Maya
Estar no terceiro ano de medicina, não era nada fácil. Ainda mais quando você trabalhava à noite. Estava trabalhando mais do que nunca e estudando loucamente para os exames finais que me libertariam para mais um verão. Andava vivendo em uma contagem regressiva para ir para casa e ver os meus pais que passavam por mais uma fase difícil na vida. A minha mãe encontrava-se doente outra vez. Agora, o câncer era bem mais complicado do que o anterior.
Finalmente as provas acabaram e decidi dar um tempo com o professor de cálculo. O sexo com ele era legal, mas nada que me surpreendesse ou que me desse a aventura que esperava viver com um cara mais velho. Quanto ao Mark, após ter agido como um homem das cavernas, há algumas noites, ele nem mesmo tentou desculpar-se. O que provou que era mais idiota do que eu imaginava.
Era sábado à noite e eu estava de folga devido ao movimento fraco no bar, devido às férias que começavam. Penny me convidou para ir a uma festa na casa de um amigo que eu não conhecia. Ela disse que talvez eu pudesse encontrar a aventura que estava procurando e isso foi o que me convenceu. Sem nada melhor para fazer, eu pensei: por que não?
Arrumamo-nos e ela mandou que eu usasse um dos seus vestidos curtos e decotados. Escolheu para mim um vermelho de alças finas e justo ao corpo, que combinei com lindas sandálias pretas de tiras. Penny também estava muito bonita em um vestido dourado e sandálias brancas que combinaram perfeitamente com brincos reluzentes de diamantes que se destacavam nos seus longos cabelos loiros e bem arrumados em ondas soltas.
O táxi chegou e nós descemos prontas para a noite. Não demorou muito e logo chegamos ao nosso destino. Subimos os degraus até à porta de entrada da bela mansão, onde uma mulher recepcionava todos os convidados que formavam uma fila organizada para entrar.
Observei os convidados que chegavam depois de nós e fiquei impressionada ao ver os carros que estacionavam; todos de luxo que custavam alguns milhares de dólares. Homens desciam acompanhados de lindas garotas, que mais se pareciam com modelos de passarela internacional.
Penny passou o seu braço no meu e arrastou-me para dentro da mansão. Admirei tudo com um olhar atento e encantada com a riqueza de cada detalhe na decoração e na arquitetura moderna do lugar.
— Rick! — Penny chamou um homem que conversava com outros à nossa frente. Ele devia ter trinta e poucos anos e era muito bonito.
— Lola! — disse ele surpreso e, aparentemente, feliz em vê-la.
Ele pediu licença aos homens e veio até nós segurando Penny pela cintura e a puxando para ele. Ela selou os seus lábios com um beijo rápido e passou os seus braços por seu pescoço se dependurando nele. Eu os observei curiosa, imaginando o porquê do apelido.
— Senti a sua falta — disse ela com a voz manhosa, alisando o peitoral do homem. — Você não me ligou. — Fez um biquinho.
— Desculpe-me, querida. Estive viajando, mas te ligarei esta semana — explicou ele, acariciando os seus cabelos.
— Você promete? — perguntou baixo, aproximando os seus rostos.
— Eu prometo — prometeu e lhe deu um beijo no rosto. — Quem é a sua amiga? — perguntou com um olhar curioso para mim.
— Ah... — Penny virou e olhou-me assustada. — Essa é... Valentina, minha amiga.
Olhei para ela com estranheza, sem saber o que estava acontecendo. Por que não me apresentar por meu nome? Por que inventar este?
— Muito prazer, Valentina — disse ele, estendendo-me a sua mão. — Eu sou Rick Carter — apresentou-se levando a minha mão até os seus lábios e depositando um leve beijo no dorso.
— O prazer é meu — respondi com um sorriso simpático, que logo desfiz ao encarar Penny. Ela sorriu para mim e deu-me uma piscada como se me dissesse: “Entre na brincadeira”.
— Venham. Vamos apresentar a sua amiga aos outros — disse Rick a Penny.
