Maya
Nove meses depois, quando menos percebi, as férias se aproximavam novamente. A rotina apertada só piorava. As aulas na faculdade ficaram cada vez mais difíceis e tomando mais do tempo que eu não tinha. No trabalho, comecei a trabalhar até mesmo nos feriados para evitar precisar da ajuda dos meus pais ao máximo. Os fins de semana que eu não trabalhava, estava os visitando ou estudando para os exames e testes. Quase já não tinha mais tempo para namorar.
Não era que eu colocasse Mark em segundo plano, só não podia mais dar toda a atenção que ele queria, ou tinha de mim antes. Eu sei o quanto era chato ele estar com todos os nossos amigos no bar em uma sexta à noite, quando cada um deles estavam bebendo e se divertindo com as suas namoradas, enquanto ele estava só e eu os servindo. Mas ainda assim, isso não era motivo para que ele me magoasse ou me traísse na minha própria cama.
Houve uma sexta em que esqueci de levar os meus documentos para que Roger renovasse o meu contrato de trabalho por mais nove meses.
— Não dá mais para me enrolar, Maya. Aproveite que a banda ainda arruma o palco e vá buscar os seus documentos. Vamos abrir em trinta minutos! — disse ele.
— Tudo bem. Eu vou e volto rápido — respondi antes de sair do seu escritório.
Quando cheguei ao estacionamento encontrei Dirck, nosso barman, chegando para mais um turno.
— Dirck? — chamei-o ao me aproximar.
— E aí, gatinha? — perguntou todo sorridente.
— Pode me emprestar o seu carro? Tenho que ir até à fraternidade e voltar em meia hora — pedi com um sorriso sem graça.
— Claro! — concordou jogando-me a chave do seu carro, e piscou.
Dirigi até o campus e entrei na casa onde morava com mais quatorze garotas. Subi os dois lances da escada que levavam ao segundo andar e no momento em que coloquei os meus pés no corredor, já pude ouvir gemidos e todos os chamados exasperados.
— Mark! Por favor... me foda com força! — implorou a voz ofegante entre gemidos.
— Mark? — repeti sussurrando o nome que eu havia acabado de escutar.
A cada passo no corredor, os gemidos ficavam cada vez mais altos. Segui o som que me levou até à porta do meu quarto e, antes de abri-la, finalmente reconheci a voz que gritava descontroladamente. Era da Violet, minha colega de quarto.
Abri a porta lentamente e entrei parando no batente da mesma. Eu não podia acreditar no que via. Senti as paredes a minha volta girarem e o meu estômago embrulhar. Eles continuaram por mais alguns segundos, talvez por um minuto, até que notaram a minha presença.
Violet foi a primeira. Ela gritou espantada empurrando Mark de cima dela e tentando se cobrir com os lençóis amassados e suados. Já Mark, levantou-se pegando o travesseiro caído no chão e cobrindo o seu pau com ele. Violet juntou os seus joelhos aos seios e abraçou as suas pernas enquanto chorava pedindo-me desculpas. Já Mark ficou com o rosto pálido e os olhos arregalados, encarando-me sem palavras. Esperei por ele dizer algo, mas nada saiu da sua boca entreaberta.
Dei as minhas costas aos dois, mas antes que eu passasse pela porta, olhei para o lado e vi a minha bolsa sobre a cômoda, lembrando-me do que eu havia ido fazer ali. Peguei-a e saí batendo a porta atrás de mim. Desci os degraus vagarosamente tentando digerir o que eu havia acabado de presenciar.
Quando cheguei na sala, escutei Mark gritar por mim no corredor. Apressei os meus passos e passei correndo pela porta da frente, indo para o carro e entrando rápido dando partida no motor. Os dois saíram da casa descabelados e malvestidos, pedindo para esperar e conversarmos. Sem lhes dar ouvidos, acelerei o carro queimando os pneus no asfalto.
No caminho de volta para o trabalho, segurei o meu choro e concentrei-me em como a noite poderia encher os meus bolsos com boas gorjetas. Estacionei o carro na vaga para funcionários e entrei no bar, indo direto para o escritório do Roger. Entreguei os meus documentos a ele e saí pegando o meu avental e a bandeja sobre o balcão de bebidas.
O bar estava começando a ficar cheio, era final de semana e noite de show. Noites assim costumavam ser as melhores, nas quais apareciam caras bonitos e com boas gratificações por um bom atendimento. Porém, eu não estava no clima para sorrir e muito menos para relevar cantadas de mau gosto. Estava decepcionada e de coração partido. Como ele pode me trair? Eu dei-lhe tudo que pude, entreguei-me de corpo e alma.
Estava na metade do meu expediente e não tinha dado muito conversa para meus colegas de trabalho, ou os da faculdade que apareceram. Permaneci quieta com uma dor enorme no peito, que me corroía por dentro. Tinha vontade de gritar e socar a cara daqueles dois traidores, mas não podia agir pela raiva. Eu tentava não me lembrar dos meus bons momentos com Mark, porque essas memórias queimavam o meu cérebro. Nenhuma garota merecia ser traída ou magoada por um idiota que amou.
