~ Summer ~Os últimos meses mudaram tudo. Não apenas a mulher que vejo no espelho, mas também tudo o que sinto. Lucca sempre esteve ali, me apoiando, me desafiando, me mostrando que, mesmo no caos, é possível encontrar segurança. Ele não é como Gael — o jeito de Lucca é leve, mesmo estando imerso em um mundo sombrio. Ele respeita meus limites, mas também me provoca, como se soubesse que há uma chama dentro de mim, esperando só uma faísca para se acender.Mas hoje... algo é diferente. Estou sentada na varanda, observando o céu tingido de laranja pelo pôr do sol, tentando encontrar um pouco de paz. O ar fresco da Hungria acaricia minha pele, mas não traz a calma que tanto preciso. Minha mente, ao contrário, está em um turbilhão.Eu não consigo parar de pensar nele. Nos momentos que compartilhamos, nas risadas que soaram tão naturais entre nós, no jeito como ele me olha — como se enxergasse algo em mim que eu mesma ainda não consigo ver. O mais estranho, e ao mesmo tempo mais aterrador, é
~ Lucca ~Estou no escritório, absorto em um relatório quando ouço os passos leves de Summer no corredor. Ela tenta ser discreta, mas já aprendi a decifrar o som das suas idas e vindas. É curioso como ela parece uma tempestade silenciosa: uma força contida que, quando liberada, pode mudar tudo ao seu redor.Fecho o arquivo e me recosto na cadeira, pensando no quanto ela mudou nesse tempo. A mulher insegura, marcada pelo medo, foi substituída por alguém que está aprendendo a se reconstruir. Mas, mesmo assim, ainda há algo vulnerável em seus olhos quando ela me encara, como se estivesse carregando uma decisão difícil demais para ser verbalizada.Há um
~ Lucca ~A luz da manhã invade o quarto através das cortinas entreabertas, espalhando raios dourados sobre os lençóis bagunçados. Summer dorme ao meu lado, o rosto sereno em contraste absoluto com o caos dentro de mim. Seus cabelos estão espalhados pelo travesseiro, e por um instante, penso em deslizar os dedos por eles, afastar as mechas que cobrem seu rosto. Já faz algumas semanas desde a primeira vez que nos entregamos um ao outro, naquela madrugada tensa no escritório, onde os papéis espalhados e as juras contidas misturaram-se ao desejo reprimido. Desde então, repetimos o erro mais vezes do que posso contar. Mas hoje ela está aqui, em minha cama — e isso muda tudo. Mas não posso. Não devo.Levanto-m
~ Hades ~Sentado em minha poltrona de couro no escritório do bordel, rodeado pelo cheiro amargo de álcool e cigarro, observo os copos vazios na mesa à minha frente. Uma garrafa de uísque quase seca está ao meu lado, mas isso não ajuda a silenciar a raiva que pulsa dentro de mim.— Vocês são um bando de inúteis! — rosno, lançando o copo contra a parede. O som do vidro se estilhaçando ecoa pela sala, mas meus capangas permanecem imóveis, de cabeça baixa, sabendo que qualquer palavra errada pode ser sua última. — Quatro meses! Quatro malditos meses e nada! Nem um rastro, nem uma pista.Meu olhar atravessa os homens como lâminas, e posso
~ Summer ~Nos últimos dias, tenho evitado falar com Lucca. As palavras ríspidas, a maneira fria como ele me tratou depois daquelas noites juntos ainda ardem na minha pele. Não sei se é raiva, mágoa ou orgulho, mas ignoro suas tentativas de puxar assunto, respondo apenas quando necessário e me concentro nas minhas novas responsabilidades. No fundo, sei que isso o irrita — o jeito como seus olhos me seguem pelo corredor, como seu maxilar trava quando finjo não ouvi-lo. A tensão entre nós cresce a cada dia, silenciosa e sufocante.Hoje à noite, porém, é impossível evitá-lo. Eu me tornarei oficialmente a Consigliere de Don Lucca, um papel que, meses atrás, eu jamais teria imaginado assumir. O salão está impecavelmente decorado, em tons de preto e dourado, com lustres reluzentes iluminando o ambiente. A festa reúne os aliados mais próximos de Lucca, figuras poderosas que comandam negócios em diversas partes da Europa. Homens de ternos caros e mulheres em vestidos luxuosos sussurram entre
~ Summer ~Os últimos dias têm sido uma montanha-russa de emoções. Meu corpo está exausto, a irritação surge do nada, e a tensão entre mim e Lucca chegou ao limite hoje. Preciso colocar tudo para fora, mesmo que isso signifique arriscar tudo o que construí até agora.— Lucca! — grito, entrando em seu escritório sem bater.Ele ergue os olhos dos papéis, visivelmente irritado com a interrupção, mas seu olhar se suaviza levemente quando percebe que sou eu.— Summer, o que foi agora? — pergunta, suspirando pesado.— O que f
~ Summer Monteiro ~Vivo em Petralia Soprana, um pequeno vilarejo na Sicília que parece parado no tempo. A cidadezinha era tranquila até ser descoberta pela máfia, que a transformou em uma rota discreta e conveniente. Dizem que há um homem que governa a região com punhos de ferro, mas isso pouco me importa. Vivo isolada na fazenda da minha família e raramente saio, exceto para visitar o túmulo da minha mãe no cemitério local.Hoje é mais um dia comum, acordo às 06 da manhã com o cantar dos galos, faço minha higiene matinal e tomo um café rápido antes de encarar as tarefas do dia. Tudo na fazenda é responsabilidade minha, já que meu pai só sabe beber e, pelo visto, nem dormiu em casa esta noite. Alimentar os animais, consertar cercas, colher o que a terra dá — tudo isso cai sobre mim.Depois de alimentar os bichos, selo meu cavalo, Príncipe, e vou ao cemitério. É o único lugar onde sinto que realmente posso respirar. Passo horas conversando com minha mãe, contando a ela sobre os dias m
~ Gael Martinez (Hades) ~O mundo da máfia não espera ninguém crescer. Ele te engole antes que você tenha a chance de entender quem é. Eu fui tragado por ele antes mesmo de aprender a amarrar meus sapatos. Aos dez anos, ainda um moleque, meu pai colocou uma arma na minha mão e apontou para o homem que supostamente nos devia algo.— Puxa o gatilho, garoto. — Ele disse, a voz fria e sem emoção. — Ou morre como um inútil.Eu puxei. Não hesitei.O som do tiro ainda ecoa na minha mente às vezes, mas não sinto remorso. Nunca senti. Foi ali que comecei a entender como o mundo funciona: ou você