Maya
— O que eu faço? — perguntei a Penny.
— Espera ele se virar para o outro lado e... corra! — Penny se levantou arrastando-me pelo braço até ao banheiro feminino e trancou a porta depois de entramos.
— Não posso passar o resto da minha noite de trabalho trancada em um banheiro por causa de um louco! — disse nervosa.
— Talvez, quando ele não achar você, vá embora. — Forçou um sorriso e uma calma inexistente.
— Que droga! — exclamei dando um forte tapa em uma das portas dos sanitários. — Roger já não está muito satisfeito comigo, desde a última confusão do Mark. Se ele me pegar aqui no banheiro, eu... — Uma forte batida na porta interrompeu-me, nos assustando.
— Quem é? — perguntou Penny.
— Maya! — gritou Roger lá de fora.
Penny abriu a porta vagarosamente e Roger estava parado depois dela, de braços cruzados e com uma feição nítida de descontentamento.
— Oi — disse Penny para ele.
— Dê um jeito naquilo. — Roger apontou para o final do corredor. — Que não aconteça mais uma briga neste bar por sua causa! — disse alto.
Apenas assenti e saí do banheiro passando por ele. Penny veio logo atrás de mim e segurou a minha mão. Quando voltei ao bar, Higor estava sentado em uma mesa com os seus amigos ao lado da mesa do Mark. Respirei fundo, peguei a minha bandeja com cervejas sobre o balcão e as levei até à mesa do sr. Babaca.
— Oi, Maya — cumprimentou Kevin, um dos meus colegas do curso.
— Oi, Kevin. Aqui estão as cervejas que pediram. Mais alguma coisa? — perguntei ao terminar de servi-los.
— Que você beba com a gente — respondeu ele, rindo.
— Eu bem que gostaria, mas não posso — disse sentindo o olhar de Mark queimar sobre mim.
— Maya? — Uma voz grossa chamou-me por trás. Virei tensa e vi o Higor. — Já faz três meses.
— Oi, Higor. É... três meses — disse desconcertada e com um pouco de medo.
— A gente... pode conversar? — pediu ele.
— Eu não posso agora — respondi antes de afastar-me.
— Por favor, Maya — insistiu segurando o meu antebraço.
— Larga ela! — mandou Mark se levantando da cadeira.
— Tudo bem — concordei rápido com o Higor, a fim de evitar uma briga. — Venha. Vamos lá para fora. — Segui para a porta e ele veio logo atrás.
— Maya... quero lhe pedir desculpas — disse ao sairmos do bar.
— Está tudo bem, Higor. Já faz tempo, então... está tudo bem — tentei afirmar uma mentira, mantendo uma distância segura entre nós.
— Eu não voltei antes, porque não sabia se você estaria pronta para me desculpar — disse aproximando-se a passos lentos. — Estava muito bêbado naquela noite. Você me magoou e isso me deixou com raiva. Agi por puro impulso.
— Olha, Higor. Eu sei que te magoei, mas fui apenas honesta com você. Desde a terceira noite em que dormimos juntos, combinamos que tudo não seria nada além de sexo e...
— E eu confundi as coisas, já entendi — interrompeu-me. Talvez eu tenha contribuído para isso. — Mas eu ainda gosto de você, Maya.
Fiquei um tanto surpresa em ouvir isso e sem nenhuma reação para respondê-lo. Ele fechou o pouco espaço entre nós e imprensou-me contra a parede do bar. No seu olhar sedutor, não havia nenhum sinal do homem louco de três meses atrás que me deixou com medo.
Higor aproximou a sua boca da minha e beijou os meus lábios delicadamente, iniciando um beijo lento. As suas mãos foram para minha cintura, trazendo o meu corpo para mais junto ao seu. Nossa... tinha me esquecido de como o seu cheiro era bom e a sua boca gostosa.
Fiquei nas pontas dos pés e entreguei-me ao seu arrocho. Passei os meus braços por seu pescoço, entranhando as minhas mãos nos seus cabelos macios na nuca. Ele desceu uma das suas mãos até a base da minha coluna, deixando-me sentir os seus dedos na minha bunda.
Higor apertou-me ainda mais contra o seu corpo, fazendo com que eu sentisse a sua ereção se comprimir contra a minha barriga. Isso claramente me deixou excitada. Involuntariamente soltei um gemido baixo nos seus lábios quentes. Ele quebrou o nosso beijo mordendo o meu lábio inferior e abaixou a sua cabeça, deixando um beijo leve no meu pescoço, fazendo-me arrepiar.
— Nada mal para um beijo de adeus — sussurrou no meu ouvido e soltou o meu corpo. — Se um dia me quiser, Maya... sabe exatamente onde me encontrar. — Deu-me um beijo na testa e afastou-se entrando novamente no bar.
— O que foi isso? — sussurrei para mim mesma, surpresa com o calor que aquele beijo me causou.
Recuperei o meu fôlego rapidamente e entrei logo depois dele, ainda um pouco tensa com o beijo, quando ouvi Penny gritar:
— Cuidado! Mark, não!