Logo o fim da noite chegou e eu estava com duzentos dólares no bolso do meu avental. Aquela, sem dúvida, foi uma das melhores noites no Roger’s. Após limpar as mesas e pôr o lixo para fora, entreguei a chave do carro para o Dirck e o agradeci pelo empréstimo. Ele se ofereceu para me levar até a fraternidade e aceitei. Já passava das três da manhã e eu estava cansada demais para caminhar um quilômetro.
— Está tudo bem? — perguntou ele no caminho.
— Não — respondi com sinceridade, sentindo um bolo se formar na minha garganta e os meus olhos arderem ao ficarem marejados.
— O que está pegando? — perguntou demonstrando preocupação na sua voz.
— Eu fui traída — revelei logo de uma vez.
Dirck desacelerou o carro e olhou-me ao parar no sinal vermelho com uma cara de espanto.
— Está falando sério? — perguntou incrédulo.
— Estou. — Recostei a minha cabeça no encosto do banco e fechei os meus olhos segurando o meu choro. — Mas eu não queria estar — sussurrei com honestidade.
— Nossa... Maya. Eu nem sei o que dizer.
— Tudo bem. Não precisa dizer nada.
— Eu sinto muito — disse ao estacionar o carro à frente da fraternidade.
— É, eu também. Obrigada pela carona, Dirck. — Despedi-me dele com um beijo no seu rosto e desci do carro.
MayaAo entrar na casa, tudo estava escuro e em silêncio, entregando que todas dormiam, exceto uma, que entrou logo atrás de mim.— Maya! — Penny chamou-me alto ao passar pela porta.— Uau! — exclamei ao vê-la usando um vestido brilhante e salto alto. — Onde estava? — perguntei curiosa.— Com um cara — respondeu, rindo alto.— Shhh... Vai acordar as meninas! — sussurrei.— Foi mal — disse baixinho. — Eu bebi.— Estou sentindo o cheiro — sussurrei de volta.Penny me abraçou e subimos juntas a escada. O seu quarto era de frente para o meu e, ao chegarmos lá, ajudei-a abrir a porta e a coloquei para dentro, lhe dando boa-noite antes de sair. Parei diante da porta do meu quarto, sem nenhuma coragem de entrar. Tinha medo de que os dois ainda estivessem ali dentro.— O que foi? — perguntou Penny ao abrir a porta do seu quarto e ainda me ver ali.— Posso dormir com você hoje? — pedi encarando a madeira branca à minha frente.— Pode, mas é claro — permitiu.Entramos para o seu quarto e sentei
MayaEstar no terceiro ano de medicina, não era nada fácil. Ainda mais quando você trabalhava à noite. Estava trabalhando mais do que nunca e estudando loucamente para os exames finais que me libertariam para mais um verão. Andava vivendo em uma contagem regressiva para ir para casa e ver os meus pais que passavam por mais uma fase difícil na vida. A minha mãe encontrava-se doente outra vez. Agora, o câncer era bem mais complicado do que o anterior.Finalmente as provas acabaram e decidi dar um tempo com o professor de cálculo. O sexo com ele era legal, mas nada que me surpreendesse ou que me desse a aventura que esperava viver com um cara mais velho. Quanto ao Mark, após ter agido como um homem das cavernas, há algumas noites, ele nem mesmo tentou desculpar-se. O que provou que era mais idiota do que eu imaginava.Era sábado à noite e eu estava de folga devido ao movimento fraco no bar, devido às férias que começavam. Penny me convidou para ir a uma festa na casa de um amigo que eu n
Maya— Desculpe-me. Só quis dar a você uma noite legal. Eles não vão lhe tocar, se você não quiser! — disse Penny, tentando consertar a situação, como se a sua justificativa fosse o suficiente para resolver o que ela fez.— Você é minha melhor amiga. Como pode fazer isso comigo? Por que me trouxe até aqui? — perguntei irada.— Desculpe-me, por favor, Maya! — implorou aos sussurros. — Não faça nenhum escândalo! — pediu olhando para os lados, procurado se eu havia chamado a atenção indesejada de alguém com a minha voz alta.— Mas o que você é, afinal? Pensei que fosse minha amiga. Não sei se você já percebeu, mas não preciso de mais complicações na minha vida!Coloquei a taça que tinha na mão sobre o balcão e saí andando sem saber para onde exatamente eu estava indo. Atravessei o salão esbarrando-me nas pessoas, até chegar ao corredor que me levou a uma enorme porta de madeira entreaberta. Empurrei-a e passei por ela encontrando uma linda varanda com iluminação à luz de velas. A vista d
