Os olhos de George se estreitaram de repente, e eu, instintivamente, apertei os braços ao redor dele. — É isso? — Perguntei, quase sem fôlego. — Por que você acha isso? — Ele rebateu, em vez de responder. Eu estava prestes a dizer que foi Cátia quem mencionou algo do tipo, mas, antes que pudesse abrir a boca, ouvi a voz de Benedita chamando à distância: — Carolina, seu telefone está tocando sem parar! Ela vinha correndo em nossa direção, o que me deixou imediatamente preocupada. Benedita não podia correr por causa do coração. — Tudo bem, já vou! — Respondi, me levantando apressada do colo de George e correndo até ela. O telefone era de Cátia, que tinha ligado várias vezes. Algo urgente devia ter acontecido. — Alô, tia. — Atendi rapidamente. — Carol, por que você não atende? Aconteceu alguma coisa? — Cátia perguntou com a voz carregada de nervosismo. — Não, eu só não estava com o celular perto de mim. Ela suspirou aliviada do outro lado da linha. — Você me deixou
— George tem sorte. Nesta vida, encontrar e casar com você é um privilégio. — Comentou Cátia. Curvei levemente os lábios em um sorriso discreto, sem responder. Na verdade, quem era verdadeiramente sortuda era eu. No momento em que Sebastião me traiu, foi George quem apareceu, me curou e me salvou. — Vocês demoram para voltar? — Cátia perguntou de repente. — Não sei ao certo. — Respondi, evitando marcar uma data. Ela suspirou audivelmente. — Carol, quando voltar, venha conversar comigo. Estou com tanta coisa entalada aqui no peito que já nem sei mais o que fazer. Pensei na confusão que teve com Sebastião, resultado, em grande parte, da atitude dela de expulsar Lídia em um gesto de solidariedade a mim. Não podia recusar. — Pode deixar, tia. Assim que eu voltar, vou te visitar e ver o tio também. — Certo. E cuida bem de você, viu? Em lugares que você não conhece, é sempre bom redobrar a atenção. — Ela recomendou com um tom maternal. — Tá bom, vou cuidar. — Prometi. — E
Meu coração deu um salto! Cátia tinha acabado de dizer que Sebastião parecia estar deixando um testamento. Agora, Lídia vinha com essa história de que ele estava "arrumando as coisas". Era impossível ignorar: o comportamento dele estava fora do normal. De repente, flashes de um sonho que eu tinha tido há algum tempo vieram à minha mente. E com eles, aquela pergunta que Sebastião me fez um dia: "Se eu morresse, o que você faria?" Eu já não nutria amor nem ódio por ele. Para mim, Sebastião era um capítulo encerrado. Mas, diante de algo tão extremo como a morte, mesmo que fosse apenas um estranho, eu jamais conseguiria ficar indiferente. Lídia chorava do outro lado da linha, em um tom lamentoso que parecia querer arrancar piedade. Mas ela estava chorando para a pessoa errada. Eu não sentia pena, e consolá-la estava fora de questão. Ainda assim, com base no que eu conhecia de Sebastião, fiz um comentário sincero: — Sebastião não é esse tipo de pessoa. Alguém que desistia da vid
Ao ouvir aquelas palavras, a imagem de Sebastião nos tempos de escola veio à minha mente. Aquele rapaz despreocupado, sempre com um sorriso travesso no rosto, como se nada no mundo pudesse abalá-lo. Naquela época, eu realmente achei que ele seria assim para sempre. Mas, em algum momento, ele mudou. E nós também mudamos, até chegar ao ponto em que tudo desmoronou. Talvez fosse por isso que disseram que o futuro era imprevisível. — Tião também pediu para eu cuidar bem dos nossos pais. E de você. — A voz de Miguel ficou mais grave, quase um sussurro. — Por último, ele disse que, se você se casar, quer saber. Ele gostaria de te dar seus parabéns pessoalmente. Meu peito apertou com aquelas palavras, e uma irritação crescente tomou conta de mim. Sebastião tinha causado tanto caos, feito todo mundo acreditar que estava à beira do abismo, mas, na verdade, tudo não passava de uma fuga. Ele só queria sumir. — Parece que ele não estava se despedindo, afinal. — Comentei, deixando o tom á
Meu corpo inteiro ficou tenso. Fiquei ali, imóvel, encarando George. O pai dele era motorista. Se o problema foi nos freios, então a responsabilidade recaía sobre ele. Por um instante, nenhum de nós disse nada. Ficamos apenas nos olhando, em silêncio. Depois de alguns segundos, George moveu a mão que estava sobre meu ombro e disse, com a voz firme: — Meu pai era o motorista. Se o problema foi nos freios, seja por falha humana ou por defeito no carro, a responsabilidade também era dele. Um frio percorreu meu corpo, mas não era causado pelo vento da noite. Era um frio que vinha de dentro, gerado pelas emoções conflitantes que me consumiam. Se eu e George não tivéssemos nos aproximado tanto, a responsabilidade do pai dele seria algo que eu poderia investigar de forma objetiva. Mas agora... Agora ele era a pessoa mais próxima de mim. Se realmente fosse culpa do pai dele, eu não sabia como iria lidar com isso. — Carol, você sabe que eu sempre estive investigando a morte do meu
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm