SEIS

Entrando em minha sala, fui até minha bolsa e a peguei rapidamente. Minhas mãos tremiam e eu não queria que ele visse o quanto fiquei abalada. Senti uma pontada familiar na cabeça e fechei os olhos. Odeio brigas e odeio estar nelas.

Agora meu destino era incerto. Estava desempregada e de maneira alguma queria voltar a morar com meus pais. Teria que procurar outro emprego o mais rápido possível ou teria problemas.

Abri os olhos de surpresa quando senti um par de mãos segurarem meu rosto, eram quentes e confortáveis. Chegava a ser impróprio, mas a sensação era muito boa. O bonitão me olhava preocupado e senti um nó na barriga. Afastei suas mãos de meu rosto e recuei um passo.

- Como conseguiu trabalhar aqui dentro todo esse tempo?

Não respondi, pois o olhar que ele deu para cima de minha mesa de trabalho fora o suficiente. Notei que ele tinha visto os remédios sobre a mesa, mas não falou nada. Apenas segurou meu braço e me arrastou até a porta. Puxei meu braço de sua mão e o fitei.

- Olha, não acho que temos algo a conversar. Não trabalho pra você e isso seria muito ruim pra mim se...

- Está enganada, temos algo para conversar. E o faremos de um jeito ou de outro. – A ameaça estava explicita em sua voz. – Quanto ao seu emprego não se preocupe.

Tentei me opor, mas ele já tinha me arrastado para fora. Os três ainda continuavam ali parados e Rafael acenou para eles com a cabeça enquanto me arrastava para fora. A última coisa que vi foi o olhar de ódio da mulher antes de ser forçada a entrar no carro dele.

***

Rafael me levou a um restaurante ao ar livre que também era um bar. O XPTO era simples, mas aconchegante, além de possuir uma linda paisagem natural. No lugar onde estávamos era possível ver o rio Piauitinga e a ponte do Bonfim. Era a primeira vez que eu entrava naquele lugar, mas me senti bem. Uma parte da tensão que estava sobre meus ombros desapareceu.

O que não me deixou surpresa foi o fato do dono do restaurante vir recebê-lo pessoalmente. A maneira como as pessoas babavam quando ele passava também não me surpreendeu. Praticamente todos naquele lugar comiam nas mãos dele.

Observei ele pedindo um copo de vinho e arqueei a sobrancelha. Quanto a mim, pedi apenas um copo de suco. Não queria prolongar a minha conversa e esperei pacientemente ele terminar de fazer o pedido. A garçonete deu uma risadinha com algo que Rafael disse e saiu apressadamente. Rafael olhou pra mim e engoli seco, esperando.

- O que desejas falar comigo, senhor Novaes? – perguntei incomodada com o silêncio.

- Me chame de Rafael, por favor.

- Só porque não trabalho mais para você, não significa que vou chamá-lo pelo nome. – rebati a contragosto.

Dando um meio sorriso, ele se inclinou levemente sobre a mesa.

- Interessante, Juliana – sua voz falando meu nome era um verdadeiro convite para sexo. Merda! – Me pergunto se você me trataria assim naquele dia se soubesse quem eu era.

- Possivelmente.

- Foi o que pensei. – ele sorriu abertamente e não falou mais nada.

Eu já estava ficando louca. Nunca fui de pensar em sexo, mas só de olhar para esse homem pensamentos pecaminosos rondavam minha cabeça. Ele levou uma das mãos aos cabelos e os soltou. Seus cabelos castanhos moldaram seu rosto e fiquei olhando para ele, embevecida. Ele seria um ótimo modelo para a arte. O homem por si só era perfeito.

A garçonete voltou e colocou meu suco em minha frente. Murmurei um agradecimento e observei como Rafael flertava com a garota. Revirei os olhos incomodada e retirando o celular da bolsa, mando uma mensagem para Lya:

'Mana, estou sem emprego. Não se preocupe comigo. Te darei os detalhes mais tarde.'

Sabia o quanto ela ficaria preocupada comigo assim como eu fico quando algo ruim acontece com ela. Minha irmã pernambucana era incrível, mas assim como eu, passava por muitos problemas. Guardei o telefone com um suspiro e olho para o rio perdida em pensamentos.

- Estava falando com seu namorado?

Olhei-o surpresa.

- Mais que tipo de pergunta é essa?

- Desculpe. – Ele balançava a cabeça com um sorrisinho irônico. – Você ficou pensativa de repente.

- Estava apenas dando privacidade ao casal. – olhei a garçonete pelo canto dos olhos. – Tenho o dom de ser a mulher invisível.

- Não sei por que. Sou capaz de ver você.

Seu comentário me aborreceu.

- Olha, não quero ser inconveniente, mas você está tomando meu tempo. Tenho muita coisa para tirar do depósito e estar aqui com você é um problema.

Realmente tinha chegado ao meu limite.

- Muito bem. – Seus olhos ficaram sérios. – Sabe, há um tempo soube que a filial de Sergipe estava com graves problemas. E pensei em fechar para não ter tanto prejuízo. – Ele continuava a me olhar daquela maneira penetrante. – De repente voltou a ser o que era, pegava grandes projetos e os fazia com perfeição. Jamais pensei que você fosse a responsável por eles.

Olhei para ele, surpresa. Não tinha como Rafael saber, já que nunca fui registrada no banco de dados da empresa.

- Por outro lado, esta filial não tem mais renda, por assim dizer. – ele me observava enquanto levava a taça de vinho até os lábios. – Os fundos que eu tinha depositado nela quando a abri foram desaparecendo com os anos. Um prejuízo total de três milhões de reais.

Tentei buscar sentido em suas palavras, mas estava mais concentrada naquela boca magnífica. Ele parecia saber o efeito que exercia sobre mim e abriu um sorriso. Isso não está bom, Juliana. Censurando-me, apertei minhas mãos firmemente por debaixo da mesa.

Foi então que um balde de água fria caiu sobre mim com as palavras dele. Como assim prejuízo? Rafael não podia estar sugerindo que...

- Acha que David está te roubando? – falei com incredulidade.

- Não citei nomes, Juliana, portanto baixe seu tom de voz. - Me repreendeu severamente.

Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo