♥Capítulo 1♥

Asher Bennett.

Já faz cinco anos desde que cheguei a Elyssia, um pequeno país que se tornou meu lar, ainda que, a princípio, não parecesse. Quando Nick e eu desembarcamos aqui, não conhecíamos ninguém, nem sequer falávamos bem a língua. Cada dia era uma luta para encontrar trabalho, para entender as placas nas ruas, para não nos perder em meio a uma cidade indiferente aos nossos problemas. Mas, como tudo na vida, as coisas foram se ajustando.

Hoje, aos vinte e cinco anos, olho para Castellano City e quase posso chamar este lugar de lar. Uma cidade peculiar, que combina o antigo e o novo de uma maneira única. Os prédios no centro possuem uma arquitetura clássica, com fachadas ornamentadas que contam histórias de outra era, enquanto os arranha-céus de vidro e aço ao redor lembram que o progresso nunca para.

As ruas largas e bem pavimentadas são margeadas por árvores que mudam de cor conforme as estações. No verão, o verde vibrante contrasta com o azul do céu, e no outono, a cidade inteira se transforma em uma paleta de dourado e vermelho. As lojas variam entre butiques familiares e grandes marcas internacionais, sempre oferecendo algo novo a cada esquina.

Cafés com mesas ao ar livre, restaurantes que exalam aromas diversos e parques bem cuidados fazem de Castellano City um lugar vibrante. Apesar da beleza, há um certo ar de mistério em tudo. Talvez o nome "Castellano" carregue essa sensação, como se a cidade ainda guardasse segredos de seus fundadores e líderes.

Nick e eu encontramos nosso espaço aqui. Mesmo que a lembrança do que deixei para trás ainda doa, Elyssia me deu a chance de recomeçar. Castellano City é linda de uma maneira única, e agora consigo enxergar isso com clareza.

Ao longo desse tempo, saí com algumas pessoas. Nunca me enganei com promessas de amor ou relacionamentos duradouros. Talvez nunca esteja pronto para isso. Apenas curto uma noite e, no dia seguinte, sigo em frente. Minha vida se resume a trabalho, casa e, às vezes, uma noite de sexo sem compromisso.

Dividimos um apartamento. Não é o mais caro, mas tem um toque de luxo que me surpreende. Pisos de madeira polida, janelas amplas que deixam entrar a luz do sol. Tudo tem uma aparência refinada. Essa cidade é bem cuidada, e não posso negar que sou grato por ter encontrado um lugar assim.

Claro, Castellano City tem seus rumores sombrios. Falam de um líder que controla tudo, alguém cruel e perigoso. Segundo os boatos, andar sozinho à noite pode significar sequestro e um destino incerto em algum leilão secreto. No começo, Nick e eu acreditávamos em cada palavra. Éramos novatos, e o medo nos mantinha alertas. Mas, depois de cinco anos, nunca vimos nada com nossos próprios olhos.

Passo meus dias na lanchonete. Nick trabalha na TechNova Solutions, uma empresa de tecnologia onde atua como analista de sistemas. Ele ama o que faz, e sua dedicação ao trabalho é admirável. Sempre nos apoiamos, e essa parceria tem sido o alicerce da nossa vida aqui.

06:30 - Lanchonete - Castellano City.

Sexta-Feira.

Na sala dos funcionários, visto meu uniforme para mais um dia de trabalho. Não é qualquer lanchonete, é uma das mais famosas da cidade, sempre lotada. O movimento nunca para, e gosto disso. Manter-me ocupado evita que minha mente vague para lugares que prefiro esquecer.

Aproveito o espelho para me observar por um momento. Os olhos castanhos claros me encaram de volta, com uma intensidade que às vezes me assusta. Os cabelos, recém-pintados de cinza, contrastam com minha pele morena. Gosto do visual. Escolhi para mim, uma forma de expressar o controle que agora tenho sobre minha vida.

Com um metro e sessenta e cinco, sempre fui um dos menores do meu grupo de amigos, mas isso nunca me incomodou. Meu corpo, antes magro, ganhou definição nos últimos anos. Os trabalhos pesados quando cheguei aqui moldaram meus músculos, dando-me uma aparência mais forte. Passei de alguém inseguro a um homem que entende o próprio valor.

Ajusto a camisa, certificando-me de que está perfeita, e respiro fundo. Hora de enfrentar mais um dia.

A porta da sala se abre e meus colegas começam a entrar. Liam, sempre o primeiro a aparecer, chega com aquele sorriso travesso.

— E aí, Asher? Pronto para mais um dia de caos? — Ri.

— Como se tivéssemos escolha, né? — Respondo, rindo também.

Sophia e Jack entram logo atrás, discutindo animadamente sobre alguma série. A sala se enche de vozes e risadas.

— Você precisa ver essa série, Asher. É incrível! — Jack comenta empolgado.

