Fiquei alguns segundos paralisada fitando o vazio que o macho deixou ao entrar na cabana. Nesses segundos de silencio insuportável, Selene se agitava ainda mais em minha mente, me impulsionando para me mover. Para ir atrás dele.
Apenas o seu olhar de decepção surgia em minha mente, enquanto meu coração se despedaçava pela sua frieza ao me dar me dar suas costas.
“Mova-se atrás dele!” Selene gritou em minha mente e seus gritos me tiraram do meu choque.
Avancei em direção a cabana e a primeira cena que vi ao abrir a porta foi Marius sem camisa próximo ao balcão. Ele estava virando uma garrafa de vinho como se eu não estivesse lá.
O macho nem sequer se moveu ao me ver abrindo a porta e entrando na cabana. Era como se eu não estivesse bem na sua frente, Marius continuou bebendo até que abaixou a garrafa que já estava pela metade e a colocou grosseiramente no balcão da cozinha.
— Marius? Você está vivo. — falei a coisa mais idiota que veio a minha mente.
O macho fechou os olhos por alguns segundos antes de se virar na minha direção.
Seus olhos de Jasper me fitaram ao se abrirem, mas não eram mais os olhos que eu conheci. Ele não parecia mais o mesmo. Seu semblante era de um macho cruel, e agora para meu horror ele estava ainda mais parecido com seu pai, Kilian.
— Que bela observação a sua. Sim, Jane, estou vivo. Esperava que eu continuasse morto, não é? — sua voz era áspera e fria e eu notei cicatrizes das balas de prata. Aquilo não deveria ter desaparecido? Não deveria ter se curado completamente?
Fiquei atônita com suas palavras e franzi o cenho.
— O que? Você acha que eu desejava que você estivesse morto? Essas balas por acaso atingiram o seu cérebro? — rebati.
Marius cruzou os braços sobre o peito musculoso e estreitou os olhos me encarando.
— Não deveria estar com seu companheiro? — ele retrucou.
“Ele está com ciúmes.” disse Selene.
Diminui a distância entre nós e quando comecei a caminhar em sua direção, Marius descruzou os braços e sua expressão se tornou ainda mais tensa.
Fiquei a centímetros dele, olhando atentamente para o seu rosto selvagem.
Ele estava com uma barba mais rala agora, seus cabelos maiores e uma das mechas negras caindo sobre seus olhos. Quando levantei a mão para retirar a mecha, ele a segurou pelo pulso.
— Não me toque, fêmea. — Sua voz era cortante como aço.
Seu toque em meu pulso firme e frio.
Abri a boca para reclamar de sua atitude, mas o lobo foi mais rápido que eu.
— Não quero ouvir suas desculpas, Jane. Volte para o seu príncipe. Fique com ele exatamente como você estava em sua casa. Quase o beijando.
Marius soltou o meu pulso com grosseria e voltou para trás do balcão, pegando em seguida a garrafa de vinho e bebendo um longo gole.
— Você estava na minha casa então. Eu sabia que havia sentido o seu cheiro. Usei minhas habilidades de rastreadora para segui-lo até aqui.
O macho abaixou novamente a garrafa e voltou seu olhar flamejante em minha direção.
— Sim, eu estava na sua casa. Perto o suficiente para sentir o aroma de sua excitação por ele. — Rosnou ele.
Fiquei em choque por um segundo e senti minhas bochechas queimarem.
Marius estava certo, eu estava quase cedendo a Demétrius.
— Eu pensei que você estivesse morto. E eu não o amo. — falei.
Marius riu com escárnio, mas não havia nenhum humor em seus olhos.
— Não o ama? É isso que você tem para me dizer? — ele exclamou.
Avancei em sua direção tentando tocar seu rosto, meus olhos já estavam ardendo com as lagrimas que ameaçavam cair.
Marius segurou as minhas mãos me impedindo novamente de tocá-lo.
— Não me toque, Jane. Não me toque. — Ele disse, mas não me olhou nos olhos.
— Olhe para mim, Marius. Diga que não deseja que eu o toque. Diga de todo o seu coração que não está ansiando por isso exatamente como eu estou.
O macho virou o rosto, se recusando a me olhar enquanto segurava as minhas mãos me mantendo longe.
— Eu achei que você estivesse morto. Achei que o tinha perdido para sempre, e mesmo assim, eu não disse sim para Demétrius. — Sussurrei.
Marius fechou os olhos se recusando a olhar para mim.
