— George tem sorte. Nesta vida, encontrar e casar com você é um privilégio. — Comentou Cátia. Curvei levemente os lábios em um sorriso discreto, sem responder. Na verdade, quem era verdadeiramente sortuda era eu. No momento em que Sebastião me traiu, foi George quem apareceu, me curou e me salvou. — Vocês demoram para voltar? — Cátia perguntou de repente. — Não sei ao certo. — Respondi, evitando marcar uma data. Ela suspirou audivelmente. — Carol, quando voltar, venha conversar comigo. Estou com tanta coisa entalada aqui no peito que já nem sei mais o que fazer. Pensei na confusão que teve com Sebastião, resultado, em grande parte, da atitude dela de expulsar Lídia em um gesto de solidariedade a mim. Não podia recusar. — Pode deixar, tia. Assim que eu voltar, vou te visitar e ver o tio também. — Certo. E cuida bem de você, viu? Em lugares que você não conhece, é sempre bom redobrar a atenção. — Ela recomendou com um tom maternal. — Tá bom, vou cuidar. — Prometi. — E
Meu coração deu um salto! Cátia tinha acabado de dizer que Sebastião parecia estar deixando um testamento. Agora, Lídia vinha com essa história de que ele estava "arrumando as coisas". Era impossível ignorar: o comportamento dele estava fora do normal. De repente, flashes de um sonho que eu tinha tido há algum tempo vieram à minha mente. E com eles, aquela pergunta que Sebastião me fez um dia: "Se eu morresse, o que você faria?" Eu já não nutria amor nem ódio por ele. Para mim, Sebastião era um capítulo encerrado. Mas, diante de algo tão extremo como a morte, mesmo que fosse apenas um estranho, eu jamais conseguiria ficar indiferente. Lídia chorava do outro lado da linha, em um tom lamentoso que parecia querer arrancar piedade. Mas ela estava chorando para a pessoa errada. Eu não sentia pena, e consolá-la estava fora de questão. Ainda assim, com base no que eu conhecia de Sebastião, fiz um comentário sincero: — Sebastião não é esse tipo de pessoa. Alguém que desistia da vid
Ao ouvir aquelas palavras, a imagem de Sebastião nos tempos de escola veio à minha mente. Aquele rapaz despreocupado, sempre com um sorriso travesso no rosto, como se nada no mundo pudesse abalá-lo. Naquela época, eu realmente achei que ele seria assim para sempre. Mas, em algum momento, ele mudou. E nós também mudamos, até chegar ao ponto em que tudo desmoronou. Talvez fosse por isso que disseram que o futuro era imprevisível. — Tião também pediu para eu cuidar bem dos nossos pais. E de você. — A voz de Miguel ficou mais grave, quase um sussurro. — Por último, ele disse que, se você se casar, quer saber. Ele gostaria de te dar seus parabéns pessoalmente. Meu peito apertou com aquelas palavras, e uma irritação crescente tomou conta de mim. Sebastião tinha causado tanto caos, feito todo mundo acreditar que estava à beira do abismo, mas, na verdade, tudo não passava de uma fuga. Ele só queria sumir. — Parece que ele não estava se despedindo, afinal. — Comentei, deixando o tom á
Meu corpo inteiro ficou tenso. Fiquei ali, imóvel, encarando George. O pai dele era motorista. Se o problema foi nos freios, então a responsabilidade recaía sobre ele. Por um instante, nenhum de nós disse nada. Ficamos apenas nos olhando, em silêncio. Depois de alguns segundos, George moveu a mão que estava sobre meu ombro e disse, com a voz firme: — Meu pai era o motorista. Se o problema foi nos freios, seja por falha humana ou por defeito no carro, a responsabilidade também era dele. Um frio percorreu meu corpo, mas não era causado pelo vento da noite. Era um frio que vinha de dentro, gerado pelas emoções conflitantes que me consumiam. Se eu e George não tivéssemos nos aproximado tanto, a responsabilidade do pai dele seria algo que eu poderia investigar de forma objetiva. Mas agora... Agora ele era a pessoa mais próxima de mim. Se realmente fosse culpa do pai dele, eu não sabia como iria lidar com isso. — Carol, você sabe que eu sempre estive investigando a morte do meu
