A CAMPAINHA TOCOU E FOI ACOMPANHADA POR BATIDAS NA PORTA. Atordoadas, Beatriz e Milena correram para verificar quem era e tomaram um susto: ao abrirem a porta, depararam-se com vários carros da Polícia Federal, repórteres e curiosos com a movimentação.
— Bom dia, senhoras. - um homem acompanhado de mais quatro de colete entregou um documento para as duas. — Nós buscamos pelo senhor Clint Tenner. Podemos entrar?
— S-S-Sim... – Beatriz fechou o roupão com as mãos e acompanhou os policiais pela casa. Andaram por todos os aposentos em busca de Clint. Após quinze minutos de busca, agradeceram e fizeram menção de sair, mas Beatriz os interrompeu.
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O LOCUTOR DA RÁDIO ATUALIZAVA AS INFORMAÇÕES SOBRE O CASO DURLLAND DE MINUTO A MINUTO COM UMA ENTONAÇÃO À BEIRA DO ÊXTASE. A emissora nunca tivera tanta audiência quanto naquela manhã. Atrás do volante, a cabeça de Rita buscava encontrar encaixes entre os três objetivos: manter a calma enquanto dirigia, encontrar Clint e não surtar. Estava difícil. Vinte minutos antes, quando recebeu a ligação de Leona, ela pegou algumas economias e rumou para a delegacia. Muitos pensariam se tratar de um movimento de solidariedade e de altruísmo. Amizade. Estariam enganados. Rita temia ver o próprio nome e o da família ainda mais afundados na lama. A prisão de Leona Castri significava expor o acordo en
Êxtase.O pesadelo estava em êxtase. Sim, conseguira: ali estava o seu trunfo após todos aqueles anos, após toda aquela jornada. Mas nunca houvera outra... Não, não houvera. Era ela, sim. Só ela. A única recusa; a única ousada ao ponto de impedir o prazer. Rita... Tão parecida com a irmã... Mas não era ela...Não, não era.Nem os garotos e as garotas, homens, mulheres e travestis, Leona, Typhany, Jonas, Rita, Yago, Lima, Rafaela... Por quanto tempo buscou o gosto dela, da sua Beatriz?Jéssica...Não! Tentou afastar o pensamento...Não... ou sim?Sim! Acabaria sua refeição e buscaria a sobremesa. Esperava encontrar a filha em casa, mas apenas o prato principal se ofereceu pa
Dois anos depois. “LEVANTAR-SE É UM ATO DE CORAGEM”. Rita dizia isso para si mesma todos os dias, há mais de setecentos dias. Diferente de anos antes, agora ela não mais se apressava para acordar antes do sol nascer. No passado, sentia orgulho de acordar às três e meia da manhã, às vezes até mais cedo, para fazer os exercícios físicos do dia e adiantar algum trabalho. Antes, Rita não se importava com a escuridão das madrugadas. Antes, Rita tinha medos internos em nada comparados às possíveis ameaças ao redor. Antes, Rita vivia em um palco de teatro.&nbs
NA TOMADA DE DECISÕES, OS PASSOS RUMO AO ABISMO SEMPRE CARECEM DE MAIS ESFORÇO. Contudo, quanto mais se aproxima aquele vazio tão aclamado em versos, metafóricos ou não, o corpo parece se convencer do inevitável, os músculos esquecem do cansaço e os impulsos fazem os pés agilizarem as passadas. Abrem-se os braços à beira do abismo e ele abraça de volta.E sorri.E devora.Rita parou em frente ao vidro. O cenário se assemelhava ao dos outros quartos, com exceção da ausência de livros nas prateleiras. A cela parecia tomada por uma friagem cromática: da fronha do travesseiro à cor do armário, dos chinelos largados a um canto à toalha estendida sobre a cadeira, tudo tinha tons cinzas. Por um breve momento, Rita se questionou se não era daltônica. Quando o homem saiu do banheiro e caminhou até
OS VENTOS BRINCAVAM POR ENTRE OS SEUS CABELOS E LEVAVAM FOLHAS PELO AR. Ainda tremia ao se sentar no banco e apoiar as mãos no volante. Por sorte, a tremedeira não fora um empecilho para manter o plano e sair do hospital. Agora, aquele dia ganhara mais um significado: era o dia do seu renascimento.Cinco enfermeiros e mais uma dezena de seguranças surgiram quando o homem se preparava para apunhalar sua cabeça. Contiveram o paciente e aplicaram uma injeção. Enquanto adormecia, sua atenção se manteve sobre a mulher. Quando as janelas estavam prestes a se fechar, seus lábios se moveram para formarem uma frase:“Fique longe de mim”.Com ou sem o conselho, ela já decidira se manter longe dali: aquele fardo não era mais dela. Aquela responsabilidade, enfim, acabara.Rita estava livre.Olhou para o relógio no painel do carro e ficou al
Henrique Gomes Gonçalves, mais conhecido como Henggo, é jornalista, artista plástico e escritor. Maranhense de São Luís, apaixonou-se pela literatura aos 12 anos, quando reescrevia os livros paradidáticos da escola para “dar mais emoção”. Amante do silêncio e das tardes sentado na areia da praia, envolto pela cultura quilombola da família, vive com os olhos voltados para as estrelas, um sentimento de curiosidade perante o mundo que permeia todos os seus textos. Acima de tudo, é um fiel defensor de histórias que mergulhem na brasilidade e na diversidade da sociedade. Afinal, há algo mais instigante do que a mente humana e suas problemáticas? Saiba mais sobre o autor em www.henggo.com.br
#pratodosverem | Descrição da capa: Ao fundo, vê-se a imagem de uma pessoa sentada diante de uma parede preta. A cabeça está coberta por um pano vermelho. As penas entrecruzadas à frente do corpo revelam parte das coxas e das nádegas. No alto da capa, em letras brancas, lê-se a apresentação “um thriller erótico de” seguido na linha abaixo pelo nome do autor em letras garrafais, “Henggo”. Em frente à imagem dessa pessoa, tem-se uma pergunta também em letras brancas: “Qual o limite da sua luxúria?”. Abaixo dessa frase, vê-se o título estilizado do livro. Em letras grandes, tem-se a palavra “Voo”. Dentro da última letra, o artigo “um” em vermelho. Abaixo desse conjunto, o complemento “na escuridão”. Assim, forma-se o título: “Um voo na escuridão”.
SENTIA-SE UM LIXO. Na terceira vez prometera parar e não conseguira. Protelou a decisão e, após dezenas de encontros, assumiu a culpa. Ao menos, agora reconhecia o erro. “A última vez. Dessa vez é pra valer...”, pensou.Jogou água no rosto, ajeitou a gravata e voltou para a mesa. O nervosismo era visível e os colegas o percebiam. Ele olhava para todos os lados, a tremedeira das mãos fazia os dedos sapatearem pelo teclado, os pés não paravam quietos. E ainda havia uma coceirinha a salpicar pelo corpo. Por fim, após quarenta minutos de agonia, a hora do almoço chegou e seus dois companheiros de sala saíram. Tomou ar. A sala pareceu inspirar junto com ele e prender o fôlego. A tensão maculava a brancura das paredes.Do porta-retrato ao lado do computador, ela o observou. Mesmo ali, em um emaranhado de tinta, cores e papel fotogr&aac