O engenheiro meia idade Clint Tenner vive uma pacata vida de classe média a esposa, Rita, e as duas filhas. Aclamado por todos como homem sucesso, pai família e trabalhador exemplar, Clint esconde um segredo a sete chaves: o vício em . Mesmo a ajuda do melhor amigo, Ramon, ele não consegue deixar os encontros casuais e afunda cada vez mais nos próprios desejos. Porém, quando o presidente da empresa onde trabalha, a companhia siderúrgica Durlland&Co, decide dar novas oportunidades para ele, o que era apenas um detalhe pessoal ganha proporções públicas. Imerso nos seus pecados e nos anseios do chefe, Clint se vê as voltas com um mundo de intrigas políticas, poder e assassinatos. E a pressão para manter as aparências corre o risco de fazer algo há muito tempo guardado dentro dele explodir. Sem limites, o inferno de Tenner pode machucar a todos a sua volta. __________ Arte e Design da capa: Henggo __________ REGISTRO Nº: AVCTORIScf41e22cdcfb5fd2668169f9f33326bfee155a43940815708a23a80da92c534b
Ler maisHenrique Gomes Gonçalves, mais conhecido como Henggo, é jornalista, artista plástico e escritor. Maranhense de São Luís, apaixonou-se pela literatura aos 12 anos, quando reescrevia os livros paradidáticos da escola para “dar mais emoção”. Amante do silêncio e das tardes sentado na areia da praia, envolto pela cultura quilombola da família, vive com os olhos voltados para as estrelas, um sentimento de curiosidade perante o mundo que permeia todos os seus textos. Acima de tudo, é um fiel defensor de histórias que mergulhem na brasilidade e na diversidade da sociedade. Afinal, há algo mais instigante do que a mente humana e suas problemáticas? Saiba mais sobre o autor em www.henggo.com.br
OS VENTOS BRINCAVAM POR ENTRE OS SEUS CABELOS E LEVAVAM FOLHAS PELO AR. Ainda tremia ao se sentar no banco e apoiar as mãos no volante. Por sorte, a tremedeira não fora um empecilho para manter o plano e sair do hospital. Agora, aquele dia ganhara mais um significado: era o dia do seu renascimento.Cinco enfermeiros e mais uma dezena de seguranças surgiram quando o homem se preparava para apunhalar sua cabeça. Contiveram o paciente e aplicaram uma injeção. Enquanto adormecia, sua atenção se manteve sobre a mulher. Quando as janelas estavam prestes a se fechar, seus lábios se moveram para formarem uma frase:“Fique longe de mim”.Com ou sem o conselho, ela já decidira se manter longe dali: aquele fardo não era mais dela. Aquela responsabilidade, enfim, acabara.Rita estava livre.Olhou para o relógio no painel do carro e ficou al
NA TOMADA DE DECISÕES, OS PASSOS RUMO AO ABISMO SEMPRE CARECEM DE MAIS ESFORÇO. Contudo, quanto mais se aproxima aquele vazio tão aclamado em versos, metafóricos ou não, o corpo parece se convencer do inevitável, os músculos esquecem do cansaço e os impulsos fazem os pés agilizarem as passadas. Abrem-se os braços à beira do abismo e ele abraça de volta.E sorri.E devora.Rita parou em frente ao vidro. O cenário se assemelhava ao dos outros quartos, com exceção da ausência de livros nas prateleiras. A cela parecia tomada por uma friagem cromática: da fronha do travesseiro à cor do armário, dos chinelos largados a um canto à toalha estendida sobre a cadeira, tudo tinha tons cinzas. Por um breve momento, Rita se questionou se não era daltônica. Quando o homem saiu do banheiro e caminhou até
Dois anos depois. “LEVANTAR-SE É UM ATO DE CORAGEM”. Rita dizia isso para si mesma todos os dias, há mais de setecentos dias. Diferente de anos antes, agora ela não mais se apressava para acordar antes do sol nascer. No passado, sentia orgulho de acordar às três e meia da manhã, às vezes até mais cedo, para fazer os exercícios físicos do dia e adiantar algum trabalho. Antes, Rita não se importava com a escuridão das madrugadas. Antes, Rita tinha medos internos em nada comparados às possíveis ameaças ao redor. Antes, Rita vivia em um palco de teatro.&nbs
