A comida chegou pontualmente, exatamente como eu havia reforçado no telefone. O entregador trouxe a embalagem elegante em uma bandeja de três andares, cada um perfeitamente organizado. Suspirei aliviada e levei tudo direto para a copa, onde me dediquei a organizar o almoço de Noah seguindo as instruções detalhadas deixadas pela antiga assistente.Ele tinha manias peculiares - e isso era dizer pouco. Os talheres precisavam estar dispostos em uma ordem específica, o guardanapo dobrado em um triângulo exato, e cada prato posicionado em um ângulo quase matemático na bandeja. Uma parte de mim queria rir, mas a outra entendia perfeitamente que errar um detalhe mínimo poderia arruinar o humor dele pelo resto do dia - e, quem sabe, até me custar o emprego. Eu não podia arriscar. Esse trabalho era minha chance de dar uma vida melhor para minha família, e eu faria o que fosse preciso para mantê-lo.Ainda assim, eu me pegava pensando nas razões por trás dessas manias. O que levava alguém a quere
Esse homem pretende me enlouquecer no primeiro dia. De uma hora pra outra, ele se tornou alguém estranhamente diferente do que eu conheci. Ainda havia aquela pitada de arrogância, claro, mas agora vinha acompanhada de uma preocupação que me deixava inquieta. Ele não me conhecia. Foi absurdamente arrogante quando me contratou e, agora, tentava cuidar de mim? Oferecendo seu próprio prato para que eu comesse?Não, isso eu não podia aceitar. Seria humilhante. Como se eu fosse uma necessitada, alguém incapaz de garantir a própria refeição. Não que aceitar comida fosse um crime, mas eu me recusava a ser vista por ele com esse olhar de caridade.Respirei fundo, mantendo a postura e esboçando um sorriso elegante. Aprendi que, em situações como essa, manter a compostura era essencial.- Eu agradeço bastante, mas estou confortável com a minha posição. E quando digo que estou satisfeita com o que trouxe, é porque realmente estou, senhor. - Minha voz soou firme, embora por dentro eu me sentisse r
O ambiente ao nosso redor parecia se dissolver à medida que caminhávamos lado a lado. Eu ainda tentava entender por que Noah Novack, um homem de status intocável, havia abandonado seu jantar refinado para me acompanhar até a lanchonete. Quer dizer, não era exatamente uma lanchonete qualquer – aquele lugar, dentro do enorme prédio da empresa, parecia mais um restaurante disfarçado de cafeteria. Mesmo assim, não fazia sentido. Ele poderia estar na sua sala, cercado de luxo, mas estava ali, comigo.Não sei se o acho estranho ou... Não sei. Educado demais? Cuidadoso? O homem nem me conhece e já está fazendo tanto drama só porque recusei comer a comida que, de certa forma, eu mesma pedi para ele. Ou melhor, que paguei com o dinheiro dele. Bom, não exatamente paguei – apenas fiz o pedido, e tudo saiu do cartão ilimitado do chefe.Mas, de alguma forma, essa pequena escolha virou um evento. Agora, caminhávamos juntos entre as mesas lotadas, e eu sentia os olhares curiosos ao nosso redor. Não
Eu realmente não fazia ideia do que tinha dado em mim naquele último dia. Parecia que, de uma hora para outra, eu tinha me transformado completamente. Não que eu não fosse educado ou gentil com as pessoas-eu era. Mas com a minha nova secretária, foi diferente. Havia algo nela que, de forma inesperada, me fez respeitá-la de um jeito que não fazia com qualquer um.Acredite, eu odiava sair da minha rotina. Gostava do mesmo restaurante, das mesmas comidas, dos mesmos horários. Não havia surpresas, e era assim que eu gostava. Mas bastou essa mulher chegar para tudo mudar. E o mais estranho? Eu nem estava chateado com isso.Não era como se eu tivesse largado tudo para ir até a cantina-não que houvesse algo de errado com isso. Mas eu odiava estar perto de pessoas. Sempre fui assim, e muitos achavam estranho, como se fosse um defeito. Para mim, era apenas uma opção confortável.A questão era Emma.Quando soube que ela comeria apenas um sanduíche, aquilo me pareceu um absurdo. Trabalhara o dia
