Pardal— Vocês estão cercados, não há como escapar, é melhor se entregarem! — enquanto estamos fazendo os funcionários e clientes do banco de reféns, os cu azul cercam a frente do lugar e a voz de um deles ecoa no alto-falante.Estamos todos armados até os dentes, cada um dos meus vapores em um canto, pra garantir que ninguém aqui se meta a besta e tente dar uma de engraçadinho.Pego o radinho que um cu azul colocou aqui dentro pra se comunicar com a gente e tentar um acordo. Só não sei que porra de acordo eles pensam que vão conseguir.— Escute bem, porque eu só vou falar uma vez, tá ligado? Vamo sair daqui pelos fundos do banco e se qualquer um de vocês tentar nos seguir ou fizer qualquer gracinha, vamo meter bala em geral. Quero nem saber quem é inocente, vai todo mundo levar bala. — falo, encarando todos os olhares assustados, direcionados a mim.Alguns choramingando.— Queremos sair daqui numa boa, sem causar alarde, pô. Mas tudo depende de vocês. — concluo.Como não ouço resposta
MaluUma semana depois…Os últimos dias não têm sido nada fáceis para mim, tenho sonhado muito com a minha mãe, ou melhor, tido pesadelos, já que são sempre sonhos loucos. Em sua maioria, ou encontro seu corpo sem vida em casa, ou estou a matando, algo que eu jamais faria. Ela podia ser péssima como fosse, mas ainda assim era minha mãe.A Yasmin vive me lembrando sobre o que a enfermeira do postinho falou, para eu me consultar com uma psicóloga, eu só não sei como isso iria me ajudar a superar o luto. Tenho vivido um dia de cada vez, alguns são mais difíceis do que outros, mas como minha amiga disse: já passei por muitas coisas nessa vida, não será isso que vai me derrubar.A Elô disse que eu poderia ficar mais tempo em casa, que talvez eu precisasse disso, porém, isso só tem me deixado pior. Para cada canto da casa, que eu olho, só consigo ver a minha mãe. E a lembrança da última vez em que estivemos juntas, de tudo o que ela me disse, estava disposta a mudar de vida, a forma como me
MaluSaio, literalmente, pisando duro daquele lugar horrendo e sigo para casa me repreendendo por ter sido tão tola, tão idiota ao ponto de me deixar levar pelo momento e quase ter feito uma besteira das grandes.A raiva que sinto de mim mesma é imensa, quando percebo, já estou na frente da minha casa. Antes de entrar, lembro que o Pardal chupou meu pescoço, então, ponho a mão no lado em que ele fez isso, com medo que tenha ficado uma marca arroxeada e minha amiga veja. Ela, certamente, pensaria besteira. Não que ela não tenha razão, já que deve estar explícito em minha pele o que aconteceu a poucos minutos.— A gente junto é mó parada, a gente não presta, zero compromisso, se for sempre assim, nós fecha. — ao entrar em casa, ouço a Yasmin cantarolando um trecho da música Sem Filtro, da Iza, enquanto mexe no celular.— Ele me paga, quem ele pensa que é? — estou soltando fogo pelas ventas, fazendo o possível para não retirar a mão do pescoço.— Demorou, hein… O que rolou? Por que tá ner
MaluDias depois…Faz alguns dias, desde o ocorrido com o Pardal, graças a Deus, minha amiga não tocou mais no assunto. Quer dizer… Sempre que saímos ou quando ela vem em minha casa e vê o vapor rondando por aqui, solta uma piadinha ou outra, na maioria das vezes dizendo que o dono do morro já está tomando conta da fiel dele. Minha amiga não analisa as coisas que fala, então eu costumo relevar.Ultimamente, depois que eu decidi fazer a prova do Enem para tentar uma chance na UFRJ, temos estudado juntas todas as noites quando chego do salão, tem sido maravilhoso, pois, além de ocupar a minha mente, não me deixando pensar em coisas ruins, também tenho relembrado assuntos relevantes que podem vir a cair na prova. Para ser bem sincera, eu não acredito muito que irei conseguir essa vaga, mas estou com o pensamento positivo de que preciso ao menos tentar. É domingo e Yasmin e eu combinamos de pegar um cinema hoje, juntamente com a Eloá e a Julia. Ficamos de nos encontrar na saída do morro
