Não demorou muito e escutei burburinhos vindos do lado de fora de minha sala. Imaginei o que seria até ouvir a voz irritante de David dando instruções aos funcionários de como deveriam se portar quando as visitas chegassem. Senti um arrepio na espinha ao lembrar o que me aguardava quando saísse da sala, porém balancei a cabeça. Não iria mudar de ideia agora.
Peguei o pen drive e apertando-o contra o corpo, sai do escritório justamente no momento que David recebe os recém-chegados. Fico parada em frente a minha sala observando meu chefe agir despreocupadamente e com um sorriso falso. Para aqueles estranhos David vestiu seu terno Armani preto, lustrou os sapatos e até penteou o cabelo ridículo. Coisa que ele não faz em dias normais de trabalho. Observei o casal com atenção. A mulher era mais alta que eu: loira, magra e com cara de poucos amigos. Vestia um terno lilás, cabelo preso em um coque alto, olhava para o lugar com desprezo e batia o salto de sua sandália no chão, impaciente. O homem por outro lado era baixinho e calvo, mas com um olhar mais amigável. Vestia uma camisa polo e calça jeans, tênis chamativos envolviam seus pés e um relógio de ouro enfeitava seu braço. David ignora o homem por completo e conversa com entusiasmo com a loira, o que é uma falta de educação. Dou alguns passos até eles quando vejo outra pessoa se aproximar. Paro bruscamente quando os olhos do homem encontram os meus. 'Não! Não pode ser ele.' - Senhor Novaes, eu estava à sua espera. – Dissera meu chefe, mas a atenção dele estava em mim. O homem era um pedaço de mau caminho. Só com um olhar me deixou paralisada. Seu corpo viril e forte trajava um terno cinza com uma gravata listrada, mas discreta. Seu cabelo estava preso como nas duas vezes que nos encontramos, mas seu olhar trazia um brilho diferente e eu não fui capaz de decifrá-lo. - Rafael, está me ouvindo? Foi como se eu tivesse levado um tapa na cara. Aquele homem era o dono dessa filial, e agora abria um sorriso triunfante para mim. O que aquele idiota queria com o sorrisinho? Um pedido de desculpas? O choque transformou-se em raiva e antes que eu pudesse me conter, comecei a caminhar até o quarteto dinâmico e parando atrás de David, disse em alto e bom som: - Aqui está o que me pediu, David. Da próxima vez me dê um projeto decente e não o resto dos outros designers. Tive a satisfação de vê-lo empalidecer antes de olhar para mim. Fuzilei-o com o olhar e depois olhei para o resto do grupo, evitando o olhar do deus grego. Sorrindo polidamente, falei: - Desculpem, minha grosseria. Sou Juliana Ribeiro, trabalho aqui há três anos. – Faço um gesto um à cabeça e abro um sorriso forçado. As reações deles foram diferentes. A mulher me olhava com nojo, o baixinho abriu um leve sorriso e acenou em resposta. Rafael me olhava com curiosidade e me remexi, desconfortável com a intensidade do olhar dele. - Estranho... – disse ele, levando uma das mãos ao queixo, pensativo. – Tenho todos os registros dos funcionários desta filial e você não está nela. – E voltando-se para David pergunta: - É alguma piada de mau gosto? - Não senhor... É que... - Como assim? – disse bruscamente, sem acreditar no que ouvi. – É claro que trabalho aqui. Ele mesmo cuidou da papelada e enviou para o RH... – Olhei para David. – Não mandou? Ele desviou o olhar e meu rosto queimou de humilhação. Todo aquele tempo e sacrifício que gastei nesse lugar, sendo odiada e humilhada por todos, fazendo o trabalho deles não serviram de nada. Apertei o pen drive em minha mão e dei meia volta, sem uma palavra, voltando para a minha sala. Os olhares e cochichos que me seguiam eram angustiantes. Risadas sarcásticas acompanhadas de discurso de ódio encheram a recepção. Não quis olhar a reação do Senhor Novaes, mas esta