Asher Bennett.
Já faz cinco anos desde que cheguei a Elyssia, um pequeno país que se tornou meu lar, ainda que, a princípio, não parecesse. Quando Nick e eu desembarcamos aqui, não conhecíamos ninguém, nem sequer falávamos bem a língua. Cada dia era uma luta para encontrar trabalho, para entender as placas nas ruas, para não nos perder em meio a uma cidade indiferente aos nossos problemas. Mas, como tudo na vida, as coisas foram se ajustando.
Hoje, aos vinte e cinco anos, olho para Castellano City e quase posso chamar este lugar de lar. Uma cidade peculiar, que combina o antigo e o novo de uma maneira única. Os prédios no centro possuem uma arquitetura clássica, com fachadas ornamentadas que contam histórias de outra era, enquanto os arranha-céus de vidro e aço ao redor lembram que o progresso nunca para.
As ruas largas e bem pavimentadas são margeadas por árvores que mudam de cor conforme as estações. No verão, o verde vibrante contrasta com o azul do céu, e no outono, a cidade inteira se transforma em uma paleta de dourado e vermelho. As lojas variam entre butiques familiares e grandes marcas internacionais, sempre oferecendo algo novo a cada esquina.
Cafés com mesas ao ar livre, restaurantes que exalam aromas diversos e parques bem cuidados fazem de Castellano City um lugar vibrante. Apesar da beleza, há um certo ar de mistério em tudo. Talvez o nome "Castellano" carregue essa sensação, como se a cidade ainda guardasse segredos de seus fundadores e líderes.
Nick e eu encontramos nosso espaço aqui. Mesmo que a lembrança do que deixei para trás ainda doa, Elyssia me deu a chance de recomeçar. Castellano City é linda de uma maneira única, e agora consigo enxergar isso com clareza.
Ao longo desse tempo, saí com algumas pessoas. Nunca me enganei com promessas de amor ou relacionamentos duradouros. Talvez nunca esteja pronto para isso. Apenas curto uma noite e, no dia seguinte, sigo em frente. Minha vida se resume a trabalho, casa e, às vezes, uma noite de sexo sem compromisso.
Dividimos um apartamento. Não é o mais caro, mas tem um toque de luxo que me surpreende. Pisos de madeira polida, janelas amplas que deixam entrar a luz do sol. Tudo tem uma aparência refinada. Essa cidade é bem cuidada, e não posso negar que sou grato por ter encontrado um lugar assim.
Claro, Castellano City tem seus rumores sombrios. Falam de um líder que controla tudo, alguém cruel e perigoso. Segundo os boatos, andar sozinho à noite pode significar sequestro e um destino incerto em algum leilão secreto. No começo, Nick e eu acreditávamos em cada palavra. Éramos novatos, e o medo nos mantinha alertas. Mas, depois de cinco anos, nunca vimos nada com nossos próprios olhos.
Passo meus dias na lanchonete. Nick trabalha na TechNova Solutions, uma empresa de tecnologia onde atua como analista de sistemas. Ele ama o que faz, e sua dedicação ao trabalho é admirável. Sempre nos apoiamos, e essa parceria tem sido o alicerce da nossa vida aqui.
06:30 - Lanchonete - Castellano City.
Sexta-Feira.
Na sala dos funcionários, visto meu uniforme para mais um dia de trabalho. Não é qualquer lanchonete, é uma das mais famosas da cidade, sempre lotada. O movimento nunca para, e gosto disso. Manter-me ocupado evita que minha mente vague para lugares que prefiro esquecer.
Aproveito o espelho para me observar por um momento. Os olhos castanhos claros me encaram de volta, com uma intensidade que às vezes me assusta. Os cabelos, recém-pintados de cinza, contrastam com minha pele morena. Gosto do visual. Escolhi para mim, uma forma de expressar o controle que agora tenho sobre minha vida.
Com um metro e sessenta e cinco, sempre fui um dos menores do meu grupo de amigos, mas isso nunca me incomodou. Meu corpo, antes magro, ganhou definição nos últimos anos. Os trabalhos pesados quando cheguei aqui moldaram meus músculos, dando-me uma aparência mais forte. Passei de alguém inseguro a um homem que entende o próprio valor.
Ajusto a camisa, certificando-me de que está perfeita, e respiro fundo. Hora de enfrentar mais um dia.
A porta da sala se abre e meus colegas começam a entrar. Liam, sempre o primeiro a aparecer, chega com aquele sorriso travesso.
— E aí, Asher? Pronto para mais um dia de caos? — Ri.
