Eu não sabia se me sentia empolgada ou assustada - talvez as duas coisas ao mesmo tempo. Saí de casa confiante, cabeça erguida, como se nada pudesse me abalar, mas jamais imaginei que seria tão fácil. Fácil até demais.
O problema é que, por dentro, eu estava insegura. Não porque eu achasse que não daria conta do trabalho, mas por causa do meu chefe. Noah Novack. Eu não fazia ideia de que era ele quando entrei naquela sala. Estudei muito sobre famílias influentes em Nova York, sobre empresários poderosos com quem eu poderia vir a trabalhar, mas o Noah... ele era diferente. Sempre foi uma figura misteriosa. Pouquíssimas informações sobre ele, assim como sobre a própria família Novack. Era quase como se vivessem à parte do mundo, escondidos sob um véu que ninguém conseguia atravessar.
E o mais estranho? Eles são uma das famílias mais importantes da cidade - do país até. Entrar para aquele círculo parecia algo quase inalcançável. Não que eu quisesse fazer parte do clã Novack, claro, mas havia algo de desconcertante em saber que agora eu trabalharia diretamente para ele.
Saí de lá com o crachá em mãos, todas as informações passadas e uma vaga sensação de que algo estava por vir. Consegui o emprego, o que já era incrível por si só, mas agora tudo parecia mais real. E assustador. Peguei o ônibus no último segundo - precisei correr de novo, claro - e, quando finalmente sentei, senti meus pés gritarem de dor. Aqueles sapatos estavam velhos, desgastados, e nada confortáveis. Mas eram os únicos que eu tinha.
Pensei que, para ser secretária de um homem como Noah Novack, eu precisaria aparentar mais elegância. Não que eu tivesse dinheiro sobrando para isso, mas um terninho simples e sapatos decentes deveriam bastar, certo? Foi aí que decidi: assim que chegasse em casa, contaria a novidade e sairia para comprar sapatos novos. Não era vaidade - era um investimento. Algo que me traria retorno logo no primeiro salário.
Quando desci no ponto de ônibus, tirei os sapatos e andei descalça até o prédio. A calçada áspera foi quase um alívio depois do aperto daqueles saltos velhos. Subi as escadas correndo, o coração batendo mais forte de ansiedade do que de cansaço. Abri a porta e fui recebida pelo som mais doce do mundo: a risadinha da minha menininha.
Aurora veio correndo, os bracinhos gordinhos estendidos para mim, e naquele instante, todo o cansaço desapareceu. Jess estava ali também, cuidando dela enquanto minha avó - já com a saúde fragilizada pela idade - descansava no quarto.
O sorriso largo no meu rosto entregou tudo antes mesmo de eu dizer uma palavra. Aurora pulava de alegria, sem entender o motivo, mas contagiada pela minha empolgação.
- Consegui o emprego! - anunciei, minha voz falhando de emoção.
- Mas eu achei que teria que passar por uma seleção, sabe? Não que fosse ser contratada no mesmo instante. - Soltei a frase ainda meio incrédula, enquanto via minha amiga me encarar com os olhos arregalados, tentando processar o que eu acabara de contar.
- Você tá brincando, né? - Ela perguntou, a voz cheia de surpresa.
- Juro! - Ri, balançando a cabeça. - Até eu ainda tô tentando acreditar. Mas acho que o que fez a diferença foi que eu não baixei a cabeça pra ele.
- Ele? O tal chefe?
- Sim, o próprio. - Suspirei, lembrando da figura imponente de Noah Novack. - Um homem exigente, arrogante... mas com um jeito elegante, sabe? Quase como um Lorde.
Minha amiga riu. - Então, um Lorde metido?
- Exatamente. - Sorri de lado. - Ele tem aquele ar educado, fala bem, parece refinado... mas por baixo, é cheio de arrogância e egocentrismo. Vai dar trabalho, tenho certeza.
- Ah, mas quem nesse meio executivo não é assim? - Ela disse, dando de ombros.
- Pois é. - Concordei, pegando Aurora no colo. Dei beijinhos no seu pescoço gordinho, arrancando dela uma risadinha deliciosa. - Mas eu engulo os sapos que for preciso, só pra chegar em casa e ver esse sorriso lindo de novo.
Minha amiga sorriu com ternura, se aproximando e pegando minha mão. - Eu tô tão feliz por você. Finalmente vai trabalhar com o que gosta. Nada de lanchonetes e bandejas pesadas.
E foi só então que me lembrei da lanchonete. A dona já sabia que eu estava procurando algo melhor, algo na minha área, mas eu não esperava conseguir algo tão rápido assim.
- Preciso ligar pra ela e avisar... - murmurei, um pouco culpada.
- Vai dar tudo certo - ela me tranquilizou. - Agora, o mais importante: sapatos novos!
