Capítulo 01

Meus pais responsáveis em todos os modos tiveram a ideia de mudarmos mais uma vez. Com o pensamento de ser uma vez por todas permanente. Estamos morando por um tempo em um complexo de condomínios no subúrbio de Denver, no Colorado. Por mais que eu adorasse os dias de sol, o céu azul brilhante, a liberdade de andar de bicicleta nas ciclovias seguras — fato que mudará com nossa mudança. O estudo é horrível e precário. As escolas públicas sempre estiveram no meu caminho acadêmico, dificultando minha qualidade de ensino. E a entrada em uma boa universidade.   

Realmente estando aqui em nove meses me fez admirar alguns pontos e detestar alguns outros. Bom, em todos os lugares existem seus prós e contras. No entanto, residindo em mesmo sendo em curto espaço de tempo, há certa comodidade em querer permanecer no local. Adquiri amigos, obtenho meus lugares preferidos de passeio e meus esconderijos para meus momentos de solidão, mas não possuo a decisão para essa escolha.  

Nossa condição financeira nem sempre foi uma das melhores e por esse motivo nunca fincamos raízes, não tivemos uma casa para chamar de nossa, uma herança de lembranças. Por dezessete anos foi assim, constantemente nos mudando sem uma parada fixa, pelos simples motivos de que meu pai — o sentimental George Bryant. Formando em Relações Públicas, trabalhando sempre esteve sendo transferido de diversas empresas, desde as de pequeno porte, até algo mais majoritário.

Recentemente houve uma breve reunião de família deixando claro que agora meu pai tinha obtido uma demissão sem previsão. Não se sabe o porquê, somente seu chefe o colocou para rua sem piscar, sem esclarecimentos. Para George não foi de todo um ruim, ele disse desejar abrir seu próprio negócio. Começar do zero e em um ambiente que favoreça a todos da família.

Para minha alegria momentânea, ante de partirmos fomos a uns dos meus lugares preferidos da cidade, City Park. Lembro-me de estar sentada à grama, somente em silêncio, apreciando a vista lindíssima do por do sol sumindo pela linha dos lagos. Eu adorava dar passeios por lá, o lugar é lindo, um belo paisagismo, fontes claras e jardins que nos proporciona um ar de campo. Foi nesse dia agradável e triste, que meu pai aproveitou de nosso entretimento para nos contar o nosso destino final.  

Localizada a poucas horas de Seattle, fixada no noroeste americano, no estado de Washington, está Spokane, a cidade dos estudantes. Rapidamente mudei meu humor, de certa maneira é algo que me ajudaria, não me dei muito bem em minha escola anterior e talvez essa mudança fosse somente mais uma, dentre as muitas que eu já havia tido.

Meses se seguiram trazendo janeiro. Resolvemos passar o natal com a família, pois, não os viríamos por um longo tempo. Minha mãe insistia que seria bom nos estabelecer nesse período por conta da escola. Não entendi muito bem todo o mistério envolvido nesse colégio, diziam que eu gostaria do que iria encontrar. Já meu pai com toda sua animação encarregou-se inteiramente de todo o percurso, queria que aproveitássemos como se fosse uma viagem em família.

Recordo-me do dia em que cheguei a Washington, treze de janeiro de dois mil e dezoito para ser mais preciso. Anoitecia, o inverno cru nos consumia de uma maneira não conhecida, sentia os nódulos de meus dedos se congelando, o ar quente do carro e as janelas totalmente fechadas não me deixava confortável. Sou muito mais fã do frio, neve e a chuva. Nem todos apreciam essa estação, mas vejo algo especial, produtivo. Tudo se inicia com um ciclo, então essa passagem era muito importante para mim também.

Ainda estávamos distantes do Condado de Spokane, precisaríamos dar uma parada em um hotel e assim descansar. Hospedamo-nos em uma pousada a estrada, era típico de George optar por um local assim, simples e íntimo. Não dormi muito bem naquela noite, não me deixava relaxar. E para ajudar com a insônia uma nevasca havia atingindo deixando tudo mais incômodo.

