— Jane do orfanato de Delister está inocentada das acusações contra a alcateia de Delister. — A voz do juiz soou alta e imponente, eu havia me levantado para receber a sentença, mas no instante que ela foi proferida, os gritos da Luna Clarisse que havia perdido seu único filho no massacre romperam o silencio no tribunal.
— Não! Ela não pode ser inocentada. Ela ajudou a matar o meu filho naquela clareira! Ele foi despedaçado pelo lobo negro namorado dela! — A Luna gritou, seu rosto estava com uma máscara de dor e ódio. Seus cabelos sempre tão impecáveis estavam secos e sem vida, seus olhos inchados. Aquele julgamento havia sido rápido, não passando de duas semanas. Quando ouvi a sentença, não senti nada. Não senti alívio, nem preocupação em ser executada. Uma parte de mim queria a execução. A Luna tentou avançar em minha direção mesmo estando no tribunal e os guardas e o Alfa tiveram que conte-la, enquanto eu sentia mãos ao meu redor tentando me amparar, como se eu tivesse que ser amparada. O macho me levou para fora da sala em direção ao corredor, e eu sabia que aquele resultado favorável para mim havia sido diretamente influenciado pelos vários advogados que o príncipe havia contratado para me defender. E sua influência sendo filho do rei alfa havia decidido tudo, ninguém, mesmo um juiz iria querer ir contra as vontades do príncipe rebelde, Demétrius Eldryn. Quando finalmente paramos no corredor, eu podia sentir o olhar do macho sobre mim enquanto eu bebia água. Eu sabia que ele esperava uma reação minha, de alívio no mínimo. — Você quer um café? — ele perguntou suavemente. Assenti, eu apenas queria que ele se afastasse, que parasse de me olhar daquela forma. “Ele apenas está preocupado conosco.” Disse Selene em minha mente. “Apenas cale a boca.” retruquei e ela rosnou para mim. O macho se afastou seguindo pelo longo corredor e eu me recostei na parede. Quando fechei os olhos por alguns segundos a imagens dos olhos de Jasper de Marius surgiram em minha mente como sempre acontecia e meu coração novamente se apertou. — Você realmente morreu? — sussurrei para mim mesma. De repente uma porta foi aberta interrompendo meus pensamentos, abri os olhos e meu olhar se cruzou com os de Clarisse. Seus olhos estavam injetados de ódio pelo resultado do julgamento, ela não deixou que os machos ao seu redor a contivessem, caminhando em minha direção com seus saltos altos e barulhentos. Eu não recuei, esperando-a para que ela liberasse sua fúria. Quando a fêmea chegou a centímetros de mim, a loba ergueu a mão em minha direção para desferir um tapa contra o meu rosto. Eu segurei seu pulso e desferi um tapa contra o dela. Tão alto e forte que ela cambaleeou para trás, perdendo o equilíbrio e caindo sentada no chão. A loba me olhou horrorizada e eu sabia a razão. Ela era companheira de um Alfa e estava acostumada a erguer sua mão contra todos e não ser rebatida. Seu lado esquerdo do rosto estava vermelho agora e um fio de sangue saiu de sua boca. Ela limpou com a mão horrorizada e levantou o olhar indignado em minha direção. — Como você ousa sua assassina nojenta? Sua puta de lobos negros! Daquela raça maldita! — ela gritou ficando histérica. Eu me inclinei até ela e retruquei: — Seu filho era um estuprador imbecil. Sem caráter exatamente como a mãe. Marius o matou rápido demais, ele devia ter sofrido mais. Eu não dei chance para que ela ficasse ainda mais histérica, me virando para sair do corredor. Logo a ouvi gritar e ter que ser contida por seus acompanhantes. Quando cheguei ao fim do corredor, encontrei Demétrius me esperando com um café, agradeci e ele me levou em direção ao carro. Coloquei meus óculos escuros e deixei que ele colocasse sua mão em meu ombro, assim que saímos do tribunal, os flashs dos fotógrafos e da imprensa explodiam em nossos rostos. Há semanas que saiam manchetes que o príncipe havia encontrado sua companheira, uma órfã de Delister. Uma ninguém. — Para a minha casa, Jane? — Demétrius perguntou. Respirei fundo. Eu havia estabelecido limites a ele desde aquela noite há semanas. Apenas um beijo, foi tudo que ele havia conseguido de mim. Quando me recuperei do choque de perder Marius, aceitei o emprego como rastreadora real e aluguei um apartamento na avenida 44. Mas isso não significava que o macho não tentasse sempre me levar para o seu quarto. — Para a avenida 44, Demétrius. — falei. “Ele é nosso companheiro e eu sei que você o deseja.” Selene retrucou em minha mente. “Não importa.” rebati. Demétrius suspirou pesadamente e ligou o carro, eu sabia que ele estava ansioso para que eu o aceitasse, para que deixasse que ele me marcasse. No momento