Capitulo 3 :
Camila narrando : Continuação : Uma tarde, depois da aula de história, ele me abordou novamente. Dessa vez, sem me pedir nada, sem um livro para pegar emprestado. Ele apenas se aproximou da minha mesa e ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse decidindo o que dizer. O olhar dele estava mais intenso do que nunca. — Camila... — ele começou, com uma voz calma, mas que soava mais séria do que de costume. — Eu... eu não sei o que você pensa de mim, mas eu não sou como os outros. E eu sei que nem deveria estar falando com você,.mas eu não aguento mais guardar isso pra mim. Eu não sabia o que responder. Não estava esperando aquilo, mas ele parecia estar falando direto ao meu coração. Como se tudo o que eu temia, todas as barreiras que eu tentava colocar entre nós, estivessem sendo desfeitas com aquelas palavras simples. — Eu sei o que você quer dizer — respondi, com a voz trêmula, sem saber ao certo o que estava sentindo. — Mas não é tão simples assim. Ele me olhou por um instante, como se estivesse tentando entender o que eu queria dizer com aquelas palavras. — Não é simples para nenhum de nós — ele falou, com um sorriso triste, como se entendesse a dor que eu estava tentando esconder. — Mas, no fundo, eu sei que você sabe. O que você tem medo não é de mim, é do que as pessoas vão pensar, não é? Eu respirei fundo, sentindo o peso de suas palavras. Ele estava certo. Eu sabia que o que sentia por ele não era apenas atração física, mas algo mais profundo, algo que eu nunca tinha experimentado antes. Mas tudo ao meu redor dizia que isso não era certo. Não era aceitável. — Guilherme, você não sabe o que é viver nesse mundo — eu falei, com um suspiro. — Eu não sou como você. Eu não posso... Eu não posso me envolver com alguém como você. Minha família jamais aceitaria. Ele não disse nada imediatamente. Ficou em silêncio por um tempo, mas eu podia ver no olhar dele que ele estava tentando entender o que eu estava dizendo. Tinha algo ali que ele sabia, algo que eu ainda não estava pronta para aceitar. — Eu não sou 'alguém como você', Camila. Eu sou só alguém que quer te conhecer, e se isso não for possível, tudo bem. Mas não é sobre o que você tem ou deixa de ter. É sobre quem você é, e quem eu sou. E, no final, isso é o que importa. Eu senti um nó na garganta. Ele estava certo, mas eu não sabia como lidar com aquilo. Eu queria mais. Eu queria estar com ele. Mas havia tantas barreiras, tantos “não” em minha vida, que me vi amarrada em um sentimento que parecia impossível de ser vivido. E então, ele se afastou. Sem mais palavras, sem mais promessas. Ele foi embora, mas deixou algo em mim, algo que eu não sabia se conseguiria deixar ir. A partir daquele momento, eu sabia que a minha vida nunca mais seria a mesma. Eu estava começando a me perder em um labirinto de sentimentos contraditórios e impossíveis. E o pior de tudo: eu não sabia como sair dele. Os dias seguintes foram um turbilhão de emoções que eu não sabia como lidar. A escola parecia um palco de peças que eu não entendia mais, onde todo mundo tinha papéis bem definidos, menos eu. Eu sabia o que as pessoas esperavam de mim: a filha exemplar, a aluna dedicada, a menina de família rica e respeitada. Mas, dentro de mim, tudo estava em conflito. Eu não queria ser apenas a Camila que todo mundo conhecia, eu queria ser a Camila que poderia viver algo diferente, algo real, e, principalmente, viver isso ao lado de Guilherme. Mas as coisas não eram tão simples assim. Eu sabia que ele me olhava de uma forma que ninguém mais olhava. E isso me deixava inquieta, porque eu não conseguia ignorar o que sentia por ele. Mas, ao mesmo tempo, sabia que as consequências de