Demétrius entrou no pequeno apartamento como um furacão, derrubando em seu caminho até mesmo um vaso de planta que ficava no corredor.
Seus passos rápidos e ao mesmo tempo pesados, seu corpo enorme com seus músculos tensionados, seus ombros tensos e seus punhos fortemente cerrados.
Eu arfei atrás dele enquanto seu olhar vasculhava a sala e para meu choque estava vazia. Uma das janelas estava aberta deixando que a brisa noturna entrasse, apenas o abajur ligado.
O olhar de Demétrius recaiu imediatamente para os rastros de sangue no chão e ele quase que imediatamente se virou na minha direção.
— Não estou ferida. —falei e ele caminhou até a sala, seu olhar analisando tudo ao seu redor. Era como se ele esperasse que a qualquer momento um macho pularia atrás dele.
Com cautela, caminhei até a janela e assim que coloquei o rosto lá fora eu o vi.
Parado no acostamento do outro lado da rua, o sangue em sua perna já havia cessado e estava apenas uma mancha em sua calça, não havia sinal da minha faca.
Lentamente, Kilian sorriu exatamente como um vilão e ergueu um pouco a minha faca, como se quisesse que eu soubesse que ele estava com ela.
Seus olhos vermelhos cintilaram na escuridão enquanto eu o encarava paralisada na janela, antes que Demétrius conseguisse chegar à janela, Kilian desapareceu em meio as arvores.
O macho seguiu o meu olhar aterrorizado e de repente me virou para ele.
Eu via seus lábios se mexerem enquanto ele parecia me chamar, mas não ouvia nada. Tudo ao meu redor pareceu ficar silencioso e meus pensamentos se voltaram para as palavras de Kilian.
Marius estava vivo e ele havia dito isso com toda a convicção, na verdade, aquela visita só havia acontecido porque ele acreditou que o macho estaria comigo, escondido. Ou no mínimo perto o suficiente para me salvar dele.
O príncipe voltou a me sacudir, dessa vez eu olhei em seus olhos tentando retornar ao presente. Lentamente comecei a entender suas palavras.
— Você está em choque! O que ele fez com você? Ele a tocou? Se ele a tocou precisa me dizer Jane! Quem era? — suas perguntas vinham acompanhadas de uma alta dose de desespero e fúria.
Suas mãos em meus ombros estavam apertando forte demais e isso começou a me despertar com mais rapidez.
Seu rosto estava vermelho e seus olhos azuis frios, foi quando percebi que suas garras estavam expostas e me cortando. Me desvencilhei dele dando alguns passos para trás.
— Ele não me tocou e você não deveria ter corrido até aqui. — Respondi e só quando vi sua expressão mudar para decepção que percebi que havia sido rude.
Antes que eu sequer pudesse pensar em como mudar o meu tom e consertar aquele mal-entendido, o macho retrucou:
— Eu não deveria ter corrido até aqui? É sério? Deveria ter simplesmente fugido? Quem você pensa que eu sou? Um covarde? — seus olhos estavam em chamas furiosas.
Ele estava extremamente ofendido, Demétrius acreditava que eu o estava chamando de covarde, pior, ele acreditava que eu pensava isso dele.
Quando na verdade só queria protegê-lo.
— Quem estava aqui? Quem foi o macho que invadiu o seu apartamento. Eu posso sentir o cheiro de um macho perfeitamente, e que sangue é esse em sua boca? — ele disparou.
— É o sangue dele. Eu o mordi e foi assim que fugi. — Eu deveria revelar que era Kilian? Já havia contado tudo as autoridades sobre existir a alcateia de lobos negros, sobre a alcateia de Kilian e todas as lobas que eles sequestravam para viver como escravas. Isso havia se tornado um segredo de estado.
Demétrius levantou uma sobrancelha, esperando impaciente a minha resposta.
— Era Kilian Hawthorn. — Revelei.
Os olhos de Demétrius se arregalaram e ele respirou fundo, seus punhos cerrados novamente. Entredentes, ele perguntou:
— O que esse desgraçado queria aqui?
— Ele desejava me levar com ele agora que Marius está morto.
“Você está mentindo.” Selene me acusou em minha mente.
“Não estou, apenas omiti algumas coisas.”
O macho diminuiu a distância entre nós e levou uma mão ao meu ombro.
Sua expressão se suavizou de repente e ele disse:
— Aqui não é mais seguro para você. Venha para Eldrynhouse comigo agora. — mesmo que suas palavras fossem suaves, eu sabia reconhecer ordens quando ouvia.