No dia posterior aquele, seguimos para nossa nova casa. Minha mãe já havia encomendado todos os novos móveis para nos fundarmos com aconchego, dizia que a casa era acolhedora e com toque dos Bryant. Piada interna foi o que presumi de imediato, já que nós nos reunimos para comprar tudo online em uma noite de cachorro-quentada na sala da vovó Janet Carter, mãe do meu pai. Falando na vovó ela estava bem distante e estranha aquele dia.

Entramos de fato em Spokane por torno das 13h30min, foi algo meio estranho o que eu senti. Eu tinha a cabeça recostada à janela escura do carro. Quando o sentimento de algumas borboletas começou fazendo questão de borbulhar a fundura do meu estômago. Rapidamente sentei-me reta, perpassando a mão contra o vidro embaçado. Não havia mais nada do que carros parados do outro lado.

No entanto, pensei ser a novidade, as paisagens perfeitas que eu estava vendo e percebendo que eu podia passar por isso, não seria um animal de sete cabeças.

Descemos todos do carro espaçoso de meu pai, um Nissan Rogue 2016 em cor cinza-escuro —  a cara dele por sinal. O sol tentava fazer seu papel de aquecer, mas não se sobressaía a propósito do frio. Porém, ele se refletia na neve deixando tudo mais que belo. Eu usava uma touca a cabeça, um sobretudo bem quente, e em cores fortes, acompanhado de botas cano alto, expressa em estilo contemporâneo.

Achei meio estranho as estruturas das casas que via ao decorrer esse bairro nobre. Nunca moramos em um bairro acima da classe média, seria a primeira vez. Eu também não havia visto nenhuma fotografia da propriedade antes, o que me deixava ainda mais ansiosa para entrar e explorar tudo por dentro.

— Aqui estamos. Essa é a nossa nova casa. — Ele disse enquanto observava a entrada. Todos estavam mudos, fazendo o mesmo que ele. — A propriedade está avaliada em um milhão, cento e dois mil dólares. Ela possui seis dormitórios, sete banheiros todos com duchas, sem dizer que as suítes possuem banheiras. Cozinha ampla, sala de visita…

— Pai, estamos vendo. — Digo-lhe, cortando sua explicação detalhada.

Mesmo ele continuando com suas animadas revelações sobre o quintal, sótão, sala de TV e todos os cômodos espaçosos que teríamos daqui para frente, eu queria ver com meus próprios olhos. Aqui diante dela, maravilho-me em ver a fachada em cores beges claras e alvejadas, janelas de vidro e um telhado em nuances, cinza.

Sim! Vou adorar morar aqui. Mas, como conseguimos dinheiro suficiente para uma casa como essa? Apesar de minha curiosidade, nem meu pai, ou minha mãe me contaria.

Penso no quanto foi cansativo empacotar todos os itens de valor que eu queria para minha nova vida e saber que agora terei mais trabalho. Favorece-me uma natural preguiça. Mas, o que mais gostei de ver com tudo ao lugar foi meu quarto, meu refúgio pessoal, onde eu poderia encher de prateleiras de livros, minhas decorações e fotografias.

Foi duas semanas para deixar tudo ao menos apresentável e já me sinto familiarizada com o bairro, os vizinhos graciosos e atentos, com partes lindas da cidade. Sinto como se eu já estivesse parte de minha aqui e ter sido muito contente.

— Mãe? — Pergunto-lhe, acomodada ao sofá observando seu preparo do almoço.

— Sim, Bianca. — Ela responde, mas seus olhos não se dirigem a mim.

— Fiquei com alguns pensamentos, de como eu me adaptei aqui em Spokane, como se eu já tivesse vindo aqui antes. Então lembrei que você nunca citou onde eu realmente nasci. Onde nasci, mãe? — Pergunte-lhe esperançosa. Necessitava saber mais sobre mim mesmo, e me admira que minha mãe tenha escondido algo como esse por todos esses anos.

 — Por que não tenta sair, se distrair e fazer amigos? — Ela desvia totalmente o assunto, deixando-me emburrada pela décima vez.

— Farei no colégio novo que, aliás, já era para eu estar matriculada. — Bufo em tédio total, lançando meu corpo entre as almofadas macias.

— A escola contém projeto de intercâmbio brasileiro. E para facilitar a entrada dos alunos o ano começa somente em março. Aproximadamente no mês que lá se inicia. — Ela esclarece com voz gentil.

