Asher Bennett
As ruas de Nova York estavam quietas, banhadas pela luz suave do início da manhã. O sol ainda não estava totalmente alto, andava com as mãos no bolso da jaqueta, sentindo uma leve brisa fria. Era sábado, finalmente um dia sem aula, estava a caminho da casa de Douglas. Precisávamos conversar.
Nos últimos meses, ele estava diferente, distante. As mensagens que antes eram constantes se tornaram raras. E quando eu mandava algo, a resposta quando vinha, era curta e fria. Nosso relacionamento de dois anos parecia estar pendurado por um fio invisível, e não entendia por quê.
Olhei para o céu, tentando afastar os pensamentos ruins.
— Talvez ele só esteja estressado. — Murmurei para mim mesmo, tentando encontrar uma desculpa para o comportamento dele. — Hoje, nós vamos conversar e resolver tudo.
Cheguei à casa dele e algo imediatamente pareceu fora do lugar. A porta da frente estava entreaberta, algo que Douglas nunca faria. Franzi a testa, hesitando por um momento, antes de empurrar a porta e entrar.
— Douglas? — Minha voz ecoou pela sala vazia. Nenhuma resposta.
Olhei em volta, mas a casa estava estranhamente silenciosa. Meu coração começou a bater mais rápido, uma sensação desconfortável crescendo dentro de mim.
— Douglas, sou eu, Asher. — Subi alguns degraus da escada, chamando novamente. Ainda nada.
Subi as escadas, cada passo parecia mais pesado que o anterior. Quando cheguei ao corredor do andar de cima, ouvi um som que fez meu estômago afundar: gemidos baixos e contínuos, vindo do quarto dele. Fiquei paralisado por um instante, meu cérebro tentando processar o que estava ouvindo.
Não... Não pode ser... Pensei, meus pés se movendo quase por conta própria em direção à porta.
Minha mão tremeu ao girar a maçaneta e, com um movimento lento, abri a porta.
O que vi me atingiu como um soco no estômago. Ali, na cama, estava Douglas, meu namorado, e com ele... minha mãe.
Eles nem perceberam que eu estava ali, perdidos naquele momento que destruiu o meu coração. Minha respiração ficou presa, e senti minhas pernas fraquejarem.
— Douglas? — Minha voz saiu mais como um sussurro, quase inaudível, mas o suficiente para interromper a cena diante de mim.
Eles se separaram num movimento brusco, olhos arregalados, tentando cobrir-se com o que podiam encontrar. Minha mãe foi a primeira a falar, a voz dela trêmula, tentando explicar.
— Asher, eu... isso não é o que parece...
— Não! — Gritei, interrompendo-a. — Não quero ouvir nada! — Minha voz saiu alta e rachada, o peso da traição esmagando meu peito. — Como vocês puderam fazer isso?
Douglas tentou se aproximar, a mão estendida como se quisesse me acalmar.
— Asher, por favor, deixe-me explicar...
Sem pensar, meu punho voou para a frente, acertando o rosto dele com força. Douglas cambaleou para trás, segurando o nariz ensanguentado, os olhos arregalados de choque.
— Não toque em mim com suas mãos imundas! — Gritei, as lágrimas correndo pelo meu rosto. — Como você pôde, Douglas? Como você pôde fazer isso comigo?
Virei-me para minha mãe, minha visão turva pelas lágrimas e pela raiva.
— Como você pôde fazer isso com o meu pai? — Minha voz estava cheia de dor. — Ele trabalha tanto, tentando nos dar uma vida boa, e você faz isso?
Minha mãe, ainda se enrolando no lençol, gritou de volta, a voz cheia de frustração.
— Seu pai também me traiu, Asher! Ele fez isso por anos!
— E por que você teve que trair o meu pai justo com o meu namorado? — Gritei, a voz quebrando. — Por quê? Por que fizeram isso?
Douglas, ainda segurando o rosto, finalmente encontrou coragem para falar.
— Eu... eu não sentia mais nada por você, Asher. Não sabia como terminar...
As palavras dele foram a estocada final, e eu senti meu coração se partir de uma maneira que nunca pensei ser possível. Olhei para os dois, os dois que eu amava, que eu confiava, e agora estavam ali, destruindo tudo.
