~ Hades ~
Sentado em minha poltrona de couro no escritório do bordel, rodeado pelo cheiro amargo de álcool e cigarro, observo os copos vazios na mesa à minha frente. Uma garrafa de uísque quase seca está ao meu lado, mas isso não ajuda a silenciar a raiva que pulsa dentro de mim.
— Vocês são um bando de inúteis! — rosno, lançando o copo contra a parede. O som do vidro se estilhaçando ecoa pela sala, mas meus capangas permanecem imóveis, de cabeça baixa, sabendo que qualquer palavra errada pode ser sua última. — Quatro meses! Quatro malditos meses e nada! Nem um rastro, nem uma pista.
Meu olhar atravessa os homens como lâminas, e posso
~ Summer ~Nos últimos dias, tenho evitado falar com Lucca. As palavras ríspidas, a maneira fria como ele me tratou depois daquelas noites juntos ainda ardem na minha pele. Não sei se é raiva, mágoa ou orgulho, mas ignoro suas tentativas de puxar assunto, respondo apenas quando necessário e me concentro nas minhas novas responsabilidades. No fundo, sei que isso o irrita — o jeito como seus olhos me seguem pelo corredor, como seu maxilar trava quando finjo não ouvi-lo. A tensão entre nós cresce a cada dia, silenciosa e sufocante.Hoje à noite, porém, é impossível evitá-lo. Eu me tornarei oficialmente a Consigliere de Don Lucca, um papel que, meses atrás, eu jamais teria imaginado assumir. O salão está impecavelmente decorado, em tons de preto e dourado, com lustres reluzentes iluminando o ambiente. A festa reúne os aliados mais próximos de Lucca, figuras poderosas que comandam negócios em diversas partes da Europa. Homens de ternos caros e mulheres em vestidos luxuosos sussurram entre
~ Summer ~Os últimos dias têm sido uma montanha-russa de emoções. Meu corpo está exausto, a irritação surge do nada, e a tensão entre mim e Lucca chegou ao limite hoje. Preciso colocar tudo para fora, mesmo que isso signifique arriscar tudo o que construí até agora.— Lucca! — grito, entrando em seu escritório sem bater.Ele ergue os olhos dos papéis, visivelmente irritado com a interrupção, mas seu olhar se suaviza levemente quando percebe que sou eu.— Summer, o que foi agora? — pergunta, suspirando pesado.— O que f
~ Summer Monteiro ~Vivo em Petralia Soprana, um pequeno vilarejo na Sicília que parece parado no tempo. A cidadezinha era tranquila até ser descoberta pela máfia, que a transformou em uma rota discreta e conveniente. Dizem que há um homem que governa a região com punhos de ferro, mas isso pouco me importa. Vivo isolada na fazenda da minha família e raramente saio, exceto para visitar o túmulo da minha mãe no cemitério local.Hoje é mais um dia comum, acordo às 06 da manhã com o cantar dos galos, faço minha higiene matinal e tomo um café rápido antes de encarar as tarefas do dia. Tudo na fazenda é responsabilidade minha, já que meu pai só sabe beber e, pelo visto, nem dormiu em casa esta noite. Alimentar os animais, consertar cercas, colher o que a terra dá — tudo isso cai sobre mim.Depois de alimentar os bichos, selo meu cavalo, Príncipe, e vou ao cemitério. É o único lugar onde sinto que realmente posso respirar. Passo horas conversando com minha mãe, contando a ela sobre os dias m
~ Gael Martinez (Hades) ~O mundo da máfia não espera ninguém crescer. Ele te engole antes que você tenha a chance de entender quem é. Eu fui tragado por ele antes mesmo de aprender a amarrar meus sapatos. Aos dez anos, ainda um moleque, meu pai colocou uma arma na minha mão e apontou para o homem que supostamente nos devia algo.— Puxa o gatilho, garoto. — Ele disse, a voz fria e sem emoção. — Ou morre como um inútil.Eu puxei. Não hesitei.O som do tiro ainda ecoa na minha mente às vezes, mas não sinto remorso. Nunca senti. Foi ali que comecei a entender como o mundo funciona: ou você
~ Summer ~O silêncio no celeiro é opressor, cortado apenas pelo som dos meus soluços abafados. Minhas mãos estão vermelhas de tanto esmurrar a porta, mas ela não cede. Minhas forças se esvaem, e eu desabo no chão de terra batida, sentindo a humilhação me consumir.Quanto tempo passou? Minutos? Horas? Não sei. Meu coração acelera ao ouvir passos do lado de fora. A porta range e, de repente, ele está ali — o homem que transformou minha vida em caos num piscar de olhos.— Quem é você? — minha voz falha, mas eu me forço a encará-lo.Ele sorri, um sorriso cheio de algo sombrio e predatório.— Seu dono, Mia Béla.Me levanto num salto, tentando passar por ele, mas sua mão firme agarra meu braço. Num movimento rápido, ele me joga ao chão como se eu fosse nada.— Não me machuque... — imploro, minha voz quase um sussurro, mas ele apenas ri, uma risada baixa e ameaçadora.Ele se aproxima novamente, e eu sinto o peso de sua presença. Ele me puxa de volta para cima, tão perto que posso sentir seu
~ Summer ~Acordo sentindo o peso do dia anterior como uma pedra no peito. O quarto onde estou é grande, mas frio, sem vida. As paredes brancas parecem me sufocar, e o silêncio é tão denso que quase ouço meus próprios pensamentos berrando.Caminho até o banheiro com as pernas trêmulas. Abro a torneira e deixo a água correr, tentando encontrar alguma normalidade em escovar os dentes. Uma, duas, três vezes. Escovo até minhas gengivas começarem a doer. Tento ignorar o gosto metálico do sangue e lavo o rosto com água gelada, como se isso pudesse apagar tudo o que aconteceu.Tomo banho em silêncio, deixando a água quente cair sobre mim. N&atild
~ Summer ~A dor ainda lateja no meu corpo. Cada movimento que faço parece um lembrete cruel do que aconteceu, do que ele fez. Não consigo mais ficar aqui. Preciso sair, nem que seja a última coisa que eu faça.Olho ao redor do quarto. É luxuoso, sim, mas não passa de uma prisão decorada. A janela está fechada, mas eu vejo o mundo lá fora. A liberdade está tão perto, e mesmo assim parece impossível alcançá-la.Respiro fundo. Preciso tentar.Espero até o sol começar a se pôr. A casa está mais silenciosa, os passos ecoam distantes. É a minha chance. Abro a porta
~ Hades (Gael) ~ Sentado em meu escritório, revisando alguns números de um dos meus negócios. As últimas semanas têm sido um caos, como sempre, mas é o tipo de desordem que eu aprendi a dominar. Controle. Poder. Isso é tudo o que importa.— Gael, o carregamento do porto está em ordem. — Marco, meu capo e braço direito, entra com sua postura rígida, como sempre.— Eu já disse pra me chamar de Hades — reclamo e volto a falar — Ótimo. Certifique-se de que a entrega seja feita sem erros. Não tenho paciência para incompetentes.Ele assente e sai, deixando-me sozinho. Depois de concluir os últimos detalhes, decido voltar para casa e descer ao porão. Ali é onde escondo os segredos mais sombrios, os erros que precisei corrigir e as dívidas que outros não puderam pagar. É aonde Summer se encontra.Passo horas lá, perdido em pensamentos e decisões e a observando sem que ela perceba. O ambiente é escuro, abafado, o cheiro metálico de ferrugem impre