Entrando em minha sala, fui até minha bolsa e a peguei rapidamente. Minhas mãos tremiam e eu não queria que ele visse o quanto fiquei abalada. Senti uma pontada familiar na cabeça e fechei os olhos. Odeio brigas e odeio estar nelas.
Agora meu destino era incerto. Estava desempregada e de maneira alguma queria voltar a morar com meus pais. Teria que procurar outro emprego o mais rápido possível ou teria problemas. Abri os olhos de surpresa quando senti um par de mãos segurarem meu rosto, eram quentes e confortáveis. Chegava a ser impróprio, mas a sensação era muito boa. O bonitão me olhava preocupado e senti um nó na barriga. Afastei suas mãos de meu rosto e recuei um passo. - Como conseguiu trabalhar aqui dentro todo esse tempo? Não respondi, pois o olhar que ele deu para cima de minha mesa de trabalho fora o suficiente. Notei que ele tinha visto os remédios sobre a mesa, mas não falou nada. Apenas segurou meu braço e me arrastou até a porta. Puxei meu braço de sua mão e o fitei. - Olha, não acho que temos algo a conversar. Não trabalho pra você e isso seria muito ruim pra mim se... - Está enganada, temos algo para conversar. E o faremos de um jeito ou de outro. – A ameaça estava explicita em sua voz. – Quanto ao seu emprego não se preocupe. Tentei me opor, mas ele já tinha me arrastado para fora. Os três ainda continuavam ali parados e Rafael acenou para eles com a cabeça enquanto me arrastava para fora. A última coisa que vi foi o olhar de ódio da mulher antes de ser forçada a entrar no carro dele. *** Rafael me levou a um restaurante ao ar livre que também era um bar. O XPTO era simples, mas aconchegante, além de possuir uma linda paisagem natural. No lugar onde estávamos era possível ver o rio Piauitinga e a ponte do Bonfim. Era a primeira vez que eu entrava naquele lugar, mas me senti bem. Uma parte da tensão que estava sobre meus ombros desapareceu. O que não me deixou surpresa foi o fato do dono do restaurante vir recebê-lo pessoalmente. A maneira como as pessoas babavam quando ele passava também não me surpreendeu. Praticamente todos naquele lugar comiam nas mãos dele. Observei ele pedindo um copo de vinho e arqueei a sobrancelha. Quanto a mim, pedi apenas um copo de suco. Não queria prolongar a minha conversa e esperei pacientemente ele terminar de fazer o pedido. A garçonete deu uma risadinha com algo que Rafael disse e saiu apressadamente. Rafael olhou pra mim e engoli seco, esperando. - O que desejas falar comigo, senhor Novaes? – perguntei incomodada com o silêncio. - Me chame de Rafael, por favor. - Só porque não trabalho mais para você, não significa que vou chamá-lo pelo nome. – rebati a contragosto. Dando um meio sorriso, ele se inclinou levemente sobre a mesa. - Interessante, Juliana – sua voz falando meu nome era um verdadeiro convite para sexo. Merda! – Me pergunto se você me trataria assim naquele dia se soubesse quem eu era. - Possivelmente. - Foi o que pensei. – ele sorriu abertamente e não falou mais nada. Eu já estava ficando louca. Nunca fui de pensar em sexo, mas só de olhar para esse homem pensamentos pecaminosos rondavam minha cabeça. Ele levou uma das mãos aos cabelos e os soltou. Seus cabelos castanhos moldaram seu rosto e fiquei olhando para ele, embevecida. Ele seria um ótimo modelo para a arte. O homem por si só era perfeito. A garçonete voltou e colocou meu suco em minha frente. Murmurei um agradecimento e observei como Rafael flertava com a garota. Revirei os olhos incomodada e retirando o celular da bolsa, mando uma mensagem para Lya: 'Mana, estou sem emprego. Não se preocupe comigo. Te darei os detalhes mais tarde.' Sabia o quanto ela ficaria preocupada comigo assim como eu fico quando algo ruim acontece com ela. Minha irmã pernambucana era incrível, mas assim como eu, passava por muitos problemas. Guardei o telefone com um suspiro e olho para o rio perdida em pensamentos. - Estava falando com seu namorado? Olhei-o surpresa. - Mais que tipo de pergunta é essa? - Desculpe. – Ele balançava a cabeça com um sorrisinho irônico. – Você ficou pensativa de repente. - Estava apenas dando privacidade ao casal. – olhei a garçonete pelo canto dos olhos. – Tenho o dom de ser a mulher invisível. - Não sei por que. Sou capaz de ver você. Seu comentário me aborreceu. - Olha, não quero ser inconveniente, mas você está tomando meu tempo. Tenho muita coisa para tirar do depósito e estar aqui com você é um problema. Realmente tinha chegado ao meu limite. - Muito bem. – Seus olhos ficaram sérios. – Sabe, há um tempo soube que a filial de Sergipe estava com