Olhei para o par velho encostado no canto da sala. Sapatos que me acompanharam por muito tempo, mas que agora estavam com a cor desbotada, o couro descascando, quase implorando por aposentadoria.
- Eles fizeram o que puderam - murmurei, meio em tom de brincadeira.
- E agora merecem descanso eterno. - Minha amiga riu. - Vamos achar algo mais elegante, algo digno da secretária de um Lorde arrogante!
Caímos na risada, mas logo ela foi até a cozinha. - Mas antes, a gente precisa comemorar. Mesmo que seja só com suco de laranja!
Segui atrás dela, pegando dois copos enquanto ela servia o suco. Levantamos os copos no ar e brindamos.
- Ao novo emprego - disse ela.
- E ao começo de uma nova vida. - Completei, antes de beber o suco em um gole.
Respirei fundo, sentindo uma onda de emoções me invadir. Amanhã tudo mudaria. Eu sabia disso. E apesar do medo, a esperança era ainda maior.
O dia inteiro foi arruinado por causa daquela mulher. Não queria admitir, mas desde o instante em que esbarramos no corredor, não consegui tirá-la da cabeça. Era irritante. O olhar dela, a forma como me desafiava sem nem saber quem eu era. E, mesmo depois que soube, continuava me encarando da mesma forma, como se não se importasse. Era como se estivéssemos constantemente em choque, faíscas invisíveis cortando o ar entre nós - e, por algum motivo, eu achava isso intrigante.Sempre fui movido por controle. Quando algo fugia das minhas mãos, fazia questão de puxar de volta. Como um touro selvagem que precisava ser domado a qualquer custo. Talvez fosse por isso que a escolhi tão rapidamente, mesmo tendo opções melhores, mais qualificadas. As outras candidatas tinham aquele olhar - o tipo que eu odiava. Brilhavam demais, tentavam demais, encaravam como se o escritório fosse uma vitrine de oportunidades além do trabalho. Emma, por outro lado, me olhava como se não se importasse. E isso... b
Chegou o grande dia. O momento que eu esperei por tanto tempo finalmente estava diante de mim. E, claro, eu estava nervosa. Minhas mãos suavam sem parar, as pernas bambas ameaçavam me trair a qualquer instante. Respirei fundo antes de entrar naquele escritório - o mesmo onde sonhei tantas vezes estar. Era a primeira vez, depois de muito tempo, que eu pisava ali não como estagiária, mas para trabalhar de verdade. Eu amava meu estágio. De verdade. Acreditei que ficaria ali por um bom tempo, quem sabe até conseguir uma vaga fixa. Mas não foi o que aconteceu. Quando descobri a gravidez, tudo mudou. No começo, tentei me manter firme, fingir que estava tudo bem, mas as coisas começaram a desmoronar aos poucos. Acabei sendo afastada, e, por mais que doesse, eu entendia. Quem iria querer uma estagiária grávida? Então, me recolhi. Passei meses sozinha, carregando a Aurora na barriga e o peso do mundo nos ombros. Depois que ela nasceu, as portas de emprego pareciam se fechar ainda mais rápido
Noah tamborilava os dedos contra a mesa, o som seco ecoando pela sala silenciosa. Estava mais nervoso do que o normal - e ele sabia disso. Aquele lugar, que antes representava um refúgio de ordem e previsibilidade, agora parecia uma armadilha onde sua mente vagava para longe do trabalho. Precisava se concentrar. Havia prazos, números, decisões importantes. Mas, em vez disso, sua atenção escorregava para a nova secretária.Ele mesmo a havia escolhido, com cuidado. O currículo era impecável, a postura profissional, o olhar focado. Era tudo o que Noah esperava - alguém que cumprisse suas funções sem interrompê-lo, sem atrapalhar seu fluxo de trabalho. E, ainda assim, ali estava ele, completamente tenso, como se ela tivesse feito algo errado. Mas ela não tinha.Ele se odiava por isso. Odiava a forma fria e distante com que a tratava, mesmo sabendo que ela não merecia. Não conhecia a mulher além de seu nome e cargo, mas havia algo ali, algo que o incomodava de uma maneira inexplicável. E i
Era o meu primeiro dia, e a mistura de empolgação e nervosismo fazia meu estômago revirar. Eu tentava me concentrar no trabalho, mas tudo mudou quando Noah me chamou até sua sala. Esperei por uma bronca ou um comentário ríspido - afinal, minha visão sobre ele era clara: um chefe arrogante, hiperpotente e acostumado a ter todos aos seus pés. Mas ele me surpreendeu."Me desculpe se fui ríspido mais cedo", ele disse, sua voz soando firme, mas com um toque de honestidade. Por um segundo, fiquei desconcertada. Eu não esperava isso. Ele parecia ser o tipo de homem que jamais admitiria um erro, mas ali estava, olhando nos meus olhos com uma sinceridade quase desconcertante.Saí da sala sem saber o que pensar. Era só um pedido de desculpas, certo? Mas algo em sua postura, no jeito como suas palavras soaram, não saía da minha cabeça. Eu devia confiar nisso? Ou era apenas uma fachada bem construída?"Você é só a secretária dele, Emma", murmurei para mim mesma, tentando afastar qualquer pensamen
