deixar meu tio consolando minha tia, fui para o quarto que dividia no alojamento. Onde tive que esperar meia hora do lado de fora porque o sinal com marca de batom estava no trinco. Quando minha colega decidia trazer alguém era assim que ela marcava. Eu podia fazer o mesmo, mas nunca fiz. Não sinto desejo nem interesse romântico por ninguém. Talvez nunca sinta.

Assim que o cara se foi, tomei um banho e me troquei e fui para a aula. Que eu espero não ter tido nada importante porque não consegui absorver nada.

Quando finalmente coloquei a cabeça no travesseiro, mal dormi. Passei a noite em claro me questionando se estava agindo certo ao planejar enfrentar um homem poderoso como o senhor Escobar. No fim, aceitei que tinha que fazer isso. Homens como ele precisam entender que as pessoas não são seus brinquedos. Ele está brincando com a minha vida, com a vida da minha tia, como se não fosse nada.

Às cinco da manhã me levanto e me arrumo. Faço tudo como um dia qualquer.

Vou até a empresa ensaiando o discurso de ódio.

Cumprimento as pessoas pelo caminho normalmente, mas ao contrário de ir trocar meu jeans e blusa pelo uniforme e iniciar meu dia, pego o elevador e subo até o andar do CEO.

Subo e passo direto da secretária dele. Que arregala os olhos e vem atrás de mim.

— Ei! Ei! Não pode entrar ai.

Antes que ela termine de falar, já abri a porta e me meti na sala do CEO, onde ele está com um homem loiro sentado à sua frente, conversando.

Ele me olha curioso. O loiro também.

— Pois não? — pergunta.

Meu discurso de ódio some. Fico calada olhando para ele, me sentindo intimidada pelo seu tamanho e seu jeito arrogante dentro de roupas que jamais eu poderia comprar.

— Temos reunião marcada? Não me lembro. — Ele insiste.

Por um momento penso em deixar todo ódio de lado e apenas implorar para que mantenha o emprego da minha tia.

— Você mandou demitir a minha tia?

Preciso saber. Preciso ter certeza que ele está fazendo isso para me atingir. Porque nem mesmo nos conhecemos, pode ser apenas uma coincidência, não ter nada a ver comigo.

— Sim, ordenei sua demissão. Agora, voltando a minha questão, temos reunião marcada?

É tão deprimente.

Ignoro a presença da secretária que segura o meu braço para me expulsar e o cara loiro que parece se divertir com o que estou passando. 

— Em seus sonhos eu marcaria algo com você, seu verme escroto. — Meu tom de voz está alterado pela raiva e pelo choro que seguro com toda minha força. O cara loiro ri e olho para ele. — Está me achando com cara de palhaça? Palhaço é esse babaca que demitiu uma senhora que o idolatrava só pra mostrar que tem pau. Pois fique sabendo que a minha tia vai superar e vai conseguir um emprego bem melhor. Onde tem um patrão de verdade e não um moleque que agride quando perde o joguinho.

O CEO se mostra sereno e impassível diante das ofensas.

— Ela não precisaria superar se assinasse o contrato — diz.

Me solto da megera da secretária com um safanão que quase a derruba dos saltos finíssimos.

— Chamarei os seguranças — ela ameaça saindo. Ignoro. Continuo olhando o homem arrogante.

— O senhor só pode estar brincando. Eu sou capaz de arrancar meu útero antes de deixar que alguém com seus genes cresça nele. Sua raça deveria parar em você.

Ele levanta e se apoia na mesa, encostado de um jeito displicente.

— Acabou? — pergunta.

— Sim. Tenho mais o que fazer. Quando ao meu trabalho, considere abandono.

Saio empurrando a secretária. Mas antes que eu chegue ao elevador, as portas se abrem e dois seguranças aparecem.

— Tirem ela daqui. É a invasora. — A secretária parece ter prazer em humilhar.

Os homens nem mesmo fazem perguntas. Sou agarrada pelos braços e arrastada para o elevador. Logo em seguida vem a humilhação de ser levada para fora da empresa por eles, enquanto colegas de trabalho olham e comentam.

Acho que nunca falei tanto palavrão na minha vida. Muito menos fui tão humilhada.

Nunca pensei que sairia assim.

E enquanto passava a vergonha do século, jurei que minha tia e eu iriamos superar e conseguir empregos melhores.

Para garantir isso, menti para tia Joyce. Falei que não consegui falar com o CEO, que parece que ele está viajando. Pedi que tirasse uns dias de descanso enquanto ele não voltava.

Nesse meio tempo, montei nossos currículos e busquei vagas para que ela se envolvesse e desistisse de falar com o escroto que a demitiu.

O problema é que tia Joyce não superou. Perder o emprego a deixou triste e depressiva. E eu nem contei a ela que tinha me demitido.

Ela passa seus dias em casa lamentando. Meu tio está preocupado que ela fique doente. E a culpa de tudo isso é minha. Por isso, estou fazendo um sanduiche com meu orgulho e engolindo seco. Por ela sou capaz de me humilhar mais do que já fui humilhada.

Se para trazer sua alegria terei que me sacrificar... eu o farei.

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