— Por que tenho que estudar lá? Eu poderia ficar em uma normal como já estou acostumada. — Anuncio encarando sua face diretamente. Já que seria uma escola pública mesmo, tanto faz.

— Não há vagas, Bia. Somente obtive uma nessa escola por sorte e tenho certeza que vai gostar. Vai conhecer culturas novas, pessoas com gostos diferentes.

Hesito por instante, adoro descobrir algo novo, mas não sei se concordo muito com essa opinião vindo dela.

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Hoje é dia um de março, o clima gelado havia começado a ir embora. Infelizmente minha adorada neve iria dar lugar para as flores, as rosas e aos diversos animais que sairão da hibernação. Esse pensar, me fez despertar um pouco animada, assim me banho sem muita demora, lavo meus cabelos o mais veloz que posso e retiro uns minutos para secá-lo. Penteei os deixando para um lado como já estou acostumada, isso para me parecer bem em meu primeiro dia. Para um toque final de beleza, aplico um pouco de base, rímel e um brilho labial sem cor. Preciso estar com um pouco que seja de maquiagem, nem que seja uma cor nos lábios para dar vida em minha pele pálida, antes bronzeada.

 Acalmo-me para deixar-me mais tranquila possível. Será um dia comum como todos os outros. Minha mente me atenta e balanço a cabeça em concordância. Quero parecer confiante. Então decido usar uma t-shirt listrada em preto e branco, calça skinny cintura alta, jaqueta preta e all star básico. Em seguida, entrando na cozinha eu me apresso comendo somente uma banana enquanto minha mãe relembra de eu encontrar a diretora antes de irmos para secretaria.

Decidirmos ir a pé para não passar aquela vergonha alheia da primeira vez no ônibus escolar. Talvez nos próximos dias eu pudesse cogitar essa ideia. Caminhar parecia bom. Eu poderia refletir sobre minhas leituras ou filmes, nos quais, me entretive nas minhas “férias”. Aprender o caminho até lá seria fácil, não era totalmente distante assim, somente meia hora a pé.

Uma citação de Pausa de Colleen Hoover vem em meditação, ao situar meus passos confiantes pelas calçadas. Ela diz assim: “O amor é a coisa mais bela do mundo. Infelizmente, também é uma das coisas mais difíceis de se manter, assim como uma das mais fáceis de se desperdiçar.”,

Correto! Mas, nas obras literárias em que possuo conhecimento sobre o amor. Quase todas elas têm um final feliz. Bom em mente é considerada clichês e ultrapassadas. Em minha percepção não compreendo essa colocação para elas, pois, tem finais alegres e os “felizes para sempre” para agradarem o público e seus leitores. Pergunto-me porque fazem isso com esses contos? Nem imagino a resposta, mas até o final desse pensamento poderia conseguir uma resposta razoável.

— Bia? — Uma voz elétrica surge distante por minha cabeça. E por mais que eu queira dar atenção, decido ignorar.

Não entendi por qual motivo esse pensamento do nada. No entanto, minha consciência precisa trabalhar para esvair meu nervosismo.

Será que necessito de mais tempo para definir que existe história de amor trágicas também?

— Bia! — O grito em clamor de meu nome me faz saltar do chão.

— Ah! Oi! Suzi. — Respondo enquanto retorno a minha triste realidade.

— Está viajando hoje, hein! — Ela acena em minha vista para obter minha atenção.

— Estou pensativa, somente isso.

— Pensando em que? — Suzana para em minha frente, atrapalhando meu caminho.

— Você não entenderia. — Afirmo-lhe, contornando seu espaço.

— Ok… Ok… Parece que alguém hoje acordou com um mau humor.

— Você deve saber porquê…  — Começo minha defensiva, mas tropeço em minhas palavras. Aquele mesmo sentimento de borboletas está retomando cada célula do meu corpo, se expandindo por minha coluna vertebral, nuca e chegando enfim em meu cérebro e um leve desnorteio se faz presente. Cambaleio para me manter firme ao chão, mas isso me agarra, me puxa sem tentativa de regressão.

