MaluFicamos um bom tempo ainda no baile, até eu não aguentar mais de cansaço e dor nas costas. Sério, alguém deveria ter me avisado sobre essa parte nada feliz da gravidez, nos iludem completamente com aquelas propagandas de mulheres felizes, tentando nos passar a ideia da luz da gestação. Mas, que luz? Conversamos e decidimos que eu passaria aquela noite ainda na casa da Maju, quer dizer, eu disse que não iria para a cama com ele e o obriguei a aceitar minha decisão. Obviamente, ele não concordou, mas decidiu aceitar como prova de sua mudança em relação a mim.No dia seguinte, ele apareceu lá com a desculpa de ter ido visitar o Rael, mas eu sabia exatamente qual era a sua real intenção. Ele queria estar perto de mim e devo ser sincera em dizer que senti mais falta dele do que queria admitir.Na segunda, antes de sair para trabalhar, tinha colocado um par de tênis, que faz parte do meu uniforme, sendo estagiária, mas assim que dei um nó para fazer um laço no cadarço, senti meus pés
MaluDepois da noite que passamos naquela pousada, um momento tão perfeito, já não me restavam mais dúvidas de que, não importa para onde eu vá ou quanto tempo passe, eu sempre amarei o Pardal e terei vontade de estar com ele. Fomos embora na manhã seguinte logo cedo, ele nos levou para casa e a única coisa que tive tempo de fazer, antes de ir trabalhar, foi tomar um banho direito para tirar o cheiro de sexo do meu corpo e trocar de roupa.Algumas semanas depois, com a minha vida já encaminhada e tendo retornado para nossa casa — mesmo a contragosto da Maju — era hora de resolver uma pendência sobre um “serumaninho” que precisava ter uma família e pessoas que o amem à sua volta.Meu marido já havia ido para a boca e eu estava me arrumando para ir até o salão, conversar com a Elô sobre a adoção do Vitor que, devido à turbulência que foram meus últimos dias, não tive tempo de fazer e temo que a Aline pense que eu esqueci, quando, na verdade, estava tudo fora do meu controle.Mas, desde
MaluOito anos depois…— Rael, vai chamar seu pai! — grito, chamando a atenção dele, que está no quarto, jogando videogame.Como não ouço resposta e sei que ele deve estar com o som do jogo nas alturas, chamo outra vez.— Rael! — Quer que eu vá chamar ele, mamãe? — a pequena Hely me pergunta.— Vai lá, minha filha, antes que eu perca a paciência com seu irmão. — respiro fundo, terminando de temperar as carnes do churrasco.Hely sai correndo e escuto quando sobe a escada correndo. — Não corre, menina! — grito irritada.— Desculpa, mamãe! É sempre assim, qualquer data comemorativa em que decidimos fazer tudo aqui em casa, fico nervosa para que tudo saia perfeito. Nesse caso, ainda mais, porque além de estarmos comemorando o aniversário do Rael, planejei uma surpresa para meu marido, já que os dois fazem aniversário na mesma semana. Sendo hoje um domingo, tudo se tornou bastante propício para a situação. Inclusive, detesto quando ele precisa ir para a boca aos domingos — é raro, mas a
AVISOS: ESTA OBRA TRATA-SE DE UM DARK ROMANCE, PODE CONTER VIOLÊNCIA DOMÉSTICA (AGRESSÃO FÍSICA E VERBAL), PALAVRAS DE BAIXO CALÃO, USO DE DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS, HOMICÍDIO, SUICÍDIO, CENAS DE SEXO EXPLÍCITO, ENTRE OUTRAS COISAS. LEIA POR SUA CONTA E RISCO. A OPNIÃO POLÍTICA E RELIGIOSA DA AUTORA NÃO É EXPRESSA NA OBRA. A AUTORA NÃO COMPACTUA, NEM CONCORDA COM NENHUMA DAS AÇÕES ACIMA MENCIONADAS, MENOS AINDA, ESTÁ ROMANTIZANDO RELACIONAMENTO ABUSIVO E AFINS, PORÉM, TRAZ AQUI FATOS REAIS DA VIDA DE MUITAS MULHERES E MORADORES DAS FAVELAS DO BRASIL. LEMBRE-SE: VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER É CRIME, DENUNCIE! LIGUE 180. (...) Malu — Corre, Malu! Abaixa a porta! — Eloá grita, enquanto sai do banheiro às pressas, fechando o zíper da calça jeans e vindo em minha direção e as outras correm para uma parte segura do lugar, onde não há risco de uma bala perfurar as paredes ou a porta e atingir alguém. Não conseguimos ouvir nada além do som de tiros do lado de fora do salão de beleza. Meu co