Ele passou o seu braço esquerdo ao direito da Penny e ofereceu o seu outro para mim. Eu aceitei e seguimos adiante desfilando em meio aos convidados. Rick nos levou até uma roda de homens que conversavam animadamente e apresentou-me a cada um deles.
Logo conheci um homem que chamou a minha atenção. O seu nome era Evan Johnnes. Alto, branco, cabelos castanho-claros e bem cortados em um corte social que combinava com a sua postura elegante. Os seus olhos eram de um castanho-escuro e o sorriso tão marcante quanto o resto da sua beleza jovem que transpirava sensualidade. Senti-me muito atraída por ele.
— Lola, você nunca trouxe uma amiga antes. Ela é deslumbrante! — Um homem de aparência latina elogiou-me indiretamente. A curiosidade do porquê todos a tratavam por “Lola” só aumentava.
— Valentina é uma amiga querida, e estava sem compromisso para esta noite — respondeu Penny, olhando-me com um sorriso largo. — Mas nem pense nisso, Carlos! — repreendeu o homem de maneira humorada, mas com uma feição séria. — Ela não é o que você espera.
O homem gargalhou e deu mais um gole no seu drinque.
— É o que todas dizem no início — zombou ele, antes de gargalhar na companhia dos demais ao seu redor. Aquilo deixou-me confusa e desconfortável. Senti que estava sendo a piada ali.
— Lola? — chamei-a pronunciando o seu apelido com sarcasmo. — Vamos pegar uma bebida no bar? — convidei-a com um sorriso falso nos lábios.
— Está bem. Com licença, rapazes — pediu antes de se afastar comigo, em direção ao comprido balcão de metal dourado e de vidro.
— Que merda é essa de Lola? De primeira, até achei que fosse um apelido ou uma brincadeirinha interna entre você e o seu amiguinho Rick, mas já notei que me enganei — sussurrei enraivecida.
— Acalme-se, Maya — pediu-me, apoiando a sua mão esquerda delicadamente sobre o meu ombro.
— O que estamos fazendo aqui? Estou desconfortável neste lugar, olha só para essas pessoas — disse olhando para os lados. — Não somos como elas, ao menos, eu não sou!
— Não é você quem queria dar um tempo de tudo e viver coisas novas? Eu só quis te ajudar a se divertir. Relaxa. Aproveita a festa que ainda mal começou.
— Por que dos nomes? Valentina? Sério? O que tem de errado com o meu nome? — Observei-a ficar tensa e engolir em seco. — Por que, Penny? — perguntei brava.
— Porque eles não precisam saber os nossos nomes — respondeu entregando o seu nervosismo na voz.
— Estamos até parecendo garotas de programa com os seus pseudônimos — disse antes de levar a taça de Martini à boca.
Penny ficou em silêncio e imóvel, encarando-me com os olhos assustados segurando a sua taça de champanhe com as duas mãos próximas ao peito. Foi então que comecei a entender tudo.
— Ah, meu Deus... Penny! — chamei o seu nome com repreensão. — Por favor... não me diga que é isso que estamos fazendo aqui.
