No dia seguinte, cheguei ao trabalho um pouco mais cedo, não sei se fora por impulso ou porque não queria ver ninguém. O fato foi que, às sete da manhã, eu já estava em frente ao casarão. O pessoal só começaria a chegar às oito, o que me daria tempo de me recompor e enfrentar olhares indesejados. Como de costume, joguei a bolsa sobre a escrivaninha e andei de um lado para o outro, tentando imaginar o que o destino me aguardava naquele dia.Quem era aquele cara, afinal? Relembrando o dia anterior, vi alguns rostos em pânico pelo modo que agi com o estranho. Será que era alguém importante ou imaginei tudo em minha cabeça? Tentando não pensar a respeito, optei por me sentar um pouco e comecei a trabalhar.***O resto da semana passou normalmente, mas eu estava apreensiva. Sempre era a primeira a chegar e a última a sair, o que para eles não era um problema. Mas como punição pelo que acontecera na segunda-feira, todos os projetos que eu havia recusado foram parar em minha mesa. Não tinh
Não demorou muito e escutei burburinhos vindos do lado de fora de minha sala. Imaginei o que seria até ouvir a voz irritante de David dando instruções aos funcionários de como deveriam se portar quando as visitas chegassem. Senti um arrepio na espinha ao lembrar o que me aguardava quando saísse da sala, porém balancei a cabeça. Não iria mudar de ideia agora.Peguei o pen drive e apertando-o contra o corpo, sai do escritório justamente no momento que David recebe os recém-chegados. Fico parada em frente a minha sala observando meu chefe agir despreocupadamente e com um sorriso falso. Para aqueles estranhos David vestiu seu terno Armani preto, lustrou os sapatos e até penteou o cabelo ridículo. Coisa que ele não faz em dias normais de trabalho. Observei o casal com atenção. A mulher era mais alta que eu: loira, magra e com cara de poucos amigos. Vestia um terno lilás, cabelo preso em um coque alto, olhava para o lugar com desprezo e batia o salto de sua sandália no chão, impaciente. O
Entrando em minha sala, fui até minha bolsa e a peguei rapidamente. Minhas mãos tremiam e eu não queria que ele visse o quanto fiquei abalada. Senti uma pontada familiar na cabeça e fechei os olhos. Odeio brigas e odeio estar nelas.Agora meu destino era incerto. Estava desempregada e de maneira alguma queria voltar a morar com meus pais. Teria que procurar outro emprego o mais rápido possível ou teria problemas. Abri os olhos de surpresa quando senti um par de mãos segurarem meu rosto, eram quentes e confortáveis. Chegava a ser impróprio, mas a sensação era muito boa. O bonitão me olhava preocupado e senti um nó na barriga. Afastei suas mãos de meu rosto e recuei um passo.- Como conseguiu trabalhar aqui dentro todo esse tempo?Não respondi, pois o olhar que ele deu para cima de minha mesa de trabalho fora o suficiente. Notei que ele tinha visto os remédios sobre a mesa, mas não falou nada. Apenas segurou meu braço e me arrastou até a porta. Puxei meu braço de sua mão e o fitei.- O
Não notei que estava falando alto e suspirei. O que aquele homem falava parecia surreal.- Mas isso é impossível! – sussurrei para ele. – Ninguém daqui te roubaria.- Está falando por todos? Não lembra o que aconteceu ainda há pouco?- Eu lembro, mas... – gaguejei e ele interrompeu com voz dura.- Porque defende quem te humilha? Ficou óbvio para mim que eles não te queriam por perto.- Sim, mas o modo como eles agiram comigo não tem nada a ver com o roubo de sua empresa.- Talvez. – Ele coça o queixo. – Eu vim para cá com um único objetivo e vou cumpri-lo. Vou recuperar o que me foi roubado.- Deixando todas aquelas pessoas desempregadas? – olhei-o incrédula. – Essa é a sua maneira de fazer justiça.- Porque se importa com eles?Quis mata-lo. O sangue corria por minhas veias e me esforcei para controlar a minha fúria. Rafael não era o tipo de homem que fazia escândalos, mas não se importava em provocá-los.Podia não gostar dos meus colegas de trabalho, porém não desejava o mal a eles.