foi uma boa ocasião para ele ver o tipo de pessoa que trabalhava para ele. - Um momento, Juliana! Parei em frente ao meu refugio e olhei para trás. David voltara a sua atitude arrogante e seu olhar era frio ao me observar. - Para onde você vai? - Arrumar minhas coisas. – falei com firmeza, agradecendo a Deus pelo meu autocontrole. – Está mais do que óbvio que meu lugar não é aqui. Vou recolher minhas coisas e sair daqui. Enquanto isso, Rafael nos observava com seriedade. - Você pode fazer o que quiser, mas antes disso – David estendeu a mão – quero os dois projetos nos quais você trabalhou. A raiva que havia sido abafada pela vergonha emergiu de tal modo que virei meu corpo na direção dele. Minhas mãos tremiam e se eu estivesse salivando naquele momento não me importava. Precisava falar ou explodir. - Não te darei porra nenhuma. Não foi você quem ficou trabalhando nele durante horas, manteve contato com os clientes, querendo saber o que eles mais desejavam para representá-los profissionalmente. – Ergui a mão e apontei para ele. – Os melhores projetos desta filial foram feitos por mim e você jamais reconheceu isso. Tanto que usou seu nome em meu trabalho e espalhava aos quatro ventos que era seu. Eu tremia toda, meu acesso de fúria me daria uma enxaqueca desgraçada. Em todo o caso, não trabalhava mais naquele lugar e eu poderia gritar tudo o que eu queria. - Quanto aos dois projetos que você, tão rudemente atirou para cima de mim desde o dia que ofendi esse senhor... – olho de relance para Rafael. – Não vou entregá-los para você. Eu o faria, mesmo com toda a humilhação que me fez passar, mas como não sou um membro dessa m*****a empresa, sugiro que trabalhe duro e faça melhor do que eu. David veio em minha direção e me deu uma bofetada tão forte que tirou meu equilíbrio. Caí no chão e levei uma das mãos ao rosto ardido, sem olhar pra ele. Lágrimas de ódio enchem meus olhos. - Você deve a mim, sua ridícula. Dei-te um trabalho digno, coisa que ninguém dessa cidade quer fazer. Não pense que vai sair daqui com algo que é... - Dela. – A voz firme de Rafael despertou arrepios involuntários em meu corpo. David tenta convencê-lo de que eu estava mentindo, mas isso não serviu muito. Ignorando o outro por completo, Rafael veio em meu auxílio e ajoelhando-se ao meu lado, me envolveu em seus braços fortes. Prendi a respiração com a repentina onda de calor que senti em meu corpo. Com gentileza, pôs a mão em meu rosto e o ergueu. Fez uma careta ao olhar minha bochecha, que estava ardendo muito. Toquei-a envergonhada e percebi que havia um pequeno corte ali. - Você está bem? Balancei a cabeça, o rosto tenso. A vontade de chorar estava ali, querendo um pequeno deslize para aparecer. Ser forte é muito difícil e com esse homem ao meu lado despertaram em mim sentimentos que estavam adormecidos. Segurança. Sem nenhum esforço, ele me ergueu do chão. Desviei meu olhar, envergonhada pela situação. - Vou arrumar minhas coisas. Com licença... – dou meia volta louca para sumir dali, mas Rafael segura meu braço. - Não. – diz ele. – Quero conversar com você. - Mas que... - Depois do que presenciei aqui, creio que algumas mudanças nesta filial serão necessárias. – Olha para David com desdém. – Incluindo os funcionários. Sem dizer mais nada, ele foi em direção a minha sala, puxando meu braço no processo. Chocada, o segui.Entrando em minha sala, fui até minha bolsa e a peguei rapidamente. Minhas mãos tremiam e eu não queria que ele visse o quanto fiquei abalada. Senti uma pontada familiar na cabeça e fechei os olhos. Odeio brigas e odeio estar nelas.Agora meu destino era incerto. Estava desempregada e de maneira alguma queria voltar a morar com meus pais. Teria que procurar outro emprego o mais rápido possível ou teria problemas. Abri os olhos de surpresa quando senti um par de mãos segurarem meu rosto, eram quentes e confortáveis. Chegava a ser impróprio, mas a sensação era muito boa. O bonitão me olhava preocupado e senti um nó na barriga. Afastei suas mãos de meu rosto e recuei um passo.