Malu Depois de algum tempo me debulhando em lágrimas no sofá, decidi levantar e tomar um banho para ao menos tentar relaxar — algo que sei que seria quase impossível, porque cada instante em que eu fechava os olhos, a imagem da minha mãe completamente transtornada, vinha em minha mente. Fico um bom tempo debaixo da água fria do chuveiro tentando compreender como nossas vidas chegaram a esse ponto… A mulher que me deu à luz, que cuidou de mim com todo amor que tinha para oferecer, que prometeu jamais me abandonar, jamais agiria dessa forma comigo, a única coisa que podia explicar tudo isso era seu vício. Não há outra explicação. Eu só queria, sei lá… Que as coisas fossem diferentes… É pedir demais para uma jovem no auge dos seus dezenove anos, desejar uma família estruturada, viver cercada de pessoas amorosas? Não que eu não tenha pessoas que me amem, pelo contrário, apesar de a vida, por vezes, me obrigar a comer o pão que o diabo amassou, tenho, sim, quem se importe comigo. Com a
Pardal Estava na boca, sentado em minha cadeira, folheando a porra do caderno vermelho e fumando um beck para tentar me acalmar, fiquei puto vendo o nome de tanta gente me devendo. Esses pregos devem estar pensando que meu morro é bagunça, todo dia chega um filho da puta me pedindo pra vender e deixar no prego, se não tem dinheiro, que se foda, vão pra puta que pariu. Permanecia olhando página por página do caderninho, com uma mão no queixo, enquanto segurava o cigarro entre os dedos, já indignado, ouvi meu radinho chiar. — Que é, porra? Tô ocupado! — Foi mal aí, patrão. Tem uma mina aqui querendo bater um teti a teti contigo, tá ligado? — a voz do Cara de Rato soou no radinho. — Tô afim de papo com puta hoje não, manda meter o pé. — respondi trincando os dentes. — Ela disse que é importante. E aí, deixa passar ou não? Bufei e passei a mão nos cabelos. — Espero que seja importante mermo, não tenho tempo a perder com puta. Deixei o radinho sobre a mesa e fechei o caderno par
Malu — Oi? Terra chamando Malu… — a voz da Yasmin, seguida do estalar de seus dedos repetidamente em frente ao meu rosto, me faz voltar à realidade. Pisco algumas vezes, a encarando e noto seu cenho franzido. — O que disse? — lhe pergunto. — Tava no mundo da lua, foi? Pigarreio. — Acho que só fiquei assustada com o que acabou de acontecer, nunca tinha visto esse cara tão perto. — minto, não em mencionar que o Pardal e eu nunca estivemos muito perto, mas sobre o fato de ter viajado por causa disso. A verdade é que algo naquele homem tão imponente e cheio de si, me deixou paralisada e, como se não bastasse, com a calcinha molhada. O Pardal não faz o meu tipo, então, por que fiquei assim? — Ah, deixa de ser mole, foi bem maneiro a cena. — Yasmin diz em tom de descontração e me dá um soquinho de leve no ombro. — Não foi nada maneiro, Ys. Já pensou se aqueles caras resolvem matar o Cezinha? Nós seríamos testemunhas de um crime, se liga. — lhe dou um peteleco na testa. — Vamos sen
Malu Na manhã seguinte, ao acordar, passo a mão pela cama e tudo o que sinto é o colchão vazio e o lençol esparramado. Vou abrindo os olhos aos poucos, tentando me acostumar com a claridade do sol que entra pela parte de vidro da janela de alumínio e, olhando ao redor, me certifico que realmente não tem ninguém. Fico imaginando se o ocorrido da noite passada foi coisa da minha cabeça ou se sonhei com a mamãe voltando, mas não é possível que seja isso. Olho as horas no visor do meu celular que está na mesinha do abajur ao lado da cama e vejo que estou super no horário, não me atrasei para o trabalho, apesar de ter bebido um pouco ontem. Levanto e pego a toalha pendurada no varal que fica do lado de fora da janela. É o único lugar onde podemos estender nossas roupas, por ventar bastante, já que não temos quintal. Saio do quarto para ir ao banheiro, mas sinto um cheiro delicioso de ovo frito na margarina. Sorrio, porque somente uma pessoa costuma fazer isso para mim, desde que eu era cr