Pardal
Estava na boca, sentado em minha cadeira, folheando a porra do caderno vermelho e fumando um beck para tentar me acalmar, fiquei puto vendo o nome de tanta gente me devendo. Esses pregos devem estar pensando que meu morro é bagunça, todo dia chega um filho da puta me pedindo pra vender e deixar no prego, se não tem dinheiro, que se foda, vão pra puta que pariu.
Permanecia olhando página por página do caderninho, com uma mão no queixo, enquanto segurava o cigarro entre os dedos, já indignado, ouvi meu radinho chiar.
— Que é, porra? Tô ocupado!
— Foi mal aí, patrão. Tem uma mina aqui querendo bater um teti a teti contigo, tá ligado? — a voz do Cara de Rato soou no radinho.
— Tô afim de papo com puta hoje não, manda meter o pé. — respondi trincando os dentes.
— Ela disse que é importante. E aí, deixa passar ou não?
Bufei e passei a mão nos cabelos.
— Espero que seja importante mermo, não tenho tempo a perder com puta.
Deixei o radinho sobre a mesa e fechei o caderno para esperar a Maria fuzil chegar. Bateram na porta e eu deixei entrar.
— Oi, Pardal. — a voz da piranha já mostrava exatamente o que ela queria.
Inicialmente, não a respondi, somente encarei seu corpo, a mina usando um shortinho que deixava a xota rachada e um top tomara que caia, ou sei lá como se chama essa porra, com a barriga de fora, expondo seu piercing no umbigo.
Ela veio andando até mim e se inclinou na mesa, exibindo seus peitos fartos no decote.
— Fala aí, tu. — disse, cruzando os braços no peito e meneando a cabeça brevemente.
— Então… É que estou precisando de um dinheiro pra resolver uns bagulhos aí…
— E o que eu tenho a ver com isso? Tá me achando com cara de banco, porra? — fechei ainda mais minha cara para a vadia perceber que eu não estava brincando.
— Não é isso, é que pensei que talvez você pudesse me emprestar, eu juro que pago centavo por centavo. — a vadia continuou e passou a língua nos lábios, como se eu fosse otário o suficiente para cair em conversa de puta.
Analisei as palavras dela por um tempo e mirei seu corpo na maior cara dura, fixando em seus peitos. Pensei que, caso ela não me devolvesse o dinheiro, poderia me pagar de outra forma.
Imediatamente, abri o zíper da bermuda jeans e puxei meu pau pra fora, ela salivou quando me viu duro e já ia se aproximando de mim para sentar em meu colo.
— É pra mamar, porra! — ordenei e ela se abaixou, colocando tudo na boca.
Segurei seus cabelos em um rabo de cavalo e fui aumentando o ritmo das estocadas, fodendo sua boca sem deixá-la respirar. Em um momento percebi que ela iria se engasgar, mas não parei, continuei metendo e travei os dentes, reprimindo o gemido, sentindo que iria gozar e derramei meu leite em sua garganta, sem permitir desperdício.
Ao final, guardei meu pau na cueca e ela levantou, então, sem dizer nada, abri a gaveta da escrivaninha já velha e gasta, retirando dali cinco notas de cem reais, jogando na frente dela, sobre a mesa.
— É suficiente?
— Não, mas já ajuda. Obrigada, Pardal.
— Agora mete o pé! — falei, percebendo que ela estava se aproximando de mim, sem lhe dar chance de me questionar.
Para ver que eu estava falando sério, coloquei a mão em minha Glock que estava na mesa e, sem demonstrar nenhuma emoção, ameacei puxá-la. A vadia engoliu em seco e se apressou em sair. Quando ouvi o som da porta batendo, ri nasalmente. Essas otárias vivem fazendo barraco por aí, procurando confusão até com o diabo e só faltam se mijar quando me veem. Mas isso é bom, o medo que todos têm de mim só aumenta ainda mais a adrenalina em minhas veias.
Voltei a conferir o caderno vermelho e parei numa página que me fez meu ódio crescer ainda mais, vendo o nome que havia ali.
— Hoje tu morre! — falei cerrando os dentes e peguei meu radinho.
— O que manda, patrão? — Cara de Rato respondeu.