uma relação entre nós seriam devastadoras. Não era só a diferença de classe social que nos separava. A minha família, com sua reputação impecável, nunca aceitaria um romance com alguém como ele, e isso me atormentava. O simples fato de pensar nisso me dava um nó no estômago, uma sensação de impotência. Eu tinha medo de perder tudo por algo que talvez fosse temporário, algo que talvez nem fosse real. Mas como eu poderia negar aquilo que eu estava sentindo? Eu tentei me distanciar. Evitei o olhar dele, tentei não perceber sua presença na escola, mas não adiantou. Ele estava sempre lá, como se o destino quisesse nos colocar à prova o tempo todo. Numa manhã, durante o intervalo, ele apareceu novamente. Desta vez, não foi com aquele olhar de quem tem algo a dizer, mas com um sorriso tranquilo, quase de quem já sabia o que eu estava passando. Ele se aproximou de mim sem pressa, como se o tempo fosse algo que não o pressionasse. — Camila — ele começou, sem rodeios. — Eu sei que você está se afastando, e eu entendo. Mas só quero que saiba que... eu não vou te forçar a nada. Só quero que você entenda que eu não sou igual aos outros, e que eu não sou a pessoa que você tem medo que eu seja. Eu olhei para ele, sentindo o coração acelerar. Como ele podia ser tão calmo, tão certo de tudo? Eu queria dizer alguma coisa, mas não consegui. O medo ainda era maior do que o desejo de estar com ele. — Eu não sei, Guilherme... — minha voz soou mais fraca do que eu gostaria. — Não sei se posso lidar com tudo isso. Ele ficou em silêncio por alguns segundos, como se estivesse processando minhas palavras. — Eu entendo que as coisas não são fáceis. Mas você não precisa fazer nada, Camila. Só pense no que realmente importa para você. As palavras dele ficaram ecoando na minha cabeça o dia todo. Ele não estava me pressionando, não estava me pedindo para tomar uma decisão agora. Mas eu sabia que, no fundo, eu teria que escolher logo. Escolher entre o que minha família esperava de mim e o que eu queria para mim mesma. Mas, como poderia escolher entre o que a minha cabeça dizia ser certo e o que meu coração clamava? No dia seguinte, eu estava na biblioteca, tentando me concentrar nos estudos, quando ele apareceu de novo. Mas desta vez, foi diferente. Ele não veio até mim. Ele estava lá, sentado, lendo um livro qualquer, mas a maneira como me olhou de longe fez meu coração bater mais rápido. Ele me observava com um olhar que parecia não se importar com o que os outros pensavam, como se ele soubesse o que eu estava passando, como se ele já tivesse aceitado que nosso destino, de alguma forma, estava entrelaçado. Eu sentia que a cada dia que passava, eu me aproximava mais de uma decisão. Uma decisão que não podia mais ser adiada. Aquele reencontro, com toda a carga emocional que ele trazia, me fez perceber que o meu mundo estava prestes a mudar. E, mesmo com todas as dúvidas e inseguranças, eu sabia que não conseguiria mais fugir do que sentia. Eu já estava envolvida, de uma forma que eu nem imaginava que seria possível. Mas a grande pergunta era: eu estava disposta a arriscar tudo por ele? Continua ....Capítulo 4Guilherme narrando :Acordar cedo sempre fez parte da minha rotina. O despertador toca antes do sol nascer, e eu já sei o que me espera: mais um dia de luta. Minha mãe, Dona Lúcia, já está de pé antes de mim, preparando o café simples, que na maioria das vezes é só café puro mesmo, sem pão, sem leite. Quando tem, é porque algum dinheiro sobrou ou porque ela conseguiu trazer algo da casa onde trabalha como empregada.Moro num bairro humilde, de ruas esburacadas e casas pequenas que se amontoam umas sobre as outras. O tipo de lugar onde, quando chove forte, as vielas alagam e a água entra pelas frestas da porta. Mas esse é o meu lugar. Cresci aqui, aprendi a me virar aqui. Minha mãe fez de tudo pra me manter longe dos problemas, e foi por causa dela que eu sempre levei os estudos a sério.Eu estudo numa escola de elite, mas não porque minha família tem dinheiro. Entrei lá porque ganhei uma bolsa integral, dessas que só oferecem pra alunos que se destacam. Sempre fui bom com n