Depois que li aquilo, não me senti a vontade perto de Rafael. Algo naquela frase estava me incomodando e eu não gostava disso. Aquelas duas palavras eram familiares, mas por conta dos acontecimentos, não consegui lembrar onde as tinha visto. Olhei-o discretamente e quase suspirei. Aquela perfeição estava do meu lado, fodendo com meus sentidos. Odiei por me sentir insegura. Odiei o Rafael por me abalar tanto. E a musica não estava ajudando. “Despacito Quiero respirar tu cuello Despacito Deja que te diga cosas al oido Para que te acuerdes si no estás conmigo...” Essa musica provocava minha mente e meus sentidos. Apertei minha bolsa com força para controlar o tremor de meu corpo. Rafael pareceu notar e sorriu para mim e virei o rosto, incomodada. Quase soltei um gemido de alivio quando ele parou na porta do escritório. Não sei se Rafael percebera meu desespero ao sair do carro e daquela atmosfera erótica. Adquiri a frieza profissional e olhei para ele. – Obrigada pelo
Na manhã de sábado despertei com uma bela ressaca e uma gata muito fofa pedindo comida. Não me culpo por ter me divertido ontem à noite, pois eu precisava. O problema foi ter bebido quando eu não podia e sequer lembrar como cheguei em casa.Minha cabeça latejava, a gata miava e algum engraçadinho batia na porta da frente. Foda-se, eu queria dormir um pouco mais, precisava disso, mas a pessoa não parava de bater na maldita porta e desisti de dormir. Levantei da cama e fui até a área de serviço. Lavei o rosto, escovei os dentes, coloquei ração para Mimi e fui atender a porta. Não me preocupei em pentear o cabelo. Não estava me importando com ele.Agora se esse imbecil gritasse comigo ou risse da minha aparência iria sair com o olho roxo.Destranquei e abri a porta com calma, esperando ver alguém. Mas para minha surpresa, não havia ninguém. Uma pequena sacola estava pendurada no portão. Peguei-o com cautela e olhei para fora, na esperança de ver alguém, mas não tinha ninguém próximo.-
Não parava de tremer. O ódio estava me corroendo e se eu não resolvesse logo esse problema explodiria. Pior era ter que esperar até a noite para fazer aquele maldito engolir esse texto asqueroso. Agora entendo a razão de ficar desconfiada com o termo. Para mim soava como prostituição e eu não concordo com isso. A fome desapareceu em um piscar de olhos. O café deixou um gosto amargo em minha boca. Não sabia o que fazer ou como proceder com o que Rafael queria me propor. Soava ridículo. Eu poderia deixá-lo esperando, mas minha ética falou mais alto. Se ele queria transparência a respeito do que eu achava daquilo, ele teria.Se eu planejava ir nesse jantar, primeiro precisava cuidar ao menos dos meus cabelos. Depois de lavar a louça e limpar a mesa, fui para o quarto. Abrindo o guarda-roupa, retirei uma blusa preta com renda nos ombros, uma calça jeans clara e sapatilhas pretas. Não queria impressionar Rafael, apenas não queria ser intimidada por ele. Peguei as roupas e pus sobre a mes
– Você terminou de ler, pelo menos? - Rafael cruzou os braços. - Acho que não preciso, julgando pelo que li pelas reportagens que vi no jornal. - Por isso o nome era tão familiar. Ele revirou os olhos e parou em minha frente. Vestindo uma camisa branca com um blazer preto e uma calça escura, Rafael era tudo de bom. Os sapatos eram impecáveis e um relógio de ouro envolvia seu pulso. Mais uma razão para me deixar incomodada. Embora essa fosse a minha melhor roupa, não era comparada à dele em muitos sentidos. – Sugar Baby não tem nada a ver com prostituição. – Sei... – murmurei ironicamente. Não estava muito convencida disso e a proximidade dele me incomodava. – E mesmo que tivesse, não faria sexo com você. Mulheres frias não fazem o meu tipo. Recuei um passo como se ele tivesse me batido. Não consegui retrucar por alguns segundos, mas a humilhação brilhava em meu rosto. Dei-lhe as costas e fui até a cozinha. Precisava de um tempo para poder enfrentá-lo novamente, mesmo sendo tão