— Como se tivéssemos escolha, né? — Respondo, rindo também.
Sophia e Jack entram logo atrás, discutindo animadamente sobre alguma série. A sala se enche de vozes e risadas.
— Você precisa ver essa série, Asher. É incrível! — Jack comenta empolgado.
— Se for tão boa quanto a última que recomendou, acho que vou passar. — Respondo, lembrando da experiência terrível.
— Ei! Aquela tinha seu charme! — Se defende, rindo.
Sophia coloca a bolsa no armário.
— Já que hoje é sexta-feira, que tal irmos a uma boate depois do trabalho? — Sugere, animada.
— Sim! Já faz um tempo que não saímos todos juntos. — Liam concorda.
— Tô dentro. — Jack responde prontamente.
Todos me encaram, esperando minha resposta. Penso por um momento. Faz meses que não me divirto. Chamar Nick parece uma boa ideia.
— Por que não? Vou chamar o Nick. Ele vai gostar. — Digo, e todos comemoram.
— Vai ser incrível! — Sophia diz, empolgada.
Com os planos fechados, terminamos de nos preparar. Todos colocam os uniformes e saímos para iniciar mais um dia, animados para a noite.
Assim que deixamos a sala, nosso gerente, Sr. Harris, nos encara com sua expressão severa.
— Por que estão tão animados? Não fiquem felizes só porque é sexta-feira. Ainda há muito o que fazer. — Resmunga.
Reviro os olhos discretamente, assim como os outros. Sr. Harris adora se impor e nos lembrar constantemente do nosso lugar, mas já estamos acostumados.
— Liam, hoje você cuida do balcão. Quero que esteja atento a cada pedido, sem erros, entendeu? — Ordena, sem sequer esperar uma resposta. — Sophia, fica responsável pelas entregas. Não quero atrasos, está claro?
Ela apenas assente, suspirando baixo.
— Jack, limpe a área externa antes de abrirmos. Tem muita sujeira lá fora, e quero tudo impecável para os clientes.
Jack faz uma careta, mas concorda.
Finalmente, Harris se vira para mim, com aquele olhar de sempre.
— Asher, fritadeiras e o chão da cozinha. Quero que tudo brilhe. Sem desculpas.
Sinto meu estômago revirar. Limpar as fritadeiras é uma das tarefas mais ingratas, mas apenas forço um sorriso e aceno.
— Sem problemas, senhor.
Ele apenas lança um olhar que parece dizer "melhor assim" antes de se afastar. Meus colegas me olham com empatia, mas todos sabemos que discutir com ele é perda de tempo.
Liam segue para o balcão, organizando os menus e checando o sistema de pedidos. Sophia ajusta o capacete e revisa a lista de entregas, enquanto Jack pega uma vassoura e sai para a área externa, murmurando algo sobre o cheiro desagradável de lixo acumulado.
Sigo para a cozinha, tentando ignorar a frustração. Limpar as fritadeiras é exaustivo, e o cheiro de gordura queimada impregna as roupas e a pele.
Pego as luvas de borracha e o desengordurante mais forte disponível. Ao puxar a fritadeira para longe da parede, encaro a espessa camada de gordura grudada no fundo.
— Maravilha. — Murmuro, pegando a escova e mergulhando-a no líquido de limpeza.
Esfrego com força, sentindo o calor e o cheiro pesado da gordura invadir minhas narinas. Meu braço já dói, mas continuo determinado a terminar o serviço o mais rápido possível.
A gordura começa a se soltar, formando uma pasta marrom que desliza pelas bordas metálicas. Tento não pensar muito nisso, mas é impossível não sentir o estômago revirar.
Enquanto esfrego, minha mente vagueia para os planos da noite. Sair com meus colegas, dançar, talvez conhecer alguém interessante... Faz tempo que minha rotina se resume apenas a trabalho e casa.
Depois de quase meia hora de esforço, a fritadeira finalmente parece limpa. Enxáguo cuidadosamente, certificando-me de que não restou nenhum resíduo de produto químico, e seco com um pano limpo.
Mas ainda falta o chão.
Pego o esfregão e o balde, enchendo-o com água quente e detergente.
Ao passar o esfregão pelo chão pegajoso, sinto cada músculo do meu corpo reclamar. Provavelmente resultado de inúmeras sessões de fritura sem limpeza adequada.
— Inferno. — Resmungo, esfregando com mais força.
A água no balde logo se transforma em um tom acinzentado, prova de toda a sujeira acumulada. Torço o pano e continuo, até que o piso finalmente comece a brilhar sob a luz fluorescente.
