Há algumas semanas, ele estava namorando uma digital influencer da qual não gostávamos muito. Então após o término conturbado, o qual o motivo não sabíamos, disse que passaria o Natal longe de casa e foi para o México há uma semana.— Noivos? — perguntei um pouco chocada.— É — respondeu Caleb, engolindo em seco. Ele estava nervoso.— Você está grávida? — Victor perguntou para a menina, sem delongas. Eu o cutuquei com meu cotovelo, encarando-o com reprovação.— Não, pai. A Maria não está grávida.— Por que ela não fala? Ela não sabe inglês?A menina estava nervosa. As mãos se contorciam. Apesar de parecer que não entendia nem uma palavra, entendia que a situação estava ficando tensa.— Não. A gente pode conversar em espanhol?— Acho que primeiro nós dois devíamos ter uma conversinha em particular. — Victor usou um tom rude. Maria deu um passo para trás, quase se escondendo atrás de Caleb.— Okay! — disse, batendo as palmas e chamando a atenção de todos para mim. — Todos tranquilos. ¿U
Deixei a sala e subi para o quarto. Victor estava no banho. Quando saiu e viu-me sentada na beirada da cama, encarando as caixas sobre as minhas coxas, ele se aproximou. Nu.Parou à minha frente, com o pau a um palmo de distância da minha face. Olhei para ele e ri.— O que tem nas suas mãos? — perguntou curioso, secando os cabelos com a toalha.— São presentes para as meninas. Enviados pela Eliza.Ele parou o que fazia e encarou-me com o cenho franzido.— Me dê isso! — ordenou, jogando a toalha no chão.Entreguei as caixas para ele, que abriu uma e depois a outra.— O que tem aí?— Bonecas de pano. Fotos minhas e... uma carta.— Posso ver?Entregou-me as caixas.As bonecas eram lindas, feitas à mão. As fotos me fizerem sorrir. Era Victor quando mais novo. Os cabelos ainda escuros, pele sem rugas, sorriso contagiante como ainda é.Victor apanhou a carta e a abriu-a. Não era para as meninas. Era para ele. Em silêncio, a leu sentado ao meu lado. Quando acabou, colocou-a de volta no envel
Após o café da manhã, subi para me arrumar. Quando desci, encontrei as meninas dependuradas no avó que estava de pé no meio da sala, ao lado da Chloe. Eles já eram esperados para esse Natal, mas haviam chegado mais cedo. Eu adorei a surpresa. Isso significava mais tempo com o meu pai e sua nova esposa. Depois de mais algum tempo, as surpresas na manhã de Natal não pararam. A cada vez que a campainha tocava, eu entrava em completa euforia. Victor não havia apenas planejado uma ceia de Natal. Ele havia planejado uma grande festa. Clarice, Grace, Sasha, Maggie, Kim, Penny... Estavam todos ali. A casa estava cheia, barulhenta e feliz. Eu não tenho ligação sanguínea com nenhuma dessas pessoas. Mas não é preciso ter para que sejam a minha família. Para que eu os ame! Mary e Louise estavam tão eufóricas quanto eu. Elas ganharam mais presentes do que no aniversário. Rasgaram todas as embalagens e se divertiram com tudo o que ganharam. Mary me pediu a câmera e tirou muitas fotos, até que o
Todos voltaram a conversar e a rir. Olhei para Grace e ela sorriu para mim, colocando um pedaço do frango na boca. O sorriso chegava aos olhos que me diziam que ela sabia exatamente o que estava acontecendo ali. Senti meu rosto ruborizar e um pouco de vergonha.Durante todo o jantar vieram ondas de calor. Eu estava quase correndo para fora de casa e rolando na neve. Victor ligou e desligou aquilo inúmeras vezes. Enquanto comíamos a sobremesa, achei que gozaria. Meus olhos se fecharam e eu suspirei, cruzando as pernas. O quanto depravado e inconsequente era isso que estávamos fazendo?— Gostou da sobremesa, querida? — perguntou a minha avó quando grunhi baixinho.— Ah, ela gostou muito. Está até vermelha — disse Grace, cutucando de leve Penny com o cotovelo. Ela olhou para mim, franziu o cenho e depois sorriu. As duas se entreolharam e deram uma risadinha.Nós acabamos e seguimos para a sala. Parei atrás do sofá e agarrei o seu encosto, respirando fundo e tentando manter a pose de não-
