Pardal
— E aí, paizão! Qual vai ser? — um dos meus vapores perguntou, enquanto estávamos sentados em meu escritório na boca, resolvendo uns corre que temos que fazer.— Dessa vez eu quero todo mundo colando comigo, os cu azul tão achando que podem comigo.— Mas se for todo mundo, o morro vai ficar desprotegido. E se eles tentarem invadir quando nós tiver fora? Bota a cabeça pra funcionar, Pardal. — Rabicó comentou, batendo os dedos na testa pra que eu me ligasse no esquema.Respirei fundo, passei a mão nos cabelos e senti a raiva e a ansiedade querendo chegar. Peguei um cigarro de maconha e acendi, fumando e soprando a fumaça, tentando manter a calma. Já tem um tempo que os cu azul estão tentando invadir o morro, mas todas as vezes que eles tentaram, não conseguiram, porque estamos preparados pra tudo, tá ligado? Só que eu já tô puto com isso, a vontade mesmo é sair metendo bala em geral, botar minha cara pra jogo mesmo, papo reto. O que não me deixa fazer isso é pensar na coroa, eu sou tudo o que ela tem e é muito arriscado eu dar as caras assim no asfalto.— Vamos fazer o seguinte então, vai tu, Cara de Rato e mais alguns, os aviãozinho vão ficar aqui, tudo armado até os dentes, tá ligado? Papo dez. Ninguém dá mole nessa porra não, ou eu meto bala em quem amarelar.— Jaé, patrão! — Cara de Rato e mais dois concordaram comigo.— Agora rala todo mundo daqui que eu tenho outras coisas pra resolver, sou desocupado não. — mandei, gesticulando com a mão pra eles meterem o pé.— Tá precisando de uma foda, anda muito nervosin. — Rabicó comentou, fazendo todos rirem, enquanto levantavam e saíam da minha sala.— Vou mostrar pra tu quem tá nervosin, filho da puta. — respondi, sacando minha Glock que estava em cima da mesa e destravando pra eles verem que eu não tava de brincadeira.Depois que eles saíram, fiquei mexendo em uns papéis, mas depois de alguns minutos, percebi uma movimentação estranha do lado de fora da boca. Levantei e me aproximei da janela, mas não entendi bem do que se tratava, então, peguei minha Glock, coloquei na cintura e fui até lá.— Que porra é essa aqui? Tão achando que meu morro é bagunça? — já cheguei metendo o louco.— Fica sussa aí, patrão. Já estamos resolvendo. — SV, um dos meus vapores, me respondeu.— Só preciso de um, Pardal. Só um. Prometo que vou pagar. — o pau no cu viciado, parecendo uma tripa de tão seco que tava, implorou pra eu vender a ele.O cara tava nas últimas já, papo reto.— Ele tá devendo uma boa grana e tá querendo mais droga. — SV falou, olhando pra mim.— Se manda, mete o pé daqui. Já tô cansado desses viciados, cheirador de pó, me devendo, vou meter bala em geral. O aviso tá dado. — meti serinho.— Essa é a última vez, Pardal. Eu juro que vou pagar, tô fazendo uns corre aí. — ele ajoelhou em minha frente e cruzou as mãos, me fazendo revirar os olhos.— Tu quer, né? Beleza! Dá a ele aí. — mandei o SV entregar.— Mas pensei que não era pra vender… — ele me olhou sem entender nada.— Faz o que eu tô mandando, porra! Dá a ele! — alterei minha voz pra o SV se ligar que eu não tava pra brincadeira.Sem pensar demais, ele entregou o embrulho na mão do viciado, que já foi abrindo o pacote e ali no chão mesmo, saiu cheirando o pó, feito um cão sarnento em cima de carniça. Saquei minha Glock na cintura e apontei pra cabeça dele.— A gente se vê no inferno, filho da puta! — disse, antes de atirar em seu crânio e o cara cair de cara, estirado no chão, sem nem ter tempo de sentir dor.Só vi a poça de sangue se formando.— Limpa aí! Já tá ligado, né? Não pagou, quero nem papo, meu parça, aqui é assim. — avisei ao SV, que já estava acostumado com meu jeito de resolver as paradas.Aqui não tem conversa não. Não pagou, é paletó de madeira.(...)O calor tava do caralho, já era mais ou menos meio-dia, quando meu estômago reclamou, mó larica. Deixei tudo na mesa de qualquer jeito e saí da boca, descendo pra casa da coroa, mas passei na frente de um bar e vi alguns dos meus vapores.— Ninguém trabalha mais não, nessa porra? — já cheguei metendo o louco.— Sai dessa, paizão. Calor da porra. — puxei uma cadeira pra sentar, enquanto um deles me respondia.Sem pedir licença, peguei um dos copos que estava com cerveja, sem nem saber de quem era, mas nenhum deles se atreveria a me peitar e entornei na garganta. Geladinha.Ficamos batendo um lero, quando meus olhos bateram naquela delicinha. Oh, mina gostosa do caralho! Eu ainda vou ter ela na minha cama. Enquanto ela andava, se requebrando, eu só observava seus passos, ficava só imaginando aquela bunda batendo contra minhas bolas numa foda, até fiquei duro, só de pensar. Mexi minhas pernas e passei a mão em meu pau por cima da bermuda, tentando me manter são.— Alá! Essa não é a mina que o Pardal mandou tu ficar de olho, Perigo? — Cara de Rato perguntou ao cara que tava do lado dele.— Essa mesmo. Vou te contar, patrão, a mina tá toda desconfiada, fica me encarando. — Perigo respondeu e se direcionou a mim.— Tô nem aí, vai continuar de olho nela. Se pagar de doida pro seu lado, me avisa que eu dou meu jeito. Quero saber até o que ela come, sacô? — mandei sem me importar. Minha voz aqui é lei.— Eita! Tá vindo pra cá. — Rabicó disse, rindo e batucando na mesa.Me mantive sério, sem esboçar nenhuma emoção, só observando ela vindo em direção aonde a gente tava.Quando ela entrou, os caras já começaram a provocar, chamando de delícia e a porra. Não gostei nada disso, não era nem pra esses filho da puta tá olhando pra mina e eu nem sei porque me incomodei tanto, o que não me falta é buceta nessa vida. Mas tinha algo diferente nessa, não sei dizer o que me chamou a atenção, só sei que quando comecei a reparar nela, fiquei fissurado, papo reto. Não consegui tirar mais meus olhos dela, por isso mandei o Perigo ficar de olho em cada passo que ela desse. Até já descobri onde mora, trabalha e que a mãe dela é uma mulher da vida, viciada do caralho. Só que eu não lembro de já ter visto a mãe comprando lá na boca.Até tentei ficar na minha, mas quando percebi, já tava caminhando até a gostosinha do rabetão, ela parou no freezer, tava tentando pegar um fardo de latão, que tava no fundo. Encostei bem perto, deixando sentir meu pau em sua bunda de propósito — ninguém mandou me atiçar — botei a mão esquerda na cintura e dei uma apertada de leve e fui tentar ajudar ela a pegar a cerveja, mas a mina me olhou toda assustada, parecia estar vendo um fantasma. Cê é louco! Como se eu não tivesse reparado na secada que ela me deu. Essas mina ama se fazer de santa.— Quer uma ajuda aí? — pergunto, arqueando as sobrancelhas.— Você pode… Hum… Me soltar, por favor? — ela diz isso, desviando os olhos de mim pra minha mão em sua cintura.— E se eu não quiser? — olho para os lábios dela e percebo ela fazer o mesmo.Minha vontade é de puxar essa boca pra mim e levar ela pra minha goma, foder até a mina não conseguir sentar por uma semana.— Só vou pedir mais uma vez. — ela diz em tom de desafio.Pressiono ainda mais minha mão em sua cintura pra ela se ligar que quem manda nessa porra sou eu. Mas a gostosa não dá o braço a torcer, então eu dou um sorrisinho e solto ela, que se vira pra o freezer de novo, pega a cerveja e fecha o refrigerador. Quando ela ia saindo, sem conseguir me conter, dou um tapa em sua bunda em provocação. A pior merda que eu fiz, porque a mina se vira pra mim, bufando, cuspindo fogo e levanta a mão para dar um tapa em minha cara. Só que eu sou mais rápido e seguro sua mão no ar, a impedindo de prosseguir.Ela puxa a mão com força, se soltando de mim e sai pisando duro. Depois de pegar o que pediu com o dono do bar, sai dali e os caras caem na gargalhada com a cena que presenciaram.— Qual foi, paizão? Tá perdendo o jeito com as mina? — Cara de Rato me testou.— Teu cu, viado! Tu vai ver, ainda vou ter essa gostosa em minha cama, pode anotar. Agora é questão de honra, parça. Aqui quem escolhe sou eu, não elas. — respondo, andando até a saída do bar.— Já vai? Tome mais um copo. — Rabicó diz.— Pega na minha. — paro de andar, boto a mão em meu pau por cima da bermuda, balançando e lhe mostrando. Ele ri.(...)Chego na goma da coroa, batendo na porta, quase a derrubando.— Você não toma jeito né, menino? — ela pergunta mais como uma afirmação, balançando a cabeça para os lados.— Foi mal aí, coroa. Fome da porra. — passo pela porta, passando a mão na barriga.— Sim, e o que eu tenho a ver com isso? Cadê as putas que tu vive comendo? Nessas horas não se acha uma, né? — dona Suzana fala mexendo na panela em cima do fogão, sem olhar pra mim.Acabo rindo, porque ela sempre diz isso. Vivendo me pedindo pra tomar jeito na vida e arranjar uma mina firmeza.— O que tem de bom aí? — me afasto da parede onde eu estava encostado, e me aproximo dela. Coloco uma mão na cintura dela e com a outra tento mexer na panela.Recebo uma pancada na mão com a colher de pau. A coroa faz um cozido mó daora. Toda vez que ela faz, os menor ficam querendo colar aqui.Mando todos eles pra puta que pariu! Aqui não é a casa da mãe Joana, não.— Sai daqui! Eu arranco suas bolas se mexer em minha comida com essa mão suja. — a cara dela de emburrada, me faz rir e recuar.— Falô! Fé aí! — faço continência e espero ela me servir.Sento na cadeira pra esperar e fico batucando os dedos na mesa, enquanto isso. Uns dois minutos depois, o cheiro de comida boa invade meu nariz, fazendo meu estômago soltar um ronco daqueles. Minha coroa chega com dois pratos na mão, um deles percebo de longe que é meu, porque parece de pedreiro, do jeito que ela sabe que eu gosto. Coloca na mesa e volta na cozinha pra pegar a garrafa de suco. Não aguento esperar e começo a comer, parecendo um presidiário.— Tenha modos, menino! — ela reclama do meu jeito de comer, me dando um pescotapa.Acabo rindo, porque ela detesta que comam de boca aberta ou se sujando todo perto dela.— Qual foi, coroa? — meneio a cabeça rapidamente, zoando com a cara dela.— Qual foi é a surra que faltou eu te dar. Fecha a porra da boca pra comer, anda! — me repreende.Bufo, mas faço o que me pede.— O rango tava filé. — comento, dando dois täpas em minha barriga e me espreguiçando, após terminar de comer.— Tem notícias dele? — meu humor muda imediatamente, quando ela toca nesse assunto.— Não e nem quero ter. — minha postura logo fica tensa.— Filho, eu só quero garantir sua segurança…— Quem vai garantir a sua segurança sou eu, mantendo esse filho da puta bem longe de nós dois. Sacô? — travo meu maxilar e cerro o punho, porque falar sobre isso sempre me deixa puto.Ela até iria rebater, mas somos interrompidos pelo som de fogos de artifícios — que já me deixa em alerta — e, em seguida, meu radinho começa a chiar. Pego-o na cintura.— Invasão, Pardal! — um dos meus vapores fala.— Já tô colando aí! — guardo meu radinho e vejo minha coroa arregalar os olhos — Relaxa aí, vaso ruim não quebra, não. Vou resolver isso e volto pra ver se tu tá bem, falou? Vai pro quarto e não sai de lá. — não peço, ordeno. E ela sabe o motivo disso, mesmo sendo minha mãe, só quero ter certeza que estará bem.Dona Suzana meneia a cabeça pra mim e respira fundo. Vou me saindo.— Toma cuidado, meu filho. — ela diz, eu balanço a cabeça sem dizer nada e bato a porta. Correndo na direção da boca.Hoje cabeças vão rolar nessa porra!Malu Saí daquele bar revoltada da vida, cuspindo fogo, com vontade de meter uma bala no meio da testa daquele filho da puta do Pardal. Quem ele pensa que é? Acha que eu sou um dos pentes dele, que pode fazer o que quiser comigo? Pois, ele pode tirar o cavalinho da chuva, porque não sou esse tipo de pessoa. Segui pelo meio-fio, segurando dois sacos na mão, um com os refris e outro com o fardo de latão, estava meio pesado e, para completar ainda mais o cenário, ainda tinha a porcaria do sol escaldante, que parecia mais que iria me derreter ali mesmo no asfalto. Acho que se colocasse um ovo, ele saía frito e pronto para comer. — Demorou, hein! — Julia comentou assim que entrei, pisando duro no salão. — Não me enche a porra do saco, Julia. Toma aí! — entreguei os sacos nas mãos dela, que me olhou sem entender nada, com o cenho franzido. — O que rolou, gata? Tá precisando de pica, meu anjo? — perguntou com deboche. Bufei e sentei em uma das poltronas. — Desculpa, não queria descontar
MaluDurante o restante do dia, minha mente esteve longe, não houve um só momento em que eu não estivesse pensando em minha mãe, pedindo mentalmente que as horas passassem rápido para que eu pudesse ir embora e me certificar que o aperto no peito que eu estava sentindo era coisa da minha cabeça e quando eu chegasse em casa, ela estaria sentada no sofá, assistindo novela e comendo pipoca ou cozinhando para mim.Assim que encerrei meu expediente, me apressei em organizar minhas coisas para ir embora. Aparentemente, a Joice estava com medo de mim, porque ficava me olhando de soslaio e quando eu a desafiava, olhando bem na cara dela, desviava o olhar. Chegava a ser engraçado, confesso. Mas isso é ótimo, pessoas preconceituosas precisam aprender onde é o seu lugar.Segui meu caminho até em casa, vendo novamente o vapor do Pardal bem perto, a vontade que eu tenho de meter a mão na cara dele e perguntar porque está rondando é imensa. É óbvio que não farei isso, pois, corro o sério risco de le
MaluÀs vezes penso que não já sofri o suficiente nessa vida, por isso que, volta e meia, acontece alguma merda. Ali, naquele exato momento, vendo a minha mãe, a mulher que me deu a vida, que fez tudo o que esteve ao seu alcance por mim, completamente sem vida, sentia como se o meu mundo estivesse acabado. Se ainda restava algo de valor em mim, não existia mais.Ajoelhada no chão e segurando a cabeça dela, choro copiosamente, sentindo como se o meu peito estivesse se rasgando pouco a pouco. — Mãe… Por favor… Volta… — chamo por ela, mesmo sabendo que não irá voltar, porque ainda há um fio de esperança em meu peito.— Amiga, não há mais o que ser feito, ela se foi. Você precisa ser forte, meu anjo. — Yasmin tenta me afastar do corpo da minha mãe, me forçando a olhar para ela, abaixada ao meu lado.— Não, ela não foi. Sei que não. — profiro, balançando a cabeça para os lados, sem conseguir parar de chorar e sem querer aceitar.— Malu, por favor, me escuta, mona — ela segura meu rosto ent
MaluO dia anterior foi bem agitado, quando parei em casa, já estava morta de cansaço. Minha amiga e sua mãe insistiram durante todo o dia para que eu levasse o corpo da minha mãe para ser velado, mas, para mim, isso seria apenas prolongar ainda mais o meu sofrimento. Sem esquecer de mencionar que, levando em consideração a fama que ela teve todos esses últimos anos, desde começou a ganhar a vida se prostituindo e usar drogas, seria muita hipocrisia da parte dos moradores da comunidade, irem se despedir dela.Não, eu jamais permitiria isso. Dessa forma, a primeira pessoa para quem liguei, foi a Elô, mas nem precisei me explicar, porque, obviamente, os rumores já haviam se espalhado e, entre esses burburinhos, já era possível ouvir, até mesmo, que minha mãe morreu por causa de dívida de droga, ou pior, que algum dos caras que frequentavam o lugar em que ela trabalhava, a matou. Pois é, o defunto ainda nem esfriou e as fofocas já começaram a surgir. Não que eu estivesse surpresa.Depois
MaluVou despertando aos poucos, ao som do que parece ser batimentos cardíacos. Como assim? Estou em um hospital? Meus olhos estão pesados, movo as pálpebras, mas, inicialmente, não consigo abri-los.— Mãe… — murmuro quase que inaudível, já que minha voz está fraca.Consigo abrir um pouco os olhos, porém, a luz forte do lugar me cega, fazendo-me apertá-los com o máximo de força, só então, abro-os. Olho ao redor e vejo paredes brancas, um ar-condicionado velho e algumas macas com outras pessoas nelas, então, constato que não estou no hospital e, sim, no postinho da comunidade. — Ah, meu Deus! Finalmente você acordou, Malu! — essa voz soa familiar, olho para o lado direito e me deparo com a Yasmin e a Elô, ambas com um semblante carregado de preocupação.— O que estou fazendo aqui? O que aconteceu? — pergunto meio grogue e engasgo com a saliva grossa.— Não lembra de nada? — Yasmin pergunta.— Só lembro que estava no banheiro, tinha acabado de levantar para fazer xixi e beber água, depo
Pardal— Vocês estão cercados, não há como escapar, é melhor se entregarem! — enquanto estamos fazendo os funcionários e clientes do banco de reféns, os cu azul cercam a frente do lugar e a voz de um deles ecoa no alto-falante.Estamos todos armados até os dentes, cada um dos meus vapores em um canto, pra garantir que ninguém aqui se meta a besta e tente dar uma de engraçadinho.Pego o radinho que um cu azul colocou aqui dentro pra se comunicar com a gente e tentar um acordo. Só não sei que porra de acordo eles pensam que vão conseguir.— Escute bem, porque eu só vou falar uma vez, tá ligado? Vamo sair daqui pelos fundos do banco e se qualquer um de vocês tentar nos seguir ou fizer qualquer gracinha, vamo meter bala em geral. Quero nem saber quem é inocente, vai todo mundo levar bala. — falo, encarando todos os olhares assustados, direcionados a mim.Alguns choramingando.— Queremos sair daqui numa boa, sem causar alarde, pô. Mas tudo depende de vocês. — concluo.Como não ouço resposta
MaluUma semana depois…Os últimos dias não têm sido nada fáceis para mim, tenho sonhado muito com a minha mãe, ou melhor, tido pesadelos, já que são sempre sonhos loucos. Em sua maioria, ou encontro seu corpo sem vida em casa, ou estou a matando, algo que eu jamais faria. Ela podia ser péssima como fosse, mas ainda assim era minha mãe.A Yasmin vive me lembrando sobre o que a enfermeira do postinho falou, para eu me consultar com uma psicóloga, eu só não sei como isso iria me ajudar a superar o luto. Tenho vivido um dia de cada vez, alguns são mais difíceis do que outros, mas como minha amiga disse: já passei por muitas coisas nessa vida, não será isso que vai me derrubar.A Elô disse que eu poderia ficar mais tempo em casa, que talvez eu precisasse disso, porém, isso só tem me deixado pior. Para cada canto da casa, que eu olho, só consigo ver a minha mãe. E a lembrança da última vez em que estivemos juntas, de tudo o que ela me disse, estava disposta a mudar de vida, a forma como me
MaluSaio, literalmente, pisando duro daquele lugar horrendo e sigo para casa me repreendendo por ter sido tão tola, tão idiota ao ponto de me deixar levar pelo momento e quase ter feito uma besteira das grandes.A raiva que sinto de mim mesma é imensa, quando percebo, já estou na frente da minha casa. Antes de entrar, lembro que o Pardal chupou meu pescoço, então, ponho a mão no lado em que ele fez isso, com medo que tenha ficado uma marca arroxeada e minha amiga veja. Ela, certamente, pensaria besteira. Não que ela não tenha razão, já que deve estar explícito em minha pele o que aconteceu a poucos minutos.— A gente junto é mó parada, a gente não presta, zero compromisso, se for sempre assim, nós fecha. — ao entrar em casa, ouço a Yasmin cantarolando um trecho da música Sem Filtro, da Iza, enquanto mexe no celular.— Ele me paga, quem ele pensa que é? — estou soltando fogo pelas ventas, fazendo o possível para não retirar a mão do pescoço.— Demorou, hein… O que rolou? Por que tá ner