Capítulo 03 - Parte 04

— Com licença Dylan, posso falar com a Suzana por um minuto?

— Claro. — Ele faz uma varredura por todo meu rosto.

  Somente com seus olhos sobre mim ele parece me dissecar inteira. Essa pressão me faz suspirar e molhar os lábios em certa excitação desconhecida, com isso Dylan sorri calorosamente fazendo-me derreter mais um pouco. Respiro fundo e distancio meu olhar do seu e tento esfriar minha temperatura

— Pode falar Bia. — Ela diz com olhos fixos em Dylan.

— Pode ir até a biblioteca comigo?

— Por que não chama o nosso novo amigo Antony? — Suzana faz questão de responder sem me dar muita bola.

  Dylan esconde um sorriso através de seu dedo indicador e não para de me observar, deixando o clima ainda mais pesado.

Gente o que ele tem para mexer assim comigo?

— Ele precisou revolver algo. — Engulo em seco ao ver Dylan franzir sua testa.

Ela não gosta muito da ideia, mas levanta de sua cadeira. — Vamos então. 

  Saímos do refeitório e pelo caminho noto como as coisas estavam tensas entre nós duas. O dia não está legal para mim hoje.

— O que você tem que fazer na biblioteca? — Ela pergunta mexendo em seu celular.

— Preciso do livro de biologia. 

— Hum… Vamos logo tenho aula daqui a pouco.

  Ao chegarmos à biblioteca interrompemos nossa conversa, porque reconhecemos ser um local para mantermos nossas bocas fechadas. Era minha primeira vinda aqui, e o local me encantou muito, muitas mesas de estudos, várias prateleiras e computadores individuais deixavam tudo harmonioso.

— Obrigada, se quiser pode ir Suzi. Vejo que está bem ocupada.

— Sim, tenho aula de biologia agora. Tchau. — Ela se despede enraivecida.

— Tchau.

  Realmente mudamos muito depois que esse garoto esbarrou com a gente, e olha que hoje é somente o segundo dia. Logo começo a procurar meu livro, pois já estou atrasada para a próxima aula.

— Ei Bia precisa de ajuda? — Uma garota mais ou menos da minha altura, morena de cabelos cacheados me chama.

— Sim. Como me conhece? 

— Conversei com a sua amiga a Suzana, ela não parava de falar Bia pra cá Bia pra lá. E queria muito te conhecer melhor. Sou umas das representantes de turma e conheço bem a biblioteca.

— Estou precisando de um livro de biologia emprestado. Não peguei meus livros e nem meu armário também.

— Ah! Sim, aqui emprestamos todos os tipos de livros, me deixa ver para você.

Eu a acompanho entre as diversas e enormes prateleiras. Ela parecia bem concentrada em sua tarefa e eu somente ouvia burburinhos baixos de alguns alunos que estavam estudando.

— Acho que estar nessa seção. — Sugere ao pararmos.

  Somente dou um sorriso sem graça e observo o local. Há um abalo em todo meu corpo quando sinto um vento forte vindo das janelas, os meus pelos todos se eriçam e fico em alerta.

Não! Eu não aguento mais esse dia, desisto!

  Tento mudar o foco desse sentimento, mas por mais que ignoro mais ele preenche meu ser e advirto que algo me impulsiona a olhar pra trás de mim. É o que faço, viro todo meu corpo de uma vez e a luz do sol apodera meus olhos, tampo com meu braço para tentar recompor minha visão. Segundos depois, enfim ela se endireita e pela janela só vejo uma face com olhos hipnotizante-mente dourados. Mas, em um contorno com um prata que o deixava ainda mais radiante. De longe é a coisa mais louca e perfeita que estou vendo, pena que não sei quem é o dono desse par de olhos impressionantes, não consegui visualizar a faceta de ninguém. Estou paralisada feito uma estátua e sem piscar as pálpebras por nenhum segundo, para não perder nenhum minuto se quer desse momento.

— Então, Bia!

— Ah! — Sobressalto e grito ao ouvir a voz da garota me chamando de volta para terra. A moça responsável pela biblioteca estava lendo seu livro e me olha feio após meu pequeno susto.

— O que foi? — Ela pergunta confusa.

Ponho a mão sobre meu coração que bate forte pelo espanto e tento me acalmar.

— Nada, eu só estou meio distante hoje.

— Está bem? Passando mal?

— Estou bem. Esse é o livro? — Tento mudar de assunto.

— Sim é e vou pegar uma autorização para pegar o restante dos livros e um armário.

— Oh! Obrigada. E qual é o nome da menina milagrosa? — Eu dou um leve sorriso.

— Meu nome é Julie Sanders sua futura nova amiga. 

— Ah! Isso com certeza.

— No final da aula eu te encontro com seus livros, chave e senha do seu armário!

— Muito obrigada não sei o que eu faria sem você.

— É você estava perdidinha sem mim. — Ela murmura e concordamos risonhas.

— Acho que já vou então. Já estou atrasada, nos vemos mais tarde Julie.

— É claro que sim, até mais Bia.

  Julie é chamada por alguém e ela se vai, antes de tomar meu caminho me viro para janela, mas não tem ninguém lá. Será que foi coisa de novo da minha cabeça? É deve ser. Bom, me dirijo para minha sala e sinto um tédio com a aula lenta que parece não ter fim. Não consigo me concentrar em nada hoje, de um lado aquele garoto e do outro os olhos dourados, e lá dentro sinto uma obsessão de querer saber mais da segunda opção. Essas duas coisas me tocaram muito neste dia. Apesar de ser aula de geografia e Dylan se sentar comigo, foi tudo muito vago e eu e ele não trocamos nem mais olhares e muito menos palavras. Acho que foi melhor assim.

  Graças a Deus bate o sinal para irmos embora. Desço de imediato e encontro Julie pelos corredores do primeiro andar, e ela já me entrega os livros e me leva até meu armário. Julie foi bem gentil comigo, ao menos fiz algumas amizades nesse dia mais do que singular, definitivamente não foi um dos meus dias aleatórios, porém sobrevivi. Sento do lado de fora e espero Suzi, que não demora chegar, caminhamos juntas sem falar nada uma com a outra e de alguma maneira eu não estava nem aí naquele momento. Somente pensava o dia em que veria aqueles olhos dourados novamente, nem os de Dylan azuis como os céus abertos chegariam aos pés daquela raridade. Finalmente chegamos em casa, subo mais do que imediatamente para meu quarto e me jogo na cama. Era tudo que eu mais queria depois de hoje, só deitar e colocar a mente no lugar.

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