Ainda observo Suzana em minha visão turva, ela se sobressalta em passadas largas adiante deixando somente um comentário sobre — Saber de algo. Que estou assim estranha pela mudança! Estou paralisada, meu coração palpita fortemente levando sangue para os demais órgãos, eu quase estou sufocada e não possuo fala alguma.

O que há comigo?

Eu me mantenho neutralizada, com os sentidos elevados e sem poder fazer meus pés obedecerem meus comandos. Não compreendo, mas determinada coisa me diz para olhar ao redor, como se fosse um aviso de algo importante. Faço movimentando somente a cabeça, observando ao redor a procura do que tanto me arrepia. Contudo, a sensação se torna um vazio de repente.

— Bia… Você entendeu? É assim que tudo funciona por aqui. — Suzi me ajuda retornar daquela vesícula de emoções afloradas. E mesmo assim estou imóvel, sem reação.

— Você está me ouvindo? — A voz dela soa como um leve sopro de flauta por conta da distância entre nós.

— Eu… — Minha voz se destorce. Tento soltar algumas palavras, mas meu corpo recusa a me ouvir.

— Bia! — Ela exalta, se movendo rapidamente, ou julgo que correndo. Ela agarra meu braço com força e me retira do meio da rua. Onde acaba de transpassar um carro esporte chiando em uma buzina alta?

Como vim parar aqui?

— Está querendo se matar garota? — Ela coloca suas mãos em meus ombros me sacudindo com pressão. Sua feição pálida e desesperadora, não me deixava entender o ocorrido. — Você está bem?

 — Hã? S-sim. — Exponho com dificuldade.

— Você parecia não ouvir nada do que eu dizia. — Seus olhos negros brilham de preocupação.

— Eu… Eu… — Eu me engasgo em minha pronúncia. Oh, não! Essa sensação vai acabar me matando.

— O que foi Bia? O que está acontecendo?

Respiro fundo, buscando minha sanidade interna. Em segundos todo o alvoroço anormal se parte, rachando-se na metade. Entretanto, Suzana continua quase entrando na minha cabeça com suas perguntas.

— Vamos andando. — Digo ousando fugir da situação crítica.

— Você de fato está meio doida hoje.

Certo!

Talvez eu esteja pirada com essas coisas que estão vindos como um vendaval para cima de mim. Depois acontece esse tipo de coisa bizarra comigo. Não possuo capacidade de racionar muito bem todos os fatos que vieram vindos aos últimos meses.

 De alguma forma adorei de meu pai conseguir o seu maior sonho, mas com isso perdi os meus junto, mais uma vez. Esse cenário estar se repetindo bastante, o que vem me deixando chateada. Não sei se conformo ainda com todos de ficarmos por aqui.

 Até o momento estou tentando ter paciência com tudo, porque sou do tipo de pessoa que explode a todo o momento. Pelo menos, estou gostando daqui. Considero a cidade bem tranquila e calma. Também não tenho muito que reclamar já que Suzana, minha melhor amiga, desta vez veio conosco. Tenho certeza que sem ela estaria meio perdida por aqui.

 Falando da Suzi, fomos criadas juntas. Ela é um ano mais, velha do que eu e tem dezoito anos. Nossas mães se conheceram na adolescência e desde daquele dia não se desgrudaram mais. Porém, como nos mudamos muito ultimamente, elas ficaram uns anos longe de nós. Até que quando nos mudamos de novo elas vieram com a gente. Assim, não suporto mais ficar sem a Suzana e elas tiveram que nos acompanhar para Spokane também. Considero-a minha irmã, ela é alegre, social e muito entusiasmada. Não há como recusar minha amizade a essa garota agitada, impulsiva, realista que carrega uma pele de porcelana, madeixas ruivas e olhos pretos que brilham com sua objetividade. Acho-a aquele tipo de moça que chama muita atenção por onde passa.

Quem sabe com uma boa conversa, alivie a tensão anterior?

— E então Suzi? Como pensa que será esse longo ano escolar? — Perguntei com confiança de que ela iria responder de imediato.

— Ah! Bia sinceramente eu acho que vai ser ótimo. Às vezes mudanças são necessárias. Já passou por sua mente que talvez aqui neste lugar, possa ter algo que vai mudar sua vida? — Ela expõe em tom de ser o mais sensato a se ocorrer.