Êxtase.O pesadelo estava em êxtase. Sim, conseguira: ali estava o seu trunfo após todos aqueles anos, após toda aquela jornada. Mas nunca houvera outra... Não, não houvera. Era ela, sim. Só ela. A única recusa; a única ousada ao ponto de impedir o prazer. Rita... Tão parecida com a irmã... Mas não era ela...Não, não era.Nem os garotos e as garotas, homens, mulheres e travestis, Leona, Typhany, Jonas, Rita, Yago, Lima, Rafaela... Por quanto tempo buscou o gosto dela, da sua Beatriz?Jéssica...Não! Tentou afastar o pensamento...Não... ou sim?Sim! Acabaria sua refeição e buscaria a sobremesa. Esperava encontrar a filha em casa, mas apenas o prato principal se ofereceu pa
O LOCUTOR DA RÁDIO ATUALIZAVA AS INFORMAÇÕES SOBRE O CASO DURLLAND DE MINUTO A MINUTO COM UMA ENTONAÇÃO À BEIRA DO ÊXTASE. A emissora nunca tivera tanta audiência quanto naquela manhã. Atrás do volante, a cabeça de Rita buscava encontrar encaixes entre os três objetivos: manter a calma enquanto dirigia, encontrar Clint e não surtar. Estava difícil. Vinte minutos antes, quando recebeu a ligação de Leona, ela pegou algumas economias e rumou para a delegacia. Muitos pensariam se tratar de um movimento de solidariedade e de altruísmo. Amizade. Estariam enganados. Rita temia ver o próprio nome e o da família ainda mais afundados na lama. A prisão de Leona Castri significava expor o acordo en
A CAMPAINHA TOCOU E FOI ACOMPANHADA POR BATIDAS NA PORTA. Atordoadas, Beatriz e Milena correram para verificar quem era e tomaram um susto: ao abrirem a porta, depararam-se com vários carros da Polícia Federal, repórteres e curiosos com a movimentação. — Bom dia, senhoras. - um homem acompanhado de mais quatro de colete entregou um documento para as duas. — Nós buscamos pelo senhor Clint Tenner. Podemos entrar? — S-S-Sim... – Beatriz fechou o roupão com as mãos e acompanhou os policiais pela casa. Andaram por todos os aposentos em busca de Clint. Após quinze minutos de busca, agradeceram e fizeram menção de sair, mas Beatriz os interrompeu. —
EM FRENTE AOS ESCOMBROS DO TRIBUNA IMPARCIAL, JOHNN KÉLVI ACABARA DE CONCEDER A ÚLTIMA ENTREVISTA DAQUELE DIA. Há alguns metros, o chefe gesticulava em frente às câmeras e gritava impropérios contra as dezenas de políticos envolvidos no esquema da companhia siderúrgica. Horas antes, apesar de abalado pela explosão da casa, Johnn se encontrara com Ramon, tão desnorteado quanto ele, e recebera do senhor Sanmaris a caixa de Pandora. Os momentos antes de ter conhecimento sobre o atentado ao jornal haviam sido de reflexão. Sentado em uma espelunca com uma xícara de café à sua frente, o jornalista já fumara quase um maço de cigarro. Nunca havia fumado nessas quase quatro décadas de vida. Deliciou-se ao constatar como a beira do abismo e a iminência da morte trazem gost
A MORTE TORNA AS PESSOAS HUMANAS. Ela puxa o indivíduo e faz com que ele se lembre do quanto a vida pode ser breve. Acima disso, congrega pessoas e põe fim aos conflitos. Por sua vez, a tragédia, uma de suas causadoras, não apenas leva ao choque como causa uma dor sentida por todos, afinal, morrer é algo da natureza, porém, o modo como se morre vai definir a intensidade da perda.A mulher se curvou sobre o corpo coberto com o lençol do necrotério. O nome do hospital espalhado por toda a extensão do tecido era uma daquelas ironias da vida. Friedrich Ernest Tromnan Durlland, bilionário, dono de grandes empresas, homem poderoso capaz de destruir políticos com apenas um telefonema, fora levado para um hospital público, hospital este sempre ajudado pelo empresário, mas nunca visitado apesar dos diretores enviarem convites quase todos os meses.Friedrich sempre dava um