Capítulo 11Camila narrando :Cheguei em casa e, como esperado, meu pai não estava. Ele sempre chegava tarde, ocupado demais com reuniões e jantares de negócios. Meu irmão, provavelmente, também estava fora, cuidando dos interesses da família. Isso significava que, pelo menos por algumas horas, eu teria paz.Subi direto pro meu quarto, joguei a bolsa na cama e soltei um suspiro longo. O dia tinha sido intenso. O beijo de Guilherme ainda não saía da minha cabeça, e o jeito que ele me olhava… Era diferente de tudo que eu já tinha sentido.Me joguei na cama e fiquei encarando o teto, um sorriso bobo escapando sem que eu percebesse. Eu queria mandar mensagem pra ele, falar qualquer coisa, mas me lembrei que ele não tinha celular. Isso me pegou de jeito. Eu nunca tinha parado pra pensar que alguém da nossa idade poderia não ter um telefone. Minha realidade sempre foi tão diferente…Fechei os olhos, lembrando da nossa conversa na porta da escola. O jeito que ele ficou sem graça ao dizer que
Capítulo 12Camila narrando :Continuação :Nos sentamos à mesa, e eu fiz o possível para fingir que aquele jantar não era uma sentença. Meu pai estava animado, conversava com Albert sobre negócios, investimentos, tudo aquilo que eu nunca me importei de verdade. Meu irmão, como sempre, fazia seu papel de herdeiro exemplar, apoiando cada palavra do nosso pai, rindo das piadas sem graça e mostrando interesse em cada detalhe da conversa.— E então, Camila, como estão seus estudos? — Albert perguntou, me olhando com um sorriso calculado.Engoli seco e ajeitei o guardanapo no colo antes de responder.— Vão bem — disse simplesmente, sem vontade de prolongar o assunto.— Seu pai me disse que você está pensando em administração. Ótima escolha. Quem sabe um dia podemos trabalhar juntos? — Ele sorriu, como se aquela ideia fosse maravilhosa.Meu pai lançou um olhar de aprovação, claramente satisfeito com o rumo da conversa.— Isso seria excelente — ele disse. — Camila precisa de um homem como vo
Capítulo 13Guilherme narrando :Cheguei em casa e a luz da sala ainda tava acesa. Suspirei, já imaginando minha mãe sentada no sofá, esperando eu entrar pela porta.Girei a chave na fechadura devagar, mas foi inútil. Assim que abri a porta, lá estava ela, de braços cruzados e um olhar que misturava alívio e bronca.— Achei que você ia dormir no café — ela soltou, levantando da poltrona.Dei um sorrisinho sem graça, largando a mochila num canto.— O movimento foi puxado hoje. Mas foi bom, mãe. Gostei do trampo.Ela me olhou de cima a baixo, como sempre fazia, conferindo se eu tava bem.— Cansado?— Um pouco — admiti, me jogando no sofá. — Mas valeu a pena.Ela suspirou, indo até a cozinha. Em segundos, voltou com um prato de comida e colocou na mesinha de centro.— Come. Fiz arroz e feijão fresquinho.Meu estômago roncou só de sentir o cheiro. Peguei o garfo e comecei a comer, enquanto minha mãe se sentava ao meu lado.— E a escola? Tudo certo?Assenti de boca cheia.— Tudo sim.Ela e
Capítulo 14Guilherme narrando:Um mês depois :O tempo passou depressa. Num piscar de olhos, já tava nos últimos dias de aula, e parecia que tudo tinha mudado num curto espaço de tempo.No café, me esforcei tanto que a Patrícia acabou me promovendo. Agora, além de atender, eu também trabalhava no caixa, e isso significava que eu ganhava um pouco mais. Não era muita coisa, mas já ajudava em casa. Minha mãe ficou orgulhosa quando contei, e aquilo me deu um gás a mais pra continuar dando o meu melhor.Mas o que mais tinha mudado nesse mês… era o que eu sentia pela Camila.A cada dia que passava, eu tava mais apaixonado por ela. No começo, achei que fosse só aquela empolgação de algo novo, mas não… Era mais que isso. Todo dia, depois da aula, a gente ficava junto. Às vezes, era só uma conversa na pracinha perto da escola, outras, ela me levava pra conhecer lugares que eu nunca teria ido sozinho.E o jeito que ela me olhava… como se eu fosse alguém especial. Isso me pegava de um jeito que