Maya— Desculpe-me. Só quis dar a você uma noite legal. Eles não vão lhe tocar, se você não quiser! — disse Penny, tentando consertar a situação, como se a sua justificativa fosse o suficiente para resolver o que ela fez.— Você é minha melhor amiga. Como pode fazer isso comigo? Por que me trouxe até aqui? — perguntei irada.— Desculpe-me, por favor, Maya! — implorou aos sussurros. — Não faça nenhum escândalo! — pediu olhando para os lados, procurado se eu havia chamado a atenção indesejada de alguém com a minha voz alta.— Mas o que você é, afinal? Pensei que fosse minha amiga. Não sei se você já percebeu, mas não preciso de mais complicações na minha vida!Coloquei a taça que tinha na mão sobre o balcão e saí andando sem saber para onde exatamente eu estava indo. Atravessei o salão esbarrando-me nas pessoas, até chegar ao corredor que me levou a uma enorme porta de madeira entreaberta. Empurrei-a e passei por ela encontrando uma linda varanda com iluminação à luz de velas. A vista d
Maya— Você está trabalhando há dois anos e já está cansada e desgastada. Imagina quem trabalha desde os doze anos — disse com os olhos cheios de lágrimas.— Não é o seu caso. Acredito que possa ser o de algumas garotas, mas não o seu. Os seus pais cuidam de você, Penny!— Não. Não cuidam, Maya. Eu nem mesmo sei onde eles estão — disse em meio ao choro que começava.— O quê? Você disse que...— Eu sei o que disse — interrompeu-me. — Mas não é verdade. Os meus pais não estão na Suíça. O meu pai foi preso por matar um homem quando eu tinha nove anos. Ele pegou vinte anos de prisão. Eu morava em um trailer com a minha mãe em Indiana. Ela é uma alcoólatra com um namorado por noite e nunca se importou comigo. Mal durava um dia em um emprego, então como poderia cuidar de mim? — Lágrimas escorriam abundantemente por seu rosto.— Penny... — chamei-a aproximando-me em passos lentos.Eu pude ver a dor e angústia no seu rosto. O meu coração se apertou, fazendo-me sentir culpada por seu choro. Ab
Maya— O que eu faço? — perguntei a Penny.— Espera ele se virar para o outro lado e... corra! — Penny se levantou arrastando-me pelo braço até ao banheiro feminino e trancou a porta depois de entramos.— Não posso passar o resto da minha noite de trabalho trancada em um banheiro por causa de um louco! — disse nervosa.— Talvez, quando ele não achar você, vá embora. — Forçou um sorriso e uma calma inexistente.— Que droga! — exclamei dando um forte tapa em uma das portas dos sanitários. — Roger já não está muito satisfeito comigo, desde a última confusão do Mark. Se ele me pegar aqui no banheiro, eu... — Uma forte batida na porta interrompeu-me, nos assustando.— Quem é? — perguntou Penny.— Maya! — gritou Roger lá de fora.Penny abriu a porta vagarosamente e Roger estava parado depois dela, de braços cruzados e com uma feição nítida de descontentamento.— Oi — disse Penny para ele.— Dê um jeito naquilo. — Roger apontou para o final do corredor. — Que não aconteça mais uma briga nest
Maya— Maya! — Ouvi o som irritante da voz do Mark gritar por mim, enquanto eu caminhava pela calçada de volta para a fraternidade.— O que você quer? — perguntei alto e rude. — Já não conseguiu o que tanto queria? Eu não tenho mais o emprego!— Desculpe-me, por favor! — implorou acompanhando-me lentamente com o carro, próximo ao meio-fio.— Desaparece, Mark! — mandei rude.— Deixa eu levar você para o campus. Já está bem tarde e é perigoso.— Vai à merda! — gritei parando na calçada e o encarando. — Deixe-me em paz! Segue a sua vida e deixa eu seguir a minha! — Mark parou o carro e desceu batendo a porta com força.— Perdoa-me. Eu imploro! Por que você é tão dura comigo? Será que dá para você me desculpar?— Não! Não dá, Mark. Você é um cretino egoísta. Eu precisava daquele emprego e você melhor do que ninguém sabe disso. Você tem conhecimento do que está acontecendo na minha vida. Por que insiste em me causar problemas? Eu avisei e pedi inúmeras vezes para ficar longe de mim, para m