que o macho parou em frente ao meu prédio, agradeci pelo apoio e me virei para abrir a porta, mas logo senti sua mão se fechar ao redor do meu pulso, me impedindo de sair. — Espere, Jane. — Ele disse, suavemente. Engoli em seco, a energia do seu toque percorrendo o meu corpo. Respirei fundo e voltei meu olhar para o macho. — Sim? — Já chega desse luto. Ele está morto. Apenas se entregue a mim. — Não há corpo. — falei e puxei meu pulso da sua mão, saindo do carro. Não olhei para trás, entrando no prédio e subindo as escadas correndo, sem sequer cogitar o elevador. Eu sabia que era irracional, mas uma parte de mim acreditava que ele poderia voltar. Ou tinha esperanças disso. Minhas mãos tremiam enquanto eu abria a porta, até que senti um aroma familiar. Um aroma que eu não sentia há muito tempo. Assim que abri a porta, vi a silhueta do macho sentado na poltrona perto da janela. O macho ligou o abajur na mesinha ao lado e sorriu para mim, seus dentes brancos e retos, seu corte de cabelo curto e impecável e seus olhos de Jasper astutos e maldosos. Não havia tempo para correr e eu não desejava isso. Puxei minha faca de prata do bolso de trás e encarei o macho que odiava a minha frente. — Quanto tempo não a vejo, Jane. Quem diria que a porra de uma órfã seria a companheira destinada do príncipe rebelde? — zombou Kilian Hawthorn.Suas palavras não tiveram o efeito que no passado haviam tido sobre mim. A palavra “órfã” já não me afetava mais como antes. Enquanto eu olhava para aquele macho, para aquele Alfa dos lobos negros tudo que eu sentia era raiva e repulsa. Ele havia tratado Marius e a todos a sua volta como lixo, havia tratado a mim como lixo. Um lobo cruel e sanguinário. Kilian se levantou da poltrona com sua postura ereta e orgulhosa, seus olhos fixos em mim como se eu não passasse de um gatinho assustado. De uma presa fácil para ele. Seu olhar de Jasper desceu para a faca de prata que eu empunhava de modo defensivo e ele sorriu. — Isso é para mim? — ele perguntou, quase como se sentisse lisonjeado. — O que você acha? — respondi entredentes. Eu ainda estava parada a uma distância particularmente segura dele, mas sabia que ele poderia diminuir aquela distância em um segundo. “Não temos chance contra ele, devíamos fugir.” Selene anunciou em minha mente. “Eu não vou fugir nunca mais.” rebati. Se
Demétrius entrou no pequeno apartamento como um furacão, derrubando em seu caminho até mesmo um vaso de planta que ficava no corredor. Seus passos rápidos e ao mesmo tempo pesados, seu corpo enorme com seus músculos tensionados, seus ombros tensos e seus punhos fortemente cerrados. Eu arfei atrás dele enquanto seu olhar vasculhava a sala e para meu choque estava vazia. Uma das janelas estava aberta deixando que a brisa noturna entrasse, apenas o abajur ligado. O olhar de Demétrius recaiu imediatamente para os rastros de sangue no chão e ele quase que imediatamente se virou na minha direção. — Não estou ferida. —falei e ele caminhou até a sala, seu olhar analisando tudo ao seu redor. Era como se ele esperasse que a qualquer momento um macho pularia atrás dele. Com cautela, caminhei até a janela e assim que coloquei o rosto lá fora eu o vi. Parado no acostamento do outro lado da rua, o sangue em sua perna já havia cessado e estava apenas uma mancha em sua calça, não havia sinal d
Todo o meu corpo estremeceu. Abri os olhos que nem sequer havia percebido que estavam fechados e no instante que meu olhar se cruzou com os do príncipe, ele percebeu o aroma. O macho se afastou repentinamente olhando ao redor e procurando a origem do aroma de Marius, assim como eu. E tão repentinamente como surgiu, ele desapareceu. O macho olhou em minha direção, sua expressão um misto de emoções e eu reconheci todas elas. Incredulidade, em seguida raiva e finalmente, ciúmes. Demétrius estava se sentindo traído. — Isso não é possível. Ele... — suas palavras morreram no ar. Mas eu sabia que era possível. Marius estava vivo e estava perto daqui. Tão perto que eu desconfiava que por um instante, ele estava aqui. Meu coração batia descompassado e naquele momento tudo que eu ansiava era estar sozinha. Estar sozinha para que ele viesse até mim, para que eu o abraçasse, que o beijasse. Mas o que eu mais desejava era seu perdão. — Eu não irei com você. — falei. Seu olhar se voltou