graves problemas. E pensei em fechar para não ter tanto prejuízo. – Ele continuava a me olhar daquela maneira penetrante. – De repente voltou a ser o que era, pegava grandes projetos e os fazia com perfeição. Jamais pensei que você fosse a responsável por eles. Olhei para ele, surpresa. Não tinha como Rafael saber, já que nunca fui registrada no banco de dados da empresa. - Por outro lado, esta filial não tem mais renda, por assim dizer. – ele me observava enquanto levava a taça de vinho até os lábios. – Os fundos que eu tinha depositado nela quando a abri foram desaparecendo com os anos. Um prejuízo total de três milhões de reais. Tentei buscar sentido em suas palavras, mas estava mais concentrada naquela boca magnífica. Ele parecia saber o efeito que exercia sobre mim e abriu um sorriso. Isso não está bom, Juliana. Censurando-me, apertei minhas mãos firmemente por debaixo da mesa. Foi então que um balde de água fria caiu sobre mim com as palavras dele. Como assim prejuízo? Rafael não podia estar sugerindo que... - Acha que David está te roubando? – falei com incredulidade. - Não citei nomes, Juliana, portanto baixe seu tom de voz. - Me repreendeu severamente.Não notei que estava falando alto e suspirei. O que aquele homem falava parecia surreal.- Mas isso é impossível! – sussurrei para ele. – Ninguém daqui te roubaria.- Está falando por todos? Não lembra o que aconteceu ainda há pouco?- Eu lembro, mas... – gaguejei e ele interrompeu com voz dura.- Porque defende quem te humilha? Ficou óbvio para mim que eles não te queriam por perto.- Sim, mas o modo como eles agiram comigo não tem nada a ver com o roubo de sua empresa.- Talvez. – Ele coça o queixo. – Eu vim para cá com um único objetivo e vou cumpri-lo. Vou recuperar o que me foi roubado.- Deixando todas aquelas pessoas desempregadas? – olhei-o incrédula. – Essa é a sua maneira de fazer justiça.- Porque se importa com eles?Quis mata-lo. O sangue corria por minhas veias e me esforcei para controlar a minha fúria. Rafael não era o tipo de homem que fazia escândalos, mas não se importava em provocá-los.Podia não gostar dos meus colegas de trabalho, porém não desejava o mal a eles.
Depois que li aquilo, não me senti a vontade perto de Rafael. Algo naquela frase estava me incomodando e eu não gostava disso. Aquelas duas palavras eram familiares, mas por conta dos acontecimentos, não consegui lembrar onde as tinha visto. Olhei-o discretamente e quase suspirei. Aquela perfeição estava do meu lado, fodendo com meus sentidos. Odiei por me sentir insegura. Odiei o Rafael por me abalar tanto. E a musica não estava ajudando. “Despacito Quiero respirar tu cuello Despacito Deja que te diga cosas al oido Para que te acuerdes si no estás conmigo...” Essa musica provocava minha mente e meus sentidos. Apertei minha bolsa com força para controlar o tremor de meu corpo. Rafael pareceu notar e sorriu para mim e virei o rosto, incomodada. Quase soltei um gemido de alivio quando ele parou na porta do escritório. Não sei se Rafael percebera meu desespero ao sair do carro e daquela atmosfera erótica. Adquiri a frieza profissional e olhei para ele. – Obrigada pelo
Na manhã de sábado despertei com uma bela ressaca e uma gata muito fofa pedindo comida. Não me culpo por ter me divertido ontem à noite, pois eu precisava. O problema foi ter bebido quando eu não podia e sequer lembrar como cheguei em casa.Minha cabeça latejava, a gata miava e algum engraçadinho batia na porta da frente. Foda-se, eu queria dormir um pouco mais, precisava disso, mas a pessoa não parava de bater na maldita porta e desisti de dormir. Levantei da cama e fui até a área de serviço. Lavei o rosto, escovei os dentes, coloquei ração para Mimi e fui atender a porta. Não me preocupei em pentear o cabelo. Não estava me importando com ele.Agora se esse imbecil gritasse comigo ou risse da minha aparência iria sair com o olho roxo.Destranquei e abri a porta com calma, esperando ver alguém. Mas para minha surpresa, não havia ninguém. Uma pequena sacola estava pendurada no portão. Peguei-o com cautela e olhei para fora, na esperança de ver alguém, mas não tinha ninguém próximo.-