Olhei para o lado e Mark havia acertado um soco no rosto do Higor, que revidou de imediato levando os dois para o chão. Eles rolavam no piso sujo aos murros. Eu me apavorei e comecei a gritar pedindo para que os dois parassem com aquilo. Logo os amigos de Mark apareceram para tentar separar a briga que ele estava perdendo feio.
— Parem! — berrou Roger com um taco de beisebol nas mãos. — Todos vocês... — apontou o taco de madeira lustrada para o tumulto da confusão — fora do meu bar. Agora! — berrou novamente.
Ligeiramente, Mark saiu com a sua turma e as periguetes com quem estava. Higor foi logo em seguida com o seu moto clube.
— Maya, você está bem? — perguntou Dirck.
— Espero que esteja, porque está demitida! — respondeu Roger, antes de dar-me as costas.
Envergonhada, mais uma vez, desci até o depósito de bebidas e peguei a minha bolsa para ir embora. Desempregada e com uma mãe cada vez mais doente. Ótimo! Será que a minha vida pode ficar pior? Não sei o que fazer agora! Voltar para casa e contar ao meu pai que havia perdido o emprego que me mantinha na faculdade, não era uma opção. Não queria preocupá-lo ainda mais.
Maya— Maya! — Ouvi o som irritante da voz do Mark gritar por mim, enquanto eu caminhava pela calçada de volta para a fraternidade.— O que você quer? — perguntei alto e rude. — Já não conseguiu o que tanto queria? Eu não tenho mais o emprego!— Desculpe-me, por favor! — implorou acompanhando-me lentamente com o carro, próximo ao meio-fio.— Desaparece, Mark! — mandei rude.— Deixa eu levar você para o campus. Já está bem tarde e é perigoso.— Vai à merda! — gritei parando na calçada e o encarando. — Deixe-me em paz! Segue a sua vida e deixa eu seguir a minha! — Mark parou o carro e desceu batendo a porta com força.— Perdoa-me. Eu imploro! Por que você é tão dura comigo? Será que dá para você me desculpar?— Não! Não dá, Mark. Você é um cretino egoísta. Eu precisava daquele emprego e você melhor do que ninguém sabe disso. Você tem conhecimento do que está acontecendo na minha vida. Por que insiste em me causar problemas? Eu avisei e pedi inúmeras vezes para ficar longe de mim, para m
MayaVesti e observei-o no meu corpo pelo reflexo no espelho. Por um segundo, pensei que talvez ele pudesse valer mil e quatrocentos dólares. Ele me deixou surpresa e boquiaberta. Era lindo e perfeito! Nunca havia vestido algo tão belo e luxuoso antes. Calcei o par de sandálias que estavam no provador, e quando Penny me chamou impaciente pela segunda vez, saí a vendo sorrir admirada.— Uau! — expressou ela boquiaberta. — Você está...— Linda! — Uma voz grossa a interrompeu terminando a sua frase.— Victor! Oi, como vai? — cumprimentou Penny.Olhei para o lado um tanto surpresa em vê-lo ali. Ele encarava-me com um olhar faminto e um pequeno sorrisinho enigmático no rosto.— Senhor White — disse ao cumprimentá-lo.— Olá, Valentina — disse com o seu sorriso largo. — Vocês estão maravilhosas. Vão à festa esta noite?— Sim, eu vou — respondeu Penny.— E você? — perguntou ele voltando a sua atenção para mim.— Não — respondi sentindo-me desconcertada.— É uma pena. — Ele aproximou-se. — Fic
MayaDevidamente arrumada, ajudei Penny a ondular os seus cabelos e finalizar a sua maquiagem. Enquanto calçava as minhas sandálias, sentada à beirada da cama, ela olhou pela janela e avisou que o carro já havia chegado.— Bem pontual — disse olhando as horas no meu celular.A caminho da festa, acomodada no assento traseiro da limusine, convenci-me de que a noite seria para estar com pessoas diferentes de Mark, beber, dançar e, principalmente, me divertir.— Parece nervosa — disse Penny.— Um pouco — confessei.— Não tem motivo estar nervosa. Você está linda e com certeza vai chamar a atenção de todos — disse sorrindo confiante.— Não sei o que o Victor espera de mim com tudo isso.— Tudo isso o quê? O vestido? A limusine?Assenti.— Relaxa! Ele é um homem simpático e respeitoso. É claro que ele espera que você ao menos o acompanhe esta noite, mas tenho certeza de que ele lhe tratará muito bem. E não é porque você estará lá, ou com ele, que os outros vão pensar ou dizer que você é uma
MayaDepois de mais uma taça de champanhe e uma hora de conversa boba com Victor, eu conseguia me sentir mais à vontade no ambiente da festa. Ele me contou histórias engraçadas da adolescência e da sua primeira viagem fora do país sozinho, sempre um assunto se emendando ao outro.Penny reapareceu com outro homem, que eu não fazia a menor ideia de quem era. Ele engajou em uma conversa de negócios com Victor, fazendo com que eu e ela ficássemos de lado.— Lola, vamos ao banheiro? — chamei-a no intuito de nos livrar daquele tédio e do assunto que não entendíamos nada.— Vamos — concordou levantando-se.— Então, o que houve com o Rick? — perguntei a caminho ao banheiro.— Ele teve que ir — disse ela nada contente, retorcendo o bico para o lado.— Por quê? O que houve?— Eu não sei, ele não me disse nada e eu também não perguntei.— É assim que funciona? — perguntei curiosa.— É! A vida dele não é da minha conta, do mesmo jeito que a minha não é da dele — explicou ao entrarmos no banheiro.
