Capítulo 6

Pardal

— E aí, paizão! Qual vai ser? — um dos meus vapores perguntou, enquanto estávamos sentados em meu escritório na boca, resolvendo uns corre que temos que fazer.

— Dessa vez eu quero todo mundo colando comigo, os cu azul tão achando que podem comigo.

— Mas se for todo mundo, o morro vai ficar desprotegido. E se eles tentarem invadir quando nós tiver fora? Bota a cabeça pra funcionar, Pardal. — Rabicó comentou, batendo os dedos na testa pra que eu me ligasse no esquema.

Respirei fundo, passei a mão nos cabelos e senti a raiva e a ansiedade querendo chegar. Peguei um cigarro de maconha e acendi, fumando e soprando a fumaça, tentando manter a calma. Já tem um tempo que os cu azul estão tentando invadir o morro, mas todas as vezes que eles tentaram, não conseguiram, porque estamos preparados pra tudo, tá ligado? Só que eu já tô puto com isso, a vontade mesmo é sair metendo bala em geral, botar minha cara pra jogo mesmo, papo reto. O que não me deixa fazer isso é pensar na coroa, eu sou tudo o que ela tem e é muito arriscado eu dar as caras assim no asfalto.

— Vamos fazer o seguinte então, vai tu, Cara de Rato e mais alguns, os aviãozinho vão ficar aqui, tudo armado até os dentes, tá ligado? Papo dez. Ninguém dá mole nessa porra não, ou eu meto bala em quem amarelar.

— Jaé, patrão! — Cara de Rato e mais dois concordaram comigo.

— Agora rala todo mundo daqui que eu tenho outras coisas pra resolver, sou desocupado não. — mandei, gesticulando com a mão pra eles meterem o pé.

— Tá precisando de uma foda, anda muito nervosin. — Rabicó comentou, fazendo todos rirem, enquanto levantavam e saíam da minha sala.

— Vou mostrar pra tu quem tá nervosin, filho da puta. — respondi, sacando minha Glock que estava em cima da mesa e destravando pra eles verem que eu não tava de brincadeira.

Depois que eles saíram, fiquei mexendo em uns papéis, mas depois de alguns minutos, percebi uma movimentação estranha do lado de fora da boca. Levantei e me aproximei da janela, mas não entendi bem do que se tratava, então, peguei minha Glock, coloquei na cintura e fui até lá.

— Que porra é essa aqui? Tão achando que meu morro é bagunça? — já cheguei metendo o louco.

— Fica sussa aí, patrão. Já estamos resolvendo. — SV, um dos meus vapores, me respondeu.

— Só preciso de um, Pardal. Só um. Prometo que vou pagar. — o pau no cu viciado, parecendo uma tripa de tão seco que tava, implorou pra eu vender a ele.

O cara tava nas últimas já, papo reto.

— Ele tá devendo uma boa grana e tá querendo mais droga. — SV falou, olhando pra mim.

— Se manda, mete o pé daqui. Já tô cansado desses viciados, cheirador de pó, me devendo, vou meter bala em geral. O aviso tá dado. — meti serinho.

— Essa é a última vez, Pardal. Eu juro que vou pagar, tô fazendo uns corre aí. — ele ajoelhou em minha frente e cruzou as mãos, me fazendo revirar os olhos.

— Tu quer, né? Beleza! Dá a ele aí. — mandei o SV entregar.

— Mas pensei que não era pra vender… — ele me olhou sem entender nada.

— Faz o que eu tô mandando, porra! Dá a ele! — alterei minha voz pra o SV se ligar que eu não tava pra brincadeira.

Sem pensar demais, ele entregou o embrulho na mão do viciado, que já foi abrindo o pacote e ali no chão mesmo, saiu cheirando o pó, feito um cão sarnento em cima de carniça. Saquei minha Glock na cintura e apontei pra cabeça dele.

— A gente se vê no inferno, filho da puta! — disse, antes de atirar em seu crânio e o cara cair de cara, estirado no chão, sem nem ter tempo de sentir dor.

Só vi a poça de sangue se formando.

— Limpa aí! Já tá ligado, né? Não pagou, quero nem papo, meu parça, aqui é assim. — avisei ao SV, que já estava acostumado com meu jeito de resolver as paradas.

Aqui não tem conversa não. Não pagou, é paletó de madeira.

(...)

O calor tava do caralho, já era mais ou menos meio-dia, quando meu estômago reclamou, mó larica. Deixei tudo na mesa de qualquer jeito e saí da boca, descendo pra casa da coroa, mas passei na frente de um bar e vi alguns dos meus vapores.

— Ninguém trabalha mais não, nessa porra? — já cheguei metendo o louco.

— Sai dessa, paizão. Calor da porra. — puxei uma cadeira pra sentar, enquanto um deles me respondia.

Sem pedir licença, peguei um dos copos que estava com cerveja, sem nem saber de quem era, mas nenhum deles se atreveria a me peitar e entornei na garganta. Geladinha.

Ficamos batendo um lero, quando meus olhos bateram naquela delicinha. Oh, mina gostosa do caralho! Eu ainda vou ter ela na minha cama. Enquanto ela andava, se requebrando, eu só observava seus passos, ficava só imaginando aquela bunda batendo contra minhas bolas numa foda, até fiquei duro, só de pensar. Mexi minhas pernas e passei a mão em meu pau por cima da bermuda, tentando me manter são.

— Alá! Essa não é a mina que o Pardal mandou tu ficar de olho, Perigo? — Cara de Rato perguntou ao cara que tava do lado dele.

— Essa mesmo. Vou te contar, patrão, a mina tá toda desconfiada, fica me encarando. — Perigo respondeu e se direcionou a mim.

— Tô nem aí, vai continuar de olho nela. Se pagar de doida pro seu lado, me avisa que eu dou meu jeito. Quero saber até o que ela come, sacô? — mandei sem me importar. Minha voz aqui é lei.

— Eita! Tá vindo pra cá. — Rabicó disse, rindo e batucando na mesa.

Me mantive sério, sem esboçar nenhuma emoção, só observando ela vindo em direção aonde a gente tava.

Quando ela entrou, os caras já começaram a provocar, chamando de delícia e a porra. Não gostei nada disso, não era nem pra esses filho da puta tá olhando pra mina e eu nem sei porque me incomodei tanto, o que não me falta é buceta nessa vida. Mas tinha algo diferente nessa, não sei dizer o que me chamou a atenção, só sei que quando comecei a reparar nela, fiquei fissurado, papo reto. Não consegui tirar mais meus olhos dela, por isso mandei o Perigo ficar de olho em cada passo que ela desse. Até já descobri onde mora, trabalha e que a mãe dela é uma mulher da vida, viciada do caralho. Só que eu não lembro de já ter visto a mãe comprando lá na boca.

Até tentei ficar na minha, mas quando percebi, já tava caminhando até a gostosinha do rabetão, ela parou no freezer, tava tentando pegar um fardo de latão, que tava no fundo. Encostei bem perto, deixando sentir meu pau em sua bunda de propósito — ninguém mandou me atiçar — botei a mão esquerda na cintura e dei uma apertada de leve e fui tentar ajudar ela a pegar a cerveja, mas a mina me olhou toda assustada, parecia estar vendo um fantasma. Cê é louco! Como se eu não tivesse reparado na secada que ela me deu. Essas mina ama se fazer de santa.

— Quer uma ajuda aí? — pergunto, arqueando as sobrancelhas.

— Você pode… Hum… Me soltar, por favor? — ela diz isso, desviando os olhos de mim pra minha mão em sua cintura.

— E se eu não quiser? — olho para os lábios dela e percebo ela fazer o mesmo.

Minha vontade é de puxar essa boca pra mim e levar ela pra minha goma, foder até a mina não conseguir sentar por uma semana.

— Só vou pedir mais uma vez. — ela diz em tom de desafio.

Pressiono ainda mais minha mão em sua cintura pra ela se ligar que quem manda nessa porra sou eu. Mas a gostosa não dá o braço a torcer, então eu dou um sorrisinho e solto ela, que se vira pra o freezer de novo, pega a cerveja e fecha o refrigerador. Quando ela ia saindo, sem conseguir me conter, dou um tapa em sua bunda em provocação. A pior merda que eu fiz, porque a mina se vira pra mim, bufando, cuspindo fogo e levanta a mão para dar um tapa em minha cara. Só que eu sou mais rápido e seguro sua mão no ar, a impedindo de prosseguir.