Sua pergunta me deixa intrigada… Será?

— Acredito que não. Em todos os lugares em que morei tudo era bem previsível e monótono.  — Perco-me em imaginares de minhas outras cidades e nada de diferente aconteceu.

— Talvez… Foi o que eu disse.

Ok!

Não vou jogar fora essa observação por enquanto, mas mesmo assim acho quase impossível algo surpreendente acontecer comigo. Também não estou me referindo aquele incidente de agora pouco. Mas, de sim ser algo surreal, porque sou muito fantasiosa e isso precisa… Não… Deve alimentar minhas expectativas. Reflito algumas possibilidades mentalmente, quando meu corpo colide com o de Suzi.

— O que foi? Agora é você que está aí parada. — Cerco suas reações.   Percebo que sua pele está pálida, seus olhos arregalados e sua respiração acelerada. Tento entender o que e o porquê dela estar desse jeito, buscando a mesma paisagem que ela visualiza.

 — B-Bia você viu aquilo? — A voz dela abafava todo medo, exaltação que um ser humano pode transportar.

Estou bem ao lado dela. Suzana não pisca seus olhos, está petrificada como uma estátua. Miro todo o ambiente, estamos em uma estrada pavimentada, próximas a um matagal extenso, sem movimento, brisa fresca e com certa calmaria, mas não consigo ver nada que ela se refere. Sua mão direita exprime a minha mão livre, ela suava, tremia, se amendrotava. Com certo esforço eu me solto de seu aperto, lanço meu braço ao seu para sentarmos ao meio fio.

— Você está louca, Suzana? Não há nada aqui sem sermos nós mesmas. — Tenho a voz delicada, confortando seu ombro enquanto ela continua meio estática.

 Ela fixa seu olhar gravemente fosco para o lado oposto, onde se encontrava a mesma vegetação alta. Nossa! Esse matagal devia estar bem menor, alguém precisa tomar providências sobre isto. Não seria conveniente andar sozinha por essas ruas a noite sozinha.

— Viu aquilo? — Ela pergunta-me, com seu dedo trêmulo indicando o local que se refere.

— Suzana, para de tentar nos assustar. — Digo-lhe e abaixo seu dedo. Estou irritada com essa cena ridícula de filme suspense e vamos ainda nos atrasar.

Um vento surpreendentemente arisco perpassa velozmente ao meio do mato alto. Aquela sensação retorna, mas com pacote de medo que canalizei de Suzana. Agora estou apavorada, sem crer que ela realmente dizia ver algo.

Engulo dificultosamente. — Suzi, não foi boa ideia virmos a pé. — Minha autoconfiança na cidade pacata se foi nesse exato momento. Quero me colocar em pé, arrancar Suzi dali e corremos o quanto pudermos, ou aguentarmos, mas minhas pernas parecem gelatinas moles me deixado sem muita alternativa.

— Eu sei… — Ela confirma em voz translúcida — Tem alguém ali. Tenho certeza Bianca. — Suzana declara em coragem absoluta, seu corpo rigoroso está repleto de confiança. Fazendo um movimento para se levantar do meio fio que estamos sentadas.

— Suzi… Não… — Eu solto minha voz como um murmúrio baixo, mas, preciso de sua ouvidoria. — Não sabemos do que se trata, e se for um animal selvagem? — Digo-lhe relutante, porém, contenho concepção dela não querer me ouvir.

Estou desacreditada, no entanto, Suzana possui potencial para se colocar de pé, algo que eu não ia conseguir nem seu tentasse um milhão de vezes. Ainda tenho meus olhos nela, e apercebo que ela estar prendida em uma espécie de transe letal, daqueles que te faz enfiar a frente de um veículo esperando uma morte esmagadora.

Oh! Meu Deus! Eu não quero nem ver…

 — Vamos embora! — Irrito-me. — Não tem ninguém aqui… Isso é coisa da nossa cabeça ou algum babaca pregando alguma peça com a gente. — Tento contra mim o medo também, mas preciso fazer alguma coisa de onde estou.

— Oi? Quem está aí? — A voz de Suzi está cortada pela adrenalina e essa carga elétrica também me sucumbiu por um inteiro, até mesmo o avesso.