A comida chegou pontualmente, exatamente como eu havia reforçado no telefone. O entregador trouxe a embalagem elegante em uma bandeja de três andares, cada um perfeitamente organizado. Suspirei aliviada e levei tudo direto para a copa, onde me dediquei a organizar o almoço de Noah seguindo as instruções detalhadas deixadas pela antiga assistente.Ele tinha manias peculiares - e isso era dizer pouco. Os talheres precisavam estar dispostos em uma ordem específica, o guardanapo dobrado em um triângulo exato, e cada prato posicionado em um ângulo quase matemático na bandeja. Uma parte de mim queria rir, mas a outra entendia perfeitamente que errar um detalhe mínimo poderia arruinar o humor dele pelo resto do dia - e, quem sabe, até me custar o emprego. Eu não podia arriscar. Esse trabalho era minha chance de dar uma vida melhor para minha família, e eu faria o que fosse preciso para mantê-lo.Ainda assim, eu me pegava pensando nas razões por trás dessas manias. O que levava alguém a quere
Esse homem pretende me enlouquecer no primeiro dia. De uma hora pra outra, ele se tornou alguém estranhamente diferente do que eu conheci. Ainda havia aquela pitada de arrogância, claro, mas agora vinha acompanhada de uma preocupação que me deixava inquieta. Ele não me conhecia. Foi absurdamente arrogante quando me contratou e, agora, tentava cuidar de mim? Oferecendo seu próprio prato para que eu comesse?Não, isso eu não podia aceitar. Seria humilhante. Como se eu fosse uma necessitada, alguém incapaz de garantir a própria refeição. Não que aceitar comida fosse um crime, mas eu me recusava a ser vista por ele com esse olhar de caridade.Respirei fundo, mantendo a postura e esboçando um sorriso elegante. Aprendi que, em situações como essa, manter a compostura era essencial.- Eu agradeço bastante, mas estou confortável com a minha posição. E quando digo que estou satisfeita com o que trouxe, é porque realmente estou, senhor. - Minha voz soou firme, embora por dentro eu me sentisse r
O ambiente ao nosso redor parecia se dissolver à medida que caminhávamos lado a lado. Eu ainda tentava entender por que Noah Novack, um homem de status intocável, havia abandonado seu jantar refinado para me acompanhar até a lanchonete. Quer dizer, não era exatamente uma lanchonete qualquer – aquele lugar, dentro do enorme prédio da empresa, parecia mais um restaurante disfarçado de cafeteria. Mesmo assim, não fazia sentido. Ele poderia estar na sua sala, cercado de luxo, mas estava ali, comigo.Não sei se o acho estranho ou... Não sei. Educado demais? Cuidadoso? O homem nem me conhece e já está fazendo tanto drama só porque recusei comer a comida que, de certa forma, eu mesma pedi para ele. Ou melhor, que paguei com o dinheiro dele. Bom, não exatamente paguei – apenas fiz o pedido, e tudo saiu do cartão ilimitado do chefe.Mas, de alguma forma, essa pequena escolha virou um evento. Agora, caminhávamos juntos entre as mesas lotadas, e eu sentia os olhares curiosos ao nosso redor. Não
Eu realmente não fazia ideia do que tinha dado em mim naquele último dia. Parecia que, de uma hora para outra, eu tinha me transformado completamente. Não que eu não fosse educado ou gentil com as pessoas-eu era. Mas com a minha nova secretária, foi diferente. Havia algo nela que, de forma inesperada, me fez respeitá-la de um jeito que não fazia com qualquer um.Acredite, eu odiava sair da minha rotina. Gostava do mesmo restaurante, das mesmas comidas, dos mesmos horários. Não havia surpresas, e era assim que eu gostava. Mas bastou essa mulher chegar para tudo mudar. E o mais estranho? Eu nem estava chateado com isso.Não era como se eu tivesse largado tudo para ir até a cantina-não que houvesse algo de errado com isso. Mas eu odiava estar perto de pessoas. Sempre fui assim, e muitos achavam estranho, como se fosse um defeito. Para mim, era apenas uma opção confortável.A questão era Emma.Quando soube que ela comeria apenas um sanduíche, aquilo me pareceu um absurdo. Trabalhara o dia