Ela puxa a mão com força, se soltando de mim e sai pisando duro. Depois de pegar o que pediu com o dono do bar, sai dali e os caras caem na gargalhada com a cena que presenciaram.

— Qual foi, paizão? Tá perdendo o jeito com as mina? — Cara de Rato me testou.

— Teu cu, viado! Tu vai ver, ainda vou ter essa gostosa em minha cama, pode anotar. Agora é questão de honra, parça. Aqui quem escolhe sou eu, não elas. — respondo, andando até a saída do bar.

— Já vai? Tome mais um copo. — Rabicó diz.

— Pega na minha. — paro de andar, boto a mão em meu pau por cima da bermuda, balançando e lhe mostrando. Ele ri.

(...)

Chego na goma da coroa, batendo na porta, quase a derrubando.

— Você não toma jeito né, menino? — ela pergunta mais como uma afirmação, balançando a cabeça para os lados.

— Foi mal aí, coroa. Fome da porra. — passo pela porta, passando a mão na barriga.

— Sim, e o que eu tenho a ver com isso? Cadê as putas que tu vive comendo? Nessas horas não se acha uma, né? — dona Suzana fala mexendo na panela em cima do fogão, sem olhar pra mim.

Acabo rindo, porque ela sempre diz isso. Vivendo me pedindo pra tomar jeito na vida e arranjar uma mina firmeza.

— O que tem de bom aí? — me afasto da parede onde eu estava encostado, e me aproximo dela. Coloco uma mão na cintura dela e com a outra tento mexer na panela.

Recebo uma pancada na mão com a colher de pau. A coroa faz um cozido mó daora. Toda vez que ela faz, os menor ficam querendo colar aqui.

Mando todos eles pra puta que pariu! Aqui não é a casa da mãe Joana, não.

— Sai daqui! Eu arranco suas bolas se mexer em minha comida com essa mão suja. — a cara dela de emburrada, me faz rir e recuar.

— Falô! Fé aí! — faço continência e espero ela me servir.

Sento na cadeira pra esperar e fico batucando os dedos na mesa, enquanto isso. Uns dois minutos depois, o cheiro de comida boa invade meu nariz, fazendo meu estômago soltar um ronco daqueles. Minha coroa chega com dois pratos na mão, um deles percebo de longe que é meu, porque parece de pedreiro, do jeito que ela sabe que eu gosto. Coloca na mesa e volta na cozinha pra pegar a garrafa de suco. Não aguento esperar e começo a comer, parecendo um presidiário.

— Tenha modos, menino! — ela reclama do meu jeito de comer, me dando um pescotapa.

Acabo rindo, porque ela detesta que comam de boca aberta ou se sujando todo perto dela.

— Qual foi, coroa? — meneio a cabeça rapidamente, zoando com a cara dela.

— Qual foi é a surra que faltou eu te dar. Fecha a porra da boca pra comer, anda! — me repreende.

Bufo, mas faço o que me pede.

— O rango tava filé. — comento, dando dois täpas em minha barriga e me espreguiçando, após terminar de comer.

— Tem notícias dele? — meu humor muda imediatamente, quando ela toca nesse assunto.

— Não e nem quero ter. — minha postura logo fica tensa.

— Filho, eu só quero garantir sua segurança…

— Quem vai garantir a sua segurança sou eu, mantendo esse filho da puta bem longe de nós dois. Sacô? — travo meu maxilar e cerro o punho, porque falar sobre isso sempre me deixa puto.

Ela até iria rebater, mas somos interrompidos pelo som de fogos de artifícios — que já me deixa em alerta — e, em seguida, meu radinho começa a chiar. Pego-o na cintura.

— Invasão, Pardal! — um dos meus vapores fala.

— Já tô colando aí! — guardo meu radinho e vejo minha coroa arregalar os olhos — Relaxa aí, vaso ruim não quebra, não. Vou resolver isso e volto pra ver se tu tá bem, falou? Vai pro quarto e não sai de lá. — não peço, ordeno. E ela sabe o motivo disso, mesmo sendo minha mãe, só quero ter certeza que estará bem.

Dona Suzana meneia a cabeça pra mim e respira fundo. Vou me saindo.

— Toma cuidado, meu filho. — ela diz, eu balanço a cabeça sem dizer nada e bato a porta. Correndo na direção da boca.

Hoje cabeças vão rolar nessa porra!

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