O silêncio no carro era estranho, carregado por uma tensão que eu não sabia nomear. As luzes da cidade ficavam para trás, e a cada quilômetro percorrido, Nova Iorque se tornava uma lembrança distante. Eu deveria estar preocupada. Talvez até assustada. Mas havia algo em Noah que me prendia ali, mesmo sem entender o porquê.Eu ainda sentia o peso da decisão impulsiva. Não fazia sentido ter aceitado aquele convite, ainda mais com Aurora no colo. Eu deveria ter recusado. Deveria ter seguido meu caminho, voltado para casa e me protegido no meu pequeno mundo isolado. Mas, em vez disso, estava ali, observando o reflexo das luzes da estrada no vidro do carro, tentando decifrar o homem que dirigia ao meu lado.Noah segurava o volante com firmeza, os dedos tensos contra o couro, como se precisasse se agarrar a alguma certeza. Seu maxilar marcado estava rígido, os olhos presos na estrada à frente, mas eu sabia que ele me sentia ali, que notava cada pequeno movimento meu. Ele parecia tão nervoso
Eu não sabia o que estava fazendo ali, nem por que tinha aceitado aquele convite. Com o homem e o menino nos braços, caminhei lentamente pela propriedade, tentando entender meu lugar naquele cenário. O terreno era vasto, protegido por seguranças que mantinham um olhar atento à distância. Devia haver empregados, mas talvez estivessem escondidos nos campos que cercavam a imensa casa.Fiquei do lado de fora por um momento, absorvendo a paisagem ao redor. A arquitetura moderna se erguia imponente, contrastando com as árvores antigas que cercavam o caminho até o lago, não muito longe dali. Era tudo perfeito, quase irreal. Um mundo no qual eu nunca pensei que adentraria – e, no fundo, sabia que não fazia parte dele. Apenas havia sido convidada.Nossa realidade era bem diferente. Enquanto eu lutava para sobreviver com uma menina e uma senhora já de idade, meu chefe trabalhava sentado atrás de sua mesa, delegando ordens, tomando decisões que garantiriam seu futuro e o de muitas gerações. Para
Noah não sabia o que iria fazer. Simplesmente estava ferrado.Trouxe uma mulher que mal conhecia para o seu refúgio mais íntimo, um lugar onde costumava se sentir confortável, perdido entre as memórias do passado. Mas Emma era tão diferente. E aquela menininha... Aurora parecia trazer luz para uma casa que há tempos estava mergulhada na escuridão.Bem, ele gostava de ser melancólico. O silêncio, a solidão, a nostalgia que impregnava cada canto daquele espaço eram como velhos amigos. Desde que sua avó se foi, a casa perdeu o brilho. Ele perdeu tudo. A tristeza consumiu sua avó até o último suspiro. Diziam que ela morreu de saudade, de solidão, mesmo cercada por filhos e netos. Noah entendia isso. Talvez ele também estivesse seguindo pelo mesmo caminho, lentamente.A casa afastada do mundo era um refúgio acolhedor para ele. Um lugar onde poderia existir sem grandes expectativas, sem precisar sorrir ou fingir que estava bem. Mas trazer Emma para cá... foi inesperado.O mais estranho foi
O dia de ontem foi, no mínimo, surpreendente. A folga já tinha sido inesperada, mas depois veio todo o resto-e, sinceramente, ainda não sei como processar. Me encontrar com o meu chefe. Ser levada para um lugar estranho, que para ele era um refúgio. A casa enorme, luxuosa, completamente fora da minha realidade. E então, ele cozinhou para mim. Nós jantamos como se fôssemos velhos amigos, como se não houvesse hierarquia entre nós, como se tudo aquilo fosse normal.Mas não era.O tempo todo, tentei entender aquele homem, decifrar o que se passava em sua cabeça, mas era impossível. Ele parecia uma contradição ambulante-distante e acessível ao mesmo tempo. O que ele queria de mim? O que significava aquele momento? Talvez eu nunca descobrisse. Só sei que... Foi estranho. Estranho de um jeito que grudava na pele, que ficava martelando na mente sem parar. E eu sabia que, por mais que tentasse, aquilo nunca sairia completamente da minha cabeça.Quando finalmente deixei aquele lugar e voltei pa