— Chama o Rabicó e me esperem na entrada da boca.
— Algum problema?
— Se fosse um só era bom, mas se mete não, que esse eu faço questão de resolver pessoalmente.
— E o baile, tu não vai brotar? — bufei, impaciente com suas perguntas.
— Isso é interrogatório, viado? Se mete em meus rolos não, parça. Faz o que tô mandando e pronto!
Já estava quase espumando com tanta pergunta idiota, então nem lhe dei tempo para me responder, larguei o radinho na mesa, terminei de fumar meu beck, me permitindo relaxar um pouco e deixando no cinzeiro em seguida, coloquei minha Glock na cintura e saí. Meus dois vapores de confiança já estavam na saída da boca me esperando, ambos segurando um fuzil.
Dei um toque de bandido em cada um e entrei em meu carro, eles fizeram o mesmo sem fazer perguntas. Também, eu estava com a cara tão amarrada que duvido muito que algum otário se meteria a besta de falar comigo. Girei a chave na ignição e saí cantando pneu, não demorando a chegar em frente ao bar do Cezinha.
Assim que pus os pés no bar, vi a sombra do filho da puta correndo, mas nem me preocupei, porque sabia que não havia lugar para ele sair pelos fundos daquela espelunca, então continuei andando e tentando manter a calma — algo quase impossível, levando em conta que minha vontade era socar uma bala no meio da testa dele.
Tinha só um cara lá bebendo uma cerveja na mó paz, enquanto me aproximava do balcão, passei por ele, dando um cutucão para que notasse meu recado. O homem me encarou, deixou um dinheiro na mesa e saiu correndo, quase quebrando o copo por causa da pressa. Apoiei meu braço direito no balcão, ficando meio de lado.
— Cezinha. — não gritei, nem nada do tipo, somente chamei seu nome.
Não ouvimos nada.
— Sei que tu tá aí, não adianta se esconder. É melhor aparecer e conversar comigo como sujeito homem, tá ligado? Posso destruir essa espelunca que tu chama de bar em dois minutos.
— O que você quer, Pardal? Eu já disse que vou te pagar. — ele me respondeu e eu crispei os olhos, tentando distinguir de onde vinha o som de sua voz.
— Tu já me disse isso pelo menos umas três vezes, já tive muita paciência contigo, mermão. Bora, apareça, seja homem nessa porra! — dei um soco forte no balcão para ele ver que eu não estava de brincadeira.
Vi o sacana sair de debaixo do balcão e me olhar com medo.
— Venha cá. — meneei a cabeça brevemente para ele vir até mim.
— Não me mate, por favor, Pardal… Eu juro que vou te pagar. — choramingou feito uma mocinha.
Esses porra nem sabem ser homem.
— Escuta aqui, tá me tirando como otário? — perguntei, segurando-o pelo colarinho da camisa e o suspendendo — Responde, caralho! Tá me tirando como otário? — falei tão alto que algumas gotas de saliva escaparam e foram parar na cara dele.
— N… Não, Pardal…
— Tu foi pedir dinheiro emprestado, dizendo que aquela arrombada da tua mulher tava doente e precisava de remédio. Se tu não pagar o que me deve, vou meter bala naquele pau no cu do seu filho viciado.
Continuei o ameaçando e vendo-o choramingar, ameacei até a puta da mulher dele. O desgraçado jurou de pé junto que ia pagar o que me devia, até se mijar nas calças, ele fez. Filho da puta nojento.
Quando finalmente o soltei, virei para irmos embora e me deparei com uma mina mó gostosa que eu tô reparando faz um tempo. Gostosa pra caralho! Vi duas, na verdade, mas só uma me chamou a atenção. Sem conseguir conter a secada, a encarei de cima a baixo, reparando em cada detalhe, a pele bronzeadinha com marquinha de biquíni, mini saia, que deixava suas coxas grossas à mostra, os peitos quase pulando pra fora no decote da blusa, os cabelos cacheados, que lhe davam um ar selvagem, diferente da maioria das mina aqui do morro, e uma boquinha que dava pra imaginar ela mamando bem gostoso em meu pau. Só em pensar, senti um certo incômodo, como se meu pau se animasse. A mina ficou sem graça e com medo, percebi pelo jeito que desviou os olhos dos meus.