MayaNa manhã seguinte, acordei animada arrumando as minhas coisas para voltar para casa e rever os meus pais. Quando subi de volta para o quarto, depois do café da manhã, havia uma mensagem no meu celular de um número desconhecido.Bom dia, linda Valentina.Agradeço, mais uma vez, pela ótima companhia que me fez na noite passada.E, novamente, você estava deslumbrante.Victor09:20 a.m.Bom dia, Victor. Eu que lhe agradeço.Foi uma ótima noite.Valentina09:34 a.m.Por um momento pensei em dizer o meu nome a ele, mas ainda não. Aquele não era o momento certo para deixá-lo mais próximo a quem era de verdade.Jante comigo esta noite?Posso fazer uma ótima reserva em um bom restaurante.Victor09:35 a.m.Desculpe-me, mas não posso.Fica para outra oportunidade.Valentina09:36 a.m.É uma pena que você já tenha algo de mais interessante para esta noite.Victor09:36 a.m.Não é isso.Estou indo para casa, em Tulsa.Valentina09:37 a.m.Quando volta?Não me deixe esperando por você.
MayaNo dia seguinte, ele bateu na porta dizendo que já passava das oito da manhã. Depois de me arrumar, desci para o café e saímos juntos para o hospital. Quando as portas do elevador se abriram no quarto andar, senti um enorme frio se instalar no meu estômago. Caminhamos pacientemente pelo corredor movimentado até o quarto. O meu pai abriu a porta e avistei a minha mãe deitada na cama. Aproximei-me dela e a observei dormir com tranquilidade.A sua cabeça, sem nem um fio de cabelo, estava coberta por um lenço que lhe dei quando descobrimos o câncer de mama. Ela estava pálida e bem mais magra que a última vez que a vi. Senti-me tão culpada por estar longe de casa naquele momento tão delicado e doloroso das nossas vidas.Sem perceber, uma lágrima quente e solitária escorreu por meu rosto sem nenhum aviso. Segurei a sua mão magra, notando que a sua pele estava marcada por hematomas de uma cor amarelada misturada com algumas pequenas manchinhas roxas. Eram marcas que denunciavam onde a s
Maya— Minha querida, você não tem que... — começou a dizer sentando-se na sua cadeira do outro lado da mesa.— Nem comece, pai! — interrompi-o. — Pare de me tratar como criança. Primeiro você e mamãe tentaram me esconder a doença dela na segunda vez. Depois que venderam dois dos nossos carros e agora isso? — disse irritada, apontando para a pasta sobre a mesa. — O que mais está acontecendo? Ou você me diz... ou vou descobrir sozinha! — gritei, impondo-me.— Hipotequei a nossa casa há três meses, mas não tive nem mesmo como pagar a primeira parcela. Tive que dispensar mais da metade do quadro de funcionários no mês passado, por não ter como pagá-los. Mesmo com o novo sócio, não teríamos como bancar salário e bônus de fim de ano para toda essa gente. Se não bastasse isso, o serviço está reduzido. Mal tenho renda para pagar o plano de saúde que está cada vez mais caro e os remédios que custam uma fortuna, os quais não são disponibilizados pelo governo ou cobertos pelo plano.— Sócio? —
MayaApós muita conversa, Grace deixou-me em casa e marcamos um passeio pela cidade para o dia seguinte na parte da tarde. Ao entrar em casa, encontrei o meu pai dormindo recostado na sua poltrona velha, com a TV ligada no canal de esportes e segurando uma garrafa de cerveja vazia na mão.Bow, o seu companheiro de todas as noites, estava deitado no chão sobre o carpete felpudo aos seus pés. Peguei a garrafa da sua mão e desliguei a TV, ligando a luz da sala.— Oi, filha — disse com a voz sonolenta ao acordar com a luz acesa.— Oi, pai. Já são quase dez horas. Eu cheguei agora.— Eu fui até o hospital e você não estava. A sua avó disse que você tinha ido jantar com a Grace.— É, ela me trouxe.— Se divertiram? — perguntou levantando-se da poltrona.— Sim. Você já jantou? — perguntei preocupada.Ultimamente ele vinha cuidando de tudo, menos de si mesmo. Reparei isso quando cheguei, sem ninguém me dizer nada. Ele estava bem mais magro do que o normal.— Sim, querida. Já tomei banho e esc