Desculpas

Noah tamborilava os dedos contra a mesa, o som seco ecoando pela sala silenciosa. Estava mais nervoso do que o normal - e ele sabia disso. Aquele lugar, que antes representava um refúgio de ordem e previsibilidade, agora parecia uma armadilha onde sua mente vagava para longe do trabalho. Precisava se concentrar. Havia prazos, números, decisões importantes. Mas, em vez disso, sua atenção escorregava para a nova secretária.

Ele mesmo a havia escolhido, com cuidado. O currículo era impecável, a postura profissional, o olhar focado. Era tudo o que Noah esperava - alguém que cumprisse suas funções sem interrompê-lo, sem atrapalhar seu fluxo de trabalho. E, ainda assim, ali estava ele, completamente tenso, como se ela tivesse feito algo errado. Mas ela não tinha.

Ele se odiava por isso. Odiava a forma fria e distante com que a tratava, mesmo sabendo que ela não merecia. Não conhecia a mulher além de seu nome e cargo, mas havia algo ali, algo que o incomodava de uma maneira inexplicável. E isso o deixava irritado. Consigo mesmo.

O que está fazendo, Noah? Sua mente o repreendia sem piedade. Você não é assim. Você é educado, cordial. Trata todos com respeito. Então por que está agindo dessa forma com ela?

Ele suspirou, passando as mãos pelos cabelos em frustração. Sabia a resposta. Quando algo fugia do seu controle, quando uma nova variável surgia em seu ambiente perfeitamente equilibrado, ele ficava assim - impaciente, rude, frio. Era automático. E, infelizmente, quem pagava por isso eram os outros.

A secretária não estava fazendo nada de errado. Pelo contrário, era discreta, eficiente, exatamente como ele queria. Mas havia algo nela que mexia com ele, uma presença silenciosa que, por algum motivo, o incomodava. E isso o enfurecia ainda mais. Não por culpa dela, mas por sua própria incapacidade de controlar o que sentia.

Preciso parar com isso, pensou, fechando os olhos por um instante. Preciso ser o Noah de sempre.

Emma sentia o estômago revirar enquanto tentava se concentrar no monitor à sua frente. Seus dedos pairavam sobre o teclado, mas sua mente estava longe dali, focada apenas na constante sensação de ser observada. Ela sabia que o olhar dele estava sobre ela - firme, atento, como se cada movimento seu fosse analisado milimetricamente.

Desde que entregara o relatório de Jari naquela manhã, o novo chefe não havia lhe pedido mais nada. Nenhuma chamada, nenhum pedido de correção, nenhuma convocação para a temida sala envidraçada. Só aquele silêncio tenso, carregado de algo que Emma não conseguia decifrar. Mas mesmo assim, a sensação de estar sob julgamento não desaparecia. Ela se perguntava se ele esperava um deslize, qualquer erro mínimo para ter um motivo e mandá-la embora. Mas Emma não daria esse prazer a ele. Precisava daquele emprego - para ela e, mais importante, para Aurora.

Com um suspiro pesado, ela ajeitou a postura na cadeira e tentou ignorar a tensão nos ombros. Estava se adaptando ao novo cargo, mas era difícil. Não era sua primeira vez como assistente ou secretária, mas definitivamente nunca havia trabalhado em um nível como aquele. As exigências eram maiores, o ambiente mais frio, e o chefe... bem, ele era intimidador. Havia algo nele, uma aura de poder misturada com arrogância, que a fazia se encolher em sua própria pele.

Ainda assim, ela precisava sorrir. Trabalhar. Focar. Mesmo que seu coração doesse de saudade.

Sem conseguir evitar, Emma deslizou o celular para mais perto e olhou discretamente para a tela bloqueada, onde a foto de Aurora iluminava o visor. O sorrisinho travesso da filha a fazia derreter por dentro. Sentia-se culpada por estar ali, longe dela, mesmo sabendo que estava fazendo isso por ambas. Esperava que sua mãe estivesse dando conta das coisas, mas ainda assim, o aperto no peito era inevitável. Você está fazendo isso por ela, repetia mentalmente.

O telefone de mesa tocou de repente, cortando seus pensamentos. Emma congelou. O número piscando no visor era o da sala dele.

Ela engoliu em seco antes de atender.

- Emma? - a voz dele soou firme, direta. - Preciso que venha aqui agora.

- Sim, senhor. Já estou indo.

Desligou o telefone, sentindo as mãos suadas. Levantou-se devagar, ajeitando a saia, mas o coração batia tão forte que parecia ecoar pelos ouvidos. Calma, é só trabalho, pensou, mas isso não ajudava. Sempre que precisava encará-lo de perto, a mesma sensação estranha surgia - um arrepio desconfortável, como se sua pele sentisse algo que sua mente tentava ignorar. Não era atração. Não podia ser. Era algo diferente, algo que não conseguia explicar, mas que a deixava em alerta.

Talvez fosse apenas medo. Afinal, já conhecia aquela sensação. E da última vez que sentira isso, não havia terminado nada bem.

Ao entrar na sala, Emma manteve a postura. Parou no meio do espaço, não muito perto dele, mas também não distante o suficiente para parecer desinteressada. Seus ombros estavam retos, mas as mãos tremiam levemente ao lado do corpo. Forçou um sorriso - tenso, falso, mas o melhor que conseguiu naquele momento.

- Algum problema, senhor? - sua voz saiu suave, mas firme, ecoando no ambiente silencioso.