Adiantei meu lado, porque já era noite e ainda tinha que brotar no baile. Antes de sair, passei pela mesa onde estava o cara bebendo quando cheguei e peguei o dinheiro que ele deixou ali. Nada mais justo se o Cezinha tá me devendo. Aqui é olho por olho.
— Qual foi, Pardal? Aquela mina ali nem faz o seu tipo, tá precisando é de um dos seus pente. — Rabicó comentou.
— Se foder! Vai comer alguém e me deixa quieto, porra! — o respondi irritado e vi os dois rirem de mim.
Esses porra não tem mais respeito por mim, só pode.
(...)
Assim que cheguei na quadra onde o baile estava rolando a todo vapor, fui direto para o camarote. Dei um toque em meus parça e sentei, tomando o copo com vodca que estava na mão do Rabicó.
— Tu não cansa, né? — ele reclamou.
— Vai pegar outro pra tu e me deixa em paz. — o respondi, tomando um gole da bebida.
Uma mina mó Maria fuzil chegou e sentou em meu colo, eu não disse nada, só fiquei observando o que ela iria fazer. Ela cheirou em meu pescoço e tentou me beijar.
— Não beijo boca de puta. — falei, segurando seu pescoço com força, quase a enforcando, a impedindo de prosseguir.
Mas ela não desistiu, se abaixou, abriu minha bermuda e puxou meu pau pra fora, abocanhando. Mesmo gostando daquilo, não esbocei nenhuma reação, nem mesmo segurei em seu cabelo, só deixei que ela me agradasse. Enquanto isso, segui conversando com meus parça, como se não estivesse acontecendo.
— O que tá rolando aqui? Larga do meu macho, sua vagabunda! — Agatha, uma mina que não só eu, mas geral come, chegou, quase arrancando os cabelos da que estava me chupando.
— Tá pagando de louca? Se manca! — falei com a voz alterada e fui fechando o zíper.
— Mas eu pensei que tu ia me assumir, Pardal… — ela me encara com uma cara de quem comeu e não gostou.
— Tu deve tá pirada — disse, batendo o dedo indicador em minha testa — Bora, se manda daqui as duas! — ameacei pegar minha arma da cintura.
Os caras apenas observavam a cena com um sorrisinho cínico. Mesmo contra vontade, elas saíram dali pisando duro.
Olhei rapidamente para baixo e tive a impressão de ter visto a mina gostosa de mais cedo ali no meio da multidão, rebolando aquela bunda que eu só queria foder.
— Qual foi, Pardal? Desde quando tu nega uma boa mamada? — Cara de Rato falou a respeito do que eu tinha acabado de fazer.
— Vai ver se eu tô na esquina, porra! — dito isso, me levantei e me aproximei do parapeito, inclinando meu corpo e meus olhos varreram todo o lugar a procura da mina gostosa. Só queria saber se eu estava ficando maluco.
Não achei nada, só tinha os mesmos rostos de sempre. O pior é que eu tô começando a ficar encucado com isso, com tanta vadia disposta a me dar, não posso ficar vidrado em uma única mulher.
— Oi, Pardal… — uma mulher chegou em mim, passando a mão em meu abdômen, indo até meu pau, alisando.
Não ia ser eu a resistir, puxei ela pra um canto qualquer e comi. Mas fodi na força do ódio, tentando parar de pensar na outra lá que nem faço ideia de quem seja, já que não frequentamos os mesmos lugares. A mina tentou me beijar, porém, eu lhe dei um tapa no rosto pra ela se ligar em quem manda nessa porra, vendo-a fazer cara de choro e continuei metendo com força até gozar. Depois joguei a camisinha no lixo e saí. Nem fiz questão de saber se ela gozou também, Foda-se!