Encosto-me na parede por um momento, passando a manga da camisa na testa suada. O cheiro de desinfetante e gordura ainda paira no ar, mas pelo menos o trabalho está feito.
— Menos mal. — Murmuro, tentando encontrar algum consolo no fato de que a pior parte do dia ficou para trás.
Guardo os materiais e lavo as mãos rapidamente antes de voltar ao salão principal. Meus colegas já estão ocupados, e a lanchonete começa a se encher.
Ainda exausto, mas com uma pequena onda de alívio, me permito um breve sorriso. A noite ainda está por vir, e talvez ela traga algo que realmente faça todo esse esforço valer a pena.
Asher Bennett.18:15 - lanchonete - Castellano City.Sexta-Feira.O som da última campainha do expediente soou, anunciando o fim do turno. Soltei um suspiro de alívio e joguei o pano de limpeza sobre o balcão, observando meus colegas se reunirem. Antes de irmos para a sala dos funcionários, todos sabíamos o que fazer.— Vamos lá, pessoal, hora de deixar tudo em ordem! — Sophia chamou, sempre a mais organizada do grupo.Cada um começou a organizar a lanchonete de maneira eficiente. Peguei um pano limpo e comecei a limpar as mesas, removendo qualquer vestígio de sujeira ou marcas de copos. Liam passou por mim carregando uma pilha de cadeiras, colocando-as de cabeça para baixo sobre as mesas que eu já havia terminado.— Você está tão lento hoje, Asher! — Brincou, e revirei os olhos, fingindo indignação.— Só fala isso porque faço o trabalho direito. — Retruquei com um sorriso, continuando minha tarefa.Jack estava na cozinha, lavando os utensílios e organizando as prateleiras, enquanto S
Dominic Castellano.18:50 - Cassino - Castellano City.Sexta-Feira.Coloco a camisa preta, abotoando-a com uma calma que contrasta brutalmente com o caos que acabara de ocorrer no quarto. O corpo sem vida da mulher está estendido sobre os lençóis amarrotados, os olhos ainda abertos em um terror congelado. A outra está encolhida no canto da cama, soluçando, tremendo como uma folha ao vento.Pego a gravata, ajustando-a ao redor do colarinho com um movimento rápido e preciso. Sem desviar o olhar, lanço um maço de notas sobre a cama, espalhando-as ao redor dela.— Se sua amiga não tivesse gritado tanto, ainda estaria viva. — Digo, com frieza cortante. Meu tom é implacável, sem vestígio de arrependimento ou empatia.Ela soluça ainda mais alto, mas já perdi o interesse nela.Com os últimos ajustes na roupa feitos, caminho até a porta, deixando para trás o som abafado de seus lamentos. No corredor, dois dos meus seguranças pessoais, fiéis escudeiros, estão de guarda, as expressões impassívei
Dominic Castellano.19:50 - Castellano City.Sexta-Feira.O carro preto reluzente estava estacionado na entrada do cassino. Jack abriu a porta traseira para mim, entrei sem pressa, ajustando meu terno enquanto ele contornava o veículo para assumir o lugar de motorista.A porta fechou suavemente, abafando os sons do cassino. No interior do carro, o silêncio era uma presença quase tangível, apenas interrompido pelo som do motor que rugia suavemente quando Jack engatou a marcha e começou a dirigir em direção à casa dos Carter.— Relatórios, Jack. — Minha voz soou fria, autoritária, cortando o silêncio como uma lâmina.Jack assentiu, os olhos fixos na estrada, mas sua mente claramente trabalhando rápido para compilar as informações necessárias.— O tráfico de drogas está fluindo bem, senhor. As importações estão dentro do cronograma. Conseguimos passar a última remessa sem problemas nas fronteiras, graças aos contatos que temos nos portos. A distribuição local também está eficiente. Nosso
Dominic Castellano.21:40 - Balada - Castellano City.Sexta-Feira.O caminho até a balada foi mais longo do que o esperado. O trânsito caótico nos forçou a parar em certos momentos, mas isso não abalou minha paciência. O silêncio dentro do carro era preenchido apenas pelos ruídos externos e pelos meus pensamentos sombrios, antecipando o próximo encontro.Após alguns minutos, Jack encostou o carro em uma rua lateral para pegar Sérgio. Ele entrou rapidamente, ajustando-se no assento da frente sem dizer uma palavra. Sempre eficiente, entendia que agora não era hora para conversas desnecessárias.Seguimos em direção à balada. À medida que nos aproximávamos, o ambiente se transformava: as luzes vibrantes piscavam ao longe e o som da música reverberava nas paredes. Jack estacionou com precisão na entrada lateral, uma área reservada para nossa equipe.Ele saiu primeiro, abrindo a porta para mim com a mesma precisão de sempre.— Já pegaram o Cooper. Ele está aguardando. — Informou, a voz firm
