As pessoas à minha volta ofegaram e alguém tentou me puxar pela blusa. Empurrei-o firmemente, mas sem machucar. E daí que se machucasse? Ninguém me queria aqui.Cruzei os braços em frente ao corpo e não falei mais nada. Um silêncio mortal caiu sobre nós me deixando ainda mais nervosa. Um brilho bem humorado surgiu nos olhos dele, mas sua voz soava fria e profissional:– Não sei do que está falando Srtª, mas sugiro que pare com esses argumentos estúpidos. – Levantou e deu um passo em minha direção.- Acho que tenho um ponto, já que você está aqui. Qualquer pessoa em seu juízo perfeito reagiria da mesma forma.Era uma desculpa fraca e o estranho sabia disso. Ele inclinou em minha direção e eu pude sentir sua respiração em meu pescoço. Ficando próximo a mim, sentenciou: – Você não vai gostar dos resultados se agir assim. Senti-me pequena e indefesa como nunca me senti antes. Não chegava nem aos ombros dele e precisei fazer um esforço para esconder meu espanto. Nossos olhares se cruzara
No dia seguinte, cheguei ao trabalho um pouco mais cedo, não sei se fora por impulso ou porque não queria ver ninguém. O fato foi que, às sete da manhã, eu já estava em frente ao casarão. O pessoal só começaria a chegar às oito, o que me daria tempo de me recompor e enfrentar olhares indesejados. Como de costume, joguei a bolsa sobre a escrivaninha e andei de um lado para o outro, tentando imaginar o que o destino me aguardava naquele dia.Quem era aquele cara, afinal? Relembrando o dia anterior, vi alguns rostos em pânico pelo modo que agi com o estranho. Será que era alguém importante ou imaginei tudo em minha cabeça? Tentando não pensar a respeito, optei por me sentar um pouco e comecei a trabalhar.***O resto da semana passou normalmente, mas eu estava apreensiva. Sempre era a primeira a chegar e a última a sair, o que para eles não era um problema. Mas como punição pelo que acontecera na segunda-feira, todos os projetos que eu havia recusado foram parar em minha mesa. Não tinh
Não demorou muito e escutei burburinhos vindos do lado de fora de minha sala. Imaginei o que seria até ouvir a voz irritante de David dando instruções aos funcionários de como deveriam se portar quando as visitas chegassem. Senti um arrepio na espinha ao lembrar o que me aguardava quando saísse da sala, porém balancei a cabeça. Não iria mudar de ideia agora.Peguei o pen drive e apertando-o contra o corpo, sai do escritório justamente no momento que David recebe os recém-chegados. Fico parada em frente a minha sala observando meu chefe agir despreocupadamente e com um sorriso falso. Para aqueles estranhos David vestiu seu terno Armani preto, lustrou os sapatos e até penteou o cabelo ridículo. Coisa que ele não faz em dias normais de trabalho. Observei o casal com atenção. A mulher era mais alta que eu: loira, magra e com cara de poucos amigos. Vestia um terno lilás, cabelo preso em um coque alto, olhava para o lugar com desprezo e batia o salto de sua sandália no chão, impaciente. O
Entrando em minha sala, fui até minha bolsa e a peguei rapidamente. Minhas mãos tremiam e eu não queria que ele visse o quanto fiquei abalada. Senti uma pontada familiar na cabeça e fechei os olhos. Odeio brigas e odeio estar nelas.Agora meu destino era incerto. Estava desempregada e de maneira alguma queria voltar a morar com meus pais. Teria que procurar outro emprego o mais rápido possível ou teria problemas. Abri os olhos de surpresa quando senti um par de mãos segurarem meu rosto, eram quentes e confortáveis. Chegava a ser impróprio, mas a sensação era muito boa. O bonitão me olhava preocupado e senti um nó na barriga. Afastei suas mãos de meu rosto e recuei um passo.- Como conseguiu trabalhar aqui dentro todo esse tempo?Não respondi, pois o olhar que ele deu para cima de minha mesa de trabalho fora o suficiente. Notei que ele tinha visto os remédios sobre a mesa, mas não falou nada. Apenas segurou meu braço e me arrastou até a porta. Puxei meu braço de sua mão e o fitei.- O
Não notei que estava falando alto e suspirei. O que aquele homem falava parecia surreal.- Mas isso é impossível! – sussurrei para ele. – Ninguém daqui te roubaria.- Está falando por todos? Não lembra o que aconteceu ainda há pouco?- Eu lembro, mas... – gaguejei e ele interrompeu com voz dura.- Porque defende quem te humilha? Ficou óbvio para mim que eles não te queriam por perto.- Sim, mas o modo como eles agiram comigo não tem nada a ver com o roubo de sua empresa.- Talvez. – Ele coça o queixo. – Eu vim para cá com um único objetivo e vou cumpri-lo. Vou recuperar o que me foi roubado.- Deixando todas aquelas pessoas desempregadas? – olhei-o incrédula. – Essa é a sua maneira de fazer justiça.- Porque se importa com eles?Quis mata-lo. O sangue corria por minhas veias e me esforcei para controlar a minha fúria. Rafael não era o tipo de homem que fazia escândalos, mas não se importava em provocá-los.Podia não gostar dos meus colegas de trabalho, porém não desejava o mal a eles.