Fiquei alguns segundos paralisada fitando o vazio que o macho deixou ao entrar na cabana. Nesses segundos de silencio insuportável, Selene se agitava ainda mais em minha mente, me impulsionando para me mover. Para ir atrás dele. Apenas o seu olhar de decepção surgia em minha mente, enquanto meu coração se despedaçava pela sua frieza ao me dar me dar suas costas. “Mova-se atrás dele!” Selene gritou em minha mente e seus gritos me tiraram do meu choque. Avancei em direção a cabana e a primeira cena que vi ao abrir a porta foi Marius sem camisa próximo ao balcão. Ele estava virando uma garrafa de vinho como se eu não estivesse lá. O macho nem sequer se moveu ao me ver abrindo a porta e entrando na cabana. Era como se eu não estivesse bem na sua frente, Marius continuou bebendo até que abaixou a garrafa que já estava pela metade e a colocou grosseiramente no balcão da cozinha. — Marius? Você está vivo. — falei a coisa mais idiota que veio a minha mente. O macho fechou os olhos por
Pisquei chocada com suas palavras. Marius continuou segurando minhas mãos pelos pulsos e me sacudiu levemente, seu olhar sobre mim firme e astuto. — Me diga, Jane! Quantas vezes ele a beijou? Quantas vezes ele disse que você era dele e de mais ninguém? Foi assim que você sofreu por mim? Nos braços dele? Minha loba começou a se agitar dentro de mim, sentindo meu sangue correr mais rápido e a raiva de ser acusada me envolver como uma serpente que carregava uma bomba prestes a explodir. Minhas garras começaram a se alongar e o macho olhou para as minhas mãos. — Está com raiva pelas minhas palavras? — ele perguntou em um tom cínico. — Apenas volte para ele. Seja sua princesa. O macho me soltou e quando ele virou as costas, eu o empurrei contra o balcão. Marius caiu em cima da garrafa de vinho que rolou do balcão e caiu no chão, todo o conteúdo sendo derramado. O macho me olhou surpreso com a minha atitude e eu exclamei: — Como você ousa me acusar dessa forma? E vejo pelas suas p
Suas palavras me machucaram, me cortaram tão profundo que eu me senti sangrando bem ali. Seus olhos de Jasper brilhando com as lágrimas faziam com que tudo ao redor parecesse irreal. Não, eu havia acabado de recuperá-lo da morte e o estava perdendo outra vez. Selene ouvia e observava tudo atenta, sentindo cada emoção minha, sendo envolvida pelos meus sentimentos, sendo engolida pelo meu desespero. — Não... como você pode pensar isso de si mesmo? — murmurei e o macho respirou fundo e passou as mãos nos cabelos em frustração. Marius virou de costas e começou a catar os cacos de vidro do chão enquanto eu o observava com meu coração paralisado. Vários segundos se passaram sem que nenhum de nós dissesse nada, o ar ficando sufocante. Aquela cabana se tornando cada vez menor, minhas mãos suando e tremendo. Não, eu não podia aceitar aquilo. “Ele está sofrendo, Jane. E seu lobo está em agonia e desespero, me desejando.” Selene me alertou. Meu coração batia descompassado enquanto eu fi
Kilian cruzou os braços na porta e se recostou, seu sorriso cínico era largo agora e seu olhar estava divertido enquanto nos olhava. Marius se colocou a minha frente de modo defensivo. Mas eu e Selene não tínhamos medo de Kilian mais e eu não me importava se ele era mais forte, eu era mais rápida. Olhei em seus olhos sem medo. — Não devia estar escravizando fêmeas agora? — alfinetei. Kilian voltou seu olhar na minha direção. — Estou tirando uns dias de folga. Por que, você quer se oferecer para ir comigo? Bem que eu senti um clima quando fui ao seu apartamento... — Kilian insinuou e eu senti o corpo de Marius tenso imediatamente. Minha loba rosnou em minha mente e tentou assumir o controle ansiando por cravar os dentes na garganta de Kilian, mas eu a contive. — Deixe-a em paz. — Marius rosnou. Desci do balcão e me posicionei ao seu lado, meu corpo firme e meus olhos provavelmente mudando de cor, minhas garras se alongando. — Você é um porco e um dia terá exatamente o
Marius estava distante e suas palavras que ele não se importava estavam ecoando em minha mente. Perfurando o meu coração como mil lâmina de prata, e agora ele se recusava a olhar na minha direção. O macho virou de costas para mim, suas mãos em seus cabelos como se ele não tivesse mais energia para debater comigo e tudo que eu desejava entender era porque ele estava defendendo Kilian e sendo tão grosseiro comigo. E então, como um estalo repentino, algo me ocorreu novamente. — Ele me sequestrou da cabana há um ano. Se ele não tivesse feito aquilo, todos os eventos que aconteceram depois não teriam ocorrido. — falei e Marius respirou fundo, mas não se virou. Eu diminui a distância entre nós, caminhando direto para ele antes que eu pudesse tocar em seu ombro, o macho se virou. Seus olhos de Jasper estavam frios e distantes. — Por que pensar nisso agora? Apenas, vá embora. — ele ordenou. Marius virou as costas saindo do quarto e eu o segui, tentando falar com ele até que chegamos à