— Eu odeio vocês... — Sussurrei, a voz quase sumindo. — Eu os odeio...
Sem esperar mais, virei-me e corri escadas abaixo, o som de seus gritos se tornando cada vez mais distante. Precisava sair dali. Precisava escapar da dor que parecia querer me sufocar.
Corri o mais rápido que pude, sem rumo, sem destino, apenas querendo me afastar daquele lugar, daquela dor que queimava meu peito. As lágrimas escorriam sem controle pelo meu rosto, e minha visão estava turva, mas não parei. Não conseguia parar.
Meu coração batia como se fosse explodir, e minha respiração estava ofegante. As ruas pareciam desertas, e o mundo ao meu redor se tornou um borrão indistinto de cores e formas. Tudo que sentia era a dor esmagadora e a traição cortante.
Depois de não sei quanto tempo correndo, minhas pernas começaram a ceder. Eu tropecei, quase caindo, e foi quando senti mãos firmes me segurarem.
— Asher? — A voz de Nick, meu melhor amigo, foi como um farol no meio da tempestade. — Cara, o que aconteceu?
Tentei falar, mas as palavras se recusaram a sair. Minha garganta estava fechada pela emoção, e tudo que consegui foi soluçar. Nick me puxou para um abraço apertado, segurando-me firme enquanto meu corpo tremia.
— Asher, por favor, fala comigo. O que aconteceu? — A preocupação na voz dele era palpável.
Finalmente, as palavras começaram a sair, entrecortadas e gaguejadas.
— Douglas... ele... ele me traiu... com a... minha mãe. — As palavras saíram aos tropeços, e senti meu corpo desmoronar ainda mais nos braços de Nick.
Ficou em silêncio por um momento, absorvendo o que eu havia dito. Então, me apertou ainda mais forte.
— Meu Deus, Asher... — Sussurrou, a voz cheia de empatia e raiva contida. — Estou aqui, vai ficar tudo bem. Chora, cara, deixa sair.
E eu chorei. Chorei como nunca, deixando todo o meu sofrimento fluir, enquanto ele me segurava, oferecendo o único conforto que eu poderia encontrar naquele momento. Senti meu coração se apertar, a dor da traição ainda cravada profundamente, mas o abraço dele era como um pequeno escudo contra o desespero completo.
Não disse mais nada, apenas continuou me segurando, deixando-me saber que não estava sozinho.
Não sabia quanto tempo havia passado, mas aos poucos, meus soluços começaram a diminuir, e minha respiração foi ficando menos ofegante. As lágrimas ainda escorriam, mas em menor intensidade. Nick continuava me segurando firme, como se tivesse medo de me deixar cair novamente.
— Está se sentindo um pouco mais calmo? — Perguntou suavemente, sua voz um fio de preocupação e carinho.
Apenas acenei com a cabeça, incapaz de encontrar palavras. Minha garganta ainda estava apertada, e minha mente, uma confusão de pensamentos dolorosos.
Suspirou, aliviado por me ver um pouco mais estável. Segurou meu rosto com as duas mãos, forçando-me a olhar para ele. Seus olhos estavam sérios, mas cheios de compaixão.
— Asher, olha para mim. — Esperou até que meus olhos focassem nos dele. — Lembra que eu te falei que estava planejando me mudar para Elyssia? — Sua voz estava firme, mas gentil. — Quero que você venha comigo. Podemos arrumar um trabalho lá, começar uma nova vida. E se algum dia você quiser voltar para cá, a gente volta, mas, por agora, você precisa de um tempo longe disso tudo.
O olhei, absorvendo suas palavras. Sem pensar duas vezes, sabia o que queria. A ideia de nunca mais ver minha mãe ou Douglas era tudo que precisava no momento. A dor ainda estava aqui, latejante e crua, mas a proposta dele parecia uma pequena luz em meio à escuridão.
— Eu vou. — Minha voz saiu baixa, mas firme. — Quero ir com você, Nick. Não quero mais ficar aqui, não quero vê-los.
Assentiu, um pequeno sorriso de alívio surgindo em seu rosto.
— Então é isso. Vamos começar de novo, juntos. — Me puxou para mais um abraço, e desta vez, senti um pouco de esperança se infiltrando no meio da minha dor.