Benedita era uma garota de coração tão puro e inocente que chegava a ser quase angelical. Mas, ao mesmo tempo, era sensível, perceptiva. Eu não podia deixar que meu estado de espírito acabasse afetando-a. Por isso, quando os dois voltaram da conversa no quintal, eu já tinha terminado minha porção de mousse de manga. E, para completar o quadro, ainda roubei uma colherada do prato de George. A cena era tão cômica que, para qualquer um, parecia mais coisa de quem estava de bom humor do que de alguém mal-humorado ou chateado. Ao ver meu ato, Benedita imediatamente assumiu que não havia problema algum entre mim e George. Os dois ficaram me olhando, surpresos, enquanto eu colocava a colherada na boca e, em um tom meio tímido, meio atrevido, disse: — Eu só queria comer mais um pouquinho. — Ah, então vou fazer outra porção agora! — Benedita exclamou, primeiro surpresa e depois meio arrependida por não ter feito mais. — Não precisa. Deixa ela terminar o meu. — Disse George, puxand
Nos dias seguintes, eu continuei dormindo com a Benedita. George, sendo o tipo de homem que conseguia me abraçar sem perder o controle, eu sabia que ele aguentaria essa situação. Mas ficava pensando: quando voltássemos para casa, como ele iria lidar com isso? Afinal, Benedita iria morar com a gente, e dividir o mesmo teto não seria tão simples. Passamos quatro dias na casa da Benedita. Isso foi algo que eu não esperava. Achei que, por conta da saúde dela, George estaria ansioso para levá-la logo para a cirurgia, mas ele parecia não ter pressa. Em vez disso, ele nos levou para pescar durante o dia e, à noite, preparava os pratos mais deliciosos para nós. Eu e Benedita só precisávamos aproveitar, como se fôssemos princesas vivendo em um verdadeiro paraíso. Era uma vida tão tranquila e perfeita que, se ficássemos mais alguns dias ali, eu não teria vontade de ir embora. — George, quando ficarmos velhos, vamos viver aqui. Acho que, morando nesse lugar, eu consigo chegar aos cento e
Pelo jeito, Benedita sabia exatamente a gravidade da sua condição. Também entendia que, se a cirurgia desse certo, seria como renascer. Mas, se não desse, tudo o que estava vivendo agora não passaria de uma lembrança. — Você ainda vai ter muito tempo para viver assim, pode confiar. — Disse, encostando minha testa na dela e tentando tranquilizá-la. — Carolina, meu irmão é muito bom em fingir que é forte, mas ele é teimoso e às vezes não sabe como se expressar. Não fica brava com ele, tá? — Benedita comentou de repente, com um tom tão sincero que me pegou desprevenida. Achei que ela queria falar da cirurgia e já estava pensando em como confortá-la, mas, antes que eu pudesse dizer algo, ela continuou: — Eu sei que você está dando uma lição nele esses dias. Acertei, né? Fiquei sem graça com a pergunta e dei um leve toque no braço dela. — Benê, de onde você tira essas ideias? Para de inventar coisas. — Carolina, não me trata como criança. Eu já li um monte de romances, sei mui
— Deita direito, vou escutar seu coração! — Gilberto disse enquanto tirava o estetoscópio do pescoço. Nós todos observávamos a cena em silêncio, tensos. George, que sempre tinha um semblante inabalável, estava claramente rígido, como se estivesse segurando a respiração. Era apenas um exame, não uma cirurgia, mas, mesmo assim, dava para sentir o nervosismo dele. Mais uma vez, percebi o quanto George prezava por Benedita. Sem pensar, segurei sua mão. Ele me olhou de lado, e eu apenas assenti levemente, tentando tranquilizá-lo. Benedita, no entanto, parecia paralisada. Ela apenas olhava fixamente para Gilberto, como se estivesse hipnotizada. Luana percebeu a situação e se aproximou, inclinando-se ligeiramente: — Deita direitinho e deixa o Dr. Gilberto ouvir seus batimentos. Não dói nada. Benedita já tinha falado com Luana antes e parecia ter criado uma simpatia imediata por ela. Foi só então que Benedita piscou os olhos e, obediente, se deitou na cama. Eu percebi clarament