Maya— Você está trabalhando há dois anos e já está cansada e desgastada. Imagina quem trabalha desde os doze anos — disse com os olhos cheios de lágrimas.— Não é o seu caso. Acredito que possa ser o de algumas garotas, mas não o seu. Os seus pais cuidam de você, Penny!— Não. Não cuidam, Maya. Eu nem mesmo sei onde eles estão — disse em meio ao choro que começava.— O quê? Você disse que...— Eu sei o que disse — interrompeu-me. — Mas não é verdade. Os meus pais não estão na Suíça. O meu pai foi preso por matar um homem quando eu tinha nove anos. Ele pegou vinte anos de prisão. Eu morava em um trailer com a minha mãe em Indiana. Ela é uma alcoólatra com um namorado por noite e nunca se importou comigo. Mal durava um dia em um emprego, então como poderia cuidar de mim? — Lágrimas escorriam abundantemente por seu rosto.— Penny... — chamei-a aproximando-me em passos lentos.Eu pude ver a dor e angústia no seu rosto. O meu coração se apertou, fazendo-me sentir culpada por seu choro. Ab
Maya— O que eu faço? — perguntei a Penny.— Espera ele se virar para o outro lado e... corra! — Penny se levantou arrastando-me pelo braço até ao banheiro feminino e trancou a porta depois de entramos.— Não posso passar o resto da minha noite de trabalho trancada em um banheiro por causa de um louco! — disse nervosa.— Talvez, quando ele não achar você, vá embora. — Forçou um sorriso e uma calma inexistente.— Que droga! — exclamei dando um forte tapa em uma das portas dos sanitários. — Roger já não está muito satisfeito comigo, desde a última confusão do Mark. Se ele me pegar aqui no banheiro, eu... — Uma forte batida na porta interrompeu-me, nos assustando.— Quem é? — perguntou Penny.— Maya! — gritou Roger lá de fora.Penny abriu a porta vagarosamente e Roger estava parado depois dela, de braços cruzados e com uma feição nítida de descontentamento.— Oi — disse Penny para ele.— Dê um jeito naquilo. — Roger apontou para o final do corredor. — Que não aconteça mais uma briga nest
Maya— Maya! — Ouvi o som irritante da voz do Mark gritar por mim, enquanto eu caminhava pela calçada de volta para a fraternidade.— O que você quer? — perguntei alto e rude. — Já não conseguiu o que tanto queria? Eu não tenho mais o emprego!— Desculpe-me, por favor! — implorou acompanhando-me lentamente com o carro, próximo ao meio-fio.— Desaparece, Mark! — mandei rude.— Deixa eu levar você para o campus. Já está bem tarde e é perigoso.— Vai à merda! — gritei parando na calçada e o encarando. — Deixe-me em paz! Segue a sua vida e deixa eu seguir a minha! — Mark parou o carro e desceu batendo a porta com força.— Perdoa-me. Eu imploro! Por que você é tão dura comigo? Será que dá para você me desculpar?— Não! Não dá, Mark. Você é um cretino egoísta. Eu precisava daquele emprego e você melhor do que ninguém sabe disso. Você tem conhecimento do que está acontecendo na minha vida. Por que insiste em me causar problemas? Eu avisei e pedi inúmeras vezes para ficar longe de mim, para m
MayaVesti e observei-o no meu corpo pelo reflexo no espelho. Por um segundo, pensei que talvez ele pudesse valer mil e quatrocentos dólares. Ele me deixou surpresa e boquiaberta. Era lindo e perfeito! Nunca havia vestido algo tão belo e luxuoso antes. Calcei o par de sandálias que estavam no provador, e quando Penny me chamou impaciente pela segunda vez, saí a vendo sorrir admirada.— Uau! — expressou ela boquiaberta. — Você está...— Linda! — Uma voz grossa a interrompeu terminando a sua frase.— Victor! Oi, como vai? — cumprimentou Penny.Olhei para o lado um tanto surpresa em vê-lo ali. Ele encarava-me com um olhar faminto e um pequeno sorrisinho enigmático no rosto.— Senhor White — disse ao cumprimentá-lo.— Olá, Valentina — disse com o seu sorriso largo. — Vocês estão maravilhosas. Vão à festa esta noite?— Sim, eu vou — respondeu Penny.— E você? — perguntou ele voltando a sua atenção para mim.— Não — respondi sentindo-me desconcertada.— É uma pena. — Ele aproximou-se. — Fic
MayaDevidamente arrumada, ajudei Penny a ondular os seus cabelos e finalizar a sua maquiagem. Enquanto calçava as minhas sandálias, sentada à beirada da cama, ela olhou pela janela e avisou que o carro já havia chegado.— Bem pontual — disse olhando as horas no meu celular.A caminho da festa, acomodada no assento traseiro da limusine, convenci-me de que a noite seria para estar com pessoas diferentes de Mark, beber, dançar e, principalmente, me divertir.— Parece nervosa — disse Penny.— Um pouco — confessei.— Não tem motivo estar nervosa. Você está linda e com certeza vai chamar a atenção de todos — disse sorrindo confiante.— Não sei o que o Victor espera de mim com tudo isso.— Tudo isso o quê? O vestido? A limusine?Assenti.— Relaxa! Ele é um homem simpático e respeitoso. É claro que ele espera que você ao menos o acompanhe esta noite, mas tenho certeza de que ele lhe tratará muito bem. E não é porque você estará lá, ou com ele, que os outros vão pensar ou dizer que você é uma