Não parava de tremer. O ódio estava me corroendo e se eu não resolvesse logo esse problema explodiria. Pior era ter que esperar até a noite para fazer aquele maldito engolir esse texto asqueroso. Agora entendo a razão de ficar desconfiada com o termo. Para mim soava como prostituição e eu não concordo com isso. A fome desapareceu em um piscar de olhos. O café deixou um gosto amargo em minha boca. Não sabia o que fazer ou como proceder com o que Rafael queria me propor. Soava ridículo. Eu poderia deixá-lo esperando, mas minha ética falou mais alto. Se ele queria transparência a respeito do que eu achava daquilo, ele teria.Se eu planejava ir nesse jantar, primeiro precisava cuidar ao menos dos meus cabelos. Depois de lavar a louça e limpar a mesa, fui para o quarto. Abrindo o guarda-roupa, retirei uma blusa preta com renda nos ombros, uma calça jeans clara e sapatilhas pretas. Não queria impressionar Rafael, apenas não queria ser intimidada por ele. Peguei as roupas e pus sobre a mes
– Você terminou de ler, pelo menos? - Rafael cruzou os braços. - Acho que não preciso, julgando pelo que li pelas reportagens que vi no jornal. - Por isso o nome era tão familiar. Ele revirou os olhos e parou em minha frente. Vestindo uma camisa branca com um blazer preto e uma calça escura, Rafael era tudo de bom. Os sapatos eram impecáveis e um relógio de ouro envolvia seu pulso. Mais uma razão para me deixar incomodada. Embora essa fosse a minha melhor roupa, não era comparada à dele em muitos sentidos. – Sugar Baby não tem nada a ver com prostituição. – Sei... – murmurei ironicamente. Não estava muito convencida disso e a proximidade dele me incomodava. – E mesmo que tivesse, não faria sexo com você. Mulheres frias não fazem o meu tipo. Recuei um passo como se ele tivesse me batido. Não consegui retrucar por alguns segundos, mas a humilhação brilhava em meu rosto. Dei-lhe as costas e fui até a cozinha. Precisava de um tempo para poder enfrentá-lo novamente, mesmo sendo tão
– Está pronta para ouvir? – Balancei a cabeça e ele recostou-se na cadeira sem tirar os olhos de mim. – Eu não quero uma prostituta. Relacionamento sugar é como qualquer relacionamento. – Sei... – ironizei. – um relacionamento que envolve dinheiro. – Isso incomoda você? – Sim. Dava para ver nos olhos dele que a conversa não estava indo da maneira que ele esperava. Ele estava irritado e tentei esconder minha satisfação. – Vejo que você é uma daquelas garotas puritanas que acreditam em amor verdadeiro. O modo como ele proferia as palavras me ofendia. O fato de ser uma romântica incorrigível não falava nada sobre mim. – O mundo sugar é mais fácil e sem complicações. Vi seus projetos outro dia e vejo que tem muito potencial. Se tiver força de vontade, seu talento pode chegar muito longe. – ignorando meu embaraço, ele voltou sua atenção para o cardápio. – Eu serei seu tutor. Investirei em sua carreira profissional e em troca, quero sua companhia. – Sem sexo? – Eu não reconhecia min
No domingo, optei por não sair de casa. Estava tentando entender o que acontecera comigo na noite anterior. Não sabia o que deu em mim naquele momento. Melhor dizendo, eu sabia. O problema foi lembrar-me do olhar de Rafael sobre mim. Ele me entorpeceu, fez com que eu me sentisse desejada por ele e embriagou-me os sentidos. Naquele momento, eu sabia que se ele pedisse para transar comigo, eu o faria. Mesmo sendo um olhar frio, ainda tinha o poder de me fazer tremer. O cara era quente demais para meu bem.As palavras de Rafael, embora roucas naquele momento, ainda me incomodavam. Eu não era fria, não era puritana. Era apenas uma garota que só queria um encontro ideal. Buscava o amor, mesmo não acreditando nele.O que mais me surpreendeu foi ter aceitado algo que eu achava errado. Não me entenda mal, a coisa parece simples, mas para mim não era. Seria uma boa receber uma ajuda para me tornar uma profissional melhor. Queria chegar longe e provar a todos minha capacidade. Queria melhorar a
- Já que passarei a trabalhar aqui, gostaria de saber onde vou ficar. Tenho algumas coisas importantes para atualizar.Ele arqueou a sobrancelha. Dava para ver em seu rosto que não esperava essa atitude da minha parte.- Por que não está usando as roupas que te dei?Senti meu rosto corar de vergonha.- Não achei necessário. Minhas roupas são perfeitamente adequadas. - De fato eram, mas com o tempo estavam gastas. - E se eu chegar a ter uma reunião de emergência? Não posso te levar comigo se não parecer apresentável.Eu odiava rótulos e reconhecia que queria estrangular o homem a minha frente.- Então eu serei cautelosa. Trarei algumas peças comigo e quando precisar troco de roupa.Divertimento cruzou seu olhar e o esboço de um sorriso surgiu.- Muito bem. Confiarei em sua palavra. - E afastando -se de mim, caminhou ate uma porta e a abriu. - Sônia irá lhe mostrar sua sala provisória. Tem a manhã para se acomodar e conhecer a casa. À tarde, irei a sua sala para começarmos a trabalhar.