Malu — Oi? Terra chamando Malu… — a voz da Yasmin, seguida do estalar de seus dedos repetidamente em frente ao meu rosto, me faz voltar à realidade. Pisco algumas vezes, a encarando e noto seu cenho franzido. — O que disse? — lhe pergunto. — Tava no mundo da lua, foi? Pigarreio. — Acho que só fiquei assustada com o que acabou de acontecer, nunca tinha visto esse cara tão perto. — minto, não em mencionar que o Pardal e eu nunca estivemos muito perto, mas sobre o fato de ter viajado por causa disso. A verdade é que algo naquele homem tão imponente e cheio de si, me deixou paralisada e, como se não bastasse, com a calcinha molhada. O Pardal não faz o meu tipo, então, por que fiquei assim? — Ah, deixa de ser mole, foi bem maneiro a cena. — Yasmin diz em tom de descontração e me dá um soquinho de leve no ombro. — Não foi nada maneiro, Ys. Já pensou se aqueles caras resolvem matar o Cezinha? Nós seríamos testemunhas de um crime, se liga. — lhe dou um peteleco na testa. — Vamos sen
Malu Na manhã seguinte, ao acordar, passo a mão pela cama e tudo o que sinto é o colchão vazio e o lençol esparramado. Vou abrindo os olhos aos poucos, tentando me acostumar com a claridade do sol que entra pela parte de vidro da janela de alumínio e, olhando ao redor, me certifico que realmente não tem ninguém. Fico imaginando se o ocorrido da noite passada foi coisa da minha cabeça ou se sonhei com a mamãe voltando, mas não é possível que seja isso. Olho as horas no visor do meu celular que está na mesinha do abajur ao lado da cama e vejo que estou super no horário, não me atrasei para o trabalho, apesar de ter bebido um pouco ontem. Levanto e pego a toalha pendurada no varal que fica do lado de fora da janela. É o único lugar onde podemos estender nossas roupas, por ventar bastante, já que não temos quintal. Saio do quarto para ir ao banheiro, mas sinto um cheiro delicioso de ovo frito na margarina. Sorrio, porque somente uma pessoa costuma fazer isso para mim, desde que eu era cr
Pardal— E aí, paizão! Qual vai ser? — um dos meus vapores perguntou, enquanto estávamos sentados em meu escritório na boca, resolvendo uns corre que temos que fazer.— Dessa vez eu quero todo mundo colando comigo, os cu azul tão achando que podem comigo. — Mas se for todo mundo, o morro vai ficar desprotegido. E se eles tentarem invadir quando nós tiver fora? Bota a cabeça pra funcionar, Pardal. — Rabicó comentou, batendo os dedos na testa pra que eu me ligasse no esquema.Respirei fundo, passei a mão nos cabelos e senti a raiva e a ansiedade querendo chegar. Peguei um cigarro de maconha e acendi, fumando e soprando a fumaça, tentando manter a calma. Já tem um tempo que os cu azul estão tentando invadir o morro, mas todas as vezes que eles tentaram, não conseguiram, porque estamos preparados pra tudo, tá ligado? Só que eu já tô puto com isso, a vontade mesmo é sair metendo bala em geral, botar minha cara pra jogo mesmo, papo reto. O que não me deixa fazer isso é pensar na coroa, eu s
Malu Saí daquele bar revoltada da vida, cuspindo fogo, com vontade de meter uma bala no meio da testa daquele filho da puta do Pardal. Quem ele pensa que é? Acha que eu sou um dos pentes dele, que pode fazer o que quiser comigo? Pois, ele pode tirar o cavalinho da chuva, porque não sou esse tipo de pessoa. Segui pelo meio-fio, segurando dois sacos na mão, um com os refris e outro com o fardo de latão, estava meio pesado e, para completar ainda mais o cenário, ainda tinha a porcaria do sol escaldante, que parecia mais que iria me derreter ali mesmo no asfalto. Acho que se colocasse um ovo, ele saía frito e pronto para comer. — Demorou, hein! — Julia comentou assim que entrei, pisando duro no salão. — Não me enche a porra do saco, Julia. Toma aí! — entreguei os sacos nas mãos dela, que me olhou sem entender nada, com o cenho franzido. — O que rolou, gata? Tá precisando de pica, meu anjo? — perguntou com deboche. Bufei e sentei em uma das poltronas. — Desculpa, não queria descontar