— Olhe para mim. Veja nos meus olhos que sou sua! — gritei, minha voz saindo tremula.
O macho abriu olhos e voltou seu olhar na minha direção.
— Quem a ajudou a ser inocentada? Quem a ajudou a conseguir um trabalho, ou seu apartamento? Quantas noites você se consolou nos braços dele? Diga para mim Jane. Quantas vezes ele sussurrou a palavra meu amor para você?
Pisquei chocada com suas palavras. Marius continuou segurando minhas mãos pelos pulsos e me sacudiu levemente, seu olhar sobre mim firme e astuto. — Me diga, Jane! Quantas vezes ele a beijou? Quantas vezes ele disse que você era dele e de mais ninguém? Foi assim que você sofreu por mim? Nos braços dele? Minha loba começou a se agitar dentro de mim, sentindo meu sangue correr mais rápido e a raiva de ser acusada me envolver como uma serpente que carregava uma bomba prestes a explodir. Minhas garras começaram a se alongar e o macho olhou para as minhas mãos. — Está com raiva pelas minhas palavras? — ele perguntou em um tom cínico. — Apenas volte para ele. Seja sua princesa. O macho me soltou e quando ele virou as costas, eu o empurrei contra o balcão. Marius caiu em cima da garrafa de vinho que rolou do balcão e caiu no chão, todo o conteúdo sendo derramado. O macho me olhou surpreso com a minha atitude e eu exclamei: — Como você ousa me acusar dessa forma? E vejo pelas suas p
Suas palavras me machucaram, me cortaram tão profundo que eu me senti sangrando bem ali. Seus olhos de Jasper brilhando com as lágrimas faziam com que tudo ao redor parecesse irreal. Não, eu havia acabado de recuperá-lo da morte e o estava perdendo outra vez. Selene ouvia e observava tudo atenta, sentindo cada emoção minha, sendo envolvida pelos meus sentimentos, sendo engolida pelo meu desespero. — Não... como você pode pensar isso de si mesmo? — murmurei e o macho respirou fundo e passou as mãos nos cabelos em frustração. Marius virou de costas e começou a catar os cacos de vidro do chão enquanto eu o observava com meu coração paralisado. Vários segundos se passaram sem que nenhum de nós dissesse nada, o ar ficando sufocante. Aquela cabana se tornando cada vez menor, minhas mãos suando e tremendo. Não, eu não podia aceitar aquilo. “Ele está sofrendo, Jane. E seu lobo está em agonia e desespero, me desejando.” Selene me alertou. Meu coração batia descompassado enquanto eu fi
Kilian cruzou os braços na porta e se recostou, seu sorriso cínico era largo agora e seu olhar estava divertido enquanto nos olhava. Marius se colocou a minha frente de modo defensivo. Mas eu e Selene não tínhamos medo de Kilian mais e eu não me importava se ele era mais forte, eu era mais rápida. Olhei em seus olhos sem medo. — Não devia estar escravizando fêmeas agora? — alfinetei. Kilian voltou seu olhar na minha direção. — Estou tirando uns dias de folga. Por que, você quer se oferecer para ir comigo? Bem que eu senti um clima quando fui ao seu apartamento... — Kilian insinuou e eu senti o corpo de Marius tenso imediatamente. Minha loba rosnou em minha mente e tentou assumir o controle ansiando por cravar os dentes na garganta de Kilian, mas eu a contive. — Deixe-a em paz. — Marius rosnou. Desci do balcão e me posicionei ao seu lado, meu corpo firme e meus olhos provavelmente mudando de cor, minhas garras se alongando. — Você é um porco e um dia terá exatamente o
Marius estava distante e suas palavras que ele não se importava estavam ecoando em minha mente. Perfurando o meu coração como mil lâmina de prata, e agora ele se recusava a olhar na minha direção. O macho virou de costas para mim, suas mãos em seus cabelos como se ele não tivesse mais energia para debater comigo e tudo que eu desejava entender era porque ele estava defendendo Kilian e sendo tão grosseiro comigo. E então, como um estalo repentino, algo me ocorreu novamente. — Ele me sequestrou da cabana há um ano. Se ele não tivesse feito aquilo, todos os eventos que aconteceram depois não teriam ocorrido. — falei e Marius respirou fundo, mas não se virou. Eu diminui a distância entre nós, caminhando direto para ele antes que eu pudesse tocar em seu ombro, o macho se virou. Seus olhos de Jasper estavam frios e distantes. — Por que pensar nisso agora? Apenas, vá embora. — ele ordenou. Marius virou as costas saindo do quarto e eu o segui, tentando falar com ele até que chegamos à
