Maya
Ao entrar na casa, tudo estava escuro e em silêncio, entregando que todas dormiam, exceto uma, que entrou logo atrás de mim.
— Maya! — Penny chamou-me alto ao passar pela porta.
— Uau! — exclamei ao vê-la usando um vestido brilhante e salto alto. — Onde estava? — perguntei curiosa.
— Com um cara — respondeu, rindo alto.
— Shhh... Vai acordar as meninas! — sussurrei.
— Foi mal — disse baixinho. — Eu bebi.
— Estou sentindo o cheiro — sussurrei de volta.
Penny me abraçou e subimos juntas a escada. O seu quarto era de frente para o meu e, ao chegarmos lá, ajudei-a abrir a porta e a coloquei para dentro, lhe dando boa-noite antes de sair. Parei diante da porta do meu quarto, sem nenhuma coragem de entrar. Tinha medo de que os dois ainda estivessem ali dentro.
— O que foi? — perguntou Penny ao abrir a porta do seu quarto e ainda me ver ali.
— Posso dormir com você hoje? — pedi encarando a madeira branca à minha frente.
— Pode, mas é claro — permitiu.
Entramos para o seu quarto e sentei-me à beirada da sua cama larga de casal. Penny dormia sozinha. Ela tinha condições suficientes para pagar o aluguel de um dormitório só para ela, sem ter que se sujeitar a dividi-lo com alguém.
— Vai falar o que aconteceu? — perguntou sentando-se na cadeira da mesa de estudos à minha frente.
Comecei a chorar feito uma criança perdida dos pais. Deixei as cenas do início daquela noite rolarem soltas por minha cabeça. Passei a noite toda reprimindo-as e tentando ser forte, porque precisava trabalhar. Penny ajoelhou-se à minha frente e segurou firme as minhas mãos entre as suas.
— O que houve, Maya? É a sua mãe? — perguntou preocupada.
— Não — disse em meio ao choro, negando com a cabeça.
— O que foi, então? Está me assustando.
— Mark me traiu.
— Ele o quê? — perguntou alto e incrédula. — Quando e com quem?
— Não sei há quanto tempo acontece, mas descobri hoje quando os flagrei no meu quarto e em cima da minha cama.
— Aquele filho da puta te traiu com uma das nossas irmãs? — Era assim como ela se referia às outras garotas da fraternidade. — Quem é a vadia? — perguntou irritada.
— É a Violet — respondi tão baixo, que saiu como um sussurro.
— A Violet? Mas como... — Ela fez uma pausa de segundos tentando compreender o que eu havia acabado de lhe contar. — Ah... mas eu mato aquela piranha! — disse entredentes, entregando o ódio evidente.
É... Eu também queria matá-la, mas sujar as minhas mãos com aquilo não valeria a pena. Penny abraçou-me e me consolou exercendo a sua função de melhor amiga.
Dias depois voltei para casa e comecei a curtir as minhas tão amadas férias de verão ao lado da minha família. As semanas foram passando e eu esquecia-me cada dia mais do cara que me magoou. Logo já era hora de voltar para faculdade e a minha rotina árdua.
Mudei-me para o quarto da Penny e mesmo ela se recusando, insisti em pagar a outra metade do aluguel. Violet começou a me evitar de todas as maneiras, mas, às vezes, era impossível não nos encontrarmos, já que morávamos na mesma casa. Mark tentou falar comigo algumas vezes, mas eu apenas o ignorei por completo. Foi difícil, mas consegui. Roger começou a fazer shows com mais frequência, o que era bom, porém, mais cansativo.
Nove meses se passaram e mais um ano letivo estava quase no fim. Já fazia um ano que Mark e eu havíamos terminado o nosso namoro, mas há algumas semanas comecei a ter problemas com ele no bar, que exigia ser atendido por mim e dava os seus ataques de ciúmes depois da quinta cerveja.
Houve uma noite em que ele estava muito bêbado e havia acabado de descobrir, através de uma m*****a fofoca, que eu estava dormindo com um dos seus professores. Não que isso fosse mentira ou algo escondido dele e de mais alguém, mas é que eu odiava fofocas, ainda mais quando iam parar nos ouvidos errados.
Mark sentiu-se no direito de exigir satisfações minhas e de bancar o valentão quando um velho babaca passou a mão na minha bunda e disse-me coisas nojentas. Eu já sabia como me resolver com clientes abusivos, mas meu ex-namorado idiota, não.
Da última vez, o velho abusou. Ele deu-me um forte tapa na bunda, que me fez sentir um ardor na pele e puxou-me pelo braço para o seu colo. Mark se levantou de onde estava e veio na nossa direção, a passos largos e apressados. Ele agarrou o meu antebraço com estupidez e tirou-me do colo do velho, empurrando-me para o lado.
Ele pegou o homem pela gola do colete de couro surrado e o pôs de pé, acertando um soco no seu rosto enrugado, fazendo-o cambalear para trás e cair sobre a mesa, derrubando as garrafas de cerveja sobre ela. Os homens que estavam com o velho levantaram-se e uma briga começou.
