Capítulo 02

Maya

Nove meses depois, quando menos percebi, as férias se aproximavam novamente. A rotina apertada só piorava. As aulas na faculdade ficaram cada vez mais difíceis e tomando mais do tempo que eu não tinha. No trabalho, comecei a trabalhar até mesmo nos feriados para evitar precisar da ajuda dos meus pais ao máximo. Os fins de semana que eu não trabalhava, estava os visitando ou estudando para os exames e testes. Quase já não tinha mais tempo para namorar.

Não era que eu colocasse Mark em segundo plano, só não podia mais dar toda a atenção que ele queria, ou tinha de mim antes. Eu sei o quanto era chato ele estar com todos os nossos amigos no bar em uma sexta à noite, quando cada um deles estavam bebendo e se divertindo com as suas namoradas, enquanto ele estava só e eu os servindo. Mas ainda assim, isso não era motivo para que ele me magoasse ou me traísse na minha própria cama.

Houve uma sexta em que esqueci de levar os meus documentos para que Roger renovasse o meu contrato de trabalho por mais nove meses.

— Não dá mais para me enrolar, Maya. Aproveite que a banda ainda arruma o palco e vá buscar os seus documentos. Vamos abrir em trinta minutos! — disse ele.

— Tudo bem. Eu vou e volto rápido — respondi antes de sair do seu escritório.

Quando cheguei ao estacionamento encontrei Dirck, nosso barman, chegando para mais um turno.

— Dirck? — chamei-o ao me aproximar.

— E aí, gatinha? — perguntou todo sorridente.

— Pode me emprestar o seu carro? Tenho que ir até à fraternidade e voltar em meia hora — pedi com um sorriso sem graça.

— Claro! — concordou jogando-me a chave do seu carro, e piscou.

Dirigi até o campus e entrei na casa onde morava com mais quatorze garotas. Subi os dois lances da escada que levavam ao segundo andar e no momento em que coloquei os meus pés no corredor, já pude ouvir gemidos e todos os chamados exasperados.

— Mark! Por favor... me foda com força! — implorou a voz ofegante entre gemidos.

— Mark? — repeti sussurrando o nome que eu havia acabado de escutar.

A cada passo no corredor, os gemidos ficavam cada vez mais altos. Segui o som que me levou até à porta do meu quarto e, antes de abri-la, finalmente reconheci a voz que gritava descontroladamente. Era da Violet, minha colega de quarto.

Abri a porta lentamente e entrei parando no batente da mesma. Eu não podia acreditar no que via. Senti as paredes a minha volta girarem e o meu estômago embrulhar. Eles continuaram por mais alguns segundos, talvez por um minuto, até que notaram a minha presença.

Violet foi a primeira. Ela gritou espantada empurrando Mark de cima dela e tentando se cobrir com os lençóis amassados e suados. Já Mark, levantou-se pegando o travesseiro caído no chão e cobrindo o seu pau com ele. Violet juntou os seus joelhos aos seios e abraçou as suas pernas enquanto chorava pedindo-me desculpas. Já Mark ficou com o rosto pálido e os olhos arregalados, encarando-me sem palavras. Esperei por ele dizer algo, mas nada saiu da sua boca entreaberta.

Dei as minhas costas aos dois, mas antes que eu passasse pela porta, olhei para o lado e vi a minha bolsa sobre a cômoda, lembrando-me do que eu havia ido fazer ali. Peguei-a e saí batendo a porta atrás de mim. Desci os degraus vagarosamente tentando digerir o que eu havia acabado de presenciar.

Quando cheguei na sala, escutei Mark gritar por mim no corredor. Apressei os meus passos e passei correndo pela porta da frente, indo para o carro e entrando rápido dando partida no motor. Os dois saíram da casa descabelados e malvestidos, pedindo para esperar e conversarmos. Sem lhes dar ouvidos, acelerei o carro queimando os pneus no asfalto.

No caminho de volta para o trabalho, segurei o meu choro e concentrei-me em como a noite poderia encher os meus bolsos com boas gorjetas. Estacionei o carro na vaga para funcionários e entrei no bar, indo direto para o escritório do Roger. Entreguei os meus documentos a ele e saí pegando o meu avental e a bandeja sobre o balcão de bebidas.

O bar estava começando a ficar cheio, era final de semana e noite de show. Noites assim costumavam ser as melhores, nas quais apareciam caras bonitos e com boas gratificações por um bom atendimento. Porém, eu não estava no clima para sorrir e muito menos para relevar cantadas de mau gosto. Estava decepcionada e de coração partido. Como ele pode me trair? Eu dei-lhe tudo que pude, entreguei-me de corpo e alma.

Estava na metade do meu expediente e não tinha dado muito conversa para meus colegas de trabalho, ou os da faculdade que apareceram. Permaneci quieta com uma dor enorme no peito, que me corroía por dentro. Tinha vontade de gritar e socar a cara daqueles dois traidores, mas não podia agir pela raiva. Eu tentava não me lembrar dos meus bons momentos com Mark, porque essas memórias queimavam o meu cérebro. Nenhuma garota merecia ser traída ou magoada por um idiota que amou.

Logo o fim da noite chegou e eu estava com duzentos dólares no bolso do meu avental. Aquela, sem dúvida, foi uma das melhores noites no Roger’s. Após limpar as mesas e pôr o lixo para fora, entreguei a chave do carro para o Dirck e o agradeci pelo empréstimo. Ele se ofereceu para me levar até a fraternidade e aceitei. Já passava das três da manhã e eu estava cansada demais para caminhar um quilômetro.

— Está tudo bem? — perguntou ele no caminho.

— Não — respondi com sinceridade, sentindo um bolo se formar na minha garganta e os meus olhos arderem ao ficarem marejados.

— O que está pegando? — perguntou demonstrando preocupação na sua voz.

— Eu fui traída — revelei logo de uma vez.

Dirck desacelerou o carro e olhou-me ao parar no sinal vermelho com uma cara de espanto.

— Está falando sério? — perguntou incrédulo.

— Estou. — Recostei a minha cabeça no encosto do banco e fechei os meus olhos segurando o meu choro. — Mas eu não queria estar — sussurrei com honestidade.

— Nossa... Maya. Eu nem sei o que dizer.

— Tudo bem. Não precisa dizer nada.

— Eu sinto muito — disse ao estacionar o carro à frente da fraternidade.

— É, eu também. Obrigada pela carona, Dirck. — Despedi-me dele com um beijo no seu rosto e desci do carro.

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