- Como conseguiu trabalhar aqui dentro todo esse tempo?Não respondi, pois o olhar que ele deu para cima de minha mesa de trabalho fora o suficiente. Notei que ele tinha visto os remédios sobre a mesa, mas não falou nada. Apenas segurou meu braço e me arrastou até a porta. Puxei meu braço de sua mão e o fitei.- O
Não notei que estava falando alto e suspirei. O que aquele homem falava parecia surreal.- Mas isso é impossível! – sussurrei para ele. – Ninguém daqui te roubaria.- Está falando por todos? Não lembra o que aconteceu ainda há pouco?- Eu lembro, mas... – gaguejei e ele interrompeu com voz dura.- Porque defende quem te humilha? Ficou óbvio para mim que eles não te queriam por perto.- Sim, mas o modo como eles agiram comigo não tem nada a ver com o roubo de sua empresa.- Talvez. – Ele coça o queixo. – Eu vim para cá com um único objetivo e vou cumpri-lo. Vou recuperar o que me foi roubado.- Deixando todas aquelas pessoas desempregadas? – olhei-o incrédula. – Essa é a sua maneira de fazer justiça.- Porque se importa com eles?Quis mata-lo. O sangue corria por minhas veias e me esforcei para controlar a minha fúria. Rafael não era o tipo de homem que fazia escândalos, mas não se importava em provocá-los.Podia não gostar dos meus colegas de trabalho, porém não desejava o mal a eles.
Depois que li aquilo, não me senti a vontade perto de Rafael. Algo naquela frase estava me incomodando e eu não gostava disso. Aquelas duas palavras eram familiares, mas por conta dos acontecimentos, não consegui lembrar onde as tinha visto. Olhei-o discretamente e quase suspirei. Aquela perfeição estava do meu lado, fodendo com meus sentidos. Odiei por me sentir insegura. Odiei o Rafael por me abalar tanto. E a musica não estava ajudando. “Despacito Quiero respirar tu cuello Despacito Deja que te diga cosas al oido Para que te acuerdes si no estás conmigo...” Essa musica provocava minha mente e meus sentidos. Apertei minha bolsa com força para controlar o tremor de meu corpo. Rafael pareceu notar e sorriu para mim e virei o rosto, incomodada. Quase soltei um gemido de alivio quando ele parou na porta do escritório. Não sei se Rafael percebera meu desespero ao sair do carro e daquela atmosfera erótica. Adquiri a frieza profissional e olhei para ele. – Obrigada pelo
Na manhã de sábado despertei com uma bela ressaca e uma gata muito fofa pedindo comida. Não me culpo por ter me divertido ontem à noite, pois eu precisava. O problema foi ter bebido quando eu não podia e sequer lembrar como cheguei em casa.Minha cabeça latejava, a gata miava e algum engraçadinho batia na porta da frente. Foda-se, eu queria dormir um pouco mais, precisava disso, mas a pessoa não parava de bater na maldita porta e desisti de dormir. Levantei da cama e fui até a área de serviço. Lavei o rosto, escovei os dentes, coloquei ração para Mimi e fui atender a porta. Não me preocupei em pentear o cabelo. Não estava me importando com ele.Agora se esse imbecil gritasse comigo ou risse da minha aparência iria sair com o olho roxo.Destranquei e abri a porta com calma, esperando ver alguém. Mas para minha surpresa, não havia ninguém. Uma pequena sacola estava pendurada no portão. Peguei-o com cautela e olhei para fora, na esperança de ver alguém, mas não tinha ninguém próximo.-