MayaVesti e observei-o no meu corpo pelo reflexo no espelho. Por um segundo, pensei que talvez ele pudesse valer mil e quatrocentos dólares. Ele me deixou surpresa e boquiaberta. Era lindo e perfeito! Nunca havia vestido algo tão belo e luxuoso antes. Calcei o par de sandálias que estavam no provador, e quando Penny me chamou impaciente pela segunda vez, saí a vendo sorrir admirada.— Uau! — expressou ela boquiaberta. — Você está...— Linda! — Uma voz grossa a interrompeu terminando a sua frase.— Victor! Oi, como vai? — cumprimentou Penny.Olhei para o lado um tanto surpresa em vê-lo ali. Ele encarava-me com um olhar faminto e um pequeno sorrisinho enigmático no rosto.— Senhor White — disse ao cumprimentá-lo.— Olá, Valentina — disse com o seu sorriso largo. — Vocês estão maravilhosas. Vão à festa esta noite?— Sim, eu vou — respondeu Penny.— E você? — perguntou ele voltando a sua atenção para mim.— Não — respondi sentindo-me desconcertada.— É uma pena. — Ele aproximou-se. — Fic
MayaDevidamente arrumada, ajudei Penny a ondular os seus cabelos e finalizar a sua maquiagem. Enquanto calçava as minhas sandálias, sentada à beirada da cama, ela olhou pela janela e avisou que o carro já havia chegado.— Bem pontual — disse olhando as horas no meu celular.A caminho da festa, acomodada no assento traseiro da limusine, convenci-me de que a noite seria para estar com pessoas diferentes de Mark, beber, dançar e, principalmente, me divertir.— Parece nervosa — disse Penny.— Um pouco — confessei.— Não tem motivo estar nervosa. Você está linda e com certeza vai chamar a atenção de todos — disse sorrindo confiante.— Não sei o que o Victor espera de mim com tudo isso.— Tudo isso o quê? O vestido? A limusine?Assenti.— Relaxa! Ele é um homem simpático e respeitoso. É claro que ele espera que você ao menos o acompanhe esta noite, mas tenho certeza de que ele lhe tratará muito bem. E não é porque você estará lá, ou com ele, que os outros vão pensar ou dizer que você é uma
MayaDepois de mais uma taça de champanhe e uma hora de conversa boba com Victor, eu conseguia me sentir mais à vontade no ambiente da festa. Ele me contou histórias engraçadas da adolescência e da sua primeira viagem fora do país sozinho, sempre um assunto se emendando ao outro.Penny reapareceu com outro homem, que eu não fazia a menor ideia de quem era. Ele engajou em uma conversa de negócios com Victor, fazendo com que eu e ela ficássemos de lado.— Lola, vamos ao banheiro? — chamei-a no intuito de nos livrar daquele tédio e do assunto que não entendíamos nada.— Vamos — concordou levantando-se.— Então, o que houve com o Rick? — perguntei a caminho ao banheiro.— Ele teve que ir — disse ela nada contente, retorcendo o bico para o lado.— Por quê? O que houve?— Eu não sei, ele não me disse nada e eu também não perguntei.— É assim que funciona? — perguntei curiosa.— É! A vida dele não é da minha conta, do mesmo jeito que a minha não é da dele — explicou ao entrarmos no banheiro.
MayaNa manhã seguinte, acordei animada arrumando as minhas coisas para voltar para casa e rever os meus pais. Quando subi de volta para o quarto, depois do café da manhã, havia uma mensagem no meu celular de um número desconhecido.Bom dia, linda Valentina.Agradeço, mais uma vez, pela ótima companhia que me fez na noite passada.E, novamente, você estava deslumbrante.Victor09:20 a.m.Bom dia, Victor. Eu que lhe agradeço.Foi uma ótima noite.Valentina09:34 a.m.Por um momento pensei em dizer o meu nome a ele, mas ainda não. Aquele não era o momento certo para deixá-lo mais próximo a quem era de verdade.Jante comigo esta noite?Posso fazer uma ótima reserva em um bom restaurante.Victor09:35 a.m.Desculpe-me, mas não posso.Fica para outra oportunidade.Valentina09:36 a.m.É uma pena que você já tenha algo de mais interessante para esta noite.Victor09:36 a.m.Não é isso.Estou indo para casa, em Tulsa.Valentina09:37 a.m.Quando volta?Não me deixe esperando por você.