Aquela não foi a última noite do Victor. Vieram algumas outras depois. Noites de prazer, amor e até um pouco de tristeza. Porém, aquele foi o nosso último Natal. O último que o tive ao meu lado. Que trocamos presentes. Que dissemos eu te amo ao pé da árvore. É estranho e é cômico como não sabemos nada sobre o amanhã. Embora a gente planeje o dia seguinte ou o ano seguinte, em um minuto tudo pode mudar. Seu planos podem ser arrasados por um tsunami. Por um coração que decide não mais bater. Naquele Natal eu aprendi algo antes que fosse tarde. Aprendi que todos os dias são especiais e que, sim, é preciso construir memória afetivas. Elas são primordiais para ajudar na saudade. A saudade a qual não se mata com uma ligação, uma visita. Seis meses depois daquele fim de ano, Victor nos deixou. Deixou esse mundo para viver uma vida melhor em outro lugar. Talvez na companhia da minha mãe. Talvez na companhia dos seus pais ou, até mesmo, da sua primeira esposa. Eu sei que ele a amou muito. E
Sonhos Quebrados - Livro 1 / Trilogia ValenteMayaAos dezoito anos eu fui aceita na Universidade de Houston, no Texas, através de uma bolsa integral de estudos. Uma futura médica na família foi motivo de grande orgulho para todos, principalmente para o meu pai, Teddy. Ele pregou por meses a minha carta de aceitação na porta da geladeira, exibindo-a para qualquer pessoa que chegasse na nossa casa.Toda manhã, quando entrava na cozinha para o café, ele olhava para ela e sorria como se fosse um cheque assinado de muitos zeros à direita. Lembro-me de que no dia em que recebi a tão esperada correspondência, ele passou horas ao telefone contando a todos que conhecia, que a sua garotinha estava indo para a faculdade.Ele sempre foi um homem simples, mas dono de grandes sonhos. O maior deles era que a sua única filha pudesse ser alguém na vida com um diploma na mão. O segundo, ele realizou há seis anos quando finalmente tirou o projeto do papel e abriu a sua própria oficina de restauração de
MayaNove meses depois, quando menos percebi, as férias se aproximavam novamente. A rotina apertada só piorava. As aulas na faculdade ficaram cada vez mais difíceis e tomando mais do tempo que eu não tinha. No trabalho, comecei a trabalhar até mesmo nos feriados para evitar precisar da ajuda dos meus pais ao máximo. Os fins de semana que eu não trabalhava, estava os visitando ou estudando para os exames e testes. Quase já não tinha mais tempo para namorar.Não era que eu colocasse Mark em segundo plano, só não podia mais dar toda a atenção que ele queria, ou tinha de mim antes. Eu sei o quanto era chato ele estar com todos os nossos amigos no bar em uma sexta à noite, quando cada um deles estavam bebendo e se divertindo com as suas namoradas, enquanto ele estava só e eu os servindo. Mas ainda assim, isso não era motivo para que ele me magoasse ou me traísse na minha própria cama.Houve uma sexta em que esqueci de levar os meus documentos para que Roger renovasse o meu contrato de trab
MayaAo entrar na casa, tudo estava escuro e em silêncio, entregando que todas dormiam, exceto uma, que entrou logo atrás de mim.— Maya! — Penny chamou-me alto ao passar pela porta.— Uau! — exclamei ao vê-la usando um vestido brilhante e salto alto. — Onde estava? — perguntei curiosa.— Com um cara — respondeu, rindo alto.— Shhh... Vai acordar as meninas! — sussurrei.— Foi mal — disse baixinho. — Eu bebi.— Estou sentindo o cheiro — sussurrei de volta.Penny me abraçou e subimos juntas a escada. O seu quarto era de frente para o meu e, ao chegarmos lá, ajudei-a abrir a porta e a coloquei para dentro, lhe dando boa-noite antes de sair. Parei diante da porta do meu quarto, sem nenhuma coragem de entrar. Tinha medo de que os dois ainda estivessem ali dentro.— O que foi? — perguntou Penny ao abrir a porta do seu quarto e ainda me ver ali.— Posso dormir com você hoje? — pedi encarando a madeira branca à minha frente.— Pode, mas é claro — permitiu.Entramos para o seu quarto e sentei