Depois que li aquilo, não me senti a vontade perto de Rafael. Algo naquela frase estava me incomodando e eu não gostava disso. Aquelas duas palavras eram familiares, mas por conta dos acontecimentos, não consegui lembrar onde as tinha visto. Olhei-o discretamente e quase suspirei. Aquela perfeição estava do meu lado, fodendo com meus sentidos. Odiei por me sentir insegura. Odiei o Rafael por me abalar tanto. E a musica não estava ajudando. “Despacito Quiero respirar tu cuello Despacito Deja que te diga cosas al oido Para que te acuerdes si no estás conmigo...” Essa musica provocava minha mente e meus sentidos. Apertei minha bolsa com força para controlar o tremor de meu corpo. Rafael pareceu notar e sorriu para mim e virei o rosto, incomodada. Quase soltei um gemido de alivio quando ele parou na porta do escritório. Não sei se Rafael percebera meu desespero ao sair do carro e daquela atmosfera erótica. Adquiri a frieza profissional e olhei para ele. – Obrigada pelo
Na manhã de sábado despertei com uma bela ressaca e uma gata muito fofa pedindo comida. Não me culpo por ter me divertido ontem à noite, pois eu precisava. O problema foi ter bebido quando eu não podia e sequer lembrar como cheguei em casa.Minha cabeça latejava, a gata miava e algum engraçadinho batia na porta da frente. Foda-se, eu queria dormir um pouco mais, precisava disso, mas a pessoa não parava de bater na maldita porta e desisti de dormir. Levantei da cama e fui até a área de serviço. Lavei o rosto, escovei os dentes, coloquei ração para Mimi e fui atender a porta. Não me preocupei em pentear o cabelo. Não estava me importando com ele.Agora se esse imbecil gritasse comigo ou risse da minha aparência iria sair com o olho roxo.Destranquei e abri a porta com calma, esperando ver alguém. Mas para minha surpresa, não havia ninguém. Uma pequena sacola estava pendurada no portão. Peguei-o com cautela e olhei para fora, na esperança de ver alguém, mas não tinha ninguém próximo.-
Não parava de tremer. O ódio estava me corroendo e se eu não resolvesse logo esse problema explodiria. Pior era ter que esperar até a noite para fazer aquele maldito engolir esse texto asqueroso. Agora entendo a razão de ficar desconfiada com o termo. Para mim soava como prostituição e eu não concordo com isso. A fome desapareceu em um piscar de olhos. O café deixou um gosto amargo em minha boca. Não sabia o que fazer ou como proceder com o que Rafael queria me propor. Soava ridículo. Eu poderia deixá-lo esperando, mas minha ética falou mais alto. Se ele queria transparência a respeito do que eu achava daquilo, ele teria.Se eu planejava ir nesse jantar, primeiro precisava cuidar ao menos dos meus cabelos. Depois de lavar a louça e limpar a mesa, fui para o quarto. Abrindo o guarda-roupa, retirei uma blusa preta com renda nos ombros, uma calça jeans clara e sapatilhas pretas. Não queria impressionar Rafael, apenas não queria ser intimidada por ele. Peguei as roupas e pus sobre a mes