MaluDurante o restante do dia, minha mente esteve longe, não houve um só momento em que eu não estivesse pensando em minha mãe, pedindo mentalmente que as horas passassem rápido para que eu pudesse ir embora e me certificar que o aperto no peito que eu estava sentindo era coisa da minha cabeça e quando eu chegasse em casa, ela estaria sentada no sofá, assistindo novela e comendo pipoca ou cozinhando para mim.Assim que encerrei meu expediente, me apressei em organizar minhas coisas para ir embora. Aparentemente, a Joice estava com medo de mim, porque ficava me olhando de soslaio e quando eu a desafiava, olhando bem na cara dela, desviava o olhar. Chegava a ser engraçado, confesso. Mas isso é ótimo, pessoas preconceituosas precisam aprender onde é o seu lugar.Segui meu caminho até em casa, vendo novamente o vapor do Pardal bem perto, a vontade que eu tenho de meter a mão na cara dele e perguntar porque está rondando é imensa. É óbvio que não farei isso, pois, corro o sério risco de le
MaluÀs vezes penso que não já sofri o suficiente nessa vida, por isso que, volta e meia, acontece alguma merda. Ali, naquele exato momento, vendo a minha mãe, a mulher que me deu a vida, que fez tudo o que esteve ao seu alcance por mim, completamente sem vida, sentia como se o meu mundo estivesse acabado. Se ainda restava algo de valor em mim, não existia mais.Ajoelhada no chão e segurando a cabeça dela, choro copiosamente, sentindo como se o meu peito estivesse se rasgando pouco a pouco. — Mãe… Por favor… Volta… — chamo por ela, mesmo sabendo que não irá voltar, porque ainda há um fio de esperança em meu peito.— Amiga, não há mais o que ser feito, ela se foi. Você precisa ser forte, meu anjo. — Yasmin tenta me afastar do corpo da minha mãe, me forçando a olhar para ela, abaixada ao meu lado.— Não, ela não foi. Sei que não. — profiro, balançando a cabeça para os lados, sem conseguir parar de chorar e sem querer aceitar.— Malu, por favor, me escuta, mona — ela segura meu rosto ent
MaluO dia anterior foi bem agitado, quando parei em casa, já estava morta de cansaço. Minha amiga e sua mãe insistiram durante todo o dia para que eu levasse o corpo da minha mãe para ser velado, mas, para mim, isso seria apenas prolongar ainda mais o meu sofrimento. Sem esquecer de mencionar que, levando em consideração a fama que ela teve todos esses últimos anos, desde começou a ganhar a vida se prostituindo e usar drogas, seria muita hipocrisia da parte dos moradores da comunidade, irem se despedir dela.Não, eu jamais permitiria isso. Dessa forma, a primeira pessoa para quem liguei, foi a Elô, mas nem precisei me explicar, porque, obviamente, os rumores já haviam se espalhado e, entre esses burburinhos, já era possível ouvir, até mesmo, que minha mãe morreu por causa de dívida de droga, ou pior, que algum dos caras que frequentavam o lugar em que ela trabalhava, a matou. Pois é, o defunto ainda nem esfriou e as fofocas já começaram a surgir. Não que eu estivesse surpresa.Depois
MaluVou despertando aos poucos, ao som do que parece ser batimentos cardíacos. Como assim? Estou em um hospital? Meus olhos estão pesados, movo as pálpebras, mas, inicialmente, não consigo abri-los.— Mãe… — murmuro quase que inaudível, já que minha voz está fraca.Consigo abrir um pouco os olhos, porém, a luz forte do lugar me cega, fazendo-me apertá-los com o máximo de força, só então, abro-os. Olho ao redor e vejo paredes brancas, um ar-condicionado velho e algumas macas com outras pessoas nelas, então, constato que não estou no hospital e, sim, no postinho da comunidade. — Ah, meu Deus! Finalmente você acordou, Malu! — essa voz soa familiar, olho para o lado direito e me deparo com a Yasmin e a Elô, ambas com um semblante carregado de preocupação.— O que estou fazendo aqui? O que aconteceu? — pergunto meio grogue e engasgo com a saliva grossa.— Não lembra de nada? — Yasmin pergunta.— Só lembro que estava no banheiro, tinha acabado de levantar para fazer xixi e beber água, depo