Logo Roger apareceu e Dirck pulou o balcão vindo ajudar a separar a confusão. Socos e garrafas voaram por todo lado, acertando até quem não estava na briga. Eu, de uma distância segura, gritava pedindo a Mark que parasse de socar o homem de idade, mas ele ignorou-me por completo.
Roger conseguiu conter a briga com um bastão de beisebol na mão e pôs todos para fora do bar. O velho e a sua turma, com Mark e os seus amigos igualmente bêbados a ele. Outra garçonete apareceu com panos e pás para limparmos a bagunça. Dirck pegou um pano e abaixou-se ao meu lado, ajudando-me a juntar os milhares de cacos de vidro espalhados no chão, enquanto eu limpava as bebidas derramadas e misturadas à comida pisoteada.
Desculpei-me com todos ali pelo ocorrido. Estava envergonhada e me sentindo extremamente culpada por estragar a noite de muitas pessoas e dos meus colegas de trabalho. Roger voltou para dentro e passou por mim pisando duro sobre o piso de madeira, que rangia no silêncio tenso.
— Essa já é terceira vez, Maya. Não haverá uma quarta! — alertou-me.
— Droga! — exclamei baixinho, vendo-o caminhar nervoso em direção ao seu escritório.
MayaEstar no terceiro ano de medicina, não era nada fácil. Ainda mais quando você trabalhava à noite. Estava trabalhando mais do que nunca e estudando loucamente para os exames finais que me libertariam para mais um verão. Andava vivendo em uma contagem regressiva para ir para casa e ver os meus pais que passavam por mais uma fase difícil na vida. A minha mãe encontrava-se doente outra vez. Agora, o câncer era bem mais complicado do que o anterior.Finalmente as provas acabaram e decidi dar um tempo com o professor de cálculo. O sexo com ele era legal, mas nada que me surpreendesse ou que me desse a aventura que esperava viver com um cara mais velho. Quanto ao Mark, após ter agido como um homem das cavernas, há algumas noites, ele nem mesmo tentou desculpar-se. O que provou que era mais idiota do que eu imaginava.Era sábado à noite e eu estava de folga devido ao movimento fraco no bar, devido às férias que começavam. Penny me convidou para ir a uma festa na casa de um amigo que eu n
Maya— Desculpe-me. Só quis dar a você uma noite legal. Eles não vão lhe tocar, se você não quiser! — disse Penny, tentando consertar a situação, como se a sua justificativa fosse o suficiente para resolver o que ela fez.— Você é minha melhor amiga. Como pode fazer isso comigo? Por que me trouxe até aqui? — perguntei irada.— Desculpe-me, por favor, Maya! — implorou aos sussurros. — Não faça nenhum escândalo! — pediu olhando para os lados, procurado se eu havia chamado a atenção indesejada de alguém com a minha voz alta.— Mas o que você é, afinal? Pensei que fosse minha amiga. Não sei se você já percebeu, mas não preciso de mais complicações na minha vida!Coloquei a taça que tinha na mão sobre o balcão e saí andando sem saber para onde exatamente eu estava indo. Atravessei o salão esbarrando-me nas pessoas, até chegar ao corredor que me levou a uma enorme porta de madeira entreaberta. Empurrei-a e passei por ela encontrando uma linda varanda com iluminação à luz de velas. A vista d
Maya— Você está trabalhando há dois anos e já está cansada e desgastada. Imagina quem trabalha desde os doze anos — disse com os olhos cheios de lágrimas.— Não é o seu caso. Acredito que possa ser o de algumas garotas, mas não o seu. Os seus pais cuidam de você, Penny!— Não. Não cuidam, Maya. Eu nem mesmo sei onde eles estão — disse em meio ao choro que começava.— O quê? Você disse que...— Eu sei o que disse — interrompeu-me. — Mas não é verdade. Os meus pais não estão na Suíça. O meu pai foi preso por matar um homem quando eu tinha nove anos. Ele pegou vinte anos de prisão. Eu morava em um trailer com a minha mãe em Indiana. Ela é uma alcoólatra com um namorado por noite e nunca se importou comigo. Mal durava um dia em um emprego, então como poderia cuidar de mim? — Lágrimas escorriam abundantemente por seu rosto.— Penny... — chamei-a aproximando-me em passos lentos.Eu pude ver a dor e angústia no seu rosto. O meu coração se apertou, fazendo-me sentir culpada por seu choro. Ab