Asher Bennett.21:15 - Balada - Castellano City.Sexta-Feira.O táxi parou na frente da balada e, assim que descemos, minha expressão se contorceu ao ver o tamanho da fila.— Isso vai demorar. — Murmurei, olhando para o Nick, que parecia ainda mais nervoso ao encarar o grande número de pessoas.— Acho que dá tempo de voltarmos e assistirmos um filme. — Ele brincou, mas apenas revirei os olhos.Foi então que avistei Liam e os outros no meio da fila, acenando com as mãos.— Nick, eles estão ali. Vamos. — Falei, puxando-o pelo braço, enquanto cortávamos caminho entre as pessoas. Algumas reclamaram baixinho, mas não dei atenção.Chegamos aos meus amigos, e Liam abriu um sorriso largo.— Até que enfim! E dizem que quem sempre chega atrasado sou eu. — Ele brincou, colocando as mãos na cintura com um tom exagerado de acusação.— Engraçadinho. — Respondi, empurrando-o de leve no ombro, arrancando risadas dele.Notei que Sophia estava estranhamente quieta, seus olhos fixos em Nick. Um sorriso
Asher Bennett.O som dos meus passos ecoava alto, apesar da tentativa de correr silenciosamente. A escuridão ao redor era sufocante, iluminada apenas pelas luzes piscantes dos postes quebrados. Meu peito ardia, o coração disparado, enquanto os passos pesados atrás de mim se aproximavam cada vez mais.Eu sabia quem era. Não precisava olhar para trás. Aqueles olhos negros, frios como a própria morte, estavam cravados em minha mente. Ele estava me caçando.— Corre, Sojung. — A voz dele era grave, carregada de uma ameaça sombria.Tropecei em uma pedra e caí de joelhos no chão áspero. Tentei me levantar, mas meu corpo parecia travado pelo medo. Antes que pudesse reagir, uma mão forte agarrou meu ombro com brutalidade, seu toque gélido penetrando minha pele.— Não há escapatória. — Murmurou no meu ouvido, e um calafrio percorreu minha espinha.Meus olhos se arregalaram e, quando me virei, esperando encarar a morte, tudo mudou.Subitamente, não estava mais fugindo. O ambiente ao redor se tra
Dominic Castellano.10:50 - Mansão do Dominic - Castellano City.Cinco dias depois. Quarta-Feira.Foram cinco longos dias desde que meus olhos encontraram aqueles castanhos claros, cheios de pavor. Desde que senti a pele quente e trêmula sob meus dedos. Desde que ouvi sua voz falha, implorando por sua vida.E, nesses cinco dias, minha paciência tem sido testada de todas as formas possíveis.As operações de drogas exigiram minha atenção constante, as importações e distribuições de armas precisavam de ajustes, e as casas de prostituição resolveram criar problemas, achando que tinham direito a algo além do que eu permito. Mantive-me ocupado, lidando com cada questão, controlando cada detalhe, porque nada nesse maldito país acontece sem que eu saiba.Mas, mesmo com todas essas distrações, minha mente sempre voltava para ele.Asher Bennett.Seu rosto tem me assombrado como uma droga viciante, impossível de ignorar. Nunca, em toda a minha vida, senti essa atração incontrolável. O fato de s
Asher Bennett.11:51 - Lanchonete- Castellano City.Quarta-Feira.O pano úmido deslizava sobre a superfície das mesas, limpando os últimos vestígios de migalhas do turno da manhã. O relógio na parede marcava poucos minutos para o meio-dia, e logo fecharíamos para o intervalo de almoço.Mesmo assim, minha mente estava longe dali.Por mais que repetisse inúmeras vezes que aquele homem não me encontraria, que tudo ficou no passado, o medo rastejava dentro de mim, corroendo pouco a pouco.Cada vez que alguém entrava pela porta da lanchonete, sentia o peito apertar e o corpo entrar em alerta. As mãos suavam, o coração disparava, e eu precisava de alguns segundos para lembrar que era apenas mais um cliente qualquer… e não ele.Mas o pior não era o medo.O pior era a lembrança.Aqueles olhos negros, frios e penetrantes. Mesmo com o terror correndo em minhas veias, havia algo profundamente perturbador naquela imagem. Meu corpo se lembrava do toque firme em meu maxilar, da voz grave chamando-m