Marius estava estremecendo, seus ombros estavam tensos e ele baixou seu olhar ao dizer aquelas palavras tão cruéis de si mesmo. Morrer sozinho? “Como ele pode dizer isso de si mesmo? Ele não consegue sentir o nosso amor?” disse Selene e eu percebi que mesmo ela sentindo a ligação poderosa de companheiros com Demétrius, ela não estava alheia sobre o que eu sentia por Marius. Ela também sentia e estava tentando se comunicar com Gaius, seu lobo. Meu coração começou a bater mais devagar conforme a tristeza de Marius com suas palavras não envolvia apenas a ele, mas a mim. A melancolia estavam nos envolvendo naquela clareira escondida, a brisa gélida soprando em minhas costas e rosto. Apenas os sons da floresta entre nós, e isso me fez me lembrar do tempo que éramos apenas nós dois naquela cabana. No início quando a minha preocupação era apenas se eu poderia confiar nele para não me matar e lentamente o macho a minha frente foi ganhando o meu coração. Seus olhos de Jasper fitavam agora
Ameli. Eu sabia que aquele era o meu nome de nascimento, mas o odiava. O rastreador real Devon Grayson havia tentado me contatar diversas vezes depois do ocorrido no penhasco, ele queria me confirmar que era o meu pai. Mas eu havia recusado todas as suas investidas, todas as suas tentativas. Ele havia me abandonado no nascimento, mesmo que em sua carta tivesse negado isso. Eu pensei em tudo que passei para ir atrás dele, mesmo depois dele ter torturado Marius, mesmo após tudo que passamos presos em sua casa... Eu havia envenenado o macho que amava para ir atrás de Devon Grayson, eu era uma órfã carente idiota na época. Mas nunca mais seria assim. Marius começou a caminhar e eu gritei: — Esse não é o meu nome! Ele parou por alguns segundos e virou o rosto de lado levemente. — Eu não me importo. — Rebateu e voltou a caminhar. Gritei seu nome, uma, duas, três vezes e nenhuma delas o fez parar. “Ele nos rejeitou.” Selene lamentou em minha mente e eu sentia sua dor, ela compartilha
Pov Marius Eu queria ter olhado para trás, queria ter dito a fêmea que ela possuía o meu coração. Mas de que isso adiantaria agora? Eu estava sendo caçado como o animal que eu era. Eu estava em perigo e todos a minha volta também estariam. Continuei caminhando, até que sua voz chorosa e trêmula soou. Chamando pelo meu nome, implorando para que eu me virasse. Meu coração se despedaçou, mas minhas pernas continuaram a se mover de volta a cabana. "Elas precisam de nós! Marius seu a**o covarde!" Gaius se rebelou em minha mente, ele havia se apaixonado pela loba Selene no instante que ouviu sua voz o chamando dentro de Jane. Eu o ignorei, mas me mantive ainda mais firme para que ele não se aproveitasse para assumir o controle do meu corpo. Assim que entrei na cabana, Kilian levantou uma sobrancelha, enquanto saboreava sua bebida em sua garrafa de metal. Agora quase não se podia ver os cortes feitos pelas garras de Jane em seu rosto. O desgraçado estava completamente curado. Seu olh
Kilian estava destruído por dentro a sua maneira. Ele era a porta de um covarde que matou uma fêmea que desejava fugir dele, após ele a sequestrar... — Você é um tolo. Você a sequestrou e esperava que ela fosse leal a você? Que o amasse e não tentasse fugir? — retruquei. Como ele podia ser tolo o suficiente para acreditar que Karen o amava? Ela devia odiá-lo. Kilian baixou o olhar, seus olhos ainda vermelhos, seus punhos cerrados. Seu maxilar trincado. Eu sabia que ele desejava avançar contra mim, que seu lobo devia estar desejando o meu sangue pelas minhas palavras. Eu o estava ferindo dizendo aquelas coisas. — Você sequestrou Jane e ela é leal a você. O ama. — ele disse de repente e isso me surpreendeu. Kilian levantou o olhar na minha direção, seus olhos lentamente voltando a sua cor original. — Eu jamais coloquei uma coleira em Jane. — falei, e isso pareceu deixá-lo abalado por alguns segundos. Kilian me encarou por alguns segundos antes de dizer: — Você não