Noah estava mais distraído do que o normal. Mais do que gostava de admitir. Afinal, distrações eram algo que ele odiava. Mas, por mais que tentasse se concentrar, sua mente sempre voltava para Emma. Nunca antes havia prestado tanta atenção em uma mulher. Nunca antes havia notado com tanta precisão os detalhes de alguém-o formato sutil dos lábios dela quando sorria, o brilho sedoso de seus cabelos que ele queria sentir entre os dedos, ou a suavidade de sua pele, que parecia tão delicada ao toque.Ela não havia contado muito sobre sua história, mas apenas o suficiente para que ele se sentisse intrigado. Para que sentisse aquela conexão inexplicável. E isso o incomodava.Noah não percebeu que estava imerso em seus próprios pensamentos até ouvir a risada baixa do irmão.Luke estava encostado no batente da porta, os braços cruzados e um sorriso zombeteiro no rosto. Desde que foi adotado, ele nunca tinha visto Noah assim. Nunca o vira perder o foco por causa de alguém. E, claro, não perderi
Eu estava confusa. Muito confusa com tudo o que acontecia.Meu chefe... bem, eu achei que estivesse preparada para lidar com o jeito arrogante dele desde o início. Mas foi estranho. No primeiro dia, ele passou de um homem presunçoso para um sedutor educado, atento aos detalhes que me agradavam. Isso me pegou desprevenida. A primeira impressão me deixou assustada, na defensiva. Mas, de alguma forma, ele corrigiu as coisas.E acho que fez a coisa certa.Não que eu devesse esperar isso dele. Afinal, ele é meu chefe. Não me deve nada. Apenas respeito. E, convenhamos, um chefe respeitoso já era mais do que suficiente.Agora, sentada no tapete da sala, observando minha menininha brincar, me pego pensando naquele homem.Eu nem notei o que ela segurava, muito menos o que tentava colocar na boca. Só percebi quando a voz da minha avó me puxou de volta à realidade.- Querida, você está bem?Balancei a cabeça, espantando os pensamentos. O olhar dela, curioso e atento, me analisava como se tentass
O sol brilhava suavemente sobre o parque, filtrando-se entre as folhas das árvores e criando padrões de luz e sombra na grama macia. Emma respirou fundo, tentando acalmar o nervosismo que insistia em borbulhar dentro dela. Era ridículo estar tão inquieta-estava apenas aproveitando um momento de tranquilidade com sua filha, algo que sempre quis fazer, mas que o medo lhe roubara tantas vezes antes. O medo. Sempre ele. Um fantasma que a acompanhava desde que aquele homem invadiu sua vida e transformou tudo em caos. Mas Emma recusava-se a continuar refém de sombras do passado. Não podia dar a ele esse poder.Ainda assim, a tensão permanecia ali, como um lembrete incômodo. Afastou os pensamentos e focou na filha, rindo baixinho ao ver a menina brincar com uma pequena flor em suas mãos. Era um momento simples, mas precioso.Do outro lado do parque, Noah estava distraído, o olhar perdido enquanto tentava afastar os pensamentos que seu irmão tinha plantado em sua cabeça. Era absurdo-ridículo,
O silêncio no carro era estranho, carregado por uma tensão que eu não sabia nomear. As luzes da cidade ficavam para trás, e a cada quilômetro percorrido, Nova Iorque se tornava uma lembrança distante. Eu deveria estar preocupada. Talvez até assustada. Mas havia algo em Noah que me prendia ali, mesmo sem entender o porquê.Eu ainda sentia o peso da decisão impulsiva. Não fazia sentido ter aceitado aquele convite, ainda mais com Aurora no colo. Eu deveria ter recusado. Deveria ter seguido meu caminho, voltado para casa e me protegido no meu pequeno mundo isolado. Mas, em vez disso, estava ali, observando o reflexo das luzes da estrada no vidro do carro, tentando decifrar o homem que dirigia ao meu lado.Noah segurava o volante com firmeza, os dedos tensos contra o couro, como se precisasse se agarrar a alguma certeza. Seu maxilar marcado estava rígido, os olhos presos na estrada à frente, mas eu sabia que ele me sentia ali, que notava cada pequeno movimento meu. Ele parecia tão nervoso