— Não. — Respondi quase que de imediato.
Sua expressão se tornou perplexa, ele realmente não esperava que eu fosse negar aquilo, afinal, não havia nem dez minutos que o macho me encontrou correndo aterrorizada no corredor.
— Você não pode estar falando sério! Aqui não é seguro, um Alfa negro invadiu esse apartamento com a intenção de levá-la, se eu não estivesse aqui para afugentá-lo...
— Como sabe que o afugentou? — eu o interrompi.
Ele parou de falar e me encarou.
— É claro que eu o afugentei. Ele deve ter me ouvido e sentido o meu cheiro, por isso fugiu. Esses lobos negros são apenas covardes que sequestram fêmeas...
— Marius não é covarde! — retruquei irritada.
— Você quer dizer “era”. — O macho me corrigiu.
Paralisei no instante que percebi que estava falando de Marius com a certeza que ele estava vivo. Eu não desejava que Demétrius soubesse o que Kilian havia dito.
Algo me dizia que ele não ficaria feliz com a notícia, no fundo, acreditava que ele tentaria minar todas as minhas esperanças com argumentos lógicos e o maior deles seria que Kilian não era confiável, que estava tentando me atrair para uma armadilha.
Engoli em seco suas palavras e desviei o olhar antes de responder:
— Sim, era. Ele não era um covarde, Marius era diferente todos eles.
— Ele sequestrou você, se esqueceu? — rebateu o macho e eu senti a frieza em suas palavras.
Voltei meu olhar em sua direção.
— Ele me salvou...
— E depois a sequestrou e a obrigou a ficar com ele para cumprir um proposito, encontrar a fêmea dos seus sonhos, acha que ele se importava com você? — suas palavras causaram em mim uma verdadeira tempestade.
Senti meu sangue correr mais rápido, meus olhos deviam ter mudado de cor porque o macho respirou como se estivesse percebendo que eu não aprovava o que ele estava dizendo.
— Você não sabe o que ele e eu tínhamos. Não sabe todas as coisas que ele fez por mim. Coisas que ninguém faria. — Rebati com dentes cerrados.
Demétrius me surpreendeu diminuindo a distância entre nós e me puxando pela nuca, seu aperto forte e possessivo, me obrigando a encará-lo.
— Nunca mais, Jane, nunca mais, diga que ninguém faria as coisas que ele fez por você. Meu único erro foi não a ter encontrado primeiro. — disse ele, pronunciando cada palavra de modo lento e claro.
Minha boca ainda estava suja do sangue de Kilian, mesmo que eu tivesse cuspido a maior parte eu ainda sentia o gosto metálico do seu sangue.
Mas nada disso parecia importar para Demétrius, seu olhar desceu para os meus lábios e lentamente seus olhos voltaram para a cor natural deles, um verde escuro, profundo como uma lagoa.
De repente o ar entre nós foi ficando tenso, tudo ao redor se tornando mais silencioso, apenas nossos corações batendo.
Um martelar incessante entre nós, sua respiração contra o meu rosto enquanto lentamente ele me puxava para ainda mais perto dele, meu peito batendo de encontro ao seu. Sua mão em minha nuca firme, até que seus dedos começaram a roçar a pele do meu pescoço de modo lento e demorado.
Por um segundo, fechei os olhos e arfei contra seus lábios enquanto meu corpo reagia a ele.
Eu podia sentir o aroma de sua excitação, Selene estava completamente desperta em minha mente, observando cada detalhe do que acontecia e lutando para assumir o controle, enquanto eu lutava de volta.
Não, não era aquilo que eu queria.
Aquilo era a necessidade do meu corpo, era o laço de companheiros que me fazia querer me entregar para aquele macho...
Seu aroma me envolveu como se eu estivesse bêbada, me deixando tão completamente embriagada por ele que não protestei quando ele se inclinou para o lado e seus lábios tocaram levemente a pele do meu pescoço.
Seus lábios estavam quentes e macios e enviou uma corrente elétrica por todo o meu corpo. Senti meus pelos se eriçarem e minhas pernas tremeram levemente quando seu beijo em meu pescoço se tornou mais profundo.
Em seguida o macho inspirou profundamente, como se quisesse guardar na memória o meu aroma para sempre.