MaluUm mês depois…Essa semana fez um mês que a minha mãe morreu e, mesmo assim, ainda não parece real. Todo dia, eu acordo com a sensação de que em algum momento ela vai passar por aquela porta e me mostrar que tudo isso não passou de um pesadelo daqueles bem macabros… Mas não, infelizmente, sei que isso não vai acontecer, porque eu lembro exatamente do momento em que seu caixão foi colocado naquele buraco e, em seguida, jogaram areia sobre ele.Na data de sua morte, eu estava muito mal, até cheguei a ir trabalhar, porém, a Elô percebeu o meu semblante tristonho, me perguntou várias vezes a razão para eu estar daquele jeito e eu não falava. Não queria colocar aquele sentimento de impotência para fora, porque tenho vivido um dia de cada vez e não tem sido nada fácil e, sim, muito doloroso. Então, se deu conta do motivo e me dispensou. Eu não queria ir para casa, porque, para mim, seria bem pior, por essa razão, ela ligou para a Yasmim e pediu que fosse me buscar no salão, e me levasse
MaluContinuamos dançando, mexendo nossa raba ao som das várias músicas que estão sendo tocadas, em alguns momentos, vários rapazes chegam em nós, tentando conseguir alguma coisa, minha amiga ficou com todos que chegaram nela. A Yasmin não é do tipo que dispensa uns bons amassos, mas quando se trata de sexo, ela não transa com qualquer um, costuma dizer que o cara tem que ser muito foda ou, pelo menos, muito bom de lábia e pegada para atiçar o lado safado dela.Inclusive, somente essa noite, ela já dispensou vários, que saíram putinhos por terem sido atiçados para nada.Eu, até o momento, não fiquei com ninguém, mas nunca se sabe, né… Repentinamente, sinto uma mão em minha cintura e uma fungada em meu cangote. — Para, não, gatinha. — a voz grave do cara ecoa bem baixinho em meu ouvido, quando ele percebe que parei de dançar.Até penso em tentar afastá-lo de mim, porém, decido não fazer isso, já que, até o momento, ele não tentou nada. Volto a dançar e cada vez mais ele cola nossos cor
MaluApós algum tempo, ele para em frente a uma casa, que imagino ser dele. O lugar não tem nada demais, olhando assim, parece mais uma casa abandonada há muito tempo. Não é algo que me surpreenda, porque a maioria aqui é assim, especialmente se tratando de bandido, mas imaginei que tendo dinheiro como ele deve ter, seria algo mais apresentável. Desço da moto e ele faz o mesmo, deixando-a do lado de fora mesmo, até porque, quem se arriscaria a mexer com algo que pertence ao dono do morro? Só se for para acordar como a boca cheia de formiga.Ele vai andando em direção a porta e eu permaneço parada, sem conseguir dar um passo adiante, pensando: que merda deu em minha cabeça para eu ter aceitado vir com ele? Devia ter bosta nas bebidas que ingeri essa noite.— Vai ficar aí parada, pô? — Pardal pergunta, um tanto impaciente e não é para menos, já que, apesar de ser um idiota, em nenhum momento me forçou a fazer nada.Balanço a cabeça para os lados e pisco repetidamente, então o sigo até a
MaluAo abrir meus olhos, sinto minha cabeça latejar, como se fosse explodir a qualquer momento, por isso faço uma careta e ponho a mão nela. Quando faço isso, olho para o lado e esbugalho os olhos ao me deparar com o Pardal, ele está de bruços, com os braços esticados acima da cabeça e, como o lençol me dá a visão quase perfeita de sua bunda redondinha, presumo que ele está nu, o que faz com que lembranças da noite anterior venham a tona.— Droga! — murmuro bem baixinho.Vejo-o se mexer um pouco, por isso coloco a mão na boca para não acordá-lo. Ele apenas muda de posição, virando de frente para mim, mas permanece de olhos fechados, o que me faz suspirar aliviada.Olho ao redor, procurando por minha bolsa, onde está o meu celular, porém, não encontro, então decido levantar. O faço bem devagar, de forma que nem mesmo que colchão afunde, pretendo sair daqui o mais rápido possível, sem ser vista. Assim que consigo levantar, totalmente peladona — porque não pude puxar o lençol, já que o c