Capítulo 06

Maya

— Você está trabalhando há dois anos e já está cansada e desgastada. Imagina quem trabalha desde os doze anos — disse com os olhos cheios de lágrimas.

— Não é o seu caso. Acredito que possa ser o de algumas garotas, mas não o seu. Os seus pais cuidam de você, Penny!

— Não. Não cuidam, Maya. Eu nem mesmo sei onde eles estão — disse em meio ao choro que começava.

— O quê? Você disse que...

— Eu sei o que disse — interrompeu-me. — Mas não é verdade. Os meus pais não estão na Suíça. O meu pai foi preso por matar um homem quando eu tinha nove anos. Ele pegou vinte anos de prisão. Eu morava em um trailer com a minha mãe em Indiana. Ela é uma alcoólatra com um namorado por noite e nunca se importou comigo. Mal durava um dia em um emprego, então como poderia cuidar de mim? — Lágrimas escorriam abundantemente por seu rosto.

— Penny... — chamei-a aproximando-me em passos lentos.

Eu pude ver a dor e angústia no seu rosto. O meu coração se apertou, fazendo-me sentir culpada por seu choro. Abaixei-me à sua frente e segurei as suas mãos.

— Quando fiz doze anos comecei a trabalhar em uma lanchonete na cidade onde eu morava. Aos dezesseis tinha grana o suficiente para me mandar dali e deixar aquela vida ordinária para trás. Eu fui para Dallas. Lá, eu conheci um cara que se dispôs a me ajudar. Ele me arrumou um emprego de garçonete na sua boate, mas eu precisava de mais grana para conseguir ir para a faculdade. Então pedi um aumento e ele disse que não poderia me dar, mas que tinha outro jeito de me ajudar.

— Meu Deus... — murmurei horrorizada.

— Ele me apresentou a um homem. Um que se tornou o meu cliente mais fiel. Ele gostava de mim e então pagou pela minha exclusividade. Deu-me um lugar decente para morar, custeou todas as minhas despesas e eu pude voltar a estudar.

— Foi ele quem pagou pela sua faculdade? — perguntei e ela assentiu.

— Quando me mudei para cá, as coisas ficaram difíceis entre nós por causa da distância e a falta de tempo. Nos encontramos algumas vezes, mas quase nunca ele podia vir e eu nunca podia ir até ele. Então decidiu ser hora de acabar. Eu precisava de grana para me manter na faculdade, aí ele me apresentou a uma amiga dele que morava aqui na cidade e ela me levou para onde estou hoje.

— Eu sinto muito — disse com pesar e pena. Éramos melhores amigas, mas não tinha conhecimento algum do seu sofrimento.

— Não sinta — pediu sorrindo tristemente. — Eles me mimam com presentes caros, bons restaurantes e me pagam muito bem. Sem contar que alguns são lindos e bom de cama. — Abriu um sorriso. — Não me julgue, por favor. Ainda somos amigas, não é? — perguntou desfazendo o sorriso.

— Claro que somos! — Levantei-me e sentei ao seu lado. — Mas você tem que entender que aquilo me assustou.

— Desculpe-me — pediu dando-me um abraço.

— Claro que desculpo. Mas que não aconteça novamente!

Ficamos por mais um tempo sentadas na sua cama e ela me contou mais algumas coisas sobre a sua vida que eu desconhecia. Coisas que nunca imaginei que ela poderia ter passado. Agora entendia tudo, não poderia julgá-la. Isso não era ser melhor amiga.

Mais tarde, era meu último dia de trabalho antes de estar oficialmente de férias. Trabalhava feliz e ansiosa para voltar logo para casa e ver a minha família. A noite estava tranquila e o bar não estava muito cheio. Continuei a servir e limpar as mesas, até que Dirck me chamou no balcão de bebidas.

— Não olha agora, mas o sr. Encrenca está aqui — disse olhando para a entrada do bar.

Olhei disfarçadamente por cima do meu ombro e vi Mark entrar com duas garotas agarradas a ele e os seus amigos. Pela cara das pirralhas eram calouras. Ele encarou-me com superioridade empinando o seu nariz e arqueando a sobrancelha.

— Grande babaca! — disse baixo olhando para frente outra vez.

Ele se sentou em uma mesa no centro do bar com as garotas ao seu lado, rindo alto para chamar a minha atenção e sempre olhando para onde eu estava. Continuei a servir os outros clientes, inclusive os amigos do sr. Babaca. Eu o ignorei por completo, o que o deixou visivelmente furioso. Se ele acreditou que as garotas me causariam ciúmes, ele se enganou.

Penny estava no bar com uma das nossas colegas da fraternidade e eu estava as servindo quando ela arregalou os olhos em direção à porta e segurou o meu punho com força, impedindo-me de me afastar.

— O que foi? — perguntei confusa.

— Higor Blackwood, acabou de entrar.

— Ai, merda! — resmunguei abaixando-me ao seu lado, na tentativa de esconder-me dele.

Higor Blackwood era líder de um moto clube de Dallas. Estava tentando curar a minha depressão pós-término, quando ele apareceu na cidade e acabamos juntos na cama de um motel. O que era para ser um caso de apenas uma noite, acabou se prolongando um pouco mais e, como quase tudo na minha vida, acabou em problemas.

Ele era para ser apenas uma distração de um metro e oitenta, longos cabelos castanho-claros até os ombros, corpo sarado e lindos olhos azuis, mas não! Eu tinha que querer mais uma vez, graças a sua pegada forte e quente. Quem estragou tudo, na verdade, fui eu. Estava carente e queria atenção, mas acabei deixando transparecer algo a ele que não era real da minha parte. A culpa era minha, admito.

Uma manhã, antes de ir para casa, ele disse estar apaixonado por mim. Já fazia alguns meses que estávamos transando, mas não esperava uma declaração daquelas. Surpresa e sem saber ao certo que lhe dizer, eu disse a verdade. Eu não o amava, ele era apenas um caso. Higor ficou irritado e disse que me faria arrepender por chutá-lo após usá-lo.

Certa noite, dois meses depois, ele apareceu no bar e depois de beber todas, arranjou confusão com um dos homens que eu atendia. A sua agressividade deixou-me com medo e assustada. Roger o expulsou e eu não o via há três meses, até aquele momento.

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