Maya— O que eu faço? — perguntei a Penny.— Espera ele se virar para o outro lado e... corra! — Penny se levantou arrastando-me pelo braço até ao banheiro feminino e trancou a porta depois de entramos.— Não posso passar o resto da minha noite de trabalho trancada em um banheiro por causa de um louco! — disse nervosa.— Talvez, quando ele não achar você, vá embora. — Forçou um sorriso e uma calma inexistente.— Que droga! — exclamei dando um forte tapa em uma das portas dos sanitários. — Roger já não está muito satisfeito comigo, desde a última confusão do Mark. Se ele me pegar aqui no banheiro, eu... — Uma forte batida na porta interrompeu-me, nos assustando.— Quem é? — perguntou Penny.— Maya! — gritou Roger lá de fora.Penny abriu a porta vagarosamente e Roger estava parado depois dela, de braços cruzados e com uma feição nítida de descontentamento.— Oi — disse Penny para ele.— Dê um jeito naquilo. — Roger apontou para o final do corredor. — Que não aconteça mais uma briga nest
Maya— Maya! — Ouvi o som irritante da voz do Mark gritar por mim, enquanto eu caminhava pela calçada de volta para a fraternidade.— O que você quer? — perguntei alto e rude. — Já não conseguiu o que tanto queria? Eu não tenho mais o emprego!— Desculpe-me, por favor! — implorou acompanhando-me lentamente com o carro, próximo ao meio-fio.— Desaparece, Mark! — mandei rude.— Deixa eu levar você para o campus. Já está bem tarde e é perigoso.— Vai à merda! — gritei parando na calçada e o encarando. — Deixe-me em paz! Segue a sua vida e deixa eu seguir a minha! — Mark parou o carro e desceu batendo a porta com força.— Perdoa-me. Eu imploro! Por que você é tão dura comigo? Será que dá para você me desculpar?— Não! Não dá, Mark. Você é um cretino egoísta. Eu precisava daquele emprego e você melhor do que ninguém sabe disso. Você tem conhecimento do que está acontecendo na minha vida. Por que insiste em me causar problemas? Eu avisei e pedi inúmeras vezes para ficar longe de mim, para m
MayaVesti e observei-o no meu corpo pelo reflexo no espelho. Por um segundo, pensei que talvez ele pudesse valer mil e quatrocentos dólares. Ele me deixou surpresa e boquiaberta. Era lindo e perfeito! Nunca havia vestido algo tão belo e luxuoso antes. Calcei o par de sandálias que estavam no provador, e quando Penny me chamou impaciente pela segunda vez, saí a vendo sorrir admirada.— Uau! — expressou ela boquiaberta. — Você está...— Linda! — Uma voz grossa a interrompeu terminando a sua frase.— Victor! Oi, como vai? — cumprimentou Penny.Olhei para o lado um tanto surpresa em vê-lo ali. Ele encarava-me com um olhar faminto e um pequeno sorrisinho enigmático no rosto.— Senhor White — disse ao cumprimentá-lo.— Olá, Valentina — disse com o seu sorriso largo. — Vocês estão maravilhosas. Vão à festa esta noite?— Sim, eu vou — respondeu Penny.— E você? — perguntou ele voltando a sua atenção para mim.— Não — respondi sentindo-me desconcertada.— É uma pena. — Ele aproximou-se. — Fic
MayaDevidamente arrumada, ajudei Penny a ondular os seus cabelos e finalizar a sua maquiagem. Enquanto calçava as minhas sandálias, sentada à beirada da cama, ela olhou pela janela e avisou que o carro já havia chegado.— Bem pontual — disse olhando as horas no meu celular.A caminho da festa, acomodada no assento traseiro da limusine, convenci-me de que a noite seria para estar com pessoas diferentes de Mark, beber, dançar e, principalmente, me divertir.— Parece nervosa — disse Penny.— Um pouco — confessei.— Não tem motivo estar nervosa. Você está linda e com certeza vai chamar a atenção de todos — disse sorrindo confiante.— Não sei o que o Victor espera de mim com tudo isso.— Tudo isso o quê? O vestido? A limusine?Assenti.— Relaxa! Ele é um homem simpático e respeitoso. É claro que ele espera que você ao menos o acompanhe esta noite, mas tenho certeza de que ele lhe tratará muito bem. E não é porque você estará lá, ou com ele, que os outros vão pensar ou dizer que você é uma
MayaDepois de mais uma taça de champanhe e uma hora de conversa boba com Victor, eu conseguia me sentir mais à vontade no ambiente da festa. Ele me contou histórias engraçadas da adolescência e da sua primeira viagem fora do país sozinho, sempre um assunto se emendando ao outro.Penny reapareceu com outro homem, que eu não fazia a menor ideia de quem era. Ele engajou em uma conversa de negócios com Victor, fazendo com que eu e ela ficássemos de lado.— Lola, vamos ao banheiro? — chamei-a no intuito de nos livrar daquele tédio e do assunto que não entendíamos nada.— Vamos — concordou levantando-se.— Então, o que houve com o Rick? — perguntei a caminho ao banheiro.— Ele teve que ir — disse ela nada contente, retorcendo o bico para o lado.— Por quê? O que houve?— Eu não sei, ele não me disse nada e eu também não perguntei.— É assim que funciona? — perguntei curiosa.— É! A vida dele não é da minha conta, do mesmo jeito que a minha não é da dele — explicou ao entrarmos no banheiro.