Capítulo 5Camila narrando :A escola nunca pareceu tão pequena quanto naquele dia. Cada corredor, cada sala, cada canto parecia pulsar com a tensão que existia entre mim e Guilherme. Eu sabia que estava me metendo em algo complicado, mas, ao mesmo tempo, não conseguia evitar. Era como se ele tivesse se tornado um imã e, por mais que eu tentasse, não conseguia ficar longe.Naquele dia, o intervalo parecia arrastado. Eu sentia o olhar dele me procurando no meio dos alunos, e, no fundo, eu sabia que estava esperando por isso. Quando finalmente nos encontramos, foi diferente. Tinha algo nos olhos dele que me fez tremer. Expectativa, talvez. Ou só aquela certeza de que algo estava prestes a acontecer.Ele se aproximou devagar, como sempre fazia, sem pressa, sem medo.— Camila — ele disse, e o jeito como meu nome saiu da boca dele fez meu coração acelerar. — Acho que a gente precisa conversar.Eu respirei fundo.— Sobre o quê?Ele deu um meio sorriso.— Você sabe sobre o quê.E eu sabia.O
Capítulo 6Camila narrando :Cheguei na frente de casa, eu desci do carro do meu motorista, ainda com a cabeça cheia de pensamentos e o coração ainda acelerado. O dia foi mais intenso do que eu imaginava, e quando entrei pela porta, uma sensação de tristeza me tomou conta, eu sabia que provavelmente meu pai já estava em casa e já ia começar com a conversa de sempre.Quando entrei em casa, fechei a porta atrás de mim, tentando deixar a bagunça de sentimentos e os olhares carregados do dia fora. O silêncio da casa parecia mais pesado do que o normal. A casa era enorme, na verdade morávamos em uma mansão de um condomínio de luxo, a casa estava em silêncio, até que eu escutasse a voz dele. Meu pai.Eu nunca soube como lidar com ele. Depois que minha mãe morreu, as coisas pioraram. Ele ficou mais fechado, mais rígido. Eu nunca soube se ele realmente me via ou se apenas me tolerava. Ele já tinha começado com as indiretas antes de eu sair, e agora, quando entrei, ele já estava em modo "preo
Capítulo 7Guilherme narrando :O caminho pra casa nunca pareceu tão leve. Dois ônibus lotados, uma caminhada longa até minha rua de chão batido, mas nada disso importava. Minha cabeça ainda tava no momento em que eu encostei meus lábios nos dela. Camila.Nunca pensei que um beijo pudesse mexer tanto comigo. Foi rápido, tímido, mas foi nosso. E quando ela me olhou com aqueles olhos brilhando de nervoso e confessou que nunca tinha beijado ninguém antes, meu coração quase saiu pela boca. Porque eu também nunca tinha. Mas com ela... com ela parecia que eu já sabia exatamente o que fazer.O segundo ônibus freou bruscamente, me tirando dos meus pensamentos. Desci e caminhei até em casa, desviando dos buracos da rua, só com os postes piscando, como sempre.Quando abri a porta, o cheiro forte de óleo e farinha frita tomou conta do ar. Minha mãe tava na cozinha, mexendo uma panela velha com um olhar concentrado.— Oi, mãe — falei, jogando a mochila num canto e me aproximando.Ela levantou o o
Capítulo 8Camila narrando :A tarde passou arrastada. Tentei focar nos estudos, mas minha cabeça só conseguia voltar pra aquele momento na escola, pro jeito que Guilherme me olhou antes de me beijar. Eu sentia um frio na barriga só de lembrar.Peguei o notebook e abri os materiais pra estudar, mas a cada parágrafo lido, minha mente voltava pra ele. Só então me dei conta de um detalhe importante: eu não tinha pedido o número do celular dele.— Como eu fui esquecer isso? — murmurei, frustrada, me recostando na cadeira.Eu queria tanto falar com ele, saber como tinha sido o dia dele depois da escola, se ele tava pensando em mim também… Mas agora ia ter que esperar até amanhã.Suspirei e tentei voltar a estudar, mas as palavras na tela do notebook pareciam embaralhadas. Meu cérebro se recusava a prestar atenção.Foi quando ouvi batidas suaves na porta.— Minha menina, trouxe um lanchinho pra você — Dona Maria entrou com uma bandeja, um sorriso carinhoso no rosto.Olhei pra bandeja, mas m
Capítulo 9Guilherme narrando :O dia começou cedo, como sempre. Acordei antes do sol, o que já era rotina. O cheiro de café forte, que minha mãe fazia todos os dias, já estava no ar, mas eu ainda sentia aquele cansaço nas costas. Vida de quem mora longe, estuda em escola particular e tenta dar o melhor de si não é fácil, mas era o que eu tinha.Tomei um banho rápido, só pra acordar de vez, e me vesti com a roupa que eu tinha de melhor: uma camiseta que já tava meio velha e um jeans que não era dos melhores, mas servia. Eu não me importava muito com isso. O que eu queria mesmo era sair e conquistar minha vida, o resto… era só detalhe.Saí de casa, tentando não pensar muito no que estava por vir. Peguei o primeiro ônibus, depois o segundo, e como sempre, fiquei olhando pela janela, pensando em tudo e ao mesmo tempo em nada. Pensava na bolsa que me sustentava na escola, nos meus planos pro futuro, e também, por mais que eu tentasse esconder, nela. Na Camila.Cheguei na porta da escola,
Capítulo 10Guilherme narrando :O dia passou mais rápido do que eu esperava. Talvez fosse porque minha cabeça estava em outro lugar. A cada intervalo entre as aulas, eu me pegava olhando pra Camila. Ela estava algumas fileiras à frente, concentrada no caderno, mas vez ou outra, eu percebia que ela também me olhava. Era engraçado, porque parecia que a gente já tinha essa conexão, mesmo sem se conhecer direito.Quando a última aula terminou, meu coração acelerou. O combinado tava de pé: tomar um sorvete com ela antes de ir pro meu primeiro dia de trabalho.Saímos juntos pelo portão da escola, e ela me guiou até uma sorveteria ali perto. Eu nunca tinha entrado nesse tipo de lugar. Tudo era tão organizado, bonito e caro. Me senti meio deslocado, mas tentei não demonstrar.— Escolhe o que você quiser — ela disse, com um sorriso, enquanto pegava o cardápio.— Não precisa, Camila, sério. Qualquer coisa tá bom — respondi, tentando não me sentir um peso.Ela revirou os olhos, como se eu tives
Capítulo 11Camila narrando :Cheguei em casa e, como esperado, meu pai não estava. Ele sempre chegava tarde, ocupado demais com reuniões e jantares de negócios. Meu irmão, provavelmente, também estava fora, cuidando dos interesses da família. Isso significava que, pelo menos por algumas horas, eu teria paz.Subi direto pro meu quarto, joguei a bolsa na cama e soltei um suspiro longo. O dia tinha sido intenso. O beijo de Guilherme ainda não saía da minha cabeça, e o jeito que ele me olhava… Era diferente de tudo que eu já tinha sentido.Me joguei na cama e fiquei encarando o teto, um sorriso bobo escapando sem que eu percebesse. Eu queria mandar mensagem pra ele, falar qualquer coisa, mas me lembrei que ele não tinha celular. Isso me pegou de jeito. Eu nunca tinha parado pra pensar que alguém da nossa idade poderia não ter um telefone. Minha realidade sempre foi tão diferente…Fechei os olhos, lembrando da nossa conversa na porta da escola. O jeito que ele ficou sem graça ao dizer que