Asher Bennett.Já faz cinco anos desde que cheguei a Elyssia, um pequeno país que se tornou meu lar, ainda que, a princípio, não parecesse. Quando Nick e eu desembarcamos aqui, não conhecíamos ninguém, nem sequer falávamos bem a língua. Cada dia era uma luta para encontrar trabalho, para entender as placas nas ruas, para não nos perder em meio a uma cidade indiferente aos nossos problemas. Mas, como tudo na vida, as coisas foram se ajustando.Hoje, aos vinte e cinco anos, olho para Castellano City e quase posso chamar este lugar de lar. Uma cidade peculiar, que combina o antigo e o novo de uma maneira única. Os prédios no centro possuem uma arquitetura clássica, com fachadas ornamentadas que contam histórias de outra era, enquanto os arranha-céus de vidro e aço ao redor lembram que o progresso nunca para.As ruas largas e bem pavimentadas são margeadas por árvores que mudam de cor conforme as estações. No verão, o verde vibrante contrasta com o azul do céu, e no outono, a cidade intei
Asher Bennett.18:15 - lanchonete - Castellano City.Sexta-Feira.O som da última campainha do expediente soou, anunciando o fim do turno. Soltei um suspiro de alívio e joguei o pano de limpeza sobre o balcão, observando meus colegas se reunirem. Antes de irmos para a sala dos funcionários, todos sabíamos o que fazer.— Vamos lá, pessoal, hora de deixar tudo em ordem! — Sophia chamou, sempre a mais organizada do grupo.Cada um começou a organizar a lanchonete de maneira eficiente. Peguei um pano limpo e comecei a limpar as mesas, removendo qualquer vestígio de sujeira ou marcas de copos. Liam passou por mim carregando uma pilha de cadeiras, colocando-as de cabeça para baixo sobre as mesas que eu já havia terminado.— Você está tão lento hoje, Asher! — Brincou, e revirei os olhos, fingindo indignação.— Só fala isso porque faço o trabalho direito. — Retruquei com um sorriso, continuando minha tarefa.Jack estava na cozinha, lavando os utensílios e organizando as prateleiras, enquanto S
Dominic Castellano.18:50 - Cassino - Castellano City.Sexta-Feira.Coloco a camisa preta, abotoando-a com uma calma que contrasta brutalmente com o caos que acabara de ocorrer no quarto. O corpo sem vida da mulher está estendido sobre os lençóis amarrotados, os olhos ainda abertos em um terror congelado. A outra está encolhida no canto da cama, soluçando, tremendo como uma folha ao vento.Pego a gravata, ajustando-a ao redor do colarinho com um movimento rápido e preciso. Sem desviar o olhar, lanço um maço de notas sobre a cama, espalhando-as ao redor dela.— Se sua amiga não tivesse gritado tanto, ainda estaria viva. — Digo, com frieza cortante. Meu tom é implacável, sem vestígio de arrependimento ou empatia.Ela soluça ainda mais alto, mas já perdi o interesse nela.Com os últimos ajustes na roupa feitos, caminho até a porta, deixando para trás o som abafado de seus lamentos. No corredor, dois dos meus seguranças pessoais, fiéis escudeiros, estão de guarda, as expressões impassívei
Dominic Castellano.19:50 - Castellano City.Sexta-Feira.O carro preto reluzente estava estacionado na entrada do cassino. Jack abriu a porta traseira para mim, entrei sem pressa, ajustando meu terno enquanto ele contornava o veículo para assumir o lugar de motorista.A porta fechou suavemente, abafando os sons do cassino. No interior do carro, o silêncio era uma presença quase tangível, apenas interrompido pelo som do motor que rugia suavemente quando Jack engatou a marcha e começou a dirigir em direção à casa dos Carter.— Relatórios, Jack. — Minha voz soou fria, autoritária, cortando o silêncio como uma lâmina.Jack assentiu, os olhos fixos na estrada, mas sua mente claramente trabalhando rápido para compilar as informações necessárias.— O tráfico de drogas está fluindo bem, senhor. As importações estão dentro do cronograma. Conseguimos passar a última remessa sem problemas nas fronteiras, graças aos contatos que temos nos portos. A distribuição local também está eficiente. Nosso