Eu pigarreei, desviando a atenção, fingindo um interesse repentino na frigideira. Meus olhos se fixaram nela, como se aquele simples objeto pudesse me salvar da situação. Mas meu rosto... ah, meu rosto estava queimando. Não que eu estivesse fazendo algo errado, mas os meus pensamentos... bem, esses eram outra história. Pecaminosos. Intensos. E completamente fora de controle.Isso é uma loucura.Um calor subiu pelo meu corpo, e nem sequer pude me abanar. Isso entregaria o meu desconforto. Ou melhor, o que eu realmente senti ao ver aquele homem de peito nu, músculos definidos e apenas uma calça de moletom pendendo em seus quadris. Como se ele fosse um deus grego esculpido em carne e osso bem na minha frente. Droga. Se pelo menos ele fosse o diabo, seria mais fácil de lidar. Eu poderia detestá-lo. Mas não. Tudo nele era um convite para a perdição.O que eu vou fazer? Como posso controlar meus pensamentos se ele está tornando isso impossível?- Desculpe, eu não sabia que você tinha chegad
"Por que eu sou tão idiota?"Eu não deveria ter feito isso. Quer dizer, não como se eu tivesse feito alguma coisa. Mas também não fiz nada para evitar. Eu simplesmente entrei na cozinha, sem perceber que ela estava ali. E então, lá estava ela.Emma.Com os cabelos loiros presos em um rabo de cavalo alto, deixando a nuca à mostra. Ela cozinhava ovos e bacon, e o cheiro invadiu o ambiente, atiçando minha fome. Mas não foi a comida que me deixou inquieto. Foi ela. O jeito como seu corpo se movia, a forma como a luz da manhã atravessava a janela e iluminava sua pele como um convite silencioso para que eu prestasse atenção em cada detalhe.Isso é ridículo.Eu sou chefe dela. Não posso me dar ao luxo de reparar nessas coisas. Sempre fui rígido com esse tipo de situação. Já demiti, no mínimo, três secretárias por confundirem as coisas, por cruzarem a linha que separa o profissional do pessoal. Sempre me orgulhei de ser focado no trabalho.Mas Emma...Emma bagunça tudo.Eu não sei o que é, ma
O silêncio dentro do carro parecia mais ensurdecedor do que qualquer discussão que já tivéssemos tido. Era um vazio pesado, carregado de palavras não ditas, de gestos interrompidos, de olhares desviados.Eu encarei a janela, observando a paisagem passar rápido demais, como se a cidade lá fora estivesse se movendo a uma velocidade diferente da minha cabeça. Porque dentro de mim, tudo estava um caos. Não fazia sentido. Noah vinha agindo de um jeito e, de repente, como se tivesse apertado um interruptor, voltou a ser o chefe insuportável que eu conheci no primeiro dia.Eu não queria admitir, mas isso me incomodava mais do que deveria. Talvez porque, por um breve instante, eu tenha gostado da versão dele que não tentava me reduzir a apenas mais uma funcionária. A versão que cozinhava, que falava baixinho como se estivesse dividindo um segredo, que me levava a lugares que, segundo ele, nunca tinha levado ninguém.Mas agora, sentado ao volante, rígido, o maxilar travado, as mãos firmes dema
Eu fiquei completamente paralisada, o ar preso nos pulmões, sem saber o que fazer ou como reagir. Lá estava Patrick. O homem que eu queria manter longe, tão distante que nem mesmo a morte ou o ouro o tornariam mais suportável. Ele não deveria estar aqui. Eu não queria vê-lo, não queria sequer sentir sua presença. E, acima de tudo, não queria que minha filha soubesse que ele existia.Talvez fosse coisa da minha cabeça, uma ilusão cruel que surgia para apagar minha felicidade, para me lembrar de um passado que eu já tentava esquecer. Resolvi ignorar. Era a melhor escolha. Sim, se aquilo fosse real, eu apenas fingiria que ele não existia, seguiria minha vida sem trocar sequer uma palavra, sem permitir que ele tivesse qualquer espaço no meu mundo.Com essa decisão, voltei a organizar os papéis na mesa, distribuindo-os nervosamente pelas cadeiras, tentando manter o foco no trabalho. Mas Patrick não me deu essa chance. Ele veio em minha direção rápido demais, como um predador que já escolhe