Não parava de tremer. O ódio estava me corroendo e se eu não resolvesse logo esse problema explodiria. Pior era ter que esperar até a noite para fazer aquele maldito engolir esse texto asqueroso. Agora entendo a razão de ficar desconfiada com o termo. Para mim soava como prostituição e eu não concordo com isso. A fome desapareceu em um piscar de olhos. O café deixou um gosto amargo em minha boca. Não sabia o que fazer ou como proceder com o que Rafael queria me propor. Soava ridículo. Eu poderia deixá-lo esperando, mas minha ética falou mais alto. Se ele queria transparência a respeito do que eu achava daquilo, ele teria.Se eu planejava ir nesse jantar, primeiro precisava cuidar ao menos dos meus cabelos. Depois de lavar a louça e limpar a mesa, fui para o quarto. Abrindo o guarda-roupa, retirei uma blusa preta com renda nos ombros, uma calça jeans clara e sapatilhas pretas. Não queria impressionar Rafael, apenas não queria ser intimidada por ele. Peguei as roupas e pus sobre a mes
– Você terminou de ler, pelo menos? - Rafael cruzou os braços. - Acho que não preciso, julgando pelo que li pelas reportagens que vi no jornal. - Por isso o nome era tão familiar. Ele revirou os olhos e parou em minha frente. Vestindo uma camisa branca com um blazer preto e uma calça escura, Rafael era tudo de bom. Os sapatos eram impecáveis e um relógio de ouro envolvia seu pulso. Mais uma razão para me deixar incomodada. Embora essa fosse a minha melhor roupa, não era comparada à dele em muitos sentidos. – Sugar Baby não tem nada a ver com prostituição. – Sei... – murmurei ironicamente. Não estava muito convencida disso e a proximidade dele me incomodava. – E mesmo que tivesse, não faria sexo com você. Mulheres frias não fazem o meu tipo. Recuei um passo como se ele tivesse me batido. Não consegui retrucar por alguns segundos, mas a humilhação brilhava em meu rosto. Dei-lhe as costas e fui até a cozinha. Precisava de um tempo para poder enfrentá-lo novamente, mesmo sendo tão
– Está pronta para ouvir? – Balancei a cabeça e ele recostou-se na cadeira sem tirar os olhos de mim. – Eu não quero uma prostituta. Relacionamento sugar é como qualquer relacionamento. – Sei... – ironizei. – um relacionamento que envolve dinheiro. – Isso incomoda você? – Sim. Dava para ver nos olhos dele que a conversa não estava indo da maneira que ele esperava. Ele estava irritado e tentei esconder minha satisfação. – Vejo que você é uma daquelas garotas puritanas que acreditam em amor verdadeiro. O modo como ele proferia as palavras me ofendia. O fato de ser uma romântica incorrigível não falava nada sobre mim. – O mundo sugar é mais fácil e sem complicações. Vi seus projetos outro dia e vejo que tem muito potencial. Se tiver força de vontade, seu talento pode chegar muito longe. – ignorando meu embaraço, ele voltou sua atenção para o cardápio. – Eu serei seu tutor. Investirei em sua carreira profissional e em troca, quero sua companhia. – Sem sexo? – Eu não reconhecia min
No domingo, optei por não sair de casa. Estava tentando entender o que acontecera comigo na noite anterior. Não sabia o que deu em mim naquele momento. Melhor dizendo, eu sabia. O problema foi lembrar-me do olhar de Rafael sobre mim. Ele me entorpeceu, fez com que eu me sentisse desejada por ele e embriagou-me os sentidos. Naquele momento, eu sabia que se ele pedisse para transar comigo, eu o faria. Mesmo sendo um olhar frio, ainda tinha o poder de me fazer tremer. O cara era quente demais para meu bem.As palavras de Rafael, embora roucas naquele momento, ainda me incomodavam. Eu não era fria, não era puritana. Era apenas uma garota que só queria um encontro ideal. Buscava o amor, mesmo não acreditando nele.O que mais me surpreendeu foi ter aceitado algo que eu achava errado. Não me entenda mal, a coisa parece simples, mas para mim não era. Seria uma boa receber uma ajuda para me tornar uma profissional melhor. Queria chegar longe e provar a todos minha capacidade. Queria melhorar a