Capítulo 15Camila narrando :Já se passaram um mês e parece que o tempo tá passando rápido demais. Fui ficando cada vez mais enfiada em casa, tendo que aguentar meu pai e o peso de ter que fingir que tudo tá bem. Mas isso vai mudar assim que eu fizer dezoito anos. Vou exigir a herança que minha mãe deixou pra mim e vou sumir daqui, pra bem longe dele e do meu irmão.A verdade é que meu pai tá me obrigando a namorar o Albert. Ele vem aqui quase toda semana, fica pra jantar, me observa como se fosse uma peça de vitrine. Nunca aconteceu nada entre a gente, e eu já deixei claro que não gosto dele, que nunca vou gostar. Mas ele... ele insiste. Fica dizendo que é o melhor pras famílias, que ele gosta de mim, como se isso fosse algum tipo de justificativa.Eu só vou empurrando as coisas, fingindo que tô aceitando, mas a cada dia que passa, fico mais certa de que assim que puder, vou sumir. Eu não mereço essa vida. Eu não vou ser forçada a fazer nada que eu não queira. Então, vou esperar o t
Capítulo 16Camila narrando :Passei o resto da tarde agoniada, contando os minutos pra noite chegar logo e o outro dia amanhecer. A ansiedade tava me consumindo, e pra tentar me distrair, coloquei uma série coreana que eu tava acompanhando. E nossa, tava boa demais! Mas nem isso fazia minha mente parar de voltar pro Guilherme e pra tudo que ia acontecer amanhã.Quando percebi, já tinha escurecido lá fora. A luz do meu quarto tava fraquinha, e eu continuava jogada na cama, de pijama, abraçada no travesseiro, quando a dona Maria entrou sem nem bater.— Camila, minha filha, já tá de noite e você nem desceu pra comer nada… — Ela parou perto da cama e me olhou daquele jeito de mãe preocupada.Eu suspirei, largando o celular no colchão. — Eu não tô com muita fome, Maria.Ela franziu a testa e cruzou os braços. — Não vem com essa. Passou a tarde toda trancada aqui, vidrada nessa telinha… Nem parece aquela menina que eu conheço. Tá acontecendo alguma coisa?Tentei disfarçar, mas Maria semp
Capítulo 17Guilherme narrando :A tarde no café foi corrida. Muita gente entrando e saindo, pedindo café, bolo, pão de queijo… e eu ali no caixa, conferindo troco, anotando pedido, resolvendo problema. Desde que me promoveram, o trampo ficou mais puxado, mas pelo menos o dinheiro melhorou um pouco.O tempo foi passando rápido, e quanto mais perto do fim do expediente, mais eu ficava ansioso. Camila me chamou pra passar o fim de semana com ela na casa de praia, e eu nem acreditei quando ela falou. Um tempo só nós dois, sem ninguém pra atrapalhar. Era óbvio que eu ia dar um jeito de ir.Quando deu meu horário, passei o avental pro outro funcionário e saí quase correndo. Ainda tinha que pegar o ônibus pra casa e depois ver como ia fazer pra chegar lá amanha. No ponto de ônibus, sentei no banco e fiquei esperando, sentindo aquela ansiedade misturada com empolgação. O ônibus chegou e eu entrei, olhando pela janela enquanto a cidade passava rápido.Cheguei em casa e, como sempre, minha mã
Capítulo 18Camila narrando :Eu tava na sala, andando de um lado pro outro, nervosa. Já era pra ele ter chegado. Será que deu ruim? Será que ele conseguiu pegar a moto certinho? Meu coração tava acelerado, mas tentei me acalmar.Fui até a janela e, no mesmo instante, ouvi o barulho de uma moto parando lá fora. Meu peito apertou de ansiedade. Corri até a porta e espiei pelo vidro. Era ele.Abri o portão rápido, tentando disfarçar meu sorriso, mas era impossível. Ele tava lá, parado, com aquela mochila nas costas e o olhar meio perdido, como se não acreditasse no tamanho da casa.— Você chegou! — falei animada, puxando ele pra dentro antes que algum vizinho fofoqueiro resolvesse olhar demais.— Cheguei — ele respondeu, dando um sorrisinho de canto. — Essa casa é sua mesmo?Ri, fechando o portão atrás dele.— É... Meu pai comprou faz um tempo, mas quase não vem. Então, hoje, ela é só nossa.Ele me olhou de um jeito diferente, meio tímido, meio encantado. E eu senti na hora que aquele fi