Noah ergueu o olhar do papel à sua frente. A pergunta era simples, mas a maneira como sua voz o atingiu foi como uma lufada de ar fresco nos pulmões. Aquilo o incomodava. Por que ela? Perguntava-se. Ele odiava esse tipo de fraqueza - sensações descontroladas que surgiam do nada. Não era assim. Nunca foi.

Respirou fundo, fechando os olhos por um segundo, buscando o autocontrole que tanto prezava. O problema era que aquela mulher, de alguma forma, estava mexendo com seu emocional. E isso o deixava à beira do descontrole, algo que temia mais do que qualquer outra coisa. Porque quando um trem descarrila, você sabe o que acontece. O caos.

Quando abriu os olhos novamente, estavam mais calmos. Ele gesticulou para a cadeira em frente à sua mesa.

- Sente-se, Emma.

Ela obedeceu em silêncio, as mãos ainda trêmulas, mas tentando parecer natural.

Noah apoiou os cotovelos na mesa e entrelaçou os dedos diante do rosto. Respirou fundo mais uma vez antes de dizer:

- Preciso pedir desculpas pela forma como estou agindo. Sei que não tenho sido exatamente... simpático.

Emma arregalou levemente os olhos, surpresa com a confissão. Mas permaneceu em silêncio, esperando.

- Para ser sincero, foi uma surpresa até para mim ter escolhido você - ele continuou, a voz perdendo um pouco da dureza habitual. - Havia outras candidatas. Algumas até mais qualificadas. Mas você... tinha algo diferente.

Ela inclinou a cabeça, curiosa.

- Desculpe, senhor, mas... se havia outras melhores, por que me escolheu?

Noah baixou os olhos por um instante, como se tentasse encontrar as palavras certas. A sinceridade em sua voz o pegava de surpresa tanto quanto a ela.

- Porque você foi a única que não olhou para mim e pensou em algo além de trabalho.

Emma franziu o cenho.

- Não é assim que deve ser, senhor?

Ele soltou um leve riso, quase imperceptível, mas real.

- Gostaria que fosse. Mas depois que minha assistente de longa data se aposentou, todas as outras que ocuparam essa cadeira me viam como mais do que apenas um chefe. E isso eu não permito.

Emma manteve o olhar nele, absorvendo suas palavras. Havia algo ali - um misto de sinceridade e vulnerabilidade, escondido por trás da fachada rígida. E, pela primeira vez desde que começou naquele cargo, ela sentiu que talvez, só talvez, houvesse mais em Noah do que aquela arrogância superficial.

- Quanto a isso, o senhor pode ficar tranquilo - disse Emma, com a voz firme.

Os dois se encaravam, os olhares travados em uma batalha silenciosa. Noah tentava, em vão, ler algo nos olhos dela - qualquer sinal, uma falha, um indício de que suas palavras não eram totalmente verdadeiras. Mas Kima estava fechada, como uma muralha intransponível. Era surpreendente. Ele sempre se orgulhara de entender as pessoas, mesmo quando não se esforçava muito. Mas com ela? Nada.

- Sou muito profissional - continuou Emma, sua postura impecável. - O senhor é meu chefe. Meu trabalho é fazer o que me é pedido, e depois ir para casa. Minha vida pessoal não se mistura com o trabalho. Não tenho olhos para o senhor de forma que possa... mudar o meu status aqui. O senhor é o chefe dos oficiais. E só isso.

As palavras dela foram afiadas, e ainda assim, suaves. Para Noah, foi como levar um golpe inesperado. E ali estava ele, dividido. Deveria se sentir ofendido ou aliviado? A sinceridade crua dela o fazia admirar sua postura, mas, ao mesmo tempo, havia um leve incômodo, algo que cutucava uma parte dele que preferia manter adormecida.

Sem pensar, as palavras escaparam de sua boca antes mesmo que pudesse se controlar:

- Você tem namorado?

O silêncio que se seguiu foi sufocante. Noah piscou, surpreso consigo mesmo.

- Desculpe... - apressou-se em corrigir. - Não deveria ter perguntado isso aqui. Foi... foi inapropriado.

Mas Emma sorriu. Um sorriso tão leve e sincero que, por um segundo, o ambiente inteiro pareceu suavizar ao redor deles. Ele percebeu, naquele exato instante, como aquele sorriso mexia com ele - e odiou isso.

- Não. Não tenho namorado - respondeu ela, sem parecer incomodada com a pergunta. - Mas, caso tivesse, isso ainda não afetaria meu trabalho. Só estou preocupada em manter as coisas profissionais. É isso que importa, certo?

Noah limpou a garganta, tentando retomar seu autocontrole. Ele se endireitou na cadeira, recuperando o tom rígido de antes.

- Sim. Claro. Sua vida pessoal não me diz respeito. Desde que faça seu trabalho bem, está tudo certo.

Emma assentiu, mas não se levantou imediatamente. Por algum motivo, o momento pairou entre eles, carregado de algo indefinido.

Noah pigarreou, voltando ao modo chefe novamente.

- Ah, e lembre-se... gosto daquele restaurante italiano da esquina. Eles sabem preparar meu prato tradicional. Não erre. Você é nova, mas foi muito bem instruída.

- Pode deixar - Emma respondeu, levantando-se com elegância. Seu orgulho intacto.

Mas enquanto caminhava até a porta, sentiu o olhar dele cravado em suas costas, pesado, intenso. Aquilo fez um arrepio subir por sua espinha, e ela odiou a sensação - tanto quanto gostou. Ao sair, fechou a porta com cuidado, respirando fundo, tentando dissipar a tensão que ainda pulsava em seu corpo.

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