~ Summer ~ Já se passaram três meses desde que deixei o inferno que era a vida ao lado de Gael. Noventa dias tentando esquecer a sensação das correntes invisíveis ao redor dos meus pulsos, a sombra constante do medo que pesava em meus ombros. Esse tempo foi marcado por treinos intensos, mudanças e redescobertas. Um mês casada com Lucca. Às vezes, ainda me pego olhando para a aliança em meu dedo como se fosse uma miragem. Não pelo que ela simboliza, mas pelo contraste gritante com a liberdade recém-descoberta que agora corre em minhas veias.Olho para mim mesma no espelho e mal reconheço a mulher que fui um dia. Aquela Summer frágil, apavorada e subjugada ficou para trás. No lugar dela, há alguém de olhar firme e postura erguida. As roupas pretas abraçam meu corpo com praticidade, deixando para trás os vestidos delicados que Gael adorava. Aqui, em meio ao caos controlado da máfia, estou aprendendo o que significa ser forte.Lucca tem sido uma pre
~ Summer ~O sol da tarde se derrama preguiçoso sobre os campos, tingindo tudo com tons dourados. A brisa fresca carrega o perfume das flores silvestres, e por um breve instante, esqueço onde estou. Esqueço a bagunça que é minha vida, esqueço Gael, esqueço até o peso do anel em meu dedo esquerdo.- Você tem certeza que sabe montar? - Lucca pergunta, já em cima do cavalo, uma sobrancelha arqueada com diversão evidente e a postura relaxada demais para alguém que vive sob a mira de inimigos.- E você tem certeza que quer saber? - Respondo, apertando a sela com mais força do que o necessário.- Só quero garantir que você não vai cair. - Ele ri, a voz baixa e rouca como um segredo. - Seria um desperdício.Reviro os olhos, mas acabo sorrindo. É irritante o quanto a companhia dele se tornou natural. Quando puxo as rédeas e pressiono os calcanhares, a égua parte em disparada pelo campo. O vento bagunça meu cabelo, e por um momento, sinto a liberdade crua, sem peso, sem passado.- Ei! - Ouço L
~ Summer ~Os últimos meses mudaram tudo. Não apenas a mulher que vejo no espelho, mas também tudo o que sinto. Lucca sempre esteve ali, me apoiando, me desafiando, me mostrando que, mesmo no caos, é possível encontrar segurança. Ele não é como Gael — o jeito de Lucca é leve, mesmo estando imerso em um mundo sombrio. Ele respeita meus limites, mas também me provoca, como se soubesse que há uma chama dentro de mim, esperando só uma faísca para se acender.Mas hoje... algo é diferente. Estou sentada na varanda, observando o céu tingido de laranja pelo pôr do sol, tentando encontrar um pouco de paz. O ar fresco da Hungria acaricia minha pele, mas não traz a calma que tanto preciso. Minha mente, ao contrário, está em um turbilhão.Eu não consigo parar de pensar nele. Nos momentos que compartilhamos, nas risadas que soaram tão naturais entre nós, no jeito como ele me olha — como se enxergasse algo em mim que eu mesma ainda não consigo ver. O mais estranho, e ao mesmo tempo mais aterrador, é
~ Lucca ~Estou no escritório, absorto em um relatório quando ouço os passos leves de Summer no corredor. Ela tenta ser discreta, mas já aprendi a decifrar o som das suas idas e vindas. É curioso como ela parece uma tempestade silenciosa: uma força contida que, quando liberada, pode mudar tudo ao seu redor.Fecho o arquivo e me recosto na cadeira, pensando no quanto ela mudou nesse tempo. A mulher insegura, marcada pelo medo, foi substituída por alguém que está aprendendo a se reconstruir. Mas, mesmo assim, ainda há algo vulnerável em seus olhos quando ela me encara, como se estivesse carregando uma decisão difícil demais para ser verbalizada.Há um
~ Lucca ~A luz da manhã invade o quarto através das cortinas entreabertas, espalhando raios dourados sobre os lençóis bagunçados. Summer dorme ao meu lado, o rosto sereno em contraste absoluto com o caos dentro de mim. Seus cabelos estão espalhados pelo travesseiro, e por um instante, penso em deslizar os dedos por eles, afastar as mechas que cobrem seu rosto. Já faz algumas semanas desde a primeira vez que nos entregamos um ao outro, naquela madrugada tensa no escritório, onde os papéis espalhados e as juras contidas misturaram-se ao desejo reprimido. Desde então, repetimos o erro mais vezes do que posso contar. Mas hoje ela está aqui, em minha cama — e isso muda tudo. Mas não posso. Não devo.Levanto-m
~ Hades ~Sentado em minha poltrona de couro no escritório do bordel, rodeado pelo cheiro amargo de álcool e cigarro, observo os copos vazios na mesa à minha frente. Uma garrafa de uísque quase seca está ao meu lado, mas isso não ajuda a silenciar a raiva que pulsa dentro de mim.— Vocês são um bando de inúteis! — rosno, lançando o copo contra a parede. O som do vidro se estilhaçando ecoa pela sala, mas meus capangas permanecem imóveis, de cabeça baixa, sabendo que qualquer palavra errada pode ser sua última. — Quatro meses! Quatro malditos meses e nada! Nem um rastro, nem uma pista.Meu olhar atravessa os homens como lâminas, e posso
~ Summer ~Nos últimos dias, tenho evitado falar com Lucca. As palavras ríspidas, a maneira fria como ele me tratou depois daquelas noites juntos ainda ardem na minha pele. Não sei se é raiva, mágoa ou orgulho, mas ignoro suas tentativas de puxar assunto, respondo apenas quando necessário e me concentro nas minhas novas responsabilidades. No fundo, sei que isso o irrita — o jeito como seus olhos me seguem pelo corredor, como seu maxilar trava quando finjo não ouvi-lo. A tensão entre nós cresce a cada dia, silenciosa e sufocante.Hoje à noite, porém, é impossível evitá-lo. Eu me tornarei oficialmente a Consigliere de Don Lucca, um papel que, meses atrás, eu jamais teria imaginado assumir. O salão está impecavelmente decorado, em tons de preto e dourado, com lustres reluzentes iluminando o ambiente. A festa reúne os aliados mais próximos de Lucca, figuras poderosas que comandam negócios em diversas partes da Europa. Homens de ternos caros e mulheres em vestidos luxuosos sussurram entre
~ Summer Monteiro ~Vivo em Petralia Soprana, um pequeno vilarejo na Sicília que parece parado no tempo. A cidadezinha era tranquila até ser descoberta pela máfia, que a transformou em uma rota discreta e conveniente. Dizem que há um homem que governa a região com punhos de ferro, mas isso pouco me importa. Vivo isolada na fazenda da minha família e raramente saio, exceto para visitar o túmulo da minha mãe no cemitério local.Hoje é mais um dia comum, acordo às 06 da manhã com o cantar dos galos, faço minha higiene matinal e tomo um café rápido antes de encarar as tarefas do dia. Tudo na fazenda é responsabilidade minha, já que meu pai só sabe beber e, pelo visto, nem dormiu em casa esta noite. Alimentar os animais, consertar cercas, colher o que a terra dá — tudo isso cai sobre mim.Depois de alimentar os bichos, selo meu cavalo, Príncipe, e vou ao cemitério. É o único lugar onde sinto que realmente posso respirar. Passo horas conversando com minha mãe, contando a ela sobre os dias m