— Venha comigo. — Ele sussurrou contra a minha orelha, seu hálito quente em minha pele. Sua outra mão desceu para a minha cintura me puxando ainda mais para ele, meu corpo de encontro ao seu. Eu podia sentir seus músculos e seu calor.
— Venha comigo, meu amor. — Ele sussurrou novamente, sua voz grave e sensual que fez meu coração bater ainda mais rápido e minha loba implorar que eu dissesse que sim.
— Eu... — mas antes que eu pudesse continuar, senti aquele aroma familiar que eu passei tempo demais acreditando que nunca mais sentiria.
O aroma de Marius.
Todo o meu corpo estremeceu. Abri os olhos que nem sequer havia percebido que estavam fechados e no instante que meu olhar se cruzou com os do príncipe, ele percebeu o aroma. O macho se afastou repentinamente olhando ao redor e procurando a origem do aroma de Marius, assim como eu. E tão repentinamente como surgiu, ele desapareceu. O macho olhou em minha direção, sua expressão um misto de emoções e eu reconheci todas elas. Incredulidade, em seguida raiva e finalmente, ciúmes. Demétrius estava se sentindo traído. — Isso não é possível. Ele... — suas palavras morreram no ar. Mas eu sabia que era possível. Marius estava vivo e estava perto daqui. Tão perto que eu desconfiava que por um instante, ele estava aqui. Meu coração batia descompassado e naquele momento tudo que eu ansiava era estar sozinha. Estar sozinha para que ele viesse até mim, para que eu o abraçasse, que o beijasse. Mas o que eu mais desejava era seu perdão. — Eu não irei com você. — falei. Seu olhar se voltou
Fiquei alguns segundos paralisada fitando o vazio que o macho deixou ao entrar na cabana. Nesses segundos de silencio insuportável, Selene se agitava ainda mais em minha mente, me impulsionando para me mover. Para ir atrás dele. Apenas o seu olhar de decepção surgia em minha mente, enquanto meu coração se despedaçava pela sua frieza ao me dar me dar suas costas. “Mova-se atrás dele!” Selene gritou em minha mente e seus gritos me tiraram do meu choque. Avancei em direção a cabana e a primeira cena que vi ao abrir a porta foi Marius sem camisa próximo ao balcão. Ele estava virando uma garrafa de vinho como se eu não estivesse lá. O macho nem sequer se moveu ao me ver abrindo a porta e entrando na cabana. Era como se eu não estivesse bem na sua frente, Marius continuou bebendo até que abaixou a garrafa que já estava pela metade e a colocou grosseiramente no balcão da cozinha. — Marius? Você está vivo. — falei a coisa mais idiota que veio a minha mente. O macho fechou os olhos por
Pisquei chocada com suas palavras. Marius continuou segurando minhas mãos pelos pulsos e me sacudiu levemente, seu olhar sobre mim firme e astuto. — Me diga, Jane! Quantas vezes ele a beijou? Quantas vezes ele disse que você era dele e de mais ninguém? Foi assim que você sofreu por mim? Nos braços dele? Minha loba começou a se agitar dentro de mim, sentindo meu sangue correr mais rápido e a raiva de ser acusada me envolver como uma serpente que carregava uma bomba prestes a explodir. Minhas garras começaram a se alongar e o macho olhou para as minhas mãos. — Está com raiva pelas minhas palavras? — ele perguntou em um tom cínico. — Apenas volte para ele. Seja sua princesa. O macho me soltou e quando ele virou as costas, eu o empurrei contra o balcão. Marius caiu em cima da garrafa de vinho que rolou do balcão e caiu no chão, todo o conteúdo sendo derramado. O macho me olhou surpreso com a minha atitude e eu exclamei: — Como você ousa me acusar dessa forma? E vejo pelas suas p
Suas palavras me machucaram, me cortaram tão profundo que eu me senti sangrando bem ali. Seus olhos de Jasper brilhando com as lágrimas faziam com que tudo ao redor parecesse irreal. Não, eu havia acabado de recuperá-lo da morte e o estava perdendo outra vez. Selene ouvia e observava tudo atenta, sentindo cada emoção minha, sendo envolvida pelos meus sentimentos, sendo engolida pelo meu desespero. — Não... como você pode pensar isso de si mesmo? — murmurei e o macho respirou fundo e passou as mãos nos cabelos em frustração. Marius virou de costas e começou a catar os cacos de vidro do chão enquanto eu o observava com meu coração paralisado. Vários segundos se passaram sem que nenhum de nós dissesse nada, o ar ficando sufocante. Aquela cabana se tornando cada vez menor, minhas mãos suando e tremendo. Não, eu não podia aceitar aquilo. “Ele está sofrendo, Jane. E seu lobo está em agonia e desespero, me desejando.” Selene me alertou. Meu coração batia descompassado enquanto eu fi