— Se for tão boa quanto a última que recomendou, acho que vou passar. — Respondo, lembrando da experiência terrível.

— Ei! Aquela tinha seu charme! — Se defende, rindo.

Sophia coloca a bolsa no armário.

— Já que hoje é sexta-feira, que tal irmos a uma boate depois do trabalho? — Sugere, animada.

— Sim! Já faz um tempo que não saímos todos juntos. — Liam concorda.

— Tô dentro. — Jack responde prontamente.

Todos me encaram, esperando minha resposta. Penso por um momento. Faz meses que não me divirto. Chamar Nick parece uma boa ideia.

— Por que não? Vou chamar o Nick. Ele vai gostar. — Digo, e todos comemoram.

— Vai ser incrível! — Sophia diz, empolgada.

Com os planos fechados, terminamos de nos preparar. Todos colocam os uniformes e saímos para iniciar mais um dia, animados para a noite.

Assim que deixamos a sala, nosso gerente, Sr. Harris, nos encara com sua expressão severa.

— Por que estão tão animados? Não fiquem felizes só porque é sexta-feira. Ainda há muito o que fazer. — Resmunga.

Reviro os olhos discretamente, assim como os outros. Sr. Harris adora se impor e nos lembrar constantemente do nosso lugar, mas já estamos acostumados.

— Liam, hoje você cuida do balcão. Quero que esteja atento a cada pedido, sem erros, entendeu? — Ordena, sem sequer esperar uma resposta. — Sophia, fica responsável pelas entregas. Não quero atrasos, está claro?

Ela apenas assente, suspirando baixo.

— Jack, limpe a área externa antes de abrirmos. Tem muita sujeira lá fora, e quero tudo impecável para os clientes.

Jack faz uma careta, mas concorda.

Finalmente, Harris se vira para mim, com aquele olhar de sempre.

— Asher, fritadeiras e o chão da cozinha. Quero que tudo brilhe. Sem desculpas.

Sinto meu estômago revirar. Limpar as fritadeiras é uma das tarefas mais ingratas, mas apenas forço um sorriso e aceno.

— Sem problemas, senhor.

Ele apenas lança um olhar que parece dizer "melhor assim" antes de se afastar. Meus colegas me olham com empatia, mas todos sabemos que discutir com ele é perda de tempo.

Liam segue para o balcão, organizando os menus e checando o sistema de pedidos. Sophia ajusta o capacete e revisa a lista de entregas, enquanto Jack pega uma vassoura e sai para a área externa, murmurando algo sobre o cheiro desagradável de lixo acumulado.

Sigo para a cozinha, tentando ignorar a frustração. Limpar as fritadeiras é exaustivo, e o cheiro de gordura queimada impregna as roupas e a pele.

Pego as luvas de borracha e o desengordurante mais forte disponível. Ao puxar a fritadeira para longe da parede, encaro a espessa camada de gordura grudada no fundo.

— Maravilha. — Murmuro, pegando a escova e mergulhando-a no líquido de limpeza.

Esfrego com força, sentindo o calor e o cheiro pesado da gordura invadir minhas narinas. Meu braço já dói, mas continuo determinado a terminar o serviço o mais rápido possível.

A gordura começa a se soltar, formando uma pasta marrom que desliza pelas bordas metálicas. Tento não pensar muito nisso, mas é impossível não sentir o estômago revirar.

Enquanto esfrego, minha mente vagueia para os planos da noite. Sair com meus colegas, dançar, talvez conhecer alguém interessante... Faz tempo que minha rotina se resume apenas a trabalho e casa.

Depois de quase meia hora de esforço, a fritadeira finalmente parece limpa. Enxáguo cuidadosamente, certificando-me de que não restou nenhum resíduo de produto químico, e seco com um pano limpo.

Mas ainda falta o chão.

Pego o esfregão e o balde, enchendo-o com água quente e detergente.

Ao passar o esfregão pelo chão pegajoso, sinto cada músculo do meu corpo reclamar. Provavelmente resultado de inúmeras sessões de fritura sem limpeza adequada.

— Inferno. — Resmungo, esfregando com mais força.

A água no balde logo se transforma em um tom acinzentado, prova de toda a sujeira acumulada. Torço o pano e continuo, até que o piso finalmente comece a brilhar sob a luz fluorescente.

Encosto-me na parede por um momento, passando a manga da camisa na testa suada. O cheiro de desinfetante e gordura ainda paira no ar, mas pelo menos o trabalho está feito.

— Menos mal. — Murmuro, tentando encontrar algum consolo no fato de que a pior parte do dia ficou para trás.

Guardo os materiais e lavo as mãos rapidamente antes de voltar ao salão principal. Meus colegas já estão ocupados, e a lanchonete começa a se encher.

Ainda exausto, mas com uma pequena onda de alívio, me permito um breve sorriso. A noite ainda está por vir, e talvez ela traga algo que realmente faça todo esse esforço valer a pena.

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App