Capítulo 03

Maya

Ao entrar na casa, tudo estava escuro e em silêncio, entregando que todas dormiam, exceto uma, que entrou logo atrás de mim.

— Maya! — Penny chamou-me alto ao passar pela porta.

— Uau! — exclamei ao vê-la usando um vestido brilhante e salto alto. — Onde estava? — perguntei curiosa.

— Com um cara — respondeu, rindo alto.

— Shhh... Vai acordar as meninas! — sussurrei.

— Foi mal — disse baixinho. — Eu bebi.

— Estou sentindo o cheiro — sussurrei de volta.

Penny me abraçou e subimos juntas a escada. O seu quarto era de frente para o meu e, ao chegarmos lá, ajudei-a abrir a porta e a coloquei para dentro, lhe dando boa-noite antes de sair. Parei diante da porta do meu quarto, sem nenhuma coragem de entrar. Tinha medo de que os dois ainda estivessem ali dentro.

— O que foi? — perguntou Penny ao abrir a porta do seu quarto e ainda me ver ali.

— Posso dormir com você hoje? — pedi encarando a madeira branca à minha frente.

— Pode, mas é claro — permitiu.

Entramos para o seu quarto e sentei-me à beirada da sua cama larga de casal. Penny dormia sozinha. Ela tinha condições suficientes para pagar o aluguel de um dormitório só para ela, sem ter que se sujeitar a dividi-lo com alguém.

— Vai falar o que aconteceu? — perguntou sentando-se na cadeira da mesa de estudos à minha frente.

Comecei a chorar feito uma criança perdida dos pais. Deixei as cenas do início daquela noite rolarem soltas por minha cabeça. Passei a noite toda reprimindo-as e tentando ser forte, porque precisava trabalhar. Penny ajoelhou-se à minha frente e segurou firme as minhas mãos entre as suas.

— O que houve, Maya? É a sua mãe? — perguntou preocupada.

— Não — disse em meio ao choro, negando com a cabeça.

— O que foi, então? Está me assustando.

— Mark me traiu.

— Ele o quê? — perguntou alto e incrédula. — Quando e com quem?

— Não sei há quanto tempo acontece, mas descobri hoje quando os flagrei no meu quarto e em cima da minha cama.

— Aquele filho da puta te traiu com uma das nossas irmãs? — Era assim como ela se referia às outras garotas da fraternidade. — Quem é a vadia? — perguntou irritada.

— É a Violet — respondi tão baixo, que saiu como um sussurro.

— A Violet? Mas como... — Ela fez uma pausa de segundos tentando compreender o que eu havia acabado de lhe contar. — Ah... mas eu mato aquela piranha! — disse entredentes, entregando o ódio evidente.

É... Eu também queria matá-la, mas sujar as minhas mãos com aquilo não valeria a pena. Penny abraçou-me e me consolou exercendo a sua função de melhor amiga.

Dias depois voltei para casa e comecei a curtir as minhas tão amadas férias de verão ao lado da minha família. As semanas foram passando e eu esquecia-me cada dia mais do cara que me magoou. Logo já era hora de voltar para faculdade e a minha rotina árdua.

Mudei-me para o quarto da Penny e mesmo ela se recusando, insisti em pagar a outra metade do aluguel. Violet começou a me evitar de todas as maneiras, mas, às vezes, era impossível não nos encontrarmos, já que morávamos na mesma casa. Mark tentou falar comigo algumas vezes, mas eu apenas o ignorei por completo. Foi difícil, mas consegui. Roger começou a fazer shows com mais frequência, o que era bom, porém, mais cansativo.

Nove meses se passaram e mais um ano letivo estava quase no fim. Já fazia um ano que Mark e eu havíamos terminado o nosso namoro, mas há algumas semanas comecei a ter problemas com ele no bar, que exigia ser atendido por mim e dava os seus ataques de ciúmes depois da quinta cerveja.

Houve uma noite em que ele estava muito bêbado e havia acabado de descobrir, através de uma m*****a fofoca, que eu estava dormindo com um dos seus professores. Não que isso fosse mentira ou algo escondido dele e de mais alguém, mas é que eu odiava fofocas, ainda mais quando iam parar nos ouvidos errados.

Mark sentiu-se no direito de exigir satisfações minhas e de bancar o valentão quando um velho babaca passou a mão na minha bunda e disse-me coisas nojentas. Eu já sabia como me resolver com clientes abusivos, mas meu ex-namorado idiota, não.

Da última vez, o velho abusou. Ele deu-me um forte tapa na bunda, que me fez sentir um ardor na pele e puxou-me pelo braço para o seu colo. Mark se levantou de onde estava e veio na nossa direção, a passos largos e apressados. Ele agarrou o meu antebraço com estupidez e tirou-me do colo do velho, empurrando-me para o lado.

Ele pegou o homem pela gola do colete de couro surrado e o pôs de pé, acertando um soco no seu rosto enrugado, fazendo-o cambalear para trás e cair sobre a mesa, derrubando as garrafas de cerveja sobre ela. Os homens que estavam com o velho levantaram-se e uma briga começou.

Logo Roger apareceu e Dirck pulou o balcão vindo ajudar a separar a confusão. Socos e garrafas voaram por todo lado, acertando até quem não estava na briga. Eu, de uma distância segura, gritava pedindo a Mark que parasse de socar o homem de idade, mas ele ignorou-me por completo.

Roger conseguiu conter a briga com um bastão de beisebol na mão e pôs todos para fora do bar. O velho e a sua turma, com Mark e os seus amigos igualmente bêbados a ele. Outra garçonete apareceu com panos e pás para limparmos a bagunça. Dirck pegou um pano e abaixou-se ao meu lado, ajudando-me a juntar os milhares de cacos de vidro espalhados no chão, enquanto eu limpava as bebidas derramadas e misturadas à comida pisoteada.

Desculpei-me com todos ali pelo ocorrido. Estava envergonhada e me sentindo extremamente culpada por estragar a noite de muitas pessoas e dos meus colegas de trabalho. Roger voltou para dentro e passou por mim pisando duro sobre o piso de madeira, que rangia no silêncio tenso.

— Essa já é terceira vez, Maya. Não haverá uma quarta! — alertou-me.

— Droga! — exclamei baixinho, vendo-o caminhar nervoso em direção ao seu escritório.

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