Kilian cruzou os braços na porta e se recostou, seu sorriso cínico era largo agora e seu olhar estava divertido enquanto nos olhava. Marius se colocou a minha frente de modo defensivo. Mas eu e Selene não tínhamos medo de Kilian mais e eu não me importava se ele era mais forte, eu era mais rápida. Olhei em seus olhos sem medo. — Não devia estar escravizando fêmeas agora? — alfinetei. Kilian voltou seu olhar na minha direção. — Estou tirando uns dias de folga. Por que, você quer se oferecer para ir comigo? Bem que eu senti um clima quando fui ao seu apartamento... — Kilian insinuou e eu senti o corpo de Marius tenso imediatamente. Minha loba rosnou em minha mente e tentou assumir o controle ansiando por cravar os dentes na garganta de Kilian, mas eu a contive. — Deixe-a em paz. — Marius rosnou. Desci do balcão e me posicionei ao seu lado, meu corpo firme e meus olhos provavelmente mudando de cor, minhas garras se alongando. — Você é um porco e um dia terá exatamente o
Marius estava distante e suas palavras que ele não se importava estavam ecoando em minha mente. Perfurando o meu coração como mil lâmina de prata, e agora ele se recusava a olhar na minha direção. O macho virou de costas para mim, suas mãos em seus cabelos como se ele não tivesse mais energia para debater comigo e tudo que eu desejava entender era porque ele estava defendendo Kilian e sendo tão grosseiro comigo. E então, como um estalo repentino, algo me ocorreu novamente. — Ele me sequestrou da cabana há um ano. Se ele não tivesse feito aquilo, todos os eventos que aconteceram depois não teriam ocorrido. — falei e Marius respirou fundo, mas não se virou. Eu diminui a distância entre nós, caminhando direto para ele antes que eu pudesse tocar em seu ombro, o macho se virou. Seus olhos de Jasper estavam frios e distantes. — Por que pensar nisso agora? Apenas, vá embora. — ele ordenou. Marius virou as costas saindo do quarto e eu o segui, tentando falar com ele até que chegamos à
— Jane do orfanato de Delister está inocentada das acusações contra a alcateia de Delister. — A voz do juiz soou alta e imponente, eu havia me levantado para receber a sentença, mas no instante que ela foi proferida, os gritos da Luna Clarisse que havia perdido seu único filho no massacre romperam o silencio no tribunal. — Não! Ela não pode ser inocentada. Ela ajudou a matar o meu filho naquela clareira! Ele foi despedaçado pelo lobo negro namorado dela! — A Luna gritou, seu rosto estava com uma máscara de dor e ódio. Seus cabelos sempre tão impecáveis estavam secos e sem vida, seus olhos inchados. Aquele julgamento havia sido rápido, não passando de duas semanas. Quando ouvi a sentença, não senti nada. Não senti alívio, nem preocupação em ser executada. Uma parte de mim queria a execução. A Luna tentou avançar em minha direção mesmo estando no tribunal e os guardas e o Alfa tiveram que conte-la, enquanto eu sentia mãos ao meu redor tentando me amparar, como se eu tivesse que ser a
Suas palavras não tiveram o efeito que no passado haviam tido sobre mim. A palavra “órfã” já não me afetava mais como antes. Enquanto eu olhava para aquele macho, para aquele Alfa dos lobos negros tudo que eu sentia era raiva e repulsa. Ele havia tratado Marius e a todos a sua volta como lixo, havia tratado a mim como lixo. Um lobo cruel e sanguinário. Kilian se levantou da poltrona com sua postura ereta e orgulhosa, seus olhos fixos em mim como se eu não passasse de um gatinho assustado. De uma presa fácil para ele. Seu olhar de Jasper desceu para a faca de prata que eu empunhava de modo defensivo e ele sorriu. — Isso é para mim? — ele perguntou, quase como se sentisse lisonjeado. — O que você acha? — respondi entredentes. Eu ainda estava parada a uma distância particularmente segura dele, mas sabia que ele poderia diminuir aquela distância em um segundo. “Não temos chance contra ele, devíamos fugir.” Selene anunciou em minha mente. “Eu não vou fugir nunca mais.” rebati. Se