Dominic Castellano.21:40 - Balada - Castellano City.Sexta-Feira.O caminho até a balada foi mais longo do que o esperado. O trânsito caótico nos forçou a parar em certos momentos, mas isso não abalou minha paciência. O silêncio dentro do carro era preenchido apenas pelos ruídos externos e pelos meus pensamentos sombrios, antecipando o próximo encontro.Após alguns minutos, Jack encostou o carro em uma rua lateral para pegar Sérgio. Ele entrou rapidamente, ajustando-se no assento da frente sem dizer uma palavra. Sempre eficiente, entendia que agora não era hora para conversas desnecessárias.Seguimos em direção à balada. À medida que nos aproximávamos, o ambiente se transformava: as luzes vibrantes piscavam ao longe e o som da música reverberava nas paredes. Jack estacionou com precisão na entrada lateral, uma área reservada para nossa equipe.Ele saiu primeiro, abrindo a porta para mim com a mesma precisão de sempre.— Já pegaram o Cooper. Ele está aguardando. — Informou, a voz firm
Asher Bennett.21:15 - Balada - Castellano City.Sexta-Feira.O táxi parou na frente da balada e, assim que descemos, minha expressão se contorceu ao ver o tamanho da fila.— Isso vai demorar. — Murmurei, olhando para o Nick, que parecia ainda mais nervoso ao encarar o grande número de pessoas.— Acho que dá tempo de voltarmos e assistirmos um filme. — Ele brincou, mas apenas revirei os olhos.Foi então que avistei Liam e os outros no meio da fila, acenando com as mãos.— Nick, eles estão ali. Vamos. — Falei, puxando-o pelo braço, enquanto cortávamos caminho entre as pessoas. Algumas reclamaram baixinho, mas não dei atenção.Chegamos aos meus amigos, e Liam abriu um sorriso largo.— Até que enfim! E dizem que quem sempre chega atrasado sou eu. — Ele brincou, colocando as mãos na cintura com um tom exagerado de acusação.— Engraçadinho. — Respondi, empurrando-o de leve no ombro, arrancando risadas dele.Notei que Sophia estava estranhamente quieta, seus olhos fixos em Nick. Um sorriso
Asher Bennett.O som dos meus passos ecoava alto, apesar da tentativa de correr silenciosamente. A escuridão ao redor era sufocante, iluminada apenas pelas luzes piscantes dos postes quebrados. Meu peito ardia, o coração disparado, enquanto os passos pesados atrás de mim se aproximavam cada vez mais.Eu sabia quem era. Não precisava olhar para trás. Aqueles olhos negros, frios como a própria morte, estavam cravados em minha mente. Ele estava me caçando.— Corre, Sojung. — A voz dele era grave, carregada de uma ameaça sombria.Tropecei em uma pedra e caí de joelhos no chão áspero. Tentei me levantar, mas meu corpo parecia travado pelo medo. Antes que pudesse reagir, uma mão forte agarrou meu ombro com brutalidade, seu toque gélido penetrando minha pele.— Não há escapatória. — Murmurou no meu ouvido, e um calafrio percorreu minha espinha.Meus olhos se arregalaram e, quando me virei, esperando encarar a morte, tudo mudou.Subitamente, não estava mais fugindo. O ambiente ao redor se tra
Dominic Castellano.10:50 - Mansão do Dominic - Castellano City.Cinco dias depois. Quarta-Feira.Foram cinco longos dias desde que meus olhos encontraram aqueles castanhos claros, cheios de pavor. Desde que senti a pele quente e trêmula sob meus dedos. Desde que ouvi sua voz falha, implorando por sua vida.E, nesses cinco dias, minha paciência tem sido testada de todas as formas possíveis.As operações de drogas exigiram minha atenção constante, as importações e distribuições de armas precisavam de ajustes, e as casas de prostituição resolveram criar problemas, achando que tinham direito a algo além do que eu permito. Mantive-me ocupado, lidando com cada questão, controlando cada detalhe, porque nada nesse maldito país acontece sem que eu saiba.Mas, mesmo com todas essas distrações, minha mente sempre voltava para ele.Asher Bennett.Seu rosto tem me assombrado como uma droga viciante, impossível de ignorar. Nunca, em toda a minha vida, senti essa atração incontrolável. O fato de s