Deixo minha cabeça baixa ao ouvir que seus passos lentos se cessaram. Na minha mente martela: Levante Bia! Levante e faça algo. Só que meu corpo me inocula da ajuda que posso oferecer.

Ouço a aproximação de alguém, passadas pesadas ecoam no chão do asfalto. Um aroma masculino, inebriante, marcante, adocicado como se eu já o sentisse antes, me fazem tornar mais intimidada e me manter de olhos atados por uns minutos. Longos minutos de aflição, amargura, mas deitada com ternura, amor e luxúria.

Eu não quero ver… Repito o mantra para me cismar de fazê-lo. Mas, uma força oculta, alumiada do fundo de minha alma me acerta de pôr os olhos em nossa tormenta. Abro os olhos receosos. Meus pés esquerdos ao chão, postados em direção do eixo, estampavam minha visão. Estou suando mais que Suzana, de imediato não sinto a frialdade do tempo frio que se cessa e sim um calor, calor inumano e mortificante. Sinto-me como um pecador se queimando no fogo eterno, mas ao entrever descubro a mais fabricada perfeição. Suspiro deixando escapar um leve gemido de admiração.

Hum! É uma beleza inexistente.

Eu não possuo mais temor, somente encaro aquela obra de arte esculpida por mãos dos deuses. Um rapaz alto, cabelos castanhos escuros longos e revoltos, corpo atlético, mas não em exagero. Face angelicalmente magnífica, nariz, boca, seus contornos são de retirar o meu fôlego. Nem um Deus Grego se compara a ele. É aí que vejo dele estar devolvendo a mesma devoção a mim, olhos azuis incomparáveis, intensos que mesmo de longe perfura minha essência.

Suzana corre para meu lado quebrando minha conexão visual com o rapaz, ela estende uma mão gentil e eu aceito me colocando em minhas tremidas pernas. Eu retorno meu olhar para ele, o garoto curva sua cabeça para um lado como se tentasse me decifrar, lendo minhas expressões faciais.

Droga!

Eu me xingo internamente a me sujeitar a rebater com sentimentos o efeito que ele causa em meu corpo. Ele está fazendo meus hormônios se copularem, minhas terminações nervosas queimarem de… Desejo? Eu não posso estar excitada por desconhecido. Posso? Com o meu pensar seus lábios se emolduram em sorriso disfarçado.

— Viu? — Suzi corta minha imaginação fértil com um beliscão em minhas costas.

— Hum!?… Aham… — Respire Bryant — Quer dizer sim. Ele é muito bonito. — Isso agora suas convicções saíram melhores.

— Não, sonsa… Você viu seus olhos? Eles estavam em outra cor. — Ela sussurra em meu ouvido em tom morno.

Parece que já o vi em algum lugar, mas aonde? Cidades natais? Passeios? Amigos em comum? 

— Bia!

— Oi! — Respondo voltando ao presente.

— Você viu os olhos dele?

Pisco os olhos e recupero meus sentidos. — Não consegui ver nada. Está ficando maluca, isso sim. — Retruco, mas meus olhos não deixam o enigmático rapaz. Continuamos em nossa bolha de conexão astral, como ímãs se colidindo, reflexos se entrecortando.

— Só que eu vi Bia. E vou lá conferir. — Fala enchendo-se de coragem, me pondo em alerta.

— O quê? Você está louca Suzana você não pode ir lá. Nós nem conhecemos aquele garoto, pode ser arriscado. — Agarro seus punhos, mas ela os arranca com força.

— Ih! Bianca larga de ser chata, a gente está a um… — Ela olha em volta. — quarteirão perto da escola. — Completa ao estar ao meio da rua.

— NÃO! — Grito em seco desespero.

Pensei ser algo incomum, mas os dois conversam algo pelo parece ser cotidiano. Suzana gargalha e dar de ombros quando ele rapidamente me lança um olhar inibitivo, desvio confusa. Mas, recupero meu ar esvaído de coragem e me dirijo na direção de ambos. Eu olhava para meus pés, não querendo ver o desejo que irradiava dele tão propositalmente.

— Suzi está tudo bem? — Pergunto-lhe, jogando a cabeça para baixo, olhos arregalados por conta da aproximação, alucinante e efervescida de perversidade.

— Sim-m. — Sua voz trêmula saiu subitamente mais fraca.

— E então vamos? — Espio brevemente o caminho para qual podemos correr se alguma coisa grave acontecer.

Vamos Suzi, vamos dar no pé, por favor. Eu não aguento essa pressão atmosférica.

— A gente estava indo aonde mesmo? — Pergunta-me. Fico sem crer. Onde está minha amiga? Solta? Atrevida? A premissa é inegavelmente verdadeira! Essa não é ela.

Suzana está me deixando absorta, quero ir embora de uma maneira rápida, lépida, como o Mercúrio ou o Flash, mas eu preciso ir nesse exato momento. O nervosismo é tamanho intenso que minha mochila se sobressaí por um ombro levando com ela parte de minha jaqueta. Na hora o rapaz a apanha devolvendo-a ao meu corpo. Sua pele está tão aquecida como a minha, seu contato foi uma condenação, colocando cada parte de minha fisionomia em eletricidade, choque harmônico, que poderia experimentar por um pouco mais. Sorte de eu ter peças por meu corpo, ou seria visivelmente possível ver todos meus pelos arrepiados.

Quando encontro seu olhar perspicaz, advirto algo disforme. Seu corpo está rígido, ereto de uma maneira desumana, sua clavícula está trincada e ao descer minha visualização, pude ver seus punhos cerrados, tendões e veias se saltavam de sua pele branca.

É extremamente sexy, ele é gostoso por completo. Mordisco meus lábios me desvencilhando de sua face.

— Tudo bem? Meu nome é Dylan e o seu é? — Ele põe sua face no meu campo de visão. Seus olhos flamejam em entusiasmo. Dou conta de ele obter um fantasma de um sorriso, mas posso estar errada.

Que porcaria de familiaridade é essa? Eu já vi esse rosto antes.

Ele me fita com olhar de maldade, malícia, como se desejasse me devorar selvagemente forte. Eu era presa e ele o meu delirante predador. Desse jeito, esse visar fez os músculos de minha barriga se contraírem em ansiedade, minhas pernas se roçam uma, a outra querendo conforto.  Não sei dizer como, porém, há uma atração irradiando em torno de nós dois. Quando olho para ele há certa diferença em minha percepção de consternação e sofrimento.

Eu me pergunto onde eles estão?

Raspo a garganta e o nervosismo me deixa sem ação.

— Sua amiga articulou ter visto algo ilícito. Você também observou algo atípico por aqui? — Sua voz é um hino, uma doce canção. Eu me sinto como os ratos atraídos ao flautista mágico.

— C-como? — Gaguejo. Meu sangue é drenado do meu corpo e a adrenalina percorre por mim.

— Algo errado. Você conseguiu observar? — Recobre a pergunta com seu olhar predativo.

— Não. — Engulo nervosamente ao mentir descaradamente.

— Certo. Percebe Suzana não há com o que se preocupar. Nem você e sua amiga… — Ele pausa contornando sua vigilância a mim.

— Bianca… O nome dela é Bianca! — Suzi, se intromete em fala estranha.

— Muito prazer, senhorita Bianca! — Diz educadamente, mas seu lábio se embrulha em um sorriso irônico.

Isso está alheio quem fala senhorita em pleno século vinte um?

— O prazer é meu, mas agora temos que ir! Não é Suzi? Nós devemos ir, senão vamos nos atrasar no primeiro dia de aula. — Digo olhando sisuda para ela, podendo a se fazer falecer com meu olhar matador.

— Sim vamos.

— Então tchau Dylan, até mais. — Despeço com educação, pois, não tenho a intenção de vê-lo novamente.

— Tchau! Dylan. — Suzana sorri para ele.

— Tchau! Senhoritas. — Ele nos proporciona um leve aceno cortês, mas em seguida seu dedo indicador encobre seu sorriso branco.

Dando graças a Deus e costas a ele, saímos finamente de lá. Não antes de mais um observar azul misterioso, devasto e sombrio de Dylan, que permaneceu fixado lá, sem se mexer, sem contrair um músculo. Somente fitando nossa saída